Notícias em Destaque

NJINGA e SEPÉ: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras! Nova edição

v. 3 n. Especial II (2023): A Linguística e a Educação em debate nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e no Brasil

Esta publicação referente ao Vol.3, nºEspecial II, 2023 reúne trabalhos que debatem aspectos teóricos e práticos sobre os estudos linguisticos, e educacionais, especificamente as  metodologias e métodos de ensino nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e no Brasil. Trata-se de uma publicação organizada pela Profa. Dra. Maria Goreti Varela Freire Silva, docente da Universidade de Cabo Verde, em Cabo Verde em coordenação com Prof. Dr. Alexandre António Timbane (UNILAB/USP). A Revista Njinga & Sepé é acolhedora, é incentivadora à pesquisa e à publicação e abriu exceção para artigos de outras áreas do saber na Seção VII “Varia”. Nesta Seção VII foram acolhidas pesquisas sobre Economia, Administração, Saúde pública, Antropologia, Sociologia, literatura  e outras ´´areas afins. O objetivo é de oferecer oportunidades para que pesquisas possam ser compartilhadas, discutidas e incentivadas, especialmente para países sem recursos tecnológicos e financeiros para a publicação. A interação científica entre o Brasil e os países africanos é urgente e de salutar porque a UNILAB é uma instituição de integração internacional que presa pela cooperação e trocas científicas com Sul-Sul para que todos os países da integração possam crescer juntos . Os materiais publicados foram sujeitos à avaliação aos pares e às cegas por forma a garantir a cientificidade dos mesmos. Agora convidamos para que leiam e compartilhem com colegas, docentes, estudantes à todos sem exceção!

Profª. Drª. Maria Goreti Varela Freire Silva (Universidade de Cabo Verde, Cabo Verde)

Prof. Dr. Alexandre António Timbane (Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Brasil)

Publicado: 14-12-2023

Sobre a Revista

O nome daRevista Njinga & sepé (مَجَلَّة نْجِينْغَا & سِيپِي) é uma singela homenagem a Rainha africana Njinga Mbandi* e ao guerreiro indígena brasileiro Sepé Tiarajú** ambos símbolos das lutas de resistência e da afirmação das identidades africanas e brasileiras. Homenagear Njinga Mbandi e Sepé Tiarajú é, sem sombra de dúvidas, uma inspiração para os desafios que esta Revista apresenta perante o mundo, porque o preconceito com relação às línguas faladas pelos povos africanos e povos do Brasil ainda é grande.

A Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas, e Brasileiras é um periódico da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) que visa divulgar pesquisas inéditas de pesquisadores, professores, estudantes de graduação e de pós-graduação que se interessam pelas temáticas das culturas, dos debates sobre políticas linguísticas críticas e pela descrição de línguas timorenses,  africanas, indígenas brasileiras e de sinais com intuito de revitalizar, preservar, registrar e respeitar as culturas e identidades dos respectivos povos.

 

Visite o canal Youtube REVISTA NJINGA & SEPÉ para acessar outros conteúdos em vídeo https://www.youtube.com/@revistanjingasepe5651/featured

 

Ensino indígena pós-covid – Que os governantes olhe para educação indígena, a realidade é alarmante. Por Ariene Susui – Agência Amazônia Real

O ano era 2020 e o mundo já enfrentava o caos da pandemia de Covid-19. Um dos maiores desafios globais foi o de preservar o ensino, mesmo que à distância. Nas comunidades indígenas, onde lideranças morreram sem socorro médico, a educação foi deixada de lado pelas autoridades. Sem recursos ou condições tecnológicas, muitas aulas deixaram de ser ministradas. As escolas não tinham acesso à internet e muitas estavam em estado precário. Para produzir um retrato educacional nas aldeias, a reportagem ouviu professoras e lideranças indígenas de quatro Estados da Amazônia brasileira. Três anos se passaram e a pandemia ainda se faz presente. Não mais pelo vírus letal, mas pela flagrante carência de infraestrutura e por problemas de saúde mental que os alunos carregam até hoje.

Escola Estadual Indígena Tobias Barreto, em Roraima (Foto Wei Tenente)

Boa Vista (RR) – A ferida, na verdade, já estava aberta: a pandemia do novo coronavírus apenas inflamou os persistentes problemas da educação escolar indígena. Os alunos apresentam, hoje, deficiência de leitura e escrita, o processo de alfabetização foi fragilizado e os professores adoeceram. Sobram relatos de depressão. “Vai demorar muito tempo, coisa de 8 a 10 anos, e ainda assim não iremos conseguir recuperar o que a pandemia causou na educação e nas comunidades indígenas”, arrisca Rosivânia Demétrio, que até setembro era coordenadora da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (Opirr).

Durante os longos meses de pandemia, não houve assistência por parte dos governos em relação à questão psicológica do aluno, do professor e da própria educação indígena. Mas não só.  A precariedade das escolas indígenas, a falta de estrutura, onde faltam materiais, prédios adequados e merenda de qualidade, foram ainda mais expostos. E tudo continua da mesma forma.

No final de 2020, bem no meio da pandemia, estive na comunidade Catual, na Terra Indígena (TI) Trombetas Mapuera, no município de Caroebe (RR). A convite da comunidade, decidi me deslocar até lá por conta própria. Para chegar até o povo Wai Wai, foi uma longa viagem de dois dias, incluindo ônibus, um carro fretado e três horas de barco. Ali, presenciei as dificuldades de uma das centenas de escolas de difícil acesso da Amazônia. Ninguém chega até esse território se não for pela via fluvial. Os relatos ouvidos naquela viagem acabaram me acompanhando por todos esses anos.

Não havia aulas. As lideranças me levaram até uma sala de aula, que estava vazia de alunos, por conta da pandemia. Perguntei se outras escolas da região também estavam nessas condições e me confirmaram que enfrentavam a mesma realidade. A situação desde aquele ano não mudou, apesar dos pedidos para a construção de um prédio novo. A escola funcionava em uma estrutura que a própria comunidade criou.

O drama do povo Wai-Wai foi o ponto de partida que me motivou a propor essa investigação sobre a educação indígena no pós-pandemia para a Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca). Com a ajuda providencial de comunicadores indígenas da rede da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Rede Wayuri (da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e Wakywai (do Conselho Indígena de Roraima), pude viajar até Roraima e ouvir relatos de lideranças e também professores de outras localidades e Estados.

