multilinguismo

Serafina Corrêa sediará o XXIX Encontro dos Difusores do Talian e IV Fórum da Língua Talian

Programação ocorre de 21 a 23 de novembro

Entre os dias 21 e 23 de novembro, o município de Serafina Corrêa será o cenário do XXIX Encontro Nacional dos Difusores do Talian e do IV Fórum Nacional da Língua Talian.

Entre os dias 21 e 23 de novembro, o município de Serafina Corrêa será o cenário do XXIX Encontro Nacional dos Difusores do Talian e do IV Fórum Nacional da Língua Talian.

Integrando as comemorações dos 150 anos da Imigração Italiana, o encontro reunirá professores, pesquisadores, comunicadores, radialistas, lideranças culturais, autoridades e comunidades de diversas regiões do Brasil, todos unidos por um mesmo propósito: preservar, valorizar e difundir a Língua Talian, reconhecida desde 2014 como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo IPHAN. Cultura, história e emoção em três dias de celebração.

A abertura, na sexta-feira (21), será marcada pelo tradicional Filò Talian, um encontro de partilha e memória com a presença do Frei Arlindo Itacir Battistel, que abordará o tema “A Imigração Italiana: Legado e Fé”. A noite também contará com jantar típico e a apresentação do grupo Cantanti dei Monti, além de espaço aberto para manifestações culturais.

No sábado (22), as atividades iniciam com os painéis temáticos que abordarão temas como a formação da identidade cultural, o ensino da Língua Talian na universidade, a regulamentação das línguas minoritárias nas escolas e a comunicação oral e escrita do Talian. Durante a tarde, haverá apresentações culturais com os Núcleos do Projeto Cucagna Scola de Talian.

Também para os participantes do Encontro inscritos, haverá a apresentação da peça teatral Chi Sparagna Gata Magna, além do lançamento da Pedra Fundamental do Marco dos 150 Anos da Imigração Italiana, na Via Gênova. A noite será marcada pelo Jantar de Confraternização dos 150 Anos da Imigração Italiana, com a entrega do Troféu e Diploma Mérito 150 Anos e do Troféu Mérito Talian 2025, além de apresentação musical com Jessica e Robson.

Encerrando o evento, o domingo (23) será dedicado às Vozes do Talian, com um encontro aberto de radialistas e comunicadores, reafirmando o compromisso coletivo com a preservação da língua e da cultura.

Realizado pela ASSODITA, FIBRA/RS, CONTALIAN e FEIBEMO, o evento conta com o apoio de entidades, instituições de ensino e patrocinadores que acreditam no poder da cultura como ponte entre gerações.

Faça sua inscrição: https://forms.gle/Ty6Lq2EoyJLvVxPE7

Realização: ASSODITA, FIBRA/RS, CONTALIAN, DIFUSORES DO TALIAN e FEIBEMO.

Patrocínio: ACISCO, BANRISUL, COOPERLATE, CRESOL, EDGAR MARÓSTICA, ROTTA E ZANELLA ADVOCACIA, SICRED, SICOOB, UNICRED PIONEIRA, UNIMED VALE DAS ANTAS E VISÃO ESCRITÓRIO CONTÁBIL.

Confira a matéria na fonte: https://www.vangfm.com.br/noticia/serafina-correa-sediara-o-xxix-encontro-dos-difusores-do-talian-e-iv-forum-da-lingua-talian/44012

Louis-Jean Calvet, linguista, falece em Bizerta, Tunisia, sua cidade natal.

 

Louis-Jean Calvet : Pour une écologie des langues

Louis-Jean Calvet (1942–2025) foi um linguista, sociolinguista e ensaísta francês amplamente reconhecido por suas contribuições ao estudo das relações entre língua, poder e sociedade. Professor emérito da Universidade de Provence (Aix-Marseille I), Calvet dedicou sua carreira a analisar como as línguas se articulam com as dinâmicas políticas, coloniais e culturais, tornando-se uma referência internacional nos debates sobre políticas linguísticas e ecologia das línguas.

