Línguas de sinais

Setembro Azul: mês da visibilidade da comunidade surda e da Língua Brasileira de Sinais

O Setembro Azul é uma iniciativa que acontece anualmente no mês de setembro com o objetivo de dar maior visibilidade à comunidade surda no Brasil. Nesse mês são promovidas ações que destacam os desafios encontrados pela comunidade surda como a exclusão e o preconceito. Diante da sociedade, é como se as pessoas surdas passassem despercebidas pelos ouvintes, invisíveis. O mês também destaca a importância da valorização da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. A data também serve para ampliar a integração dos surdos e para proposição de políticas públicas em benefício dessa população.

A escolha do mês leva em consideração uma série de fatores, entre as datas significativas para os surdos em setembro está o Dia Nacional do Surdo, celebrado em 26 de setembro, o Dia Internacional da Língua de Sinais, em 23 de setembro, e o dia 30 de setembro, que celebra o Dia Internacional do Tradutor e Intérprete.

No caso do azul, a cor foi resgatada como símbolo de resistência dos surdos no contexto nazista e como uma forma de homenagear os que foram mortos nessa época. Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas identificavam as pessoas com algum tipo de deficiência com uma faixa azul no braço, por considerá-las inferiores. Com o passar dos anos a cor foi ressignificada, passando a simbolizar ao mesmo tempo a opressão enfrentada pelos surdos e o orgulho da identidade surda.

No Brasil, o 1º de setembro ficou marcado como o dia de promulgação da lei nº 12.319. Essa lei regulamentou a profissão do intérprete de Libras no país. Libras é a Língua Brasileira de Sinais, usada na comunicação dos surdos.

Para o Brasil Escola, o Setembro Azul procura ser um período para promoção de ações que atendam a comunidade surda, trazendo debates sobre os problemas e desafios dela, sobre políticas públicas que podem atendê-la, e sobre como a população deve se conscientizar do direito à inclusão dos surdos na sociedade como um todo.

Sabemos que essa luta não cabe em apenas um mês. O ato de quebrar as barreiras da acessibilidade, exige que nós quebremos os nossos preconceitos e nos aproximemos mais da comunidade surda. É necessário ouvirmos a voz das pessoas surdas, e para isso, a inclusão da Língua Brasileira de Sinais é fundamental. Precisamos da Libras como ensino nas escolas, intérpretes na saúde pública, em estabelecimentos comerciais, bancos, etc. A deficiência está na sociedade, que não acolhe a comunidade surda, e que os impede de aprenderem, consumirem e se divertirem.

Muitas conquistas já foram obtidas, mas ainda há muito o que conquistar. Todos podemos participar da luta da comunidade surda, conhecendo, apoiando e difundindo sua rica cultura.

 

 

Siga a leitura em : https://oexpresso.com.br/setembro-azul-mes-da-visibilidade-da-comunidade-surda-e-da-lingua-brasileira-de-sinais/

Pesquisador colaborador do IPOL lança o Repositório Brasileiro de Legislações Linguísticas (RBLL)

 

Marcos Paulo, o mais novo pesquisador colaborador do IPOL, Doutor e Mestre em Letras na área de Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Sergipe e Doutorando em Direito na Universidade Federal da Bahia (UFBA), desenvolveu e apresenta o site Repositório Brasileiro de Legislações Linguísticas (RBLL)

Com a formação acadêmica iniciada emFilosofia, chegou a Licenciatura em Letras e através do PROUNI alcançou o Direito. Essa formação plural o conduziu a pesquisas que exploram interdisciplinaridades como Filosofia e Direito, mas foi a interface entre Linguística e Direito que o aproximou das comunidades nos cantos do país. Segundo Marcos, essa interface o conquistou “especialmente por ser uma questão sensível às minorias linguísticas, grupos radicalmente vulneráveis nos mais diversos contextos sociais, porque estão excluídos da comunicação considerada legítima e aceitável.”

