“O Contato”, filme rodado na cidade mais indígena do Brasil, ganha trailer e cartaz oficiais. Estreia está marcada para 15 de agosto nos cinemas
Documentário aborda cotidiano de três famílias indígenas que vivem em São Gabriel da Cachoeira, região que concentra 23 etnias e 18 idiomas nativos em toda sua extensão
Documentário dirigido por Vicente Ferraz (“Soy Cuba — O Mamute Siberiano” e “Estrada 47”), “O Contato” acaba de ganhar trailer e cartaz oficiais. A estreia está marcada para 15 de agosto nas salas de cinema do Rio de Janeiro, Manaus, Belém, Brasília e São Paulo. Rodado na região de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e falado em quatro línguas indígenas, o longa acompanha o cotidiano de três famílias de diferentes etnias: os Yanomami, os Arapaso e os Hupda. O município é conhecido como a “cidade mais indígena do país”, onde convivem 23 etnias e 18 idiomas nativos. Produzido pela Bang Filmes, de Juliana de Carvalho, com distribuição da Pipa Pictures, o filme teve sua première mundial durante a Mostra Competitiva do Festival É Tudo Verdade 2023 e foi exibido, também ano passado, no Festival Internacional do Novo Cine Latino-Americano, em Havana, Cuba.
Assista ao trailer: https://youtu.be/ykITlrOmfxk
As três histórias estão conectadas pelo Rio Negro, via pela qual os personagens percorrem cerca de três mil quilômetros para chegarem aos seus destinos. Durante a jornada, a narrativa é conduzida por alguns personagens centrais: um grupo Yanomami que leva um filme sobre eles para ser exibido na aldeia; uma mulher Arapaso que viaja até a cidade para cuidar da filha que tem depressão; e uma família Hupda que deseja apresentar seu filho mais novo para seus parentes que pertencem a outro povo. Contadas sob o ponto de vista dos indígenas, estas narrativas paralelas também levantam temáticas atemporais sobre o impacto do contato com o homem branco, como a perda da língua, da tradição e identidade, além do extermínio de florestas e povos nativos. Também são relatadas histórias sobre a relação entre os diversos grupos étnicos, suas crenças e a sagrada conexão com a terra. São Gabriel da Cachoeira, o ponto em comum para as três famílias, é um dos municípios com maior extensão do mundo, com 109.184,996 km². Localizado na região da Cabeça do Cachorro, que faz fronteira com Brasil, Venezuela e Colômbia, 95% da sua população é composta por indígenas. Além de destacar o local, a produção do longa também contribuiu com projetos concretos para os povos envolvidos no filme. Entre as iniciativas, estão a reforma de um centro social, a construção de uma escola e o fornecimento de equipamentos de tecnologia para escolas e associações dessas comunidades. O patrocínio do longa é assinado por Austral, Valid, Civil Master e CSP Consultoria e Informática, com a complementação do Fundo Setorial do Audiovisual/ ANCINE/ BRDE.
SINOPSE Três grupos de personagens, indígenas moradores dos territórios no alto do Rio Negro – AM, contam sobre a história da colonização da região desde os primeiros contatos entre indígenas e não indígenas até os dias de hoje.
FICHA TÉCNICA Direção e Roteiro: Vicente Ferraz Produção e Produção Executiva: Juliana de Carvalho Argumento: Mara Junqueira e Juliana de Carvalho Direção de Fotografia: Luís Abramo Montagem: Mair Tavares Direção de Produção: Valéria Burke Som Direto: Pedro Saldanha Música original: Lívio Tragtenberg Produtor Local (SGC): Paulo Desana Sertanista: Evaldo Márcio Alencar de Araújo Assistente de Câmera: Leo Bandeira Supervisão de som: Simone Petrillo Edição de som: Simone Petrillo e Ney Fernandes Pré-mix de diálogos: Eduardo Keller Mixagem: Breno Poubel Estúdio de edição de som e mixagem: Meios e Mídia Comunicação Ltda Arte: Mauro Heitor Ilustrações Cobra Canoa: Gabriel Gentil (in memorian) e Turenko Beça Fotos e filmagem do ritual fúnebre Yanomami: Yarssan Dambrós Estúdio de Imagem: Paradox e Link Digital Colorista: Marco Abujamra Dedicado à memória de Bruno Pereira, que colaborou na realização do filme
SOBRE VICENTE FERRAZ | Diretor Diretor de “Soy Cuba – O Mamute Siberiano”, melhor filme em Gramado e CineCeará. Seleção oficial Sundance, Locarno e IDFA. Um dos 100 melhores documentários brasileiros – Abraccine. Dirigiu “O Estado do Mundo”, selecionado para a Quinzena dos Realizadores de Cannes. Participou do festival É Tudo Verdade com “Arquitetos do Poder”. Dirigiu “O Último Comandante”, Seleção Oficial de Chicago, Beijin e Trieste. Dirigiu “A Estrada 47”, premiado como Melhor filme em Gramado e Fortaleza. O seu último filme, “O Contato”, foi selecionado para o Festival de Havana. Atualmente, prepara o longa-metragem “Bastardos”.
SOBRE JULIANA DE CARVALHO | Produtora Diretora, produtora, editora e fundadora da Bang Filmes em 1995. Durante os 28 anos de trabalho como empresária do setor audiovisual, especializou-se na produção, direção e curadoria de projetos e eventos culturais. Seu foco e estratégia de negócio atual é a produção de conteúdo em questões vitais relacionadas ao meio ambiente, à preservação do patrimônio cultural e artístico brasileiro e grandes personagens da história do país. Formada em Comunicação Social, na especialização Produção e Direção de Rádio e TV, foi parceira de nomes da dimensão de Allan Fiterman, Mauro Farias, Geraldo Motta Filho, Helvécio Ratton e Luiz Fernando Carvalho. Entre seus principais trabalhos, “Embarque Imediato”, de Alan Fiterman, com José Wilker, Marilia Pêra; “O Diário de Tati”, de Mauro Farias; “O Risco – Lucio Costa e utopia moderna”, de Geraldo Motta Filho, e “O Menino Maluquinho – o filme”, de Helvécio Rattón, no qual assinou a produção executiva. Em 2015, dirigiu, produziu e lançou “São Sebastião do Rio de Janeiro – a formação de uma cidade”, documentário capturado em 4k, com computações gráficas 3D que conta a história urbana da do Rio de Janeiro. O filme participou do Festival do Rio (2015), Festival Internacional de Cinema de Arquivo (2015), 1º Festival Internacional de Cinema e Arquitetura (2016), e Mostra VII: Brazilian Film Series (2016) em Chicago (EUA). Atualmente, está para lançar os filmes “O Contato”, direção de Vicente Ferraz e “Línguas da Floresta”, também de Vicente Ferraz e Juliana de Carvalho.