Autor de mais de trinta livros — entre eles Linguistique et colonialisme (1974), La guerre des langues (1987), Pour une écologie des langues du monde (1999) e Le marché aux langues (2002) — Calvet mostrou como as línguas coexistem em sistemas de dominação e resistência, propondo abordagens críticas para compreender os efeitos da globalização e das heranças coloniais sobre o multilinguismo.

Sua obra teve forte impacto na formulação de políticas linguísticas, especialmente nos países francófonos, africanos e latino-americanos, ao enfatizar a necessidade de preservar a diversidade linguística e valorizar as línguas minoritárias em contextos de desigualdade. Defensor de uma visão plural e dinâmica da linguagem, Calvet contribuiu para repensar a noção de “prestígio linguístico” e inspirou gerações de linguistas, educadores e formuladores de políticas culturais em todo o mundo.

 


Acesse abaixo o comentário de Michelle Auzanneau, sociolinguista e professora na Universidade de Paris.

Décès à Bizerte du grand linguiste Louis-Jean Calvet

31 OCTOBRE 2025

Louis-Jean Calvet est parti le 29 octobre 2025, dans le pays qui l’a vu naître le 5 juin 1942, la Tunisie, et où il souhaitait être enterré.

Pionnier de la sociolinguistique française, son travail a marqué et influencé la réflexion de nombre de chercheuses et de chercheurs à travers le monde. Après avoir enseigné à l’université René Descartes-Sorbonne, créé le Laboratoire de sociolinguistique et la revue Plurilinguismes dans cette même université, il a poursuivi ses activités à l’université d’Aix-en-Provence jusqu’à sa retraite. Une retraite qui n’a pas mis de terme à ses activités, bien au contraire.

Défricheur, érudit, chercheur infatigable, ayant continuellement un ouvrage en cours, une conférence à donner, un avion à prendre, il nous laisse un héritage intellectuel considérable dans de nombreux domaines. Spécialiste de la chanson française, il connaissait ce monde de l’intérieur, y comptait des amis proches et a produit plusieurs biographies d’auteurs. Les nombreux hommages qui lui ont été rendus (colloques, ouvrages, BD) et son autobiographie témoignent de son œuvre.

Comme bien d’autres, j’ai eu la chance de me former à ses côtés, sous son regard exigeant, mais avec une grande liberté. Avec lui, la sociolinguistique était riche, ouverte, multiple, jamais surplombante, tout comme sa façon d’être sur les terrains qu’il explorait et où il aimait embarquer des étudiant.es et des collègues, à Paris, Canton, Dakar, Ziguinchor, Niamey, La Nouvelle-Orléans, Bamako, Libreville, en Amazonie brésilienne ou ailleurs. Travailler sans relâche, toujours plus, encore mieux, avec passion, avec le plaisir de la découverte et tant de moments conviviaux…

Il a su créer une famille de cœur, une famille sans frontières, formée de ses ancien.nes étudiant.es, de chercheur.es, d’erivain.es, de musicien.nes… J’ai eu le privilège de partager son amitié et de découvrir de multiples facettes de cet homme complexe et exceptionnel.

Le départ de Louis-Jean laisse un grand vide dans le monde de la recherche et chez ses proches. Comme me l’ont dit celles et ceux avec qui j’ai échangé ce matin, pour beaucoup d’entre nous c’est une partie de notre histoire qui s’en va, une page qui se tourne. En 2022, il intitulait son autobiographie «Tant mieux si la route est longue», j’aime à penser qu’elle se prolongera par les pistes que nous emprunterons encore ou croiserons quelquefois. *

Michelle Auzanneau

UNESCO Maputo recebe o Professor Gilvan Muller de Oliveira

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UNESCO Maputo recebe o Professor Gilvan Muller de Oliveira

O Escritório da UNESCO em Maputo teve a honra de receber o Professor Gilvan Muller de Oliveira, após sua participação no Fórum Lusófono de Governança da Internet. Durante sua visita, o professor reuniu-se com os sectores de Ciências Sociais e Humanas e Ministério da Educação e Cultura – MEC para discutir possíveis colaborações em projetos como o mapeamento de idiomas nos domínios lusófonos, a inclusão de Moçambique no Atlas das Línguas da UNESCO, o fortalecimento da parceria com a Universidade Eduardo Mondlane e o apoio à Conferência de Jovens Investigadores da CPLP 2026.