A educação indígena de Roraima está entre as piores do Brasil.  De acordo com os dados da Secretaria de Educação e Desporto do Estado (Seed), há cerca de 2.300 professores indígenas entre os efetivos, da União e do quadro temporário. Já o Censo Escolar da Educação Básica de 2021 indica que havia 247 escolas indígenas. Porém, mais da metade delas não possuem infraestrutura adequada para funcionamento, é o que apontam os dados do Censo Escolar de 2021.

“A maior dificuldade das escolas indígenas é a estrutura que está muito precária. Há escolas que nunca foram construídas e outras que nunca tiveram reforma”, afirma Rosivânia Demétrio, da Opirr. Diante da deficiência ou omissão do poder público, a própria comunidade constrói as escolas. Mas faltam a elas os demais equipamentos –  cadeiras, quadros, material didático – e equipe de funcionários, como merendeira, vigia e zelador.

 

 

Aula em um barracão

Escola Estadual indígena Tobias Barreto, em Roraima (Foto: Wei Tenente).

“Os próprios indígenas constroem um barracão bem grande e temos relatos que tem alunos que sentam em bancos improvisados de madeira. Quando chove, acaba molhando as salas de aulas”, descreve Rosivânia. A própria Opirr denunciou o caso junto ao Ministério Público Federal (MPF), mas sem nenhum resultado.  “Algumas escolas estão sendo maquiadas, uma pintura ali é só. A maioria delas, principalmente as de difícil acesso, nem isso estão sendo.”

A reportagem procurou o MPF de Roraima para saber se adotou alguma providência em relação à denúncia da coordenadora, por meio da Lei de Acesso à Informação. Mas até a publicação desta reportagem não obteve respostas.

Dário Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), relata à reportagem sobre o total abandono das escolas indígenas em seu território, já intensamente pressionada pela crise sanitária gerada pelas invasões de garimpeiros. No período pandêmico, como estratégia para escapar da Covid-19, muitos Yanomami fugiram para dentro da floresta, ficando por lá até três meses. Esse foi um dos motivos para a paralisação das aulas, mas que não deveria servir de desculpa para que as unidades de ensino dentro do território continuassem esquecidas – na época e agora.

Na TI Yanomami, há 21 escolas estaduais em funcionamento, cerca de 80 educadores e 1.478 alunos, de acordo com a Seed de Roraima. São números que impressionam, e indicariam a atenção estadual para a educação indígena. Mas isso está longe de ser verdade, afirma Dário Yanomami. “Durante os últimos 15 anos, as escolas Yanomami não tiveram nenhum apoio do governo, não teve sequer uma construção de escola. Os Yanomami fazem suas próprias salas de ensino com palhas e madeiras artesanais.”

O líder indígena menciona que a única coisa que o governo estadual apoiou foi o processo seletivo para professores indígenas. Porém, esses docentes não possuem uma estrutura mínima para oferecer ensino de qualidade. Dário relata que quem compra os materiais, muitas vezes, são os próprios professores – fato que se repete em outras escolas indígenas de Roraima.

Como as escolas estão localizadas em áreas de difícil acesso, só é possível recorrer ao avião para entrar e sair das aldeias Yanomami. Quando querem sacar o salário em uma agência bancária, os professores precisam pedir carona para a Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), a própria organização Hutukara ou o Instituto Socioambiental. Já houve casos em que eles se juntaram para pagar a hora de voo de um avião, que custa em média 13.850 reais.

Joênia Wapichana, hoje presidenta da Fundação Nacional para os Povos Indígenas (Funai), afirma que durante seu mandato como deputada federal (2018-2022) destinou 49 milhões de reais em emendas parlamentares para estruturar e apoiar a educação indígena em Roraima. Mas, para isso acontecer, era preciso que o governo do Estado atuasse em conjunto. Segundo Rosivânia Demétrio, parte desses recursos ainda não foi aplicada nas escolas que estão dentro do planejamento para estruturação.

Procurados, a Seed e a chefia de gabinete do governo de Roraima não responderam à reportagem. Deixam, assim, de prestar esclarecimentos sobre o destino das emendas e também de responder por que as escolas indígenas não possuem salas de aulas adequadas, kits escolares, merenda de qualidade.

Defasagem persiste

Com a Constituição Federal de 1988, os povos indígenas conquistaram o direito de ter a educação de acordo com suas realidades e dentro de seus territórios. Mas só isso não basta. A realidade dentro das escolas indígenas é vergonhosa, desabafa a professora Aldira Akay, do povo Munduruku, da TI Sawary Ba’ay, em  Itaituba (PA).

Nessa TI, nenhuma escola foi construída pelo poder público e a história se repete, fazendo com que a distância entre Roraima e Pará seja apenas geográfica. A Escola Sawary Ba’ay, que possui 43 alunos, foi erguida pela própria aldeia. “Já pressionamos, disseram que iam fazer, mas até agora nem mesmo iniciou”, diz Aldira Akay.

A professora relata que, durante a pandemia, os indígenas foram totalmente abandonados pelo governo estadual e federal. Apenas as organizações não governamentais prestaram alguma ajuda. “Quando a gente ficou doente, nossas crianças ficaram doentes, nós mesmos tivemos que fazer remédio tradicional.” Mas agora, pós-Covid, restaram os problemas de saúde mental que afetam muito as crianças indígenas. Mas não há psicólogos.

Entramos em contato com a Secretaria de Educação do município de Itaituba. Até a publicação desta reportagem, foram feitas duas tentativas de contato e em nenhuma delas houve resposta.

As marcas da Covid-19

Alunos da Escola Estadual Indígena Tobias Barreto, no município de Amajari, em Roraima carregam cadeiras para aula embaixo de árvore (Foto WEI Tenente).

A psicóloga Iterniza Macuxi atendeu a inúmeros alunos indígenas em Roraima no período pandêmico. Ela pontua que uma das maiores violências que a pandemia causou foi o sofrimento dos indígenas que não conseguiram enterrar os parentes no seu território. “A falta do ritual de passagem (velório) afetou muito a vida dos povos indígenas e, consequentemente, a escola. O sentimento de vazio, de tristeza, de ter alguém partindo, mas de não poder fazer o ritual, que na cultura indígena é importante, foi algo que deixou uma lacuna aberta e que hoje tem pessoas que ainda estão tendo essa dificuldade”, explica.

Iterniza pontua ainda que hoje se depara com relatos de vários adolescentes que apresentam crise de ansiedade, tentativa de suicídio e automutilação. “Quando começaram a retornar às aulas presenciais, os alunos ficaram com muito medo de voltar à escola. Vários alunos e professores foram diagnosticados com síndrome do pânico”, relata a psicóloga, que hoje atua no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Leste, em Roraima.