Foi no percurso do desenvolvimento de sua tese que chegou ao entendimento de que “uma análise orgânica do sistema jurídico brasileiro em relação às línguas e aos direitos linguísticos seria mais útil e consistente”. Diz que “lidar com a intrincada amálgama entre relações jurídicas, práticas linguísticas e processos histórico-políticos que as conformaram, foi algo especialmente complexo porque a maior parte dos trabalhos que se propuseram a fazer algo semelhante quanto a regimes linguísticos de outros países situavam-se mais estritamente no campo das Ciências Jurídicas (é o caso da tese de Sophie Weerts da Universidade de Louvain, por exemplo). Considerando que nosso objeto já era em si mesmo interdisciplinar, nossa análise também foi construída a partir de interface: como método de trabalho e dispositivo analítico lançamos mão da Análise de Discurso de tradição pecheutiana; para situar, descrever e compreender (em parte) o corpus precisamos recorrer ao próprio Direito (especialmente os ramos Constitucional e Comparado), à Linguística Jurídica e a uma área de Linguística Aplicada denominado Política e Planejamento Linguístico.”

Como um desdobramento que surgiu a partir do levantamento de leis que fez na pesquisa doutoral, Marcos esclarece que “o  Repositório Brasileiro de Legislações Linguísticas (RBLL) procura ser um instrumento útil à tutela jurídica das línguas minoritárias do Brasil. Para os beneficiários dessa proteção, ele oferece acesso direto aos instrumentos legais que contém a formalização de seus direitos linguísticos. Para pesquisadores da área e estudiosos em geral, possibilita não apenas o acesso à materialidade textual das leis, mas também a recursos de busca e de agrupamento por língua, tipo de língua, Município, Estado etc. “

Marcos comenta “que durante a pesquisa realizada no Brasil e América Latina se deparou com uma intrincada e complexa teia de questões jurídicas e linguísticas que devem ser continuamente revisitadas do ponto de vista cientifico e acadêmico, mas também político e jurídico. Considerando que estas legislações são publicadas por força da lei mas que acabam ficando dispersas, se não ocultas, nos meandros da web, esboçou o Repositório como uma ferramenta que contribui para a divulgação do valoroso trabalho de cooficialização de línguas iniciado no Município de São Gabriel da Cachoeira, em 2002, contando com a intensa colaboração do IPOL, e que já alcança mais de 67 jurisdições (aí incluídos 66 Municípios e 1 Estado) e 38 línguas (26 indígenas, 10 alóctones e 2 gestuais). O Repositório possui atualmente a coleção “Normas de Cooficialização”, mas pretendemos ampliá-lo para exibir outras coleções de normas relacionadas a línguas minoritárias, bem como apresentar o levantamento de projetos legislativos em andamento, tendo em vista que essa é a fase mais sensível e crucial em termos políticos.”

Por fim, Marcos anota que “somando-se a tudo isso, há o fato de que o Brasil está entre os dez países com a maior diversidade linguística do planeta, mas dispõe de uma proteção jurídica notadamente frágil em relação às línguas minoritárias e às suas comunidades de falantes; precisamos avançar em termos de justiça linguística e para isso é extremamente útil termos acesso aos passos já dados, às conquistas legais que podem tomar como ponto de partida para novas empreitadas. Então o Repositório foi construído animado por múltiplos propósitos: divulgar as leis que já conseguimos promulgar e publicar, que são conquistas a serem conhecidas por seus beneficiários e acompanhadas para que sejam efetivamente implementadas e não apenas documentos de arquivos; fornecer aos pesquisadores que queiram se aventurar pelo Direito Linguístico materialidades a serem melhor investigadas e também uma indicação mínima de seus efeitos jurídicos; ser um espaço de memória no que diz respeito às legislações linguísticas brasileiras.”