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A visita reforçou o compromisso conjunto com a promoção de um futuro digital inclusivo, ético e multilingue.
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UNESCO Maputo Welcomes Professor Gilvan Muller de Oliveira
UNESCO Maputo was honored to host Professor Gilvan Muller de Oliveira following his impactful participation in the 3rd Lusophone Internet Governance Forum in Maputo. His insights on Linguistic and Cultural Diversity on the Internet inspired meaningful dialogue on inclusive digital transformation across Lusophone countries.
During his visit, Professor Gilvan met with the Social and Human Sciences (SHS) and Education sectors to explore collaboration opportunities, including:
Mapping languages across Lusophone internet domains (.mz, .pt, .br, etc.), to be presented at the 2026 Forum in Angola with INTIC.
ncluding Mozambique in UNESCO’s Atlas of the World’s Languages, in partnership with Eduardo Mondlane University.
Strengthening cooperation with the UNESCO Chair on Language Policies for Multilingualism, including student engagement in its international diploma.
Supporting the CPLP Young Researchers Conference, to be held in Mozambique in March 2026.
Professor Gilvan’s visit highlighted the strong cultural ties among Mozambique, Brazil, and Portugal, emphasizing the role of multilingualism in peacebuilding and sustainable development. UNESCO Maputo looks forward to continued collaboration toward inclusive and ethical digital futures.

II ENMP – está chegando! confira o caderno de programação

O II Encontro Nacional de Municípios Plurilíngues (II ENMP) ocorrerá nos dias 1º e 2 de setembro, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e tem como objetivo aprofundar as discussões sobre a regulamentação das políticas de cooficialização de línguas no Brasil.

Este encontro será um espaço de troca de experiências, capacitação e debate sobre a regulamentação e a implementação da cooficialização, seus desafios e oportunidades, reunindo gestores públicos, pesquisadores, educadores, agentes culturais e demais interessados na promoção do multilinguismo brasileiro.

Em sintonia ao I ENMP/2015, que abordou a política de cooficialização de línguas pelos municípios, pretendemos, agora, elaborar orientações para a regulamentação e implementação das leis. Com mais esse passo, reafirmamos nosso compromisso de atuar em prol dos direitos linguísticos no Brasil e da valorização de todas as línguas brasileiras. A colaboração de vocês é de valor inestimável.

O II ENMP se propõe a discutir as ricas experiências já realizadas pelos 80 municípios plurilíngues do Brasil e avançar para o processo de regulamentação, abrindo para as administrações municipais novas possibilidades.

Nossa vontade é fazer deste Encontro um momento de celebração de trajetórias compartilhadas e de construção de novas parcerias.

Visite a página do evento em: https://geomultling.ufsc.br/ii-encontro-nacional-de-municipios-plurilingues/

 

Estimados/as participantes e palestrantes,

É com muita alegria que encaminhamos, em anexo, a programação final do nosso II Encontro Nacional de Municípios Plurilingues – II ENMP, que realizaremos em Florianópolis, nos dias 01 e 02 de setembro próximo.

Em sintonia ao I ENMP/2015, que abordou a política de cooficialização de línguas pelos municípios, pretendemos, agora, elaborar orientações para a regulamentação e implementação das leis. Com mais esse passo, reafirmamos nosso compromisso de atuar em prol dos direitos linguísticos no Brasil e da valorização de todas as línguas brasileiras. A colaboração de vocês é de valor inestimável.