Professores podem solicitar atendimento psicológico diretamente na Seed de Roraima. Mas Rosivânia Demétrio, da Opirr, menciona que o modelo adotado não consegue atender à realidade dos professores indígenas, por precisarem sair de suas comunidades que muitas das vezes são distantes da capital.

“Para os docentes indígenas terem atendimento, eles têm que vir aqui em Boa Vista agendar atendimento. Agora você imagina, um professor que mora em uma região distante, a mais de 300 quilômetros de distância? Em época de chuva, você não consegue atravessar. Você vem e volta para marcar agendamento, isso já é um gasto, e aí vai ter que retornar naquele dia que o psicólogo marcou.  E às vezes você nem é atendido”, explica Rosivânia.
O governo estadual de Roraima, procurado, não explicou o motivo de não constar no planejamento pós-pandemia atendimento de psicólogos para as escolas indígenas.

O problema da evasão

Transporte da merenda para as escolas indígenas em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas e o material didático armazenado de forma inadequada (Fotos: Juliana Albuquerque do povo Baré/ Rede Wayuri).

No extremo oeste do Amazonas, a 850 quilômetros de Manaus, São Gabriel da Cachoeira é o município com maior diversidade étnica do país, com 23 povos indígenas. E é de lá que chegam informações alarmantes. De acordo com Melvino Fontes Baniwa, coordenador do departamento de Educação da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), a evasão de alunos indígenas é uma realidade após a pandemia. Por conta do deslocamento que muitos alunos tinham de fazer para ir às escolas, muitos acabaram se evadindo, mudando de endereço e de comunidade. Mas para o coordenador o problema vai além.

“Na verdade, são três pontos: A falta de transporte escolar – aqui a grande maioria vem de barco –, de material didático e de merenda.  Todos esses aspectos  fizeram com que os alunos desistissem”, destaca o coordenador. “As escolas estão abandonadas, os professores e os alunos não têm material, nem mesmo caneta, lápis ou caderno. Tudo isso acabou influenciando. Aí quando a pandemia chegou, completou essa defasagem.”

No município amazonense, há 235 escolas municipais indígenas e 12 escolas indígenas do Estado. Melvino relata que, na falta do transporte escolar, os alunos usam o transporte familiar – que não é adequado para ir à escola. “Tem alunos que vão, por exemplo, a remo. A gente tem que pensar no bem-estar e no bem-viver dos povos indígenas, principalmente das crianças, que hoje estão correndo risco”, critica Melvino.

Entramos em contato com a Secretaria de Educação de São Gabriel da Cachoeira, mas o órgão não respondeu.

Falhas no ensino superior

Escola Estadual Indígena Tobias Barreto, na região do Amajari, em Roraima (Foto Wei Tenente).

Se a educação básica (do ensino infantil ao médio) vai mal, a de nível superior poderia representar uma luz no fim do túnel. Com mais indígenas se formando em diferentes profissões, melhor será o atendimento das necessidades desses povos. Esse movimento já foi iniciado, porém segue a passos lentos. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), dos 8,9 milhões de estudantes na educação superior em 2022, 46.252 são indígenas, o que equivale a 0,5%. Mais da metade deles está na Amazônia. No entanto, a entrada nas faculdades e universidades não é o principal desafio a ser superado.

A liderança e estudante de Licenciatura Intercultural Indígena, Luene Karipuna, mora no Município de Oiapoque, no Amapá, está na fase final da graduação na Universidade Federal do Amapá (Unifap), e detalha como foi o caminho até chegar a esse estágio da formação.

“Comecei a morar no Município de Oiapoque em 2019, um ano antes da pandemia estourar. Foi na cidade que entendi que não basta dar oportunidade de entrar na universidade. É preciso que haja política para que o aluno permaneça nela”, inicia Luene Karipuna. Ela lembra que observou que muitos colegas só chamavam os alunos indígenas para expor artesanato. “Todas as vezes que a gente tentou entrar nos espaços de discussão científica, fomos tratados com preconceito, com olhares estranhos. Acredito que isso tem sido um dos aspectos mais importantes dentro da universidade, o de desconstruir esse tipo de narrativa sobre nós.”

A futura professora conta que, se for levar em consideração a vida na cidade, a bolsa permanência, que até 2022 era de 900 reais, não cobria nem a metade dos custos da vida estudantil. Só para visitar sua aldeia, ela gastava em média 400 reais. Ou seja, apenas com a bolsa não conseguia ir para o seu território com frequência.

“Para chegar na minha comunidade, a gente vai via terrestre até um ponto que é a entrada da Terra Indígena Uaçá. E aí a gente pega mais ou menos 20, 30 minutos de voadeira para chegar na minha aldeia. A gente paga transporte de frete, temos que comprar combustível para descer o rio até chegar”, explica.

A liderança menciona que, na pandemia, muitos indígenas voltaram para as aldeias. Para não perder aulas, tentaram construir uma possibilidade de ensino remoto. Mas isso não funcionou para todo mundo, porque muitos dos seus colegas não tinham acesso à internet. O resultado foi a evasão de alunos, que foram para suas aldeias e não voltaram mais para os livros. Quem continuou ficou com o curso defasado.

“Nós atrasamos dois anos. Então já vão mais para seis ou sete anos que a gente está tentando concluir o nosso curso. Não teve assistência da universidade, a não ser alguns professores que se doaram mesmo para trabalhar com a gente. Foi um descaso, muitos alunos ficaram doentes psicologicamente”, relata a estudante.

Luene Karipuna (Foto: Isaka Huni kuin).

A acadêmica ressalta ainda que a universidade não é um espaço preparado para receber alunos indígenas. “Estamos em 2023 e o pensamento esbranquiçado ainda continua sendo a base de ensino para alunos indígenas”, denuncia. Ela afirma que essa metodologia é um segundo obstáculo a ser enfrentado, já que o primeiro é a inexistência de uma política que segure o aluno na instituição.

Procuramos a Unifap para entender o motivo de não conseguirem dar assistência aos alunos indígenas no câmpus do Oiapoque durante o período de pandemia, e se hoje há alguma política para que esses alunos consigam concluir o curso. Por meio da Assessoria de Comunicação da universidade, recebemos a resposta de que iam verificar a demanda, mas até o fechamento desta reportagem não houve resposta.