PIPA PICTURES | Distribuidora
A Pipa Pictures é uma empresa de distribuição com sede no Rio de Janeiro com mais de 20 anos de mercado lançando filmes Brasileiros. Os Filmes distribuídos pela Pipa são frequentemente premiados em festivais e aclamados pela crítica. Mais recentemente, a empresa passou por uma reformulação, mudando sua identidade visual e logomarca, visando também o público internacional e somando ao seu line-up projetos com mais apelo comercial que possibilitem grandes bilheterias, sem abandonar os filmes de relevância artística, independentes e o público de nicho. Esta nova visão consolidou parcerias em projetos audiovisuais com Globo Filmes, Globoplay, Telecine, Canal Brasil, Space, Turner, Curta, EBC, Prime Box, entre outros. Nos últimos anos, a Pipa Pictures distribuiu filmes como “Jovens Polacas” (dir. Alex Levy-Heller), “Intruso” (dir. Paulo Fontenelle), “Elvis e Madona” (dir. Marcelo Laffite), “Noites de Alface” (dir.Zeca Ferreira), “Lima Barreto, ao Terceiro Dia” (dir. Luiz Pilar), “Um Dia Qualquer” (dir. Pedro von Kruguer) e muitos outros.
Assessoria de imprensa:
Anna Luiza Muller | annaluiza@primeiroplanocom.com.br Sara Lopes | sara.lopes@primeiroplanocom.com.br
https://www.atualizabahia.com.br/o-contato-filme-rodado-na-cidade-mais-indigena-do-brasil-ganha-trailer-e-cartaz-oficiais-estreia-esta-marcada-para-15-de-agosto-nos-cinemas/
La integración regional y la enseñanza bilingüe en Latinoamérica. Los incentivos para el aprendizaje del portugués en países hispanohablantes y del español en Brasil
Por Larissa Oliveira Cardoso, publicado em Revista de Estudios Brasileños, Vol. 10 Núm. 21
A digitalização do mundo e os seus fantasmas –
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O processo de desmediatização, próprio do ambiente das redes sociais, encontra, segundo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, impactos sociais e políticos bastante acentuados, sendo uma ameaça para a democracia representativa.
Uma das temáticas mais estudadas pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han é aquela que se volta para as mídias digitais, elemento de comunicação mais utilizado na atualidade. Em sua acepção, elas se comportam no modo de presença, o que equivale a dizer que elas estão dispostas a partir da imediatez, sendo desprovidas de memória. É o universo das informações, que não são passíveis de mediação, dado que há, em suas formas de compartilhamento, uma ação tripla e simultânea: produzir, enviar e receber. Essas ações aparecem, no ambiente do ciberespaço, de maneira tão interligada, que se dirigem à alienação e, consequentemente, à irreflexão. Elas convertem-se, praticamente, em um único ato. Ou melhor: em um ato sem meditação, instantâneo, que acaba tornando-se naturalizado. O contrário disso, que equivaleria a modos possíveis de mediação e de representação, aparece como sintoma de “não transparência e eficiência, como congestionamento de tempo e de informação” (HAN, 2018, p. 35). Han é sabedor, assim como foi Hans Jonas (2017), que a ciência e a tecnologia imprimem mudanças nos modos de existência humana. Tanto das condições externas ao ser quanto na vida e no pensar.
Por isso ele volta-se para os modos de comunicação da atualidade, dado a sua vetorização pelas tecnologias digitais. Assim, passou-se de uma situação, como na época do rádio, em que as pessoas eram destinatárias e receptoras de informações, ao seu avesso, com a popularização da internet, em que elas se portam, ao mesmo tempo, como remetentes e produtoras de informações. O resultado disso seria a maximização das informações. “A mídia digital não oferece apenas uma janela para o assistir passivo, mas também portas através das quais passamos informações produzidas por nós mesmos” (HAN, 2018, p. 36). Um fenômeno é caracterizado por Han como sendo paradoxal: uma sociedade altamente marcada por mídias digitais, como os blogs, o X (antigo Twitter), o Instagram, o Facebook, mas em franco estado desmediatização. Claro que o filósofo sul-coreano não compreende a tecnologia apartada das pessoas, estando em um estado solar absoluto moldando a suas performances de vida. A técnica é compreendida a partir da experiência humana, sendo fato e indicadora das formas de agir (LÉVY, 1999).
A comunicação digital seria, na perspectiva aberta por Han, desmediatizada porque, diferente das antigas mídias disponíveis, como o rádio e a televisão, ela não se volta para um receptor, que necessita, logo, da intermediação. A imagem que constrói do sistema Windows parece significativa para compreendermos o argumento: “Windows são janelas com portas, que se comunicam com outras Windows sem espaços ou instâncias intermediárias. Por meio de Windows não lançamos o olhar apenas a um espaço público, mas sim a outras Windows” (HAN, 2018, 36-37). Isso implicaria na desmediatização, que seria um sintoma da crise da representação. O comunicar algo implica a transmissão de uma representação a ser interpretada. A representação a ser transmitida e interpretada é o veículo da comunicação na concepção original de mídia. O que se percebe, na atualidade, é a emergência da presença e da copresença: através das mídias digitais não há o intermediário representacional a ser transmitido e interpretado, mas a presentificação virtual e a produção de informações sem veículos. Os veículos seriam, justamente, as representações. Como o filósofo aponta: “Hoje, todos querem estar eles mesmos diretamente presentes e apresentar a sua opinião sem intermédios” (HAN, 2018, p. 37).
DESMEDIATIZAÇÃO
Esse processo de desmediatização, próprio do ambiente das redes sociais, encontra, acompanhando a sua reflexão, impactos sociais e políticos bastante acentuados, sendo uma ameaça para a democracia representativa. Os representantes políticos não se portam mais como transmissores de uma comunicação, como um polo gerador de representação a se lançar ao diálogo com a sociedade. As suas posições por meio das mídias digitais, que se portam desmediatizadas, forçam o presente imediato e, logo, imprimem a necessidade, como validação política e social, da transparência e da participação em demasia, até mesmo sufocante, que não abre espaço para um tempo em que seja possível refletir e interpretar algo. “A crescente compulsão por presença que a mídia digital produz ameaça o princípio universal da representação” (HAN, 2018, p. 38). A representação ameaçada pelas mídias digitais traz consigo algo de positivo, sobretudo, se for assinalado a sua disposição de abertura como filtro, que não seria outra coisa do que a possibilidade de abrir margem para a interpretação e para a instituição de sentidos.