 

Siga o link para conhecer a primeira versão do RBLL:

https://direitolinguistico.com.br/repositorio/

RBLL – página de entrada com listagem de municípios (imagem do site)

 

RBLL – procura por municipios, estados, etnia, ou línguas (imagem do site)

RBLL – Distribuição geográfica(imagem do site)

__________________________

Saiba mais.

coof

Em 2015 o IPOL lançou durante a realização do 1 ENMP (Encontro Nacional de Municípios Plurilingues), realizado em Florianópolis, a publicação Leis e línguas no Brasil: o processo de cooficialização e suas potencialidades. Florianópolis: IPOL, 2015. 137p. MORELLO, Rosângela. (Org.).  A coordenadora do IPOL Rosangela Morello comenta que “este livro foi concebido no momento em que se imaginava o 1ºENMP. Considerando o objetivo do Encontro de promover uma discussão multifacetada sobre a diversidade linguística e a política de cooficialização de línguas por municípios no Brasil, decidimos reunir, comentando, as leis e demais documentos ligados ao processo de cooficialização com o intuito de oferecer ao leitor uma compreensão histórica desse fato político e social.”

 

cartaz_30jul

Mesa redonda com a participação de representantes dos municípios plurilíngues - Foto: IPOL Comunicação.

Veja a matéria sobre o livro: http://ipol.org.br/?s=leis+e+l%C3%ADnguas

 

Berço da 1ª língua indígena de sinais, MS quer tradutor em locais públicos

Após oficialização da língua de sinais Terena, MS aguarda registro como língua de instrução para garantir direito a tradução em escolas

atualizado

 

page7image51012336

Sinal Mandioca, parte 1

page8image50509424

Sinal Mandioca, parte 2

Símbolo dos povos da etnia Terena, a primeira língua indígena de sinais oficial do país, registrada pelo governo do Mato Grosso do Sul (MS), aguarda o reconhecimento como língua de instrução pelo Conselho Estadual de Educação. Caso aprovada, a medida garantirá aos indígenas surdos o direito a um tradutor no próprio idioma em locais públicos, como escolas e postos e saúde.

O Brasil tem mais de 270 línguas indígenas identificadas no país, das quais 17 estão oficializadas. Em termos de linguagem de sinais, as mais famosas são a Ka’apor, de aldeias tradicionais do Maranhão; e a Terena, de Miranda (MS), a primeira a ser registrada em território brasileiro.

 Atualmente, apenas a Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem o título de língua de instrução, o que não engloba a parcela da população surda de alguma etnia indígena e que não fala português.

Ou seja, os descendentes de povos originários com alguma deficiência auditiva ou na fala, que entendem apenas o próprio idioma, têm dificuldades de acesso a escolas, instituições públicas e hospitais, por não haver tradutor capacitado para atendê-los.

 Mato Grosso do Sul é o segundo estado com a maior população indígena do país, atrás apenas do Amazonas. Segundo o governo do estado, a proposta tem como objetivo garantir o acesso a essa parcela da população, vítima de preconceitos tanto pela deficiênca quanto pela origem indígena, às políticas públicas governamentais.

Capacitação

Após a oficialização do idioma, o próximo passo é capacitar tradutores aptos a atender a essa população no território. No início deste mês, o governo estadual realizou o III Encontro de Surdos Terena, quando foi lançado o primeiro curso do país de formação de tradutores e intérpretes na língua indígena de sinais.

A capacitação, voltada para profissionais nascidos em aldeias, será realizada a partir do programa de educação a distância usando a plataforma “Universidade Aberta” da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

A proposta é ofertar o curso de tradução e intérprete da língua e, posteriormente, o de práticas no idioma. A formação faz parte do Plano Estadual para a Década das Línguas Indígenas, desenvolvido pela Coordenadoria de Modalidades Específicas da SED voltado para a comunidade terena de Miranda, estudantes e professores.