Falta de comunicação

A língua materna é outro ponto sensível no ensino superior indígena. Com a possibilidade de entrada na graduação, muitos indígenas saem de suas aldeias e, por não terem o domínio da língua portuguesa, acabam correndo risco de serem explorados. É o que Luene relata, em detalhes, sobre o que ocorreu com uma colega:

“Tinha um estudante indígena na Unifap muito caladinha. Naquela época, em 2019, todo mundo fazia vaquinha para poder lanchar, ainda não tínhamos bolsa-permanência. Certo dia, essa estudante desmaiou no corredor da sala porque não tinha o que comer. Eu sentei do lado dela, que estava chorando muito. Estava super fraquinha, já tinha três dias que não comia, só café da manhã. Ela me disse que morava de aluguel com a irmã num quarto bem pequenininho, e a dona daquele lugar cobrava 600 reais de cada uma delas. Então, elas preferiam não ter o que comer e ter onde dormir. Ainda dividiam o dinheiro dos artesanatos para sustentar os filhos. Elas estavam a ponto de desistir do curso. Não só elas, mas outros que não falam bem português e querem acessar a universidade têm esse grande obstáculo.”

Do Estado do Amazonas, Estélio Munduruku é estudante da pós-graduação em Geografia na Universidade Federal de Rondônia. Em sua caminhada acadêmica, ele menciona os desafios à saúde mental. “Nossa principal dificuldade é a assistência psicológica, pois no início é um baque bem difícil para quem vem das aldeias. Eu vim do Kwatá-Laranjal, município de Borba. Isso se dá porque a gente tem um ensino diferente na educação básica. Como a educação superior é muito exigente, requer muita produção. A gente acaba com a mente sugada, fora as questões socioeconômicas e culturais que a gente tem”, pontua Estélio, que hoje está finalizando a pós-graduação.

Educação específica e diferenciada

  • Escola Indígena Sawrè Ba Ay, do povo Munduruku, da TI Sawary Ba’ay, em Itaituba ,no sudoeste do Pará que foi erguida pela própria comunidade (Foto: Aldira Akay).
  • Escola Indígena Sawrè Ba Ay, do povo Munduruku, da TI Sawary Ba’ay, em Itaituba ,no sudoeste do Pará que foi erguida pela própria comunidade (Foto: Aldira Akay).
  • Escola Indígena na comunidade de Catual na Terra Indígena Trombetas Mapuera, em Roraima foi feita pela própria comunidade de forma improvisada (Fotos Ariene Susui/ 2020).
  • Escola Indígena na comunidade de Catual na Terra Indígena Trombetas Mapuera, em Roraima foi feita pela própria comunidade de forma improvisada (Fotos Ariene Susui/ 2020).
  • Escola Estadual indígena Tobias Barreto, na comunidade Mangueira, distante 44 Km da Vila Brasil (sede do Município do Amajari, RR) (Foto: Wei Tenente).
  • Escola Estadual indígena Tobias Barreto, na comunidade Mangueira, distante 44 Km da Vila Brasil (sede do Município do Amajari, RR) (Foto: Wei Tenente).
  • Escola Estadual indígena Tobias Barreto, na comunidade Mangueira, distante 44 Km da Vila Brasil (sede do Município do Amajari, RR) (Foto: Wei Tenente).
  • Escola Estadual indígena Tobias Barreto, na comunidade Mangueira, distante 44 Km da Vila Brasil (sede do Município do Amajari, RR) (Foto: Wei Tenente).
  • Escola Estadual indígena Tobias Barreto, na comunidade Mangueira, distante 44 Km da Vila Brasil (sede do Município do Amajari, RR) (Foto: Wei Tenente).
  • Escola Estadual indígena Tobias Barreto, na comunidade Mangueira, distante 44 Km da Vila Brasil (sede do Município do Amajari, RR) (Foto: Wei Tenente).

Em dezembro de 1996, por meio da Lei nº 9.394, que estabelece as Diretrizes e Bases para a Educação Brasileira (LDB), outro importante passo foi dado com a determinação como norma legal do direito indígena à educação diferenciada. Mas apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito. É o que destaca a liderança André Baniwa, escritor, político e um dos maiores ativistas da educação indígena.

“No nível da educação básica, é como se pintassem só a cara para dizer que é indígena, mas por dentro não tem nada de diferente. E mesmo que tenha o Conselho Nacional de Educação Escolar Indígena, o conselho não consegue avançar nesse sentido”,  pontua André Baniwa.

Dário Kopenawa destaca que a educação específica só existe no papel, mas na prática o Estado insiste em não reconhecer os modos de vida dos povos indígenas. “A escola específica tem na escrita, mas na prática é diferente, precisamos o  sistema educacional específico indígena nacional. Esse ensino diferenciado ainda não chegou, a escola indígena ainda é um pensamento do Estado. Esse ensino diferente não está funcionando na Terra Yanomami”, relata o líder indígena.

Há 15 anos, os Yanomami fizeram o Projeto Político-Pedagógico (PPP) para atendimento de escolas específicas. Nele, Dário e demais pessoas engajadas nesse processo colocaram no papel como deveria ser uma escola Yanomami, desde o pensamento do seu povo, o modo de viver, até o que ensinar para os alunos. “Temos o histórico dos animais, da floresta, da terra Yanomami, do nosso criador de Omama. Isso a gente quer ensinar para os nossos parentes, isso é ensino específico que ainda não é reconhecido pelo Estado”, cobra Dário.

Aldira Akay, do povo Munduruku, conta que o ensino da língua indígena foi reduzido de 100 horas para 10 horas por mês em sua escola, e pontua que isso acabou afastando as crianças da cultura indígena. “É um absurdo. Com essa perda, a gente vem percebendo que as nossas crianças estão cada vez mais perdendo a nossa língua, o cântico e outras histórias que estão envolvidas com a nossa cultura”, afirma Aldira, que dá aula para alunos do 1º e 2º anos do ensino fundamental.

Em relação à “pedagogia da floresta”, termo usado em muitos eventos de educação para se referir ao ensino indígena, o líder indígena e ativista da educação André Baniwa destaca que isso é mais uma tentativa dos não-indígenas de generalizar, que não deixa de excluir a especificidade da educação escolar indígena.

“Esse termo foi feito pelos pesquisadores não-indígenas. Essa pedagogia da floresta cai na mesma política da era dos missionários de querer criar uma língua única para todos os brasileiros. Eu acho muito perigoso quando se cria um conceito genérico que mata a especificidade das coisas. O que acho que deveria acontecer é  conectar essas pedagogias. Seria muito mais importante do que criar um conceito que generalize tudo isso”, argumenta André Baniwa, líder da região do Alto Rio Negro.

* Pauta selecionada pelo 5º Edital de Jornalismo de Educação, da Jeduca e em parceria com a Fundação Itaú.