Essa produção de presença efêmera emerge partir do/no presente imediato, privando as condições para a interpretação, para a assimilação da linguagem, que é algo que gera duração, que gera meditação e que gera, até mesmo, formação em âmbito social e político, dado que oferece a abertura para os contrassensos e para as divergências. Essa pressão por presença instituída pelas mídias digitais leva aos enxames digitais, dado que a linguagem, intérprete e criadora do mundo humano, tende a ser deixada em um plano secundário, pois o estabelecimento dos sentidos é amplamente interditado.
IMPACTOS NA POLÍTICA
No que tange aos impactos das mídias sociais no âmbito político, um fenômeno que Byung-Chul Han compreende como danoso à democracia representativa, o que se percebe é a corrosão do eixo dialógico, logo comunicacional, pela presença, que impossibilita a dialética entre remetente e destinatário mediada pela representação. Não raro, a forma de apresentação política nas mídias digitais opera-se através da lógica: “Eu sou meu eleitorado”. Essa disposição, resultado do processo de desmediatização, torna qualquer plataforma política obsoleta, levando até mesmo ao seu fim. Não haveria mais condições estratégicas antecipadoras, um vislumbrar político voltado ao futuro, onde aquelas plataformas poderiam, então, ser postas em modo de ação social. A temporalidade política, em se tratando de um universo social enredado às mídias digitais, é o do presente de curto fôlego. Essa situação, derivada da desmediatização, impede planejamentos lentos e meditados, capazes de se orientar pela duração e atingir um prazo mais estendido. Os projetos políticos e sociais careceriam na atualidade, segundo a sua sinalização, de amadurecimento e de reflexão. Tudo seria, nesse sentido, orientado pelo tempo imediato da presença, que impediria a emergência da duração, dado que envolta ao tempo efêmero.
A presença, que aparece ao nível da imediatez, possui um tempo curto e fugaz, algo que destitui, assim, o poder de comunicação política, forçando que tudo seja posto ao nível “imediatamente público”, o que invoca outro problema: demanda desmedida por transparência. Isso ocorre não em outro lugar do que nas próprias mídias sociais. Estamos diante de um fenômeno que impediria, conforme argumenta o filósofo sul-coreano, o estabelecimento, por exemplo, do valor político da confiabilidade, que se daria, justamente, através daquela dialética entre remetente e destinatário, algo só possível pela mediação representativa, que é passível de recepção e, portanto, de interpretação, o que torna possível a instituição de sentidos. Esta é a sua sinalização do tempo subjacente à comunicação através das mídias digitais e, especificamente, em se tratando de impacto político: “A transparência é dominada pela presença e pelo presente” (HAN, 2018, p. 40).
Sob os horizontes da transparência não haveria espaço para formas de pensar e de agir divergentes, desviantes ou não naturalizados, resultando em uma nova forma de massificação. Mais uma vez a questão do tempo é apresentada, pois a quebra do pacto de confiabilidade entre emissor e receptor interditaria a ponderação, o duvidar, o questionar, que são possíveis pela representação enquanto linguagem que comunica. A política, sob o império da presença imediatista e da transparência, lança-se, pois, ao senso comum.
As informações, tomadas como presenças, estão no presente imediato e somem rápido. Neste, não haveria condições de duração, algo fundamental em termos de um processo que abarca a diferença. O que se tem é a atomização. Disso, um sentimento de desordem do tempo. A presença aparece e desaparece. A presença não dura. Paradoxalmente, o que se produz mais, atualmente, são presenças. É um sintoma de uma sociedade de informações. Isso leva a um alto grau de imobilização, mesmo que a sensação seja a da aceleração sem precedentes. O presente é experienciado sem duração. Ele é apenas percebido, o que impossibilita qualquer forma de oferecer sentido às coisas.
FANTASMAS
O problema da desmediatização pode ser aprofundado através de um breve histórico da comunicação. Por exemplo, a carta, e Byung-Chul Han faz um interessante diálogo sobre isso com Kafka, apareceria como um meio de comunicação inumado ou fantasmagórico. “Beijos escritos não chegam à sua destinação. No meio do caminho eles são presos e esvaziados por fantasmas” (HAN, 2019, p. 40). Essa seria uma constante na comunicação postal. Há a perda do contato pessoal: da carta, passando pelo correio, pelo telefone, pela telegrafia, até os nossos tempos de internet, smartphone, e-mail, Twitter, o Facebook ou o Google Glass. Todos esses modos de comunicação estariam destituídos de “intercursos naturais”. As mídias sociais seriam produtoras incontroláveis de inumanos e de fantasmas. Esse modo de comunicação priva o contato humano, a troca espontânea e o afeto sentido, inclusive, pelo corpo. Isso é potencializado pela chamada internet das coisas, que retiraria o caráter enunciativo ainda existente na antiga comunicação postal.
O novo paradigma desmediatizado, para além de fortalecer o caráter já “inumano” da comunicacional postal, aparece, agora, sob a égide das chamadas não-coisas, próprias do funcionamento maquínico da internet, criando novos e cada vez mais frequentes inumanos ou fantasmas. Isso em decorrência da dimensão comunicacional de caráter automático entre as coisas, que não mais necessitam da ação humana. São inumanos produzindo não-coisas, ou novos inumanos. Eles são impulsionados pelas informações, que, em si, estão sem ancoragem no mundo. O fenômeno se acentua com a viralização: um verdadeiro alimento para a pós-verdade, dado que o seu contágio pelas malhas digitais se expressa por meio de afetos e de emoções. Esse fenômeno é característico de um mundo pós-factual e pós-interpretativo. A viralização pressupõe “nenhuma leitura, que se deixa acelerar apenas de maneira limitada. Uma informação ou um conteúdo, mesmo com significância muito pequena, se espalha rapidamente na internet como uma epidemia ou pandemia” (HAN, 2018, p. 99). A comunicação escrita é incapaz de se aproximar desse grau de aceleração. Algo que não parece estar, desse modo, de acordo com a disseminação pulverizada de informações guiadas pela transparência e pela topologia digital, que se apresenta a partir de espaços planos, lisos e abertos, passíveis de tornarem-se virais.
