Línguas Africanas

Idiomas minoritários: pesquisas investigam a morfossintaxe das línguas Pykobyê e Changana

Inéditos em seus campos, trabalhos foram defendidos no primeiro semestre deste ano no Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos da Fale

O pesquisador João Henrique em trabalho de campo, em comunidade do povo Gavião do Maranhão
O pesquisador João Henrique em trabalho de campo (Foto: Arquivo pessoal)

Apesar da riqueza e da diversidade apresentadas pelas línguas indígenas brasileiras e pelas línguas africanas, as especificidades das suas morfossintaxes são ainda pouco conhecidas até mesmo pela comunidade científica especializada, em razão do histórico privilégio dado, no Brasil, ao estudo e à investigação do português. Duas pesquisas defendidas no Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos (PosLin) da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG no primeiro semestre deste ano incorporam essa tendência experimentada nas últimas décadas, com o surgimento de grupos, laboratórios e pesquisadores dedicados ao estudo de idiomas minoritários.

Em maio, a pesquisadora Clauâne Pâmela Leal Dias Carolino defendeu a primeira dissertação brasileira de mestrado sobre a morfossintaxe do Changana, a terceira língua mais popular de Moçambique, falada atualmente por cerca de 2 milhões de pessoas, somadas as suas cinco variações. As outras duas são o Emakhuwa, que tem cerca de 5,8 milhões de falantes, e o Português, com 3,6 milhões. Dois meses antes, em março, João Henrique Santos de Souza já havia defendido tese sobre a morfossintaxe da língua indígena brasileira gavião Pykobyê, falada pelo povo Gavião do Maranhão.

Os trabalhos foram orientados pelo professor Fábio Bonfim Duarte, que coordena o Laboratório de Línguas Indígenas e Africanas (Laliafro) da Faculdade de Letras, instituição que já há alguns anos vem promovendo uma transformação no estudo de línguas minoritárias na Universidade. Com efeito, os trabalhos integram projeto maior de descrição, documentação, análise teórica e promoção de línguas indígenas e africanas desenvolvido pelo laboratório. Além da orientação de Duarte, a pesquisa de Clauâne Carolino contou com a coorientação do professor David Alberto Seth Langa, do Departamento de Línguas da Universidade Eduardo Mondlane, de Maputo, Moçambique.

A pesquisadora Pâmela Leal pesquisou a morfossintaxe da Changana, terceira língua mais popular de Moçambique
Clauâne Carolino pesquisou a morfossintaxe do Changana, terceira língua mais falada em Moçambique (Foto: Arquivo pessoal)

Memória e fortalecimento
O Changana integra o grupo linguístico bantu, que pertence à família Congo-Kordofaniana, tronco Níger-Congo. As línguas bantu se estendem desde Camarões até a Leste e ao Sul do continente africano. A língua Changana, especificamente, é falada em países como Moçambique, África do Sul e Zimbábue. Em Moçambique, é um dos vários idiomas nacionais, muito falado nas províncias de Inhambane, Gaza e Maputo. O estudo desenvolvido por Clauâne fornece uma descrição detalhada de aspectos da estrutura gramatical da língua.

O Pykobjê, por sua vez, é uma língua do complexo dialetal Timbira, que faz parte da família Jê, do tronco linguístico Macro-Jê. Em sua pesquisa, João Henrique Santos descreveu aspectos da gramática e investigou o seu sistema de Caso – particularmente, o seu elaborado sistema de marcação diferencial do sujeito.

A pesquisa nasceu de pedido do próprio povo Gavião do Maranhão, que, sob as conhecidas ameaças que oprimem os diversos povos indígenas brasileiros, teme o risco de ver a sua língua morrer, em razão da crescente diminuição de seus falantes e da morte dos seus integrantes mais velhos. Hoje, cerca de 1,2 mil indivíduos vivem na comunidade. “A preservação de uma língua é parte importante da própria humanidade, de sua história e diversidade. Trata-se, portanto, de um registro para as futuras gerações”, afirma Fábio Duarte.