Por Ariene Susui 27 anos, povo Wapichana, ativista indígena, atua desde os 14 anos no movimento indígena pela participação dos jovens e das mulheres nas discussões políticas, ambientais e educação. Co-fundadora da Rede de comunicadores indígenas de Roraima Wakywai. graduada em Comunicação Social-jornalismo e Mestre em Comunicação pela UFRR. Participou da 1a. Oficina Jovens Cidadãs da Amazônia Real. Foi assessora de comunicação do Conselho indígena de Roraima, atuou como técnica de comunicação na Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e atualmente atua como jornalista independente com foco na Amazônia.
A agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real é uma organização sem fins lucrativos criada pelas jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Farias em 20 de outubro de 2013, em Manaus, no Amazonas, Norte do Brasil.

. Agência Amazônia Real,  leia esta matéria diretamente na fonte e acesse outras importantes produções: https://amazoniareal.com.br/especiais/ensino-indigena-pos-covid/

Puxando a REDE IPOL:

. Instituto Socioambiental – ISA: Ariene Susui: com a caneta na mão e em espaços de poder! https://www.socioambiental.org/index.php/noticias-socioambientais/ariene-susui-com-caneta-na-mao-e-em-espacos-de-poder

. Siga Ariene Susui nas redes sociais:

https://twitter.com/ArieneSusui

https://www.instagram.com/ariene_susui/?hl=en

 

 

Um panorama multidisciplinar sobre a expansão do povo de língua tupi

O pesquisador Fabricio Ferraz Gerardi,  https://twitter.com/fabricioicirbaf.   Citado na postagem, Idiomas do tupi-guarani avançaram pela América do Sul em escala épica, link http://ipol.org.br/idiomas-do-tupi-guarani-avancaram-pela-america-do-sul-em-escala-epica/ repostou mensagem de outra pesquisadora da área, Tábita Hünemeier (twitter: @hunemeier_t) : “Check out our review of the complex dynamics surrounding the Tupi expansion, one of the greatest demographic movements in the late Holocene of America and arguably one of the least studied / Confira nossa análise da complexa dinâmica em torno da expansão Tupi, um dos maiores movimentos demográficos do final do Holoceno da América e, sem dúvida, um dos menos estudados.”

Expansão das subfamílias linguísticas Tupi. As áreas sombreadas em amarelo e vermelho, entre os rios Madeira e Guaporé, e os rios Xingu e Tocantins, representam os hipotéticos centros de origem dos Tupi e Tupi-Guarani, respectivamente.

Veja o resumo:

Um panorama multidisciplinar sobre a expansão do povo de língua tupi
A diversidade cultural e biológica dos grupos indígenas sul-americanos representa extremos da variabilidade humana, exibindo uma das maiores diversidades linguísticas, juntamente com uma variação genética intrapopulacional notavelmente baixa e uma diferenciação genética interpopulacional extremamente alta. Além disso, esta região assistiu a alguns dos acontecimentos demográficos mais dramáticos da história da humanidade, desencadeados pela colonização europeia das Américas. Como resultado deste processo, a distribuição das populações indígenas foi radicalmente alterada. Nesta revisão nos concentramos nos Tupi, a maior e mais difundida família linguística no leste da América do Sul. Acredita-se que os Tupi tenham se originado no sudoeste da Amazônia, de onde algumas de suas subfamílias se expandiram para outras partes da Amazônia e, no caso dos Tupi-Guarani, para além de suas fronteiras. Evidências recentes da arqueologia, linguística e genética alinham-se com o modelo de Expansão Tupi de José Brochado. Ele propôs que o desenvolvimento gradual dos sistemas agrícolas na Amazônia resultou no crescimento populacional e, eventualmente, na expansão territorial. Este modelo também suporta ramos separados da Expansão Tupi: Tupinambá (costa atlântica) e Guarani (sul e centro-oeste do Brasil). Embora sejam o grupo mais populoso da costa atlântica do Brasil, que foi o mais afetado pela colonização europeia, os Tupi ainda representam cerca de 20% da população indígena total do país. Finalmente, apesar de sua importância e de mais de um século de pesquisas sobre os Tupi e sua história de expansão, muitas questões-chave permanecem sem resposta, as quais tentamos resumir e explorar aqui.(tradução Google)

Acesse o artigo em https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajpa.24876  em The Wiley Network

 

 

Idiomas do tupi-guarani avançaram pela América do Sul em escala épica

Site Acessa.com

 

SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – Os idiomas da família linguística tupi-guarani, que se expandiram pela América do Sul numa escala épica antes da chegada dos europeus, provavelmente surgiram há cerca de 2.500 anos, na região onde hoje fica Santarém, no Pará. A estimativa vem de um novo estudo sobre a “genealogia” dessas línguas, que mapeou seu avanço no tempo e no espaço e o parentesco entre elas.

 A pesquisa, que saiu recentemente no periódico PLoS ONE, é uma colaboração entre linguistas e arqueólogos coordenada por Fabrício Ferraz Gerardi, brasileiro que trabalha na Universidade de Tübingen (Alemanha). A equipe usou uma metodologia originalmente aplicada em trabalhos de biologia evolutiva, como os que tentam elucidar as relações entre diferentes espécies, para enxergar as transformações da família tupi-guarani ao longo do tempo.

Destacam-se as línguas Tupí com os sub-ramos do ramo Mawé-Awetí-Tupí-Guarani.

Diferentemente do que muita gente pensa, o termo “tupi-guarani” não designa um único idioma, mas um grupo que engloba cerca de 40 línguas ainda faladas hoje e pelo menos mais uma dezena de idiomas extintos. Antes da invasão europeia, falantes dessas línguas tinham se expandido num raio de 4.000 km dentro da América do Sul.

Essas comunidades podiam ser encontradas da foz do rio da Prata, entre o Uruguai e a Argentina, até a atual Guiana Francesa. Segundo Gerardi, de modo geral, a semelhança entre os idiomas da família, apesar dessa distribuição geográfica tão ampla, era comparável à que existe entre os idiomas da família românica (o que inclui o português e seus “primos” –espanhol, italiano, francês, romeno e várias outras línguas com menos falantes).

“Você percebe que muitos aspectos da origem comum se mantiveram em diversas línguas que estão separadas há muito tempo. Há relatos sobre uma etnia do Maranhão que conseguia entender em parte o que falavam indígenas da fronteira do Amapá com a Guiana Francesa, por exemplo”, diz ele.