Algo diferente dos espaços do mundo. Não há, ali, o terreno acidental como o da terra, que leva a um modo de ação humana pautada pelos desvios, pelas mudanças de trajetória, pelos caminhos tortuosos ou sinuosos. Até pelo segredo. Este não tem nada a ver com a indisponibilidade para a verdade, estando ligado à intimidade. Ele é a antípoda do fantasmagórico, do inumano, das não-coisas. Os fantasmas precisam ser percebidos e vistos. Por isso o seu barulho, assim como as informações no ambiente digital. Eles são efêmeros, desaparecem muito rápido, assim como o frenético mundo da infocracia. Não há duração em suas aparições. Informações não são podem, no limite, ser contempladas.
Aqui entra, novamente, em cena o fenômeno da desmediatização. Não há mais representação. As representações comunicam algo, abrindo espaço para a interpretação. Elas são condições mesmo para o estabelecimento da divergência e para uma democracia sã. Enquanto presença, ou fantasmagoria, o que se tem são aparições que estão no tempo do instantâneo. A sensação de aceleração atual do tempo é decorrente da fantasmagoria da presença, ou das informações que não oferecem condição de conclusão de assunto algum. Não é incomum hoje em dia aquele sentimento de que o tempo se foi logo após um período nas redes sociais e no smartphone. Isso é derivado do império do tempo da presença, da incorporação do imediatismo. São páginas e páginas de notícias encerradas sem que se conclua nada. Isso imprime uma tentativa vã de encurtar os pontos, de ligar as notícias, de poder estabelecer e instituir um sentido para algo. Não é o tempo que está acelerado em si. O que há é a necessidade frenética de encurtar esses pontos temporais, que não são mais do que informações, que nada mais são do que presenças fugazes ou fantasmas, que assim como aparecem somem, não antes sem manifestarem barulho.
IMAGENS
O universo das imagens também está presente na superfície transparente das mídias sociais. É o lugar das imagens não mais como reproduções, mas, igualmente, como modelos. Isso não é difícil de ser percebido: as imagens são tratadas em aplicativos que produzem melhoramentos. As imagens recebem toda forma de filtro. Elas se tornam um novo lugar de refúgio, pensando em sua condição como modelo. Elas devem ser mais vivas que a própria reprodução. Elas não retratam algo. Muito pelo contrário: elas são pura subjetividade, inclusive, por isso se apresentam como modelo. “A mídia digital realiza uma inversão icônica, que faz com que as imagens pareçam mais vivas, mais bonitas e melhores do que a realidade deficiente percebida” (HAN, 2018, p. 53). Esse fenômeno retira, conforme argumenta Byung-Chul Han, o caráter icônico das imagens, posto que elas passam por um movimento de “otimização da realidade”. Paradoxalmente, em um universo cercado e enredado por imagens técnicas, o que se percebe é um movimento de iconoclastia. Algo que tem a ver com a própria dinâmica do consumismo capitalista, que necessita de imagens-modelo. Como são produzidas, e esmeradamente tratadas por aplicativos, perde-se a sua dimensão semântica e a sua poética, que seriam justamente os elementos que ofereceriam as condições de uma imagem como representação da realidade. Há um processo, dessa maneira, a desfactização das imagens.
Byung-Chul Han se vale de um exemplo de um distúrbio psíquico bastante contemporâneo, qual seja, a chamada Síndrome de Paris. Em geral, esse distúrbio afetaria turistas japoneses. Vários sintomas são relatados: da desrealização até a somatização em forma de tonturas. Eles são motivados em razão do grande descompasso entre as imagens modelos, e altamente idealizadas, que possuíam o confronto com a realidade. Daí a compulsão oriental, uma espécie de defesa do inconsciente, por fotos durante as viagens.
Há um descompasso entre a realidade e as imagens-modelo, que seguem os ditames do universo do imaginário, por mais que se pretendam realistas ou hiper-realistas (BAUDRILLARD, 1991). A mídia digital oblitera a realidade ainda mais que as imagens analógicas. Elas são prefiguradas pela lógica do consumo, pelo imaginário que fomenta as formas subjetivadas do capitalismo neoliberal. Elas funcionam como elementos de proteção e de fuga. As pessoas passam a ser condicionadas pelas imagens-modelo criadas. Mas longe disso proporcionar algum modo de autenticidade, algum modo de invenção criativa de si, o que se tem é o enredamento nos modos de internalização do consumo. A realidade torna-se incompleta e imperfeita. Algo que não combina com um produto a ser consumido. Por serem imagens-modelo, distantes do mundo da vida, as pessoas tenderiam, então, a se identificarem com elas. Mas essas imagens digitais seriam, para Han e Jean Baudrillard, autoimagens distorcidas de si. A consciência acerca das imperfeições do real, consequentemente, seria o vislumbre das próprias imperfeições de si. Isso leva a compulsão da produção de imagens otimizadas de si. Seria a junção entre a reiterada negação de si e a máxima do consumo, instala na produção das imagens-modelo. Assim colocado, esse problema leva ao âmbito da desfactização, que seria a negação da realidade existente, dos fatos postos no mundo da vida ou da partilha do sensível, como aqueles que informam a corporeidade, a temporalidade e a própria morte.
A desfactização leva à compulsão pela produção de imagens-modelos, que antes de serem formas de afirmação apresentam-se como uma evasão da realidade. Uma tentativa maníaca pela perfeição, que não está disponível na realidade dos fatos, mas apenas presente junto aos horizontes do consumo. As imagens-modelo são perenes, pois projetadas para o consumo. O que há é a pouca duração delas, que devem ser constantemente otimizadas, tal como uma mercadoria. As imagens-modelo não possuem tempo, habitando o presente imediato. Sua otimização, ou reprodução massificada, impede que o tempo se desenvolva – ele congela. A imagem digital apaga a temporalidade: nela não há nascimento, envelhecimento e morte. Elas movem-se pelo presente permanente. A compulsão pela reprodução das imagens-modelo, que aparentemente evidenciaria um processo acelerado, na verdade impede qualquer saída do presente. O que há é o apressamento por novos presentes, por novas imagens otimizadas, sendo, na contemporaneidade, o lugar de refúgio das pessoas, que se tornam inseguras com as suas imagens em versões passadas e, mais ainda, em suas versões futuras, que implicaria o envelhecimento. É o império do presente, sendo as novidades um motor que se acelera sem sair do lugar. É, também, o âmbito da presença, que demanda novas imagens-modelo freneticamente. Como a presença é efêmera, logo, deve ser produzida incessantemente para que haja um inautêntico sentimento de duração no refúgio do presente. A lógica do consumo não aceita produtos envelhecidos. Há, apenas, excesso de positivação: “A imagem digital não floresce ou reluz, pois, a negatividade do murchar está inscrita no florescer e a negatividade da sombra, no brilho” (HAN, 2018, p. 58).