“O trabalho de João Henrique opera como memória e como fortalecimento da língua”, acrescenta o professor. “A sua semente surgiu quando o próprio povo solicitou um linguista para estudá-la. Por se tratar de uma língua minoritária, sua preservação se torna urgente, e este trabalho cumpre importante tarefa”, afirma. O povo Gavião – também denominado Gavião-Pykobjê – habita a Terra Indígena Governador, no município de Amarante, no Maranhão, no Sudoeste do estado, próximo ao município de Imperatriz.

Dissertação: O comportamento dos objetos pós-verbais em construções aplicativas do Changana
Pesquisadora: Clauâne Pâmela Leal Dias Carolino
Defesa: maio de 2023

Tese: Pyhcop Cati Ji Jarcwaa: alinhamentos morfossintáticos e marcação diferencial
Pesquisador: João Henrique Santos
Defesa: março de 2023

João Henrique em pesquisa de campo junto ao povo Gavião, do Maranhão
João Henrique em pesquisa de campo junto ao povo Gavião, do Maranhão (Foto: Arquivo pessoal)

Ewerton Martins Ribeiro

Leia diretamente na fonte: https://ufmg.br/comunicacao/noticias/idiomas-minoritarios-pesquisas-investigam-a-morfossintaxe-das-linguas-pykobye-e-changana

Mali abandona o francês como língua oficial do país

Com a nova Constituição, o Mali abandona o francês, que é a língua oficial do país desde 1960, de acordo com a nova Carta Magna, promulgada no dia 22 de Julho, passando a ser relegada à língua de trabalho.

Sob a nova Constituição, aprovada de forma esmagadora com 96,91% dos votos, no referendo de 18 de Junho, o francês não é mais a língua oficial do país. Embora o francês seja a língua de trabalho, outras 13 línguas nacionais faladas no país vão receber o estatuto de língua oficial.

O Mali, que tem cerca de 70 línguas locais faladas no país, incluindo Bambara, Bobo, Dogon e Minianka, algumas delas receberam o estatuto de língua nacional por  um decreto de 1982.

Para o académico Boubacar Bocoum, “a língua francesa não foi uma língua escolhida. Antes de tudo, foi uma língua colonial que se impôs, depois, quando o colonizador saiu nos anos 1960, eles nos deixaram essa língua e a administração francesa, o que significa que todo o modo de governar foi modelado precisamente no protótipo da pobre governança colonial”. Recorde-se que o líder da junta do Mali, coronel Assimi Goita, colocou em vigor a nova Constituição do país, marcando o início da Quarta República naquela nação da África Ocidental.

De acordo com a Presidência, os militares do Mali, desde que assumiram o poder e através de um golpe em Agosto de 2020, sustentaram que a Constituição seria fundamental para a reconstrução do país. O Mali testemunhou dois golpes subsequentes nos últimos anos, um em Agosto de 2020 e outro em Maio de 2021. A Junta Militar tinha prometido realizar eleições em Fevereiro de 2022, mas depois as marcou para Fevereiro de 2024. A decisão do Mali de abandonar o francês ocorre num momento de crescentes sentimentos anti-França na África Ocidental, devido à percepção de interferência militar e política.

Leia a matéria na fonte:

https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/mali-abandona-o-frances-como-lingua-oficial-do-pais/#:~:text=Sob%20a%20nova%20Constituição%2C%20aprovada,o%20estatuto%20de%20l%C3%ADngua%20oficial

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Saiba mais puxando a rede:

A nova constituição Mali

https://sgg-mali.ml/JO/2023/mali-jo-2023-13-sp-2.pdf

Article 31 : Les langues nationales sont les langues officielles du Mali.
Une loi organique détermine les conditions et les modalités de leur emploi.
Le français est la langue de travail.
L’Etat peut adopter toute autre langue comme langue de travail.
Article 32 : La laïcité ne s’oppose pas à la religion et aux croyances. Elle a pour objectif de promouvoir et de conforter le vivre-ensemble fondé sur la tolérance, le dialogue et la compréhension mutuelle.
L’Etat garantit le respect de toutes les religions, des croyances, la liberté de conscience et le libre exercice des cultes dans le respect de la loi.