Apesar desse relativo conservadorismo, é inevitável que, com o passar dos séculos, as línguas descendentes de um ancestral comum comecem a divergir. Em parte, isso acontece pelo contato com idiomas de outras famílias linguísticas.

“No processo de expansão, isso certamente aconteceu com frequência, porque cada vez mais a gente tem percebido que não existiam vazios de população no Brasil antes da chegada dos europeus. Ou seja, por onde passaram, os falantes da família tupi-guarani foram encontrando outros indígenas”, afirma o pesquisador. Assim, ocorrem empréstimos –como “futebol”, palavra de origem inglesa, no nosso idioma.

Há vários outros processos de mudança linguística, como as transformações do som das palavras ao longo do tempo. É por isso que hoje dizemos “eu” e os espanhóis, “yo” — e não “ego”, como os antigos romanos.

Esse último detalhe é a chave da metodologia utilizada pelos pesquisadores. Eles montaram uma grande lista com centenas de possíveis cognatos, isto é, palavras que, apesar dessas mutações de som, muito provavelmente descendem de uma mesma palavra ancestral comum na origem da família tupi-guarani. O processo de sobrevivência ou desaparecimento desses cognatos ao longo das diferentes línguas da família é usado para tentar inferir a árvore genealógica da família como um todo.

Por exemplo, a palavra para “morcego” em tupinambá (também conhecido como tupi antigo) é “anira”; em wayampi, “anila”. Mas em guarani o termo é “mopi”; em kaiowá, “mbopiri” –o que indica uma “mutação”, semelhante à do DNA, na divergência entre o ancestral dos dois pares de línguas.

Após testar várias possibilidades, os pesquisadores acabaram optando por montar a árvore genealógica dos idiomas do grupo usando o que se costuma chamar de “relógio relaxado” –uma espécie de “tique-taque” que mede a taxa de transformações das línguas ao longo do tempo.

Mais uma vez, trata-se de uma ideia emprestada da biologia evolutiva. O “relógio relaxado” considera que os diferentes ramos da árvore podem evoluir em ritmos muito diferentes, explica Tiago Tresoldi, coautor do estudo ligado à Universidade de Uppsala (Suécia). “É a expressão de uma família que teve uma rapidíssima expansão em alguns ramos, mas que ainda é relativamente muito jovem e menos diferenciada”, diz ele.

A análise produziu uma árvore com três grandes subdivisões e um processo de expansão que só decola mesmo séculos depois da origem da família, a partir de 1.700 anos atrás. O aparente berço do grupo, entre os cursos altos dos rios Tapajós e Xingu e perto de Santarém, é interessante porque a região acabaria sendo palco da formação de grandes aldeias e estilos requintados de arte em cerâmica séculos depois. As coisas estariam ligadas de alguma forma?

Segundo Gerardi, ainda é cedo para dizer o que exatamente estaria acontecendo ali para impulsionar a expansão tupi-guarani, mas já se sabe que a região abrigava uma confluência de diferentes povos com papel importante na pré-história amazônica. Uma hipótese é que os membros da família linguística tenham combinado a criação de um pacote agrícola ideal para o cultivo de plantas de floresta tropical com uma ideologia guerreira que facilitou seu confronto com outras etnias ao longo dos séculos.

Leia diretamente na fonte: https://www.acessa.com/noticias/2023/12/189653-idiomas-do-tupi-guarani-avancaram-pela-america-do-sul-em-escala-epica.html

Puxando a Rede com IPOL:

. Acesse o artigo do PLoS ONE journal:  Lexical phylogenetics of the Tupí-Guaraní family: Language, archaeology, and the problem of chronology

https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0272226

. Avanço épico dos idiomas Tupi-Guarani pela América do Sul

https://revistacenarium.com.br/avanco-epico-dos-idiomas-tupi-guarani-pela-america-do-sul/

. Siga o pesquisador Fabricio Ferraz Gerardi: https://twitter.com/fabricioicirbaf.   O autor repostou uma mensagem da pesquisador Tábita Hünemeier (twitter: @hunemeier_t) : “Check out our review of the complex dynamics surrounding the Tupi expansion, one of the greatest demographic movements in the late Holocene of America and arguably one of the least studied / Confira nossa análise da complexa dinâmica em torno da expansão Tupi, um dos maiores movimentos demográficos do final do Holoceno da América e, sem dúvida, um dos menos estudados.”

Acesse o artigo em https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ajpa.24876 

. Publicação em LA NACION – La milenaria trayectoria del idioma guaraní

https://www.lanacion.com.py/gran-diario-domingo/2023/07/02/la-milenaria-trayectoria-del-idioma-guarani/

 

Ministra dos Povos Indígenas formaliza adesão do Brasil ao Instituto Iberoamericano de Línguas Indígenas (IIALI)

A adesão ao Instituto Iberoamericano de Línguas Indígenas alinha-se às ações do MPI, destacando o protagonismo indígena na formulação e implementação de políticas linguísticas no Brasil

Na última terça-feira, dia 21 de novembro de 2023, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, assinou um ofício solicitando à Agência Brasileira de Cooperação (ABC) a adesão do Brasil ao Instituto Iberoamericano de Línguas Indígenas (IIbeLI). A formalização deste pedido visa preservar e revitalizar o patrimônio linguístico e cultural da América Latina e do Caribe, conforme aprovado na Cúpula Iberoamericana de fevereiro de 2022. 

A reunião da Organização Iberoamericana, agendada para o dia 27 de novembro, será palco para a ABC formalizar a adesão brasileira ao IIbeLI. Esta é uma iniciativa crucial para a preservação das cerca de 550 línguas na região, sendo um terço delas ameaçadas de extinção, é uma entrega concreta do Ministério dos Povos Indígenas durante sua liderança na Presidência Pro-tempore do Mercosul. 

A adesão ao IIbeLI é estratégica para o reposicionamento do Brasil no cenário regional, destacando o protagonismo indígena. Durante a Reunião de Autoridades sobre Povos Indígenas do Mercosul (RAPIM), realizada em Brasília em 16 de novembro, a decisão brasileira já foi comunicada ao Vice-Presidente da Bolívia, David Choquehuanca, país sede do Instituto e um de seus maiores apoiadores. 

Essa iniciativa ganha ainda mais relevância no contexto da Década Internacional das Línguas Indígenas da UNESCO, à medida que os países são chamados à ação para apoiar, promover e revitalizar as línguas indígenas. Além disso, a adesão fortalecerá a parceria com o FILAC (Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e Caribe), possibilitando ações conjuntas em eventos como o Fórum Permanente sobre Questões Indígenas da ONU e a participação indígena na COP30 do Clima, em 2025, em Belém. 