Informações e imagens-modelo em excesso não oportunizam o estabelecimento e a instituição de sentidos. O tempo torna-se desorientado. A presença constante, e efêmera, impede a interpretação, impossibilitando as pessoas de discernir. A não duração informativa e imagética leva ao perecimento do pensamento. Não se estabelece, nessa situação, nenhum modo de verdade (mesmo que provisório) aberto às ressignificações. A presença domina e os fantasmas estão por toda a parte. A informação passa a desinformar, torna-se irracional e voltada ao pathos. A comunicação passa a não comunicar, pois a representação é trocada pela produção de presença, deixando, dessa maneira, de apresentar-se passível de interpretação, ficando ao nível da adição e da acumulação.
Piero Detoni é pós-doutorando em História na UFRRJ com bolsa Faperj Nota 10.
Referências
BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio D’Água, 1991.
HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas sobre o digital. Petrópolis: Vozes, 2018.
JONAS, Hans. Ensaios filosóficos: da crença antiga ao homem tecnológico. Trad. Wendell Evangelista Soares Lopes. São Paulo: Paullus, 2017.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Trad. de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 1999.
Leia mais sobre o tema:
Faça a leitura diretamente na fonte: https://diplomatique.org.br/digitalizacao-do-mundo-seus-fantasmas/
Saiba mais puxando a rede IPOL:
. Conheça Byung-Chul Han, filósofo e ensaísta sul-coreano, professor da Universidade de Artes de Berlim. Ele estudou Filosofia na Universidade de Friburgo e Literatura Alemã e Teologia na Universidade de Munique. Em 1994, doutorou-se em Friburgo com uma tese sobre Martin Heidegger. Atualmente, é professor de Filosofia e Estudos Culturais na Universidade de Berlim e autor de uma dezena de ensaios de críticas à sociedade do trabalho e à tecnologia.
Linklado: app de línguas indígenas na final do Prêmio Jabuti
O teclado de línguas indígenas – Linklado – ficou entre os 10 semifinalistas do 65º Prêmio Jabuti na categoria de ‘Fomento à Leitura’. O teclado foi desenvolvido em parceria com as pesquisadoras Noemia Ishikawa e Ana Carla Bruno do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e os estudantes Samuel Minev Benzecry e Juliano Portela.
A iniciativa surgiu como uma resposta às dificuldades enfrentadas na escrita das línguas indígenas em plataformas digitais. O problema foi levantado pelas pesquisadoras Noemia e Ana Carla, em 2009, durante um trabalho com os povos Tikuna (Maguta) no Alto Rio Solimões e a solução veio por meio dos jovens Samuel e Juliano, na época, estudantes do ensino médio.
Ana Carla Bruno, frisa a importância do aplicativo. “Parece uma coisa irrelevante, não é? Imaginem ter seus nomes escritos, registrados em documentos oficiais, escrever mensagem através de Whatsapp, histórias, livros didáticos com grafemas ou letras que não representam de fato os sons (fonemas) de suas línguas?”, pontua.
No Brasil, além do português, são faladas entre 160-180 línguas indígenas, além das variantes ou dialetos destas línguas, algumas estão em plena vitalidade, muitas em situação de risco, outras adormecidas e algumas em processo de retomada. Isso sem falar das línguas indígenas de sinais. Muitas destas línguas com tradição oral podem ter sons que não existem na língua portuguesa, que não são representados graficamente nos teclados dos computadores ou dos celulares.
Bruno ressalta ainda que a escrita envolve questões relacionadas à autoestima e poder. “Por muito tempo, a escrita foi um instrumento de poder nas mãos dos não indígenas, hoje a escrita pode ser um instrumento de poder nas mãos dos próprios indígenas. É muito importante que estas línguas continuem sendo utilizadas de forma oral pelas crianças, jovens e adultos nas aldeias, nas cidades, nas comunidades, na universidade.
E que os próprios indígenas decidam o que querem escrever nas suas línguas. A possibilidade de escrever na língua materna é uma das maneiras de mantê-las em uso, sobretudo entre os jovens”, comemora.
Processo de criação
O processo de construção do aplicativo começou em fevereiro de 2022, houve um período de teste e ajustes com a participação de indígenas de várias etnias. Cristina Quirino Mariano, bolsista do Projeto Redes de mulheres indígenas, tradutoras e cientistas: conexões para uma educação transformadora em ciências do Amazonas pelo Programa Amazônidas – Mulheres e Meninas na Ciência da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapeam), participou dos testes e adaptações e dominou o uso de Linklado, e se tornou uma das tradutoras para a língua Tikuna.
Quirino diz que o Linklado facilitou a conversa com os seus parentes. “Quando eu escrevia em português, meus parentes não entendiam direito. Então eu mandava mensagens só no áudio, na minha língua. Agora com o Linklado eu consigo escrever com todas as letras e eles entendem bem. E falei para eles baixarem o Linklado também. Agora a gente escreve tudo na nossa língua e a conversa ficou melhor”, frisa.
O aplicativo foi lançado no dia 11 de agosto de 2022, na Banca do Largo, com o apoio do livreiro Joaquim Melo (In Memorian). E como resultado, a equipe já produziu o livro “Embaúba: uma árvore de muitas vidas”, na língua Magütawa (Tikuna), além das línguas portuguesa, japonesa e inglesa, com mil exemplares, impresso como apoio do projeto Museu na Floresta, coordenado pela pesquisadora do Inpa Rita Mesquita. A obra tem como autores Noemia Kazue Ishikawa, Takahazu Yumoto e William E. Magnusson.
