Gociante Patissa: Em Angola línguas nacionais tem um “status” secundário
Política linguística deve ser revista para dar um estatuto as outras línguas nacionais, reivindica escritor e linguista Gociante Patissa. Para ele, promoveu-se o português e descurou-se das outras, promovendo a exclusão.

Fonte: DW
Autor de vários livros, entre poesia, crónicas e contos, preocupa-se também com a valorização das línguas angolanas. E dá especial atenção ao umbundo, sua língua materna. A língua oficial em Angola é o português, adotada como tal a partir da independência, em 1975. Entretanto, a seu ver, desde então as outras línguas foram sendo marginalizadas. A DW África conversou com Gociante Patissa sobre o assunto.
DW África: É linguista e o seu primeiro prémio deveu-se ao seu empenho na divulgação do Umbundo. Alia sempre a sua formação às suas obras?
Gociante Patissa (GP): É inevitável por um lado. Por outro lado, sou um ser insatisfeito em relação à questão da política linguística em Angola. Penso que criamos um monstro chamado língua portuguesa e descuramos do resto. E às vezes compreendo, penso que houve uma necessidade ao longo dessas décadas de conseguir um equilíbrio enquanto nação, fazendo desse conjunto de nações uma só, já que por detrás da língua há outros fatores. Mas é altura de repensarmos, há pessoas que vão nascer, crescer e morrer sem lhes fazer falta a língua portuguesa. Então, uso as técnicas científicas para ao meu nível promover a minha língua, o que é difícil porque temos ainda o problema da dualidade de grafias. Não entendo porque uma língua tem de ter duas grafias diferentes, vamos falar da colonização e da igreja, mas as línguas são anteriores a colonização e a igreja. O católico e o protestante falam a mesma coisa, mas quando chega a hora de codificar codificam diferente. Isso depois tem como consequência o desencorajamento da produção em línguas nacionais, como é que vão ler?
DW África: Ainda sobre a política linguística em Angola, no que se refere a promoção das outras línguas nacionais o que gostaria de ver melhorado?
GP: Muita coisa, primeiro é a questão da política do Estado e o Estado tem de assumir isso, mais do que tem feito até agora. Sei que há um estudo de harmonização. Em 2012 fui entrevistado por uma jornalista inglesa e soube através dela que tinha sido encomendado um estudo a um académico africano para a harmonização ortográfica das línguas de matriz Bantu. Até hoje, volvidos 20 anos, não se sabe pelo menos o ponto de situação. Depois é a maneira como se olha [para elas], o status secundário que é atribuído as línguas nacionais. O jornalismo, por exemplo, é feito em língua portuguesa, mas quando se fala em jornalismo em línguas nacionais na verdade não é jornalismo, é tradução a quente do texto em português e as deturpações que disso advém. Portanto, é preciso dar as línguas os estatutos que elas merecem. Tem de se fazer muita coisa, estou a reclamar do Estado porque ele é o decisor e quem superintende ao nível macro as políticas. Mas depois há também há questão do cidadão, por exemplo, na rua, eu falo muito bem o umbundo melhor até que o português, se eu saudar uma varredora de rua [em umbundo] ela vai-me automaticamente responder em português, porque ela interpreta que lhe estou a desqualificar. Naturalmente há algumas províncias que dão algumas expetativas, eu gosto de ir ao Humabo, lá há menos complexos do que há em Benguela e em outras províncias, mas ainda assim não satisfaz. É preciso dar um suporte a isso. Por dia a televisão tem cerca de meia hora de noticiário em umbundo, o que é meia hora? É nada.
Sputnik é condecorada pela UNESCO por multilinguismo