A medida alinha-se à intenção do presidente Lula de fortalecer a integração regional, especialmente no âmbito do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), considerando a concentração significativa das línguas indígenas na região. 

Por fim, a adesão ao Instituto Iberamericano de Línguas Indígenas vem ao encontro das ações do Ministério dos Povos Indígenas que, por meio de seu Departamento de Línguas e Memórias Indígenas, chefiado pelo professor Eliel Benites. O Departamento apresentou este ano, no âmbito da RAPIM, o Plano de Ação para a Década Internacional das Línguas Indígenas no Brasil, o qual apresenta em detalhes os princípios, objetivos e, principalmente, as ações conduzidas à frente das políticas linguísticas no Brasil, tudo formulado com protagonismo indígena e intensos diálogos com instituições governamentais e não-governamentais especializadas na temática. 

IIALI –  O que é?

O Instituto Ibero-Americano de Línguas Indígenas é uma iniciativa para revitalizar as línguas indígenas

 

O Instituto Ibero-Americano de Línguas Indígenas (IIALI) tem sua origem em uma decisão da Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Montevidéu e Antígua-Guatemala em 2006 e 2018, respectivamente. Na XXVII Cúpula Ibero-Americana, realizada em Andorra em 2021, o instituto foi aprovado como uma iniciativa ibero-americana para enfrentar as ameaças às línguas indígenas, especialmente as ameaçadas de extinção, bem como para promover seu uso, revitalizar, fomentar e desenvolver as mesmas.

Esta iniciativa busca aumentar a consciência da situação das línguas indígenas e dos direitos culturais e linguísticos dos povos indígenas; promover a transmissão, uso, aprendizagem e revitalização das línguas indígenas; prestar assistência técnica na formulação e implementação de políticas linguísticas e culturais para os povos indígenas; e facilitar a tomada de decisão informada sobre o uso e vitalidade das línguas indígenas.

O instituto adota, entre outros, os princípios da Convenção 169 da OIT, a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas e a Declaração Los Pinos-Chapoltepek, adotada no evento de alto nível convocado pela UNESCO e pelo Governo do México em 2020, sob o lema “Nada sem nós”, que reconhece a importância das línguas indígenas para a coesão e inclusão social, direitos culturais, saúde e justiça.

A responsabilidade pela criação do Instituto foi confiada na XXVI Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo à Organização de Estados Ibero-Americanos para a Ciência e a Cultura (OEI), à Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB) e ao Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (FILAC).

 

_________________________________________

 

El IIALI tiene como objetivo general fomentar el uso, la conservación y el desarrollo de las lenguas indígenas habladas en América Latina y el Caribe, apoyando a las sociedades indígenas y a los Estados en el ejercicio de los derechos culturales y lingüísticos, objetivo que se logrará con la creación de un Instituto Iberoamericano de Lenguas Indígenas. Para ello, se busca:

  1. Concienciar sobre sobre la situación de las lenguas indígenas y los derechos culturales y lingüísticos de los Pueblos Indígenas, así como lograr:
  • Que la sociedad global considere al IIALI como la piedra angular del Decenio Internacional de las Lenguas Indígenas en América Latina y el Caribe.
  • Que la sociedad latinoamericana muestre mayor conocimiento y consciencia sobre la situación de vulnerabilidad y los riesgos que amenazan a los idiomas indígenas.
  1. Fomentar la transición, uso, aprendizaje y revitalización de los idiomas indígenas, a través de ello se busca:
  • Que se retome la transmisión intergeneracional de los idiomas indígenas por las familias indígenas.
  • Se cree un sistema de apoyos para iniciativas endógenas de recuperación y revitalización de los idiomas originarios, en áreas rurales y urbanas.
  • Sean aplicadas iniciativas gubernamentales en favor de las lenguas indígenas en consulta con las organizaciones indígenas y las comunidades de hablantes.
  1. Formular e implementar políticas lingüísticas y culturales para y con los pueblos indígenas, también es parte de los objetivos del IIALI, para ello se pretende:
  • Que sean fortalecidos técnicamente las Secretarías, institutos o academias oficiales de idiomas originarios y políticas lingüísticas y con actuación en los niveles macro, meso y micro.
  • Tener un Laboratorio Latinoamericano de Lenguas Indígenas en funcionamiento, con bases de datos cuantitativos y cualitativos sobre la situación de los idiomas indígenas.  (https://www.iiali.org/objetivos-del-iiali/)

 

Saiba mais puxando. rede IPOL:

. A criação do Instituto:  http://ipol.org.br/tag/instituto-ibero-americano-de-linguas-indigenas-iiali/

. A criação do  Instituto Ibero-Americano de Línguas Indígenas (IIALI):  https://www.segib.org/pt-br/programa/iniciativa-instituto-iberoamericano-de-lenguas-indigenas-iiali/

 

António Branco: “Não sou utópico nem catastrofista. Todas as tecnologias têm um duplo uso”

(Por Paula Sofia Luz, Diário de Noticias – Lisboa – 

António Branco. Foi pioneiro ao trabalhar o tema da inteligência artificial, é primeiro coautor do livro branco sobre a língua portuguesa e a IA e criador do Albertina.pt, primeiro modelo aberto para a língua portuguesa.

António Branco: "Não sou utópico nem catastrofista. Todas as tecnologias têm um duplo uso"

Como e quando começou esse seu interesse pela temática da inteligência artificial (IA)?
Foi em novembro de 1987. Eu tinha acabado a licenciatura e envolvi-me num grande projeto para desenvolver tradução automática entre todas as línguas da União Europeia.

Passaram muitos anos até que a temática se democratizasse, exatamente há um ano…
Sim, não tenho dúvida de que isso só aconteceu em novembro de 2022. Parte do meu trabalho consiste na divulgação, e ao longo dos anos tenho-me empenhado bastante nisso, nomeadamente no livro de que sou coautor, publicado em 2012, o livro branco sobre a língua portuguesa na era digital. Que foi muito importante, mas com pouco eco. Há um ano, com a disponibilização do ChatGPT, nós – que por vezes éramos considerados uns certos lunáticos, ou, no mínimo, pessoas com uns interesses específicos muito estranhos – de repente passámos a ser glorificados.

Está mais do lado dos que consideram a IA uma oportunidade do que como uma ameaça?
Nem uma coisa nem outra. Eu estou do lado daqueles que sensatamente, olhando para todas as tecnologias (e esta não vai ser exceção), sabem que elas têm um duplo uso. Tem usos benéficos e outros prejudiciais. Portanto, não sou utópico nem catastrofista.