Ishikawa passou 14 anos buscando uma solução para facilitar digitalizar os textos em línguas indígenas para a elaboração de livros. A pesquisadora conta que muitas pessoas não entendiam qual era o problema que ela sentia. “Quando os meninos criaram o Linklado (ambos com 17 anos na época), conversei com as respectivas mães para explicar a grandeza do feito dos filhos, mas elas não tinham dimensão. Acredito que agora elas e todos tenham a dimensão da importância do Linklado. Ter um trabalho reconhecido pelo prêmio Jabuti é muito importante para todos os envolvidos. Desde que foi criado a categoria Fomento a leitura do eixo inovação, achei que o projeto se enquadra perfeitamente nessa categoria”, celebra.
Ana Carla diz que o aplicativo pode ser uma contribuição para a Década de Línguas Indígenas “Estamos muito felizes, e eu particularmente, pois estamos vivenciando a Década das Línguas Indígenas no mundo que vai de 2022 a 2032. Ação e movimento declarado pela Unesco com participação de vários povos indígenas do mundo e tem como lema “Nada para nós sem nós!” E no Brasil várias mulheres indígenas estão encabeçando o movimento”, destaca.
Juliano Portela, um dos criadores do aplicativo, diz que para os povos originários, o Linklado representa um avanço significativo na preservação de suas línguas. “O projeto facilita a escrita e a comunicação em suas línguas nativas, especialmente no ambiente digital. Com a repercussão do Prêmio Jabuti, esperamos aumentar ainda mais a conscientização sobre a importância delas e, por consequência, fortalecer a identidade cultural dos povos indígenas”, enfatiza.
“Participar de um projeto como o Linklado me afetou muito no sentido de manter minha esperança sobre o futuro da presença indígena milenar na Amazônia e através do continente Americano. O esforço de manter línguas em risco vivas, afinal, é o primeiro passo para aplicar conhecimentos ancestrais e garantir a convivência de humanos e não-humanos no Antropoceno” declara Samuel Minev Benzecry.
Noemia descreve, ainda, a satisfação em ver ideias inovadoras partindo de uma geração mais nova. “O normal é buscar soluções com os mais velhos, nos mais estudados, na academia, na ciência. Mas a nossa história com o Linklado mostra que a solução pode vir de qualquer lugar, idade, nível de escolaridade, etc. O importante é dialogar entre todos, falar com os jovens, ser ouvido por eles e, principalmente, ouvir o que eles têm para falar”, frisa.
Linklado
O aplicativo surgiu da necessidade de incluir línguas indígenas no ambiente digital, que enfrentam o desafio de serem excluídas da revolução digital devido à ausência de caracteres especiais como ʉ, ɨ, g̃, ʉ̈̃ e i̇̂ nos teclados virtuais e físicos. Essa exclusão não apenas restringia a comunicação diária dos falantes desses idiomas, mas também impactava diretamente o avanço acadêmico. Estudantes indígenas encontravam dificuldades ao redigir suas monografias, dissertações e teses em suas línguas maternas, enquanto escritores enfrentavam barreiras para publicar suas obras nessas línguas.
Essa lacuna tecnológica motivou a criação do aplicativo “Linklado”, um teclado digital que reúne não só os caracteres especiais, mas também combinações de diacríticos necessários para mais de 40 línguas indígenas. Esse avanço proporciona uma solução para a comunicação cotidiana e abre portas para o desenvolvimento acadêmico e a expressão cultural.
O aplicativo Linklado é gratuito e está disponível para dispositivos Android, iOS e Windows. Essa acessibilidade representa um passo crucial para facilitar o acesso ao aplicativo e ampliar seu alcance entre os falantes das línguas indígenas. Esse esforço alinha-se com a visão de utilizar a tecnologia como uma ferramenta capacitadora e preservadora de culturas. O Linklado é um exemplo prático de como a tecnologia pode ser empregada para fortalecer e salvar/guardar as riquezas culturais por meio da inclusão digital.
Leia diretamente na fonte: https://realtime1.com.br/linklado-app-de-linguas-indigenas-na-final-do-premio-jabuti/
Saiba mais puxando a rede IPOL:
. Projeto de estudantes brasileiros concorre a prêmio Jabuti por tecnologia de inclusão de línguas indígenas
Um grupo de estudantes desenvolveram o ‘Linklado’, um teclado digital para línguas indígenas e são agora finalistas no Prêmio Jabuti. O projeto visa preservar a rica diversidade linguística da Amazônia na era digital
Na categoria de Fomento à Leitura, o “Linklado: teclado digital para línguas indígenas”figura entre os dez finalistas da 65ª edição do Prêmio Jabuti. O anúncio dos cinco finalistas ocorrerá no dia 21 deste mês, às 12h (horário de Brasília). Informações atualizadas são disponibilizadas no site oficial da premiação (https://www.premiojabuti.com.br/). A cerimônia de premiação, revelando os ganhadores das 21 categorias divididas em Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação, juntamente com o Livro do Ano, acontecerá no Theatro Municipal de São Paulo, em 5 de dezembro.
Muitas línguas indígenas amazônicas não foram incorporadas na era digital devido à presença de caracteres únicos como ʉ, ɨ, ñ, ç̀, g̃ e a combinação de diversos diacríticos (`,´, ~, ^, ¨), ausentes na maioria dos teclados. Essa limitação obriga os indígenas a se comunicarem através de áudios ou substituir esses caracteres, pondo em risco a sobrevivência dessas línguas.
Siga lendo a matéria no link abaixo:
. Linklado: teclado digital para mais de 40 línguas indígenas é semifinalista do 65º Prêmio Jabuti
O projeto é sobre o desenvolvimento de um aplicativo que reúne caracteres especiais e combinações de diacríticos para mais de 40 línguas indígenas. Realizado anualmente pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), o Prêmio Jabuti é o mais importante do mercado editorial brasileiro. Em sua 65ª edição, a premiação tem entre seus semifinalistas a obra ‘Linklado: teclado digital para línguas indígenas‘, fruto de uma parceria entre as cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Noemia Kazue Ishikawa, Ana Carla Bruno e Ruby Vargas-Isla, com dois jovens estudantes amazonenses: Samuel Minev Benzecry e Juliano Dantas Portela. O aplicativo está disponível gratuitamente para Android e iOS.
Siga a leitura por aqui: https://portalamazonia.com/noticias/educacao/linklado-teclado-digital-para-linguas-indigenas-e-semifinalista-do-65-premio-jabuti
. Teclado digital traz caracteres de mais de 40 línguas indígenas
Conheça o Linklado, criado por jovens pesquisadoras para preservar a língua e a cultura indígena. Pensando em meios de preservar a língua e a cultura indígena, jovens pesquisadores criaram um teclado digital batizado de Linklado, com caracteres que formam o vocabulário de mais de 40 línguas indígenas da Amazônia.