 

 

http://news.abamako.com/h/281201.html

https://www.okayafrica.com/mali-replaces-french-as-official-language/

https://www.africanews.com/2023/07/26/mali-drops-french-as-official-language//

 

 

 

Lançamento: Revista NJINGA & SEPÉ, Vol. 3, nº2

v. 3 n. 2 (2023): Cultura & Sociedade – Que Literacia(s) para uma Justiça Económica e Social?

O  Vol. 3, nº2/2023 (Jul./dez.) resulta de parcerias de vários docentes e investigadores  que participaram da 2ª Conferência Internacional sobre Cultura & Sociedade – Que Literacia(s) para uma Justiça Económica e Social?, realizada na Universidade Zambeze, Moçambique, em formato online/remoto, nos dias 27 e 28 de maio de 2021. O dossier é composto por  quinze (15) artigos avaliados aos pares e selecionados por um comitê Científico. Para além dos artigos do dossier (Seção I), foi publicado uma entrevista (Seção II), materiais literários/poesias (Seção III), artigos sobre as línguas de sinais (seção VI) e vários outros artigos científicos de diversas áreas afins (Seção VII). Participaram da organização desta publicação os seguintes docentes e investigadores: Hilarino da Luz (Portugal/Cabo Verde), Esperança Ferraz (Angola), Noemi Alfieri (Alemanha/Portugal), Mbiavanga Fernando (Angola), Elizabeth Olegário(Portugal), Martins JC-Mapera (Moçambique) e Moisés de Lemos Martins (Portugal). Agradecemos as parcerias e desejamos a todos uma boa leitura. Podem (com)partilhar o link da Revista com outros interessados.

Publicado: 12-07-2023

 

https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/issue/view/46

A língua é integração: saiba a importância na Tríplice Fronteira

 

Foto: Lilian Grellmann/100fronteiras

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um país plurilíngue e pluricultural, uma fronteira onde as culturas se encontram. São muitos os pesquisadores que enunciam que as línguas são integração. E são. E elas nos ajudam a entender melhor a história, a cultura, nosso território. É importante fomentar o aprendizado das línguas e a sensibilização para as línguas e suas culturas na região trinacional.

Você sabia que a palavra chipá é de etimologia quéchua que significa cesto e também do aimará? Claro que chipá é uma palavra de origem Guarani, muito presente na cultura da Argentina, Paraguai e Brasil. Uma palavra e três países muito presentes.

O arroz, uma comida muito presente na mesa dos brasileiros, é de origem árabe, a palavra é uma adaptação do conceito original árabe, ar-ruzz. E o termo sânscrito no qual chamamos grãos de areia, sakkar, se transformou no persa shakkar e resultou na palavra árabe as-sukar. Por isso, o produto doce da cana-de-açúcar foi batizado assim por sua semelhança com grãos de areia.

E outro elemento muito importante na culinária brasileira, como o café, também é de origem árabe: café: do árabe qahwa. Um cafezinho com raspas de limão fica delicioso! E limão é outra das palavras de origem árabe: do árabe laymūn.

E quem não conhece o mingau? Palavra de origem tupi que significa: “emi”. E quem não viu uma capivara no Refúgio Biológico? Capivara é de origem tupi Guarani: “kapii’ guara”. Em espanhol usamos muito a palavra barulho, em espanhol barullo. Fazer ruído. A língua sempre é ruminante, ela faz ruído, barulho, quando se misturam formam um som único.

Quando se misturam, promovem a integração dos ruídos e barulhos. E em nossa fronteira percebemos isso em cada canto das cidades. As línguas sempre estão presentes, é importante prestar atenção às palavras e como elas se constituem pois também formam parte de nossa identidade.