O desenvolvimento de grandes modelos neuronais de IA generativa para a língua portuguesa ainda agora começou (Fonte Unsplash+ com Getty Images)

 

Acredita que a IA, bem usada, é uma ferramenta poderosa? Nomeadamente para melhorar muitas áreas?
Sem dúvida. Já em 1987 era um sonho imenso, fantástico, imaginar que eu podia contribuir para um dia deixar de haver barreiras de comunicação linguística. Era mesmo a ideia de mudar o mundo: todas as pessoas a falar umas com as outras, mesmo só conhecendo a sua língua materna. E esse sonho está agora a concretizar-se. Esse é um exemplo que acho extraordinariamente benéfico. Nós vamos poder falar com qualquer outro habitante que fale qualquer outra das sete mil línguas existentes no planeta Terra.

Neste ano que passou, como é que lhe parece que a sociedade portuguesa tem vindo a lidar com esta nova realidade da IA, cada vez mais presente na vida de todos?
A sociedade portuguesa tem várias esferas, dimensões e atores. Se falarmos, por exemplo, na comunicação social, julgo que a reação foi muito apropriada. Tem sido dado um destaque adequado à verdadeira importância desta tecnologia. Mas se falarmos no domínio governamental, das políticas públicas, a minha opinião é a oposta. Tem sido um vazio, até comparativamente à vizinha Espanha. Eles têm um PRR como nós, mas estabeleceram um capítulo de financiamento de mil milhões de euros, durante cinco anos, para aplicar na tecnologia da língua espanhola. E nós, em Portugal, destinámos zero. Mas se formos para outras geografias, como os Estados Unidos da América, estão destinados dezenas de milhares de milhões. Porque o país, para preservar a sua soberania, não se deixa ficar apenas na mão de organizações privadas. E nós, em Portugal, se nada for feito, continuaremos a subtrair a nossa soberania linguística e digital.

Leia a matéria na fonte: https://www.dn.pt/sociedade/antonio-branco-nao-so-utopico-nem-catastrofista-todas-as-tecnologias-tem-um-duplo-uso-17361996.html

 

Saiba mais sobre Albertina, primeiro modelo aberto para a língua portuguesa.pt puxando a rede do IPOL:

. Já conhece o Albertina PT?

https://ciencias.ulisboa.pt/pt/noticia/22-05-2023/já-conhece-o-albertina-pt?page=1

. Lançada a primeira Inteligência Artificial que gera textos em português sobre qualquer tema. Chama-se Albertina

http://www.di.fc.ul.pt/~ahb/images/AlbertinaExpressoMaio2023.pdf

. Língua portuguesa entra na era da IA

Língua portuguesa entra na era da IA

. “Há um risco de hiperconcentração dos grandes modelos Inteligência Artificial na Microsoft e na Google”, avisa António Branco

https://expresso.pt/podcasts/o-futuro-do-futuro/2023-06-27-Ha-um-risco-de-hiperconcentracao-dos-grandes-modelos-Inteligencia-Artificial-na-Microsoft-e-na-Google-avisa-Antonio-Branco-45a8103a

 

. Conheça a publicação de 2012 “Livro Branco sobre a Língua Portuguesa na Era Digital”

http://metanet4u.weebly.com/livro-branco-a-lingua-portuguesa-na-era-digital.html

Este Livro Branco, sobre a língua portuguesa na era digital,  faz parte de uma coleção que promove o conhecimento sobre a tecnologia da linguagem e o seu potencial. É dirigido a um público o mais vasto possível, não especializado nestas matérias, incluindo comunidades linguísticas,  jornalistas, políticos ou docentes, entre muitos outros.

O livro procura disponibilizar uma análise do estado de desenvolvimento da tecnologia da linguagem para a língua portuguesa, assim como das perspetivas que se oferecem, e das ações necessárias, para a consolidação do português como língua de comunicação internacional com projeção global na era digital no quadro desta tecnologia emergente.

Abra o link abaixo para alcançar a versão ebook da publicação:

http://metanet4u.eu/wbooks/portuguese.pdf

 

. Saiba mais a Coleção Livros Brancos  da META-NET

http://www.meta-net.eu/whitepapers/overview-pt

As Línguas Europeias na Era Digital

Objetivos e Dimensão

A META-NET, uma rede de excelência que consiste em 60 centros de pesquisa de 34 países, dedica-se à construção de bases tecnológicas da sociedade de informação multilingue europeia.

A META-NET está a construir a META, uma Aliança Tecnológica Europeia Multilingue. Os benefícios conferidos pelas Tecnologias da Linguagem diferem de língua para língua, tal como as ações que precisam de ser tomadas dentro da META-NET, dependendo de diversos fatores, tais como a complexidade da língua em questão, a densidade da sua comunidade e a existência de centros de pesquisa ativos nesta área.

A Coleção Livros Brancos da META-NET «Línguas na Sociedade de Informação Europeia» descreve o estado de cada língua europeia, respeitando as Tecnologias da Linguagem, explicando os riscos e as oportunidades mais urgentes. A coleção abrange todas as línguas oficiais europeias e muitas outras faladas noutros locais do Velho Continente. Não obstante a publicação de diversos estudos científicos acerca de determinados aspetos sobre as línguas e a tecnologia ao longo dos últimos anos, não existe uma fonte literária exaustiva a tomar uma posição apresentando os principais desafios e descobertas para cada língua. A Coleção Livros Brancos da META-NET preencherá esta lacuna.

31 Volumes cobrem 30 Línguas Europeias

Basco, Búlgaro, Catalão, Croata, Checo, Dinamarquês, Holandês, Inglês, Estoniano, Finlandês, Francês, Galego, Alemão, Grego, Húngaro, Islandês, Irlandês, Italiano, Letão, Lituano, Maltês, Norueguês (antigo), Norueguês (moderno), Polaco, Português, Romeno, Sérvio, Eslovaco, Esloveno, Espanhol, Sueco.

Em Resumo

IPOL Pesquisa

Receba o Boletim

Facebook

Revista Platô

Revistas – SIPLE

Revista Njinga & Sepé

REVISTA NJINGA & SEPÉ

Visite nossos blogs

Forlibi

Forlibi - Fórum Permanente das Línguas Brasileiras de Imigração

Forlibi – Fórum Permanente das Línguas Brasileiras de Imigração

GELF

I Seminário de Gestão em Educação Linguística da Fronteira do MERCOSUL

I Seminário de Gestão em Educação Linguística da Fronteira do MERCOSUL

Clique na imagem

Arquivo

Visitantes