Conquista para as aldeias

“Já passei por muitos obstáculos junto com os meus filhos. Fui discriminada junto com eles e sei o quanto a sociedade tem um olhar preconceituoso contra eles por serem surdos e indígenas. Por esse motivo que estou nesta luta e, enquanto eu estiver viva, nunca vou me calar diante dos preconceitos e discriminação contra qualquer indígena surdo”, conta Ondina Miguel, indígena da etnia terena e moradora de Miranda.

Três dos sete filhos dela são surdos e estão entre os precursores da linguagem, criada há duas décadas. Quando ainda eram crianças, por não ter intérprete de língua de sinais, a escola da comunidade avisou que não teria condição de dar aula para Elcio, o filho mais velho de Ondina.

Durante quatro anos, a educação de um dos filho ficou suspensa. Ele não ia à escola, até que a família foi levada à cidade para procurar acolhimento e estudo.

Na terceira porta que Ondina bateu, a direção da escola não só aceitou as crianças como abraçou a família trazendo-os inclusive para fazer exames em Campo Grande. Ainda assim, era preciso percorrer 30 km, diariamente, contando ida e volta da aldeia para a cidade.

“Meu filho Elcio concluiu o Ensino Médio, se mudou para Campo Grande em busca de mais oportunidades. O Everton também concluiu o Ensino Médio e atualmente está morando comigo”, conta Ondina.

“A Maria Eliza seguiu o seu caminho, estudou, casou-se com um surdo e tem dois filhos fluentes em Libras, eles moram em Campo Grande. Eu, como mãe, sigo batalhando por eles para continuarem estudando e realizarem os seus sonhos. Eu não perco a esperança porque sei que eles são capazes”, ressalta a mãe.

Constituição traduzida em língua indígena

Trinta e cinco anos após promulgada, a Constituição brasileira foi traduzida pela primeira vez para uma língua indígena: o nheengatu. Patrocinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a nova versão da Carta Magna foi lançada na quarta-feira (19/7) no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), em uma cerimônia na maloca da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN).

Presente no evento, a presidente do STF, ministra Rosa Weber, diz que a tradução marca um momento histórico.

“Traduzir a Constituição para um idioma indígena é um símbolo do nosso compromisso de garantir que todos os povos indígenas tenham acesso à justiça e conhecimento das leis que regem nosso país, fortalecendo sua participação na vida política, social, econômica e jurídica”, explicou.

Com informações do governo do Mato Grosso do Sul*

 

https://www.metropoles.com/brasil/ms-berco-da-1a-lingua-de-sinais-indigena-quer-registro-de-instrucao

 

Saiba mais puxando a Rede:

Artigo: A DESCOBERTA DOS SINAIS TERENA NO MATO GROSSO DO SUL: VALORIZANDO A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA NO BRASIL

https://dspace.unila.edu.br/bitstream/handle/123456789/3608/SIDL_%20194-198.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Artigo na Revista Njinga & Sepé: https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/article/view/690/361

Na vanguarda da inclusão, nasce em MS a primeira língua indígena de sinais oficial

Portal do Governo de Mato Grosso do Sul –  27/julho/2023

Elcio, Everton, Maria Eliza. Dos sete filhos de dona Ondina, mulher indígena da etnia terena, nascida e criada na Aldeia Cachoeirinha, em Miranda, estes três são surdos.

A descoberta veio pelas mãos das crianças ainda bebês. Quando, em vez de falarem, apontavam para o que queriam, nascia ali uma língua de sinais caseira, que viria a ser a língua terena de sinais oficializada.

É no galpão anexo à Igreja Católica, construída em 1931, na Aldeia Cachoeirinha, que as mãos falam e os olhos ouvem no III Encontro de Terena Surdos, resultado da luta de Ondina pelo respeito à cidadania dos filhos, e que hoje se estende a toda comunidade surda da região.