Nossa vontade é fazer deste Encontro um momento de celebração de trajetórias compartilhadas e de construção de novas parcerias.

Assim, desde já, agradecemos a participação de cada um(a) e desejamos uma boa viagem aos que vêm de longe. Para qualquer eventualidade, por favor, entrem em contato conosco nos telefones/whatsapp: Rosângela Morello: 48 99933 – 8938 e Gilvan Müller de Oliveira 48 99916-1815.

Para mais informações sobre o II ENMP, confira: https://geomultling.ufsc.br/ii-encontro-nacional-de-municipios-plurilingues/

Até breve.

Rosângela Morello e Gilvan Müller de Oliveira

P/ Comissão Organizadora.

Confira o caderno de programação abaixo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Encontro Nacional dos Municípios Plurilíngues – segundo encontro acontece em setembro

2ª Circular


 

O II Encontro Nacional de Municípios Plurilíngues (II ENMP), organizado pela Cátedra
UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (UCLPM/UFSC) e pelo
Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística (IPOL), ocorrerá nos
dias 1º e 2 de setembro, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e tem como
objetivo aprofundar as discussões sobre a regulamentação das políticas de cooficialização de
línguas no Brasil. Este encontro será um espaço de troca de experiências, capacitação e
debate sobre a regulamentação e a implementação da cooficialização, seus desafios e
oportunidades, reunindo gestores públicos, pesquisadores, educadores, agentes culturais e
demais interessados na promoção do multilinguismo brasileiro.

O II ENMP se propõe a discutir as ricas experiências já realizadas pelos 80 municípios plurilíngues do Brasil e avançar para o processo de regulamentação, abrindo para as administrações municipais novas possibilidades.

Participe enviando seu resumo simples (200-300 palavras): 15 de julho de 2025

Acesse a segunda circular aqui: https://geomultling.ufsc.br/wp-content/uploads/2025/07/2a-Circular-II-Encontro-Nacional-de-Municipios-Plurilingues.pdf

Confira a página e novidades do evento no link:

https://geomultling.ufsc.br/ii-encontro-nacional-de-municipios-plurilingues/

 

Atenção para o Cronograma para Submissão de Trabalhos e Inscrições
● Inscrição no evento (ouvinte): até 15 de agosto de 2025
● Inscrição no evento (comunicação): até 15 de julho de 2025
● Prazo para envio de resumos simples (200-300 palavras): 15 de julho de 2025
● Divulgação dos trabalhos aprovados: 31 de julho de 2025
● Submissão dos slides de apresentação: 15 de agosto de 2025
● Submissão do resumo expandido (3-5 páginas): 30 de agosto de 2025

Vozes do Multilinguismo: Dra. Rosângela Morello (IPOL) | Parte 2

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Entrevista com Dra. Rosângela Morello (IPOL) | Parte 2

Por Leonardo Alves Caroline Schirmer Götz

 

O multilinguismo é um fenômeno complexo, atravessado por dinâmicas históricas, políticas e sociais que determinam o status, a circulação e a valorização das línguas em diferentes contextos. Nesta série de entrevistas, membros do GT Geopolíticas do Multilinguismo se revezam para dialogar com especialistas de diversas áreas, explorando as interseções do multilinguismo com tradução, direitos linguísticos, mediação intercultural, migrações, internacionalização, informação e comunicação, ensino de línguas, entre outros temas.

O objetivo é reunir diferentes perspectivas sobre as políticas linguísticas, os desafios da preservação e revitalização de línguas, as relações entre idiomas em espaços de fronteira e a influência de fatores geopolíticos na organização do multilinguismo. A partir dessas conversas, buscamos ampliar o debate e fomentar reflexões críticas sobre os modos como as línguas circulam e se transformam no mundo contemporâneo.