Fonte: Sputnik Brasil
A agência de notícias e rádio Sputnik participou do evento do Dia Mundial da Rádio da UNESCO no dia 13 de fevereiro. Nove cidades por todo o mundo participaram de uma maratona de rádio de 24 horas onde especialistas da Rádio Sputnik discutiram as vias de desenvolvimento da rádio na era das redes sociais.
No projeto participaram especialistas do Reino Unido, Estados Unidos, Uruguai, Síria, Iraque, Rússia, China, Líbano e França.
Léa Nakache, coordenadora dos projetos de desenvolvimento de mídia da UNESCO, disse em transmissão da rádio Sputnik França:
“A sua rede desenvolvida é realmente muito interessante bem como seu multilinguismo. Quanto às vantagens para a humanidade, trata-se da expansão de acesso à informação, ao multilinguismo, ao acesso de informação sobre sociedades fechadas. Ao mesmo tempo, sendo consideradas e respeitadas as particularidades de cada região”, disse ela.
Os ouvintes da Sputnik, em sua maioria, segundo a pesquisa de opinião, utilizam a rádio on-line ao invés de ouvi-la através de aparelhos de rádio (59% e 41% respectivamente). As novas plataformas on-line (para celular, para tablet, ou em forma de podcast) são usadas pelos leitores da Sputnik da Ásia Central e do Sudeste Asiático, do Oriente Médio e da América Latina, incluindo a China, o Irã e o Brasil. Já os ouvintes dos países da Europa Central – da Alemanha, da República Tcheca e da Itália – usam aparelhos de rádio tradicionais.
Fonte: Sputnik Brasil
A utilização do crioulo nas redes sociais valoriza a nossa língua materna?

Fonte: Expressão das Ilhas
Constata-se com alguma preocupação que cada vez menos pessoas leem jornais livros e revistas e a forte adesão dos jovens às redes sociais onde se comunicam preferencialmente em crioulo. 21 de Fevereiro, por ocasião do Dia Internacional da Língua Materna, assinalado um pouco por todo o país com várias actividades promovidas pela Presidência da República e pelos ministérios da Cultura e da Educação, a questão da oficialização da Língua Cabo-verdiana (LCV) voltou a estar no centro das atenções. Hoje é reconhecido o papel das redes sociais na divulgação e valorização da LCV, mas coloca-se a questão se é feita da melhor forma. Foi essa justamente a pergunta que colocamos às linguistas Amália Lopes e Adelaide Monteiro, ao antropólogo João Lopes Filho, ao investigador Corsino Tolentino e ao economista Marciano Moreira.
Em relação à primeira questão todos os entrevistados são unânimes em reconhecer o papel das redes sociais, através da escrita, na dignificação e valorização da língua cabo-verdiana. Apenas João Lopes Filho discorda, alegando entretanto tratar-se da opinião de um não-linguista e portanto pouco versado na matéria. No entender do antropólogo as redes sociais pouco ou nada contribuem para o enriquecimento da nossa língua materna, na medida em que cada utilizador escreve como quer e sem se preocupar com as regras gramaticais, justamente por muitos as desconhecerem. Ou seja, o mesmo utilizador poderá escrever a mesma frase de diferentes maneiras, conforme lhe aprouver “ao correr da pena”.
App Linguee, dicionário on line
Mais de 400 lexicógrafos e tradutores profissionais estão envolvidos no desenvolvimento do dicionário Linguee, especialmente na combinação português-inglês, com interface localizada em português brasileiro e português europeu. Milhões de traduções foram verificadas e adicionadas, além de inúmeros exemplos de uso. O Linguee também oferece a pronúncia de traduções gravadas por falantes nativos. O dicionário está em constante atualização e o resultado é uma aplicação com milhões de traduções que podem ser acedidas a qualquer instante. A app é totalmente grátis e pode ser usada até mesmo sem conexão à Internet. Continue lendo
First International Conference on Revitalization of Indigenous and Minoritized Languages
The First International Conference on Revitalization of Indigenous and Minoritized Languages will take place April 19-21, 2017 in Barcelona, Spain.
The conference is sponsored by Universitat de Barcelona, Universitat de Vic-Universitat Central de Catalunya, and Indiana University-Bloomington.
Quase metade das escolas indígenas não tem material didático específico

Censo Escolar de 2015, do Ministério da Educação, mostra que pouco mais da metade, 53,5%, das escolas indígenas têm material didático específico para o grupo étnicoDivulgação Prefeitura de Maricá/Fernando Silva
Edição: Graça Adjuto
Ir para a escola e assistir aulas em outro idioma, não conhecer a própria história, aprender a história de outro povo e ter exemplos estranhos à realidade em que se vive é uma situação que parece irreal. No entanto, é assim que são educadas muitas crianças e jovens indígenas. Os últimos dados do Censo Escolar de 2015, do Ministério da Educação (MEC), mostram que pouco mais da metade, 53,5%, das escolas indígenas têm material didático específico para o grupo étnico.