“Já passei por muitos obstáculos junto com os meus filhos. Já passei frio, passei fome, já chorei, já chorei muito. Fui discriminada junto com eles e sei o quanto a sociedade tem um olhar preconceituoso contra eles por serem surdos e indígenas. Por esse motivo que estou nesta luta e, enquanto eu estiver viva, nunca vou me calar diante dos preconceitos e discriminação contra qualquer indígena surdo”, se compromete Ondina Antônio Miguel, de 57 anos.

O tema do III Encontro é sobre educação e linguística dos indígenas terena surdos e acontece a 100 metros de onde a família de Ondina sofreu a primeira discriminação, 20 anos atrás. Por não ter intérprete de língua de sinais, a escola da comunidade avisou que não teria condição de dar aula para Elcio, o filho mais velho de Ondina.

A mãe não se cansa de contar a história. Durante quatro anos a educação do filho ficou suspensa. Ele não ia à escola, até que a família foi levada à cidade para procurar acolhimento e estudo.

Na terceira porta que Ondina bateu, a direção da escola não só aceitou as crianças como abraçou a família trazendo-os inclusive para fazer exames em Campo Grande. Ainda assim, era preciso percorrer diariamente 30 quilômetros contando ida e volta da aldeia para a cidade.

“Meu filho Elcio concluiu o Ensino Médio, se mudou para Campo Grande em busca de mais oportunidades. O Everton também concluiu o Ensino Médio e atualmente está morando comigo. A Maria Eliza seguiu o seu caminho, estudou, casou-se com um surdo e tem dois filhos fluentes em Libras, eles moram em Campo Grande. Eu, como mãe, sigo batalhando por eles para continuarem estudando e realizarem os seus sonhos. Eu não perco a esperança porque sei que eles são capazes”, ressalta a mãe.

Ondina hoje é falante de quatro línguas, a terena e a língua portuguesa, a língua terena de sinais e Libras (Língua Brasileira de Sinais). Mas, para que ela aprendesse a Libras, e os filhos não deixassem de usar a língua terena de sinais, foi preciso unir muitas mãos num trabalho pela inclusão.

Entre tantas línguas faladas e sinalizadas, Ondina se confundiu em sua apresentação. Ela é mãe de indígenas surdos e fluente em Terena, Português, Libras e Língua Indígena de Sinais

Da reivindicação ao direito linguístico 

Em 2007, os caminhos de Ondina e Denise Silva se cruzaram, durante o doutorado da professora, hoje pós-doutora em Linguística, técnica da SED (Secretaria de Estado de Educação), representante da Unesco no Estado e atuante em três frentes para a preservação das línguas indígenas.

“Um dia cheguei na aldeia e ela me falou da dificuldade que estava tendo em se comunicar com os filhos, porque ela falava, eles não entendiam e estavam se isolando. Fui tentar entender, e o que estava acontecendo é que quando o surdo aprende Libras ele automaticamente deixa estes sinais caseiros de lado”, explica Denise.

Como a convivência dos três filhos de Ondina se dava mais tempo na escola do que em casa, eles passaram a sinalizar Libras e escrever o português com a gramática da língua de sinais. “Temos línguas coexistindo ali, e eles não conseguiam estabelecer uma comunicação. Não era um problema emocional, nem rejeição, e sim uma dificuldade de comunicação”, pontua a técnica da SED.

Do encontro à oficialização da Língua Terena de Sinais

O contexto foi levado ao doutorado e uma união de esforços e movimentos se concentrou em fazer com que não só a família de Ondina, mas todos os demais indígenas surdos tivessem o direito linguístico garantido. Das discussões sobre o acesso à educação e o espaço na sociedade surgiram os encontros de surdos terena, que contaram com a participação de Shirley Vilhalva, professora indígena surda, doutoranda em Linguística Aplicada e professora titular da UFMS.

Shirley é pesquisadora e atua desde os anos 1990 com Libras, indígenas surdos e língua de sinais indígenas. “No passado eu fui muito contra os alunos saírem da aldeia e vir para a cidade porque parecia que ocorria um desligamento cultural. O trabalho tem que ser dentro da aldeia, por isso hoje estou muito emocionada, porque o grupo conseguiu a oficialização da língua terena de sinais. Estou extremamente feliz com o nosso trabalho”, sinaliza em Libras.