Nesta edição, entrevistamos Rosângela Morello, Doutora e Mestre em Linguística pela Unicamp, com doutorado-sanduíche na Universidade Paris VII. Licenciada em Língua e Literatura Portuguesa, é diretora do Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Políticas Linguísticas (IPOL) e vice-líder do Grupo de Pesquisa CNPq: Observatório de Políticas Linguísticas. Representa o IPOL no Grupo de Trabalho Nacional para a Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) da UNESCO. Atua em políticas linguísticas e educacionais, mapeamento de línguas, diagnósticos sociolinguísticos e coordena projetos voltados à valorização de línguas indígenas, de imigração e de fronteira.

A questão das fronteiras é particularmente sensível na geopolítica brasileira, considerando que o país possui a terceira maior linha de fronteira terrestre do mundo, atrás apenas da Rússia e da China. São 16.886 quilômetros que separam o Brasil de dez países sul-americanos – apenas Equador e Chile não são limítrofes. Essa faixa de fronteira, com 150 km de extensão a partir da linha limítrofe, abrange 27% do território nacional e inclui 588 municípios distribuídos por 11 estados em três regiões (Sul, Centro-Oeste e Norte). Desses municípios, 122 são diretamente limítrofes e 32 constituem cidades-gêmeas, isto é, compartilham fronteira seca ou fluvial e, por isso, apresentam grande potencial de integração econômica, cultural e linguística.

Essas regiões são profundamente multilíngues e multiculturais. Nelas convivem as línguas oficiais dos países vizinhos (espanhol, guarani, quéchua, aimará, inglês e francês), além de diversas línguas indígenas, línguas alóctones e formas híbridas resultantes do contato linguístico, como o Galibi Marworno, o Karipuna do Norte, o Palikur (falado no Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa) e o chamado “portunhol” nas áreas fronteiriças com países hispano-falantes.

Nesse contexto, entendemos o multilinguismo transfronteiriço como um campo privilegiado para o desenvolvimento de políticas linguísticas conjuntas e multilaterais, que reconheçam e valorizem essas línguas – em especial, o português e o espanhol como línguas de comunicação internacional e de integração regional. Foi com esse espírito que surgiram iniciativas como o Programa das Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira (PEIBF) e o Observatório da Educação na Fronteira (OBEDF), ambos com participação ativa do IPOL. O PEIBF teve um papel pioneiro, sendo a primeira iniciativa educativa multilateral com gestão compartilhada pelos países do MERCOSUL.

Pelo Tratado de Assunção que criou o MERCOSUL em 1991, o português e o espanhol foram declarados línguas oficiais do bloco, prevendo “a necessidade de difundir a aprendizagem do português e do espanhol através dos seus sistemas educativos formais e informais” (Programa das Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira, Modelo de Ensino Comum, MEC/Brasil, p. 02), O Plano de Ação do Setor para 2001-2005, assinado em Assunção, Paraguai, aprofundou a compreensão da educação como “espaço cultural para o fortalecimento de uma consciência favorável à integração, que valorize a diversidade e reconheça a importância dos códigos linguísticos e culturais“ (Programa das Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira, Modelo de Ensino Comum, MEC/Brasil, p. 02). A Declaração Conjunta de Brasília, 2003, assinada por Brasil e Argentina, coroou esse processo, estabelecendo um conjunto de ações em ambos os países.

Em 2004, em Buenos Aires, uma nova Declaração Conjunta referendou os passos dados avançando no estabelecimento do Convênio de Cooperação Educativa entre esses dois países, no âmbito do qual foi formulada a proposta de construção de um Modelo de Ensino Comum em Escolas de Zona de Fronteira, a partir do desenvolvimento de um Programa para a Educação Intercultural com ênfase no ensino do Português e do Espanhol. Essa proposta foi apresentada e aprovada na XXVI Reunião de Ministros de Educação do MERCOSUL, Bolívia e Chile realizada em Buenos Aires, em 10 de junho de 2004, marcando o início do Programa das Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira (PEIBF) a partir de um acordo bilateral entre Brasil e Argentina[1]. Em 2008, Uruguai, Paraguai e Venezuela aderem ao PEIBF, que entra para o Setor Educacional do Mercosul (SEM-MERCOSUL).