. Aplicativo Linklado desenvolvido em Manaus fica entre os 10 semifinalistas do 65º Prêmio Jabuti
O teclado de línguas indígenas – Linklado – ficou entre os 10 semifinalistas do 65º Prêmio Jabuti na categoria de ‘Fomento à Leitura’. O teclado foi desenvolvido em parceria com as pesquisadoras Noemia Ishikawa e Ana Carla Bruno do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e os estudantes Samuel Minev Benzecry e Juliano Portela. Para saber mais o teclado acesse o site https://www.linklado.com/
A iniciativa surgiu como uma resposta às dificuldades enfrentadas na escrita das línguas indígenas em plataformas digitais. O problema foi levantado pelas pesquisadoras Noemia e Ana Carla, em 2009, durante um trabalho com os povos Tikuna (Maguta) no Alto Rio Solimões e a solução veio por meio dos jovens Samuel e Juliano, na época, estudantes do ensino médio.
Ana Carla Bruno, frisa a importância do aplicativo. “Parece uma coisa irrelevante, não é? Imaginem ter seus nomes escritos, registrados em documentos oficiais, escrever mensagem através de Whatsapp, histórias, livros didáticos com grafemas ou letras que não representam de fato os sons (fonemas) de suas línguas?”, pontua.
. Professora cria o aplicativo “Linklado”, que atende às necessidades gramaticais de mais de 40 línguas indígenas.
Variadas formas de escrita em línguas indígenas combinam diacríticos (uso de sinais gráficos como `,´, ~, ^ ou ¨) e utilizam caracteres especiais, como ʉ, ɨ, ñ, ç̀, g̃, que não estão presentes em teclados tradicionais.
Para facilitar processos de comunicação em línguas indígenas utilizando celulares com sistema Android ou computadores com sistema Windows, pesquisadores lançaram o aplicativo “Linklado”, que atende às necessidades gramaticais de mais de 40 línguas indígenas.
Idealizado por Samuel Benzecry (estudante da Universidade de Stanford, EUA) e Juliano Portela (estudante do ensino médio em Manaus), o “Linklado” nasce da necessidade de preservação das línguas indígenas faladas na Amazônia.
Siga a leitura por aqui: https://redeglobo.globo.com/redeamazonica/noticia/professora-cria-o-aplicativo-linklado-que-atende-as-necessidades-gramaticais-de-mais-de-40-linguas-indigenas.ghtml
. Aplicativo ‘Linklado’ facilita a comunicação em línguas indígenas
Teclado digital reúne caracteres utilizados por mais de 40 línguas indígenas da Amazônia e outros lugares na América do Sul
https://lunetas.com.br/linklado-teclado-indigena/
. Acesse o aplicativo aqui: https://www.linklado.com
NJINGA e SEPÉ: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras! Nova edição
v. 3 n. Especial II (2023): A Linguística e a Educação em debate nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e no Brasil
Esta publicação referente ao Vol.3, nºEspecial II, 2023 reúne trabalhos que debatem aspectos teóricos e práticos sobre os estudos linguisticos, e educacionais, especificamente as metodologias e métodos de ensino nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e no Brasil. Trata-se de uma publicação organizada pela Profa. Dra. Maria Goreti Varela Freire Silva, docente da Universidade de Cabo Verde, em Cabo Verde em coordenação com Prof. Dr. Alexandre António Timbane (UNILAB/USP). A Revista Njinga & Sepé é acolhedora, é incentivadora à pesquisa e à publicação e abriu exceção para artigos de outras áreas do saber na Seção VII “Varia”. Nesta Seção VII foram acolhidas pesquisas sobre Economia, Administração, Saúde pública, Antropologia, Sociologia, literatura e outras ´´areas afins. O objetivo é de oferecer oportunidades para que pesquisas possam ser compartilhadas, discutidas e incentivadas, especialmente para países sem recursos tecnológicos e financeiros para a publicação. A interação científica entre o Brasil e os países africanos é urgente e de salutar porque a UNILAB é uma instituição de integração internacional que presa pela cooperação e trocas científicas com Sul-Sul para que todos os países da integração possam crescer juntos . Os materiais publicados foram sujeitos à avaliação aos pares e às cegas por forma a garantir a cientificidade dos mesmos. Agora convidamos para que leiam e compartilhem com colegas, docentes, estudantes à todos sem exceção!
Profª. Drª. Maria Goreti Varela Freire Silva (Universidade de Cabo Verde, Cabo Verde)
Prof. Dr. Alexandre António Timbane (Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Brasil)
Sobre a Revista
O nome daRevista Njinga & sepé (مَجَلَّة نْجِينْغَا & سِيپِي) é uma singela homenagem a Rainha africana Njinga Mbandi* e ao guerreiro indígena brasileiro Sepé Tiarajú** ambos símbolos das lutas de resistência e da afirmação das identidades africanas e brasileiras. Homenagear Njinga Mbandi e Sepé Tiarajú é, sem sombra de dúvidas, uma inspiração para os desafios que esta Revista apresenta perante o mundo, porque o preconceito com relação às línguas faladas pelos povos africanos e povos do Brasil ainda é grande.
A Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas, e Brasileiras é um periódico da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) que visa divulgar pesquisas inéditas de pesquisadores, professores, estudantes de graduação e de pós-graduação que se interessam pelas temáticas das culturas, dos debates sobre políticas linguísticas críticas e pela descrição de línguas timorenses, africanas, indígenas brasileiras e de sinais com intuito de revitalizar, preservar, registrar e respeitar as culturas e identidades dos respectivos povos.
Visite o canal Youtube REVISTA NJINGA & SEPÉ para acessar outros conteúdos em vídeo https://www.youtube.com/@revistanjingasepe5651/featured
António Branco: “Não sou utópico nem catastrofista. Todas as tecnologias têm um duplo uso”
(Por Paula Sofia Luz, Diário de Noticias – Lisboa –
António Branco. Foi pioneiro ao trabalhar o tema da inteligência artificial, é primeiro coautor do livro branco sobre a língua portuguesa e a IA e criador do Albertina.pt, primeiro modelo aberto para a língua portuguesa.
Como e quando começou esse seu interesse pela temática da inteligência artificial (IA)?
Foi em novembro de 1987. Eu tinha acabado a licenciatura e envolvi-me num grande projeto para desenvolver tradução automática entre todas as línguas da União Europeia.
