I Ciclo de Palestras “Educação para o Plurilinguismo”
O IPOL é umas das instituições apoiadoras do I Ciclo de Palestras “Educação para o Plurilinguismo” um evento organizado no âmbito do Colegiado Setorial da Diversidade Linguística como representação da sociedade civil no Sistema Estadual de Cultura (SEDAC – RS)
O I Ciclo de Palestras “Educação para o Plurilinguismo” é uma atividade promovida pelo Colegiado Setorial da Diversidade Linguística como representação da sociedade civil no Sistema Estadual de Cultura (SEDAC – RS), em parceria com o projeto PLURES: Plurilinguismo e Escola, do Colégio de Aplicação da UFRGS.
Seu objetivo é contribuir, com diferentes instâncias da sociedade e do Estado, para a reflexão sobre os fundamentos de uma educação para o plurilinguismo, no sentido de valorizar, compreender e visibilizar a diversidade linguística e cultural em contextos de ensino/aprendizagem, como uma questão especialmente significativa e presente em nosso estado, em áreas de fronteira, de imigração histórica, de populações indígenas e de comunidades quilombolas, bem como também de linguagens não-verbais como a Libras e da própria diversidade do português rio-grandense.
O Programa compõe-se de 