O programa propôs a construção de um modelo comum de educação bilíngue português-espanhol, com base em diagnósticos sociolinguísticos realizados nas fronteiras. As escolas parceiras foram selecionadas para desenvolver projetos pedagógicos específicos, centrados em abordagens político-pedagógicas próprias. Entre suas inovações, destacam-se o intercâmbio de docentes entre escolas de países vizinhos, o planejamento didático conjunto, a utilização de projetos de pesquisa como eixo formativo e a atuação de assessores especializados que acompanhavam continuamente os docentes.

Os encontros mensais de assessores com os professores e diretores nas escolas para o planejamento conjunto dos projetos, os seminários regionais semestrais e os multilaterais garantiam uma formação continuada em locus e um diálogo constante entre as equipes, dirimindo dúvidas e dando encaminhamentos acordados. Os projetos de ensino via-pesquisa estruturavam abordagens procedimentais e conteudísticas conduzindo a um currículo pós-feito.A gestão institucional do programa era compartilhada pelos Ministérios e Secretarias dos países, comandada por equipes nomeadas para tal[2]. O IPOL foi parte da equipe brasileira de 2004 a 2010.

A principal inovação do PEIBF foi reconhecer e valorizar os conhecimentos linguísticos e culturais de alunos e professores, bem como os modos de vida nas regiões de fronteira, transformando-os em recursos pedagógicos e agentes do processo educativo. O sucesso da iniciativa levou à sua expansão: em 2010, já envolvia sete países e 28 escolas de educação fundamental em fronteiras com países hispano-falantes. No caso da fronteira com o Paraguai, o fato de a língua Guarani ser oficial do Estado paraguaio fez com que essa língua fosse também contemplada nas ações pedagógicas das escolas na fronteira do Brasil com esse país.

Em 2012, no Brasil, o Programa passou a ser regulamentado pela Portaria nº 789, de 19 de junho de 2012[3], que então remodelou o seu funcionamento, designando-o como Programa das Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF), com exclusão do foco nas línguas. A partir de 2016 o Programa foi extinto pelo Governo Brasileiro, conforme consta em um texto de minha autoria com o professor Gilvan Müller de Oliveira (2019).

Nesse texto, Gilvan e eu apresentamos detalhes sobre o PEIBF/PEIF, e convido a todos a acessá-lo aqui. Retomando um dos argumentos deste trabalho, o PEIBF inovou nas práticas educativas, mobilizando de forma significativa as equipes escolares, incluindo os gestores. No entanto, para garantir sua continuidade, seria necessário promover mudanças nas diretrizes de ensino no Brasil, de modo a incorporar e viabilizar o multilinguismo de forma efetiva.

Com esse objetivo, em 2010 foi encaminhada ao Conselho Nacional de Educação uma proposta para a criação de diretrizes que assegurassem o ensino multilíngue até o nível médio. Infelizmente, essa iniciativa não avançou. Em vez disso, houve um processo de retração, e o Programa foi rigidamente atrelado a uma estrutura educacional de base monolinguista e nacionalista.

As mudanças geopolíticas na América Latina, marcadas pelo retorno de governos de direita e pela adoção de políticas neoliberais, comprometeram ainda mais a base ideológica da integração regional, o que afetou diretamente projetos de cooperação fronteiriça e linguística, como era o caso do PEIBF/PEIF.

Se, por um lado, a trajetória de sucesso seguida pela desmobilização do PEIBF/PEIF revela a frágil institucionalização das políticas linguísticas para a educação no Brasil e na região, por outro, os dez anos de prática de um bilinguismo intercultural cooperativo nas fronteiras deixaram um legado técnico e político de enorme importância para o futuro do bilinguismo português-espanhol.

Prova disso é o crescente interesse de pesquisadores e universidades brasileiras em temas linguísticos e culturais relacionados às fronteiras, bem como o surgimento de projetos interculturais na fronteira entre Espanha e Portugal, desenvolvidos a partir da experiência latino-americana e impulsionados pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI).