Passaram muitos anos até que a temática se democratizasse, exatamente há um ano…
Sim, não tenho dúvida de que isso só aconteceu em novembro de 2022. Parte do meu trabalho consiste na divulgação, e ao longo dos anos tenho-me empenhado bastante nisso, nomeadamente no livro de que sou coautor, publicado em 2012, o livro branco sobre a língua portuguesa na era digital. Que foi muito importante, mas com pouco eco. Há um ano, com a disponibilização do ChatGPT, nós – que por vezes éramos considerados uns certos lunáticos, ou, no mínimo, pessoas com uns interesses específicos muito estranhos – de repente passámos a ser glorificados.
Está mais do lado dos que consideram a IA uma oportunidade do que como uma ameaça?
Nem uma coisa nem outra. Eu estou do lado daqueles que sensatamente, olhando para todas as tecnologias (e esta não vai ser exceção), sabem que elas têm um duplo uso. Tem usos benéficos e outros prejudiciais. Portanto, não sou utópico nem catastrofista.
Acredita que a IA, bem usada, é uma ferramenta poderosa? Nomeadamente para melhorar muitas áreas?
Sem dúvida. Já em 1987 era um sonho imenso, fantástico, imaginar que eu podia contribuir para um dia deixar de haver barreiras de comunicação linguística. Era mesmo a ideia de mudar o mundo: todas as pessoas a falar umas com as outras, mesmo só conhecendo a sua língua materna. E esse sonho está agora a concretizar-se. Esse é um exemplo que acho extraordinariamente benéfico. Nós vamos poder falar com qualquer outro habitante que fale qualquer outra das sete mil línguas existentes no planeta Terra.
Neste ano que passou, como é que lhe parece que a sociedade portuguesa tem vindo a lidar com esta nova realidade da IA, cada vez mais presente na vida de todos?
A sociedade portuguesa tem várias esferas, dimensões e atores. Se falarmos, por exemplo, na comunicação social, julgo que a reação foi muito apropriada. Tem sido dado um destaque adequado à verdadeira importância desta tecnologia. Mas se falarmos no domínio governamental, das políticas públicas, a minha opinião é a oposta. Tem sido um vazio, até comparativamente à vizinha Espanha. Eles têm um PRR como nós, mas estabeleceram um capítulo de financiamento de mil milhões de euros, durante cinco anos, para aplicar na tecnologia da língua espanhola. E nós, em Portugal, destinámos zero. Mas se formos para outras geografias, como os Estados Unidos da América, estão destinados dezenas de milhares de milhões. Porque o país, para preservar a sua soberania, não se deixa ficar apenas na mão de organizações privadas. E nós, em Portugal, se nada for feito, continuaremos a subtrair a nossa soberania linguística e digital.
Leia a matéria na fonte: https://www.dn.pt/sociedade/antonio-branco-nao-so-utopico-nem-catastrofista-todas-as-tecnologias-tem-um-duplo-uso-17361996.html
Saiba mais sobre Albertina, primeiro modelo aberto para a língua portuguesa.pt puxando a rede do IPOL:
. Já conhece o Albertina PT?
https://ciencias.ulisboa.pt/pt/noticia/22-05-2023/já-conhece-o-albertina-pt?page=1
. Lançada a primeira Inteligência Artificial que gera textos em português sobre qualquer tema. Chama-se Albertina
http://www.di.fc.ul.pt/~ahb/images/AlbertinaExpressoMaio2023.pdf
. Língua portuguesa entra na era da IA
. “Há um risco de hiperconcentração dos grandes modelos Inteligência Artificial na Microsoft e na Google”, avisa António Branco
. Conheça a publicação de 2012 “Livro Branco sobre a Língua Portuguesa na Era Digital”
http://metanet4u.weebly.com/livro-branco-a-lingua-portuguesa-na-era-digital.html
Este Livro Branco, sobre a língua portuguesa na era digital, faz parte de uma coleção que promove o conhecimento sobre a tecnologia da linguagem e o seu potencial. É dirigido a um público o mais vasto possível, não especializado nestas matérias, incluindo comunidades linguísticas, jornalistas, políticos ou docentes, entre muitos outros.
O livro procura disponibilizar uma análise do estado de desenvolvimento da tecnologia da linguagem para a língua portuguesa, assim como das perspetivas que se oferecem, e das ações necessárias, para a consolidação do português como língua de comunicação internacional com projeção global na era digital no quadro desta tecnologia emergente.
Abra o link abaixo para alcançar a versão ebook da publicação:
http://metanet4u.eu/wbooks/portuguese.pdf
. Saiba mais a Coleção Livros Brancos da META-NET
http://www.meta-net.eu/whitepapers/overview-pt
As Línguas Europeias na Era Digital
Objetivos e Dimensão
A META-NET, uma rede de excelência que consiste em 60 centros de pesquisa de 34 países, dedica-se à construção de bases tecnológicas da sociedade de informação multilingue europeia.
A META-NET está a construir a META, uma Aliança Tecnológica Europeia Multilingue. Os benefícios conferidos pelas Tecnologias da Linguagem diferem de língua para língua, tal como as ações que precisam de ser tomadas dentro da META-NET, dependendo de diversos fatores, tais como a complexidade da língua em questão, a densidade da sua comunidade e a existência de centros de pesquisa ativos nesta área.
A Coleção Livros Brancos da META-NET «Línguas na Sociedade de Informação Europeia» descreve o estado de cada língua europeia, respeitando as Tecnologias da Linguagem, explicando os riscos e as oportunidades mais urgentes. A coleção abrange todas as línguas oficiais europeias e muitas outras faladas noutros locais do Velho Continente. Não obstante a publicação de diversos estudos científicos acerca de determinados aspetos sobre as línguas e a tecnologia ao longo dos últimos anos, não existe uma fonte literária exaustiva a tomar uma posição apresentando os principais desafios e descobertas para cada língua. A Coleção Livros Brancos da META-NET preencherá esta lacuna.
31 Volumes cobrem 30 Línguas Europeias
Basco, Búlgaro, Catalão, Croata, Checo, Dinamarquês, Holandês, Inglês, Estoniano, Finlandês, Francês, Galego, Alemão, Grego, Húngaro, Islandês, Irlandês, Italiano, Letão, Lituano, Maltês, Norueguês (antigo), Norueguês (moderno), Polaco, Português, Romeno, Sérvio, Eslovaco, Esloveno, Espanhol, Sueco.