JORGELINA TALLEI

Doutora em Educação (FaE) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Possui Licenciatura em Letras pela Universidad Nacional de Rosario (2003), Mestrado em Letras – Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispano-Americana pela Universidade de São Paulo (2010) e Mestrado Profissionalizante na Área de Novas Tecnologias, pelo Instituto Universitario de Posgrado (Espanha). Atualmente é Professora de Língua Espanhola como língua adicional na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) no Ciclo Comum de Estudos. Tem interesse nas áreas de ensino de espanhol, fronteira e interculturalidade e línguas em contato.

Publicado em : https://100fronteiras.com/opiniao/noticia/a-lingua-e-integracao-saiba-a-importancia-na-triplice-fronteira-opiniao-jorgelina-tallei/

 

Lançamento: NJINGA e SEPÉ: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras

					Visualizar v. 3 n. Especial I (2023): Debates sobre a educação no Brasil e na África lusófona: caminhos, avanços e perspectivas

Os estudos que ensejaram a publicação desta edição são resultados de abordagens variadas de pesquisas de naturezas qualitativas, quantitativas e mistas, com métodos que envolvem pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo e análises de dados. São muitos os ganhos desta Edição Especial I. Muitos desses estudos são enriquecidos de dados históricos robustos acerca das modalidades da educação (básica, secundária, técnica e superior) – desde os tempos da colônia até os dias atuais. Além dos dados históricos acerca da educação, muito se dá a conhecer também acerca da linguagem e da cultura tantos dos países africanos quanto do Brasil. É assim que esta edição se converte em uma leitura avaliativa e crítica da evolução da educação, da cultura, das tradições, das línguas e da política. É assim que a publicação dos textos que compõem esta edição especial se converte, enfim, em um turno de fala, no diálogo do conhecimento científico com a sociedade africana e brasileira.

Organizadores:

Prof. Dr. Antônio Félix de Souza Neto (Universidade Federal de Sergipe)

Prof. Dr. Alexandre António Timbane (Universidade Federal de Sergipe/Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira)

Publicado: 29-05-2023

 

Acesse a publicação:  https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/issue/view/47

Mestre Chico, o griô que planta palavras em Quimbundo, Iorubá e Lingala

Foto: Anna Ortega/Nonada Jornalismo
em 27 de março de 2023
Repórter do Nonada, é também artista visual. Tem especial interesse na escuta e escrita de processos artísticos, da cultura popular e da defesa dos diretos humanos. @corpocontato

Nos dedos, uma tartaruga. No pulso, um bracelete de metal. Nos olhos, fogo. Mestre Chico é um homem de Xangô. Para conhecer o seu terreiro, o Ponto de Cultura Tambores de Angola, assentado na Zona Norte de Porto Alegre, é preciso tirar os calçados. Ao entrar pela porta, e atravessar um longo corredor, saúda-se o dono da Casa, Exu, o senhor dos caminhos, que fez este encontro acontecer. “Eu não sabia as perguntas que você iria fazer, mas ele sabia”, diz o Mestre.

Francisco Paulo Jorge Pinto, o Mestre Chico, completa 70 anos este ano, e pelo menos 60 destes foram dedicados a vivenciar profundamente as tradições africanas e afro-brasileiras. Percussionista, artistas plástico e capoeirista nascido em Pelotas, ele é uma das únicas pessoas falantes de Iorubá, Quimbundo e Lingala no Rio Grande do Sul. Ele ensina a outros mestres e crianças, e acredita que as línguas africanas são como heranças ancestrais recebidas. São como vasos, preciosos e perecíveis, que, se não são alimentados na continuidade, desaparecem.

A Casa de Mestre Chico é um lar para os tambores, instrumentos recebidos ou confeccionados ao longo de sua vida, reunidos em uma única sala, que guarda também seus livros, fotografias, e um acervo com pedaços da história dos Sopapos, do Batuque e dos mestres e mestras do sul do país. Angola, Nigéria e África do Sul são alguns dos lugares de origem dos tambores que o Mestre têm. Os Sons de África vivem ali.

Siga a leitura da matéria aqui:

https://www.nonada.com.br/2023/03/mestre-chico-o-grio-que-planta-palavras-em-quimbundo-ioruba-e-lingala/

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