Participar da Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo é um marco na trajetória do IPOL. A Cátedra reúne pesquisadores de 25 instituições de ensino e centros de pesquisa de diferentes partes do mundo – como Indonésia, Índia, Rússia, África do Sul, Brasil, entre outros – com o objetivo de compartilhar pesquisas em andamento, novos projetos, publicações e eventos. Também há a possibilidade de mobilidade acadêmica, permitindo que pesquisadores realizem viagens de curta duração para atividades nas instituições envolvidas.

Sobre essas mobilidades, destaco que, entre julho e agosto de 2022, tivemos a honra de receber, em parceria com a UFSC, a professora Dra. Umarani Pappuswamy, do Central Institute of Indian Languages, de Mysuru, Índia. Durante sua estada no Brasil, ela desenvolveu atividades em várias universidades e nos brindou com palestras no IPOL, sobre os Processos de produção de escrita para línguas indígenas no âmbito da Educação Bilíngue na Índia, e na UFSC, com a temática Translation Studies and Linguistics in Multilingual India. Mais recentemente, entre outubro e novembro de 2024, recebemos o professor Dr. José Antonio Flores Farfán, do Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social (CIESAS), que realizou uma palestra e uma exposição de materiais em línguas indígenas mexicanas.

Esses intercâmbios têm sido extremamente enriquecedores, pois são momentos de intenso aprendizado, em que compartilhamos desafios, conhecemos experiências de outras partes do mundo e abrimos novas possibilidades de parcerias e projetos conjuntos. Ainda, aprofundamos as relações de trabalho, ampliamos nosso campo de conhecimento e fortalecemos sinergias fundamentais para impulsionar novas ações em políticas linguísticas, a exemplo da organização do II Encontro Nacional de Municípios Plurilíngues (II ENMP), realizada em parceria entre o Grupo de Trabalho de Geopolítica da Cátedra e o IPOL. Essa atuação conjunta tem sido essencial, especialmente em um momento em que o IPOL enfrenta restrições de tempo e recursos, tornando essa colaboração ainda mais valiosa para nós.

De modo geral, as políticas linguísticas desenvolvidas no Brasil, muitas vezes com a participação direta do IPOL, têm se destacado como iniciativas inovadoras. Por isso, é cada vez mais comum sermos convidados a compartilhar essas experiências em eventos científicos e fóruns multilaterais ao redor do mundo. Pode parecer pouco, mas são as ideias que fazem as revoluções, não é? Acreditamos que, mesmo aos poucos, vamos realizando microrrevoluções. A Cátedra UNESCO é, em essência, um grande caldeirão de ideias – assim como o IPOL também é. Gosto de pensar que nos inspiramos mutuamente.

O Brasil é um país que ainda carece de informações sistematizadas sobre as línguas faladas por seus cidadãos e cidadãs. Diferentemente de muitos outros países, os censos nacionais brasileiros não incluem pesquisas abrangentes sobre as línguas. Em 2010 e 2022, a investigação realizada pelo IBGE limitou-se àqueles que se declararam indígenas, o que representa menos de 2% da população. Dessa forma, todas as demais comunidades linguísticas foram apagadas dessa importante radiografia social, tão necessária para o planejamento de políticas públicas.

Historicamente, as únicas contagens de falantes de línguas diferentes do português ocorreram nos censos de 1940 e 1950, com foco específico na identificação de falantes de alemão e italiano no sul do país, vistos à época como ameaça à segurança nacional. Esse contexto de repressão, somado à violência histórica contra falantes de línguas indígenas e africanas, moldou a memória social brasileira, deixando marcas profundas de insegurança linguística – tanto entre os falantes, que tendem a desqualificar suas próprias línguas e seu domínio do português, quanto entre gestores públicos, que muitas vezes não sabem como lidar com a gestão de políticas multilíngues.