Precursora no olhar para língua indígena de sinais, Shirley fala da felicidade que é ver a oficialização da Língua Terena de Sinais

Com a proclamação da Década Internacional das Línguas Indígenas (International Decade of Indigenous Languages – IDIL 2022-2032), constituída pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o Governo do Estado desenvolve o Plano Estadual para a Década das Línguas Indígenas como forma de preservar a cultura das comunidades que vivem em Mato Grosso do Sul.

Dentro da ação da Unesco, os olhos do mundo se voltam ao trabalho iniciado em Miranda, primeira cidade do Brasil a co-oficializar uma língua indígena de sinais, a LTS (Língua Terena de Sinais) em decreto publicado no mês de abril deste ano. Na prática, o município tem como línguas oficiais o português, Libras, terena falada, terena de sinais e kinikinau.

A língua terena de sinais já está reconhecida como língua tanto dentro da academia quanto como política local. O próximo passo é reconhecê-la como língua de instrução, processo que está em tramitação no Conselho Estadual de Educação.

Movido pela força de Ondina, a mãe que segue na luta pela inclusão dos surdos terena, o trabalho de toda uma rede composta pela Secretaria de Estado de Educação, Coordenadoria de Modalidades Específicas, CAS (Centro de Apoio ao Surdo), UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), UFPR (Universidade Federal do Paraná) e Ipedi (Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural), não para.

Subsecretária de Políticas Públicas para a Pessoa com Deficiência, Telma Nantes de Matos, ressalta que a palavra do evento é a cidadania.

“Uma mãe que mostrou sua luta, determinação e a importância da inclusão. Hoje nós vivemos um momento de um governo que fala em cidadania, que fala em direitos humanos, garantia de direitos, um governo inclusivo que não deixa ninguém pra trás, que é próspero que se propõe a contribuir com a inclusão das pessoas com deficiência, em especial dos indígenas surdos”, enfatiza Telma.

Pioneirismo sul-mato-grossense 

Com as bandeiras do Brasil, MS, Miranda e Funai, encontro marca o pioneirismo de MS na inclusão dos indígenas surdos

No III Encontro de Surdos Terena foi lançado o primeiro curso do País de formação de tradutores e intérpretes de língua terena de sinais, que será feito através do programa de educação a distância usando a plataforma “Universidade Aberta” da UFPR.

A proposta é ofertar o curso de tradução e intérprete de língua terena de sinais, e posteriormente o de práticas de língua terena de sinais. A formação faz parte do Plano Estadual para a Década das Línguas Indígenas, desenvolvido pela Coordenadoria de Modalidades Específicas da SED voltado para a comunidade terena de Miranda, estudantes e professores.

“Não que os indígenas surdos não vão aprender a Libras, mas ela é uma língua de comunicação para fora da aldeia. Aqui na comunidade eles precisam ter essa comunicação especial como no caso com a mãe, com os irmãos, visto que o indígena vai pra escola, vai pra cidade e aprende libras, a comunidade não”, resume Denise Silva.

Pioneira no Brasil, a proposta da formação de Mato Grosso do Sul servirá de exemplo para todos os estados. “Esta metodologia que estamos fazendo aqui vai servir de precedente inclusive para os povos do Amazonas, do Acre, Pará, Xingu, que estão isolados, para que consigam ter acesso ao direito linguístico, que antes de tudo é um direito humano”, especifica a professora e técnica da SED, Denise Silva.

Sem uma legislação na qual se espelhar, a ação inovadora vem sendo construída a partir de escutas e pesquisas envolvendo as universidades, Secretaria de Estado de Educação e a população que será beneficiada: a comunidade terena da Aldeia Cachoeirinha, em Miranda.