Há, ainda, um desconhecimento mais profundo: uma interdição da memória, na qual eventos e sentidos silenciados deixam de ser acessíveis, como se houvesse uma espécie de amnésia coletiva que, embora invisibilizada, continua produzindo preconceitos e justificando violências.

Assim, qualquer mapeamento linguístico no Brasil é, necessariamente, uma ação sobre essa memória histórica. Ainda que o resultado final de um mapeamento possa parecer apenas uma “contagem”, o processo exige uma abordagem sensível, que reconheça os silêncios, as lacunas e as dificuldades que muitas pessoas têm em falar sobre sua própria história linguística. Em uma entrevista não seria possível aprofundar o entrelaçamento histórico e subjetivo desse processo. Essa perspectiva define o modo como concebemos os mapeamentos no IPOL, sejam eles no formato de censos – como os realizados de forma pioneira em Santa Maria de Jetibá (ES) e em Antônio Carlos (SC) –, de diagnósticos sociolinguísticos, que aprofundam as investigações por meio de grupos focais, ou de inventários linguísticos, sobre os quais já falei anteriormente. Nossa metodologia valoriza a autodefinição, presta atenção às nuances na fala dos participantes e entende que cada instrumento de coleta é, ao mesmo tempo, uma ferramenta técnica e uma ação política.

Quando conduzimos os diagnósticos para a instalação do Programa das Escolas Interculturais Bilíngues de Fronteira (PEIBF) ou para o Observatório da Educação na Fronteira (OBEDF), percebemos mudanças de posicionamento nas pessoas ainda durante o processo da pesquisa. Essa transformação é, em si, profundamente política.

Em pesquisas de maior escala, reconhecemos que há condicionantes – de tempo, de recursos – que exigem uma certa objetividade nas perguntas. Porém, é fundamental formar os pesquisadores para compreenderem as condições históricas que atravessam a interação com os entrevistados e, sobretudo, incluir todos os cidadãos e cidadãs no processo, reconhecendo o plurilinguismo não como ameaça ou problema, mas como recurso: uma potência para novas formas de vida, de relação e de conhecimento.

Sobre quais aspectos dessas metodologias poderiam servir de modelo para outros países, acredito que isso depende muito dos objetivos específicos de cada contexto. No entanto, considero que a visão sensível à história social das línguas e de seus falantes possa ser uma inspiração positiva e necessária em qualquer lugar.

Quanto à contribuição dos mapeamentos para políticas públicas mais inclusivas e eficazes, é exatamente para isso que trabalhamos no IPOL. Reconheço, contudo, que esse caminho ainda é percorrido lentamente. Ainda se repetem políticas linguísticas que não alcançaram os objetivos pretendidos e que mereceriam ser reavaliadas a partir de diagnósticos atualizados. Investir em mapeamentos e diagnósticos linguísticos parece ser um passo imprescindível para qualificarmos de fato nossas políticas públicas.


[1] Para as tratativas, fundamentos e diretrizes desse Programa, ver o documento PROGRAMA ESCUELAS INTERCULTURALES BILÍNGÜES DE FRONTERA (PEBF) “Modelo de enseñanza común en escuelas de zona de frontera a partir del desarrollo de un programa para la educación intercultural, con énfasis en la enseñanza del portugués y el español”. MEC. Brasil. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Escolafronteiras/doc_final.pdf.

[2] Para detalhes, ver o documento “Princípios Teóricos e Pedagógicos e Orientações Metodológicas para Projetos de Ensino em Escolas de Fronteira e para a Formação de Professores”, OEI, 2019.

[3] Portaria nº 798, de 19 de junho de 2012. Institui o Programa Escolas Interculturais de Fronteira, que visa a promover a integração regional por meio da educação intercultural e bilíngue. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 jun. 2012. p. 30.

Confira a Parte 1 da entrevista aqui.

 

 

Acesse o link: https://geomultling.ufsc.br/vozes-do-multilinguismo-dra-rosangela-morello-ipol-parte-2/#_ftn1

 

 

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