Doutora em Linguística e Língua Portuguesa, professora do curso de licenciatura em Letras Libras da UFPR, Kelly Priscilla Lóddo Cezar é a coordenadora da parte pedagógica do curso de formação, e quem conheceu ainda no doutorado a história de luta de Ondina.

“Como linguistas, nós sabemos que a linguagem é uma forma de emancipação, é natural do ser humano e todas as línguas são importantes. Nós precisamos pensar que a cada língua que entra em risco de extinção como estava a terena de sinais, a gente pode perder uma língua, sua cultura e pode perder histórias como a da dona Ondina”, descreve.

A formação vem para capacitar a comunidade terena, surda ou não, e principalmente para que a língua terena de sinais não seja extinta. Ao contrário de cursos que são adaptados posteriormente, o de língua terena de sinais é construído a partir das necessidades dos professores, pais e próprios alunos terena surdos.

A maneira de perpetuar o ensino da língua vem através da tecnologia. Coordenadora do Centro de Educação a Distância da UFPR, a professora Geovana Gentili Santos trabalha para a expansão da aprendizagem onde a pessoa estiver.

“Por meio dessa plataforma as pessoas vão poder fazer a formação de onde estiverem, para que a universidade rompa com as suas barreiras geográficas e, nós possamos levar a formação onde efetivamente é necessária”.

Indígenas apresentaram a cultura terena por meio da dança, música, língua falada e de sinais

Sem deixar ninguém pra trás

Se dona Ondina não tivesse lutado pela inclusão e encontrado pelo caminho quem abraçasse não só sua família como a causa dos indígenas surdos, a mãe acredita que os filhos estariam até hoje isolados.

Ao olhar para trás, a matriarca dos Antônio Miguel fica feliz pela oficialização da língua terena de sinais e a formação de intérpretes para que a sinalização que ela entende e fala com os filhos em casa ganhe cada vez mais força.

“Tudo isso significa para mim que a luta nunca terá fim, mas que em breve vai dar bons frutos. Meu sonho para eles, os meus filhos, é que eles sejam alguém na vida”, acredita.

Sem deixar ninguém pra trás, uma das premissas do Governo do Estado, é fazer de Miranda um projeto piloto para que depois a língua de sinais seja oficializada e alcance estudantes surdos indígenas guarani.

Sinalizando, Edmara e Everton, filhos de dona Ondina, junto da mãe, reproduzem o lema que inspira o trabalho de cidadania do Estado de Mato Grosso do Sul: “Ninguém fica pra trás”.

“Quero agradecer a todo mundo que veio aqui, que veio de longe, e falar que nós queremos um futuro melhor”, finaliza em língua terena de sinais, Everton Miguel, de 26 anos.

Paula Maciulevicius, da Setescc

Fotos: Álvaro Rezende

Leia a matéria na fonte: https://agenciadenoticias.ms.gov.br/na-vanguarda-da-inclusao-nasce-em-ms-a-primeira-lingua-indigena-de-sinais-oficial/

História em quadrinhos retrata língua indígena de sinais

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em outubro de 2022 postamos uma matéria do site Brasildefatopr sobre uma história em quadrinhos que retrata a língua indígena de sinais utilizada por pessoas surdas do povo Terena. Para além daquele fato, retornamos ao assunto para trazer mais informações e materiais do referido trabalho.

Confira a matéria na fonte Agência Brasil – EBC: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2021-03/historia-em-quadrinhos-retrata-lingua-indigena-de-sinais

Saiba mais puxando a rede:

Centec –  HQ em Libras: Sol, a pajé surda

https://www.cenpec.org.br/tematicas/hq-sinalizada-sol-a-paje-surda

Por Stephanie Kim Abe

A pajé surda Kaxé é chamada para auxiliar um parto, ritual típico da sua comunidade indígena. No momento em que pede a benção aos ancestrais, a pajé recebe também a visão do futuro do seu povo terena por meio de imagens. Esse episódio, que acontece em algum momento antes do século XV, é pontapé para a história que se desenvolve na história em quadrinho (HQ) Sol, a pajé surda.

A partir daí, o enredo se desenvolve contando os principais momentos históricos do povo terena, como o início com o tronco linguístico Aruak, os caminhos percorridos, em torno do rio Paraguai, e a sua fixação na região de Mato Grosso do Sul – onde se encontra a maioria do povo terena atualmente.

HQ sinalizada: Séno Mókere Káxe Koixómuneti (Sol: a Pajé surda)

https://wp.ufpel.edu.br/tesouro-linguistico/2021/03/19/hq-sinalizada-seno-mokere-kaxe-koixomuneti-sol-a-paje-surda/

Acesse o TCC “HQ SINALIZADA: SÉNO MÓKERE KÁXE KOIXÓMUNETI” de Ivan de Souza

(ao final da publicação

https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/73351/R-M-Ivan_de_Souza.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Defesa pública do TCC de Ivan de Souza

HQ que retrata língua indígena de sinais concorre ao “Oscar dos quadrinhos”

PGET lança novo livro sobre estudos da tradução e interpretação da Língua de Sinais

26/06/2023 08:55 – AGECOM UFSC

O Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) lança o livro Perspectiva dialógica nos estudos da tradução e interpretação da língua de sinais,organizado pelo professor Vinícius Nascimento, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), docente permanente do PGET e membro-pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Interpretação e Tradução de Línguas de Sinais (InterTrads/UFSC/CNPq).

O livro apresenta pesquisas que adotam a perspectiva dialógica da linguagem, construída a partir da leitura das obras do filósofo russo Mikhail Bakhtin e seu círculo, composto por linguistas, dramaturgos, filósofos e comunicólogos no início do século XX, para a compreensão e pesquisa da tradução e interpretação de línguas de sinais. Os capítulos apontam sobre a contribuições da perspectiva dialógica para o conceito de tradução, a atuação de intérpretes, tradutores e guias-intérpretes a partir da leitura dos conceitos e ética e estética de Bakhtin, os gêneros do discurso em Libras e videossinalizada, a interpretação da Libras na TV a partir da perspectiva de intérpretes surdos, a formação de tradutores audiovisuais da Libras por meio da mobilização de conceitos bakhtinianos, o uso de notas de interpretação e aspectos verbo-visuais da Libras no teatro, o acesso do surdo à justiça de uma perspectiva verbo-visual dialógica e a produção e posição discursiva do intérprete e tradutor de Libras na esfera educacional.

Além de docentes do Núcleo InterTrads da UFSC, a obra conta com a participação de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Universidade de São Paulo (USP).

O livro possui oito capítulos, além da apresentação, feita pelo organizador e o prefácio, escrito pelo pesquisador, professor, tradutor e linguista bakhtiniano Adail Sobral da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). A obra foi publicada na coleção LiCorEs (Linguagem, Corpo e Estética) da Editora Hucitec e a versão digital gratuita pode ser acessada no Repositório da UFSC e a versão impressa pode ser adquirida no site da editora.

Leia diretamente no site da UFSC e siga a notícia:

https://noticias.ufsc.br/2023/06/pget-lanca-novo-livro-sobre-estudos-da-traducao-e-interpretacao-da-lingua-de-sinais/

IPOL Pesquisa

Receba o Boletim

Facebook

Revista Platô

Revistas – SIPLE

Revista Njinga & Sepé

REVISTA NJINGA & SEPÉ

Visite nossos blogs

Forlibi

Forlibi - Fórum Permanente das Línguas Brasileiras de Imigração

Forlibi – Fórum Permanente das Línguas Brasileiras de Imigração

GELF

I Seminário de Gestão em Educação Linguística da Fronteira do MERCOSUL

I Seminário de Gestão em Educação Linguística da Fronteira do MERCOSUL

Clique na imagem

Arquivo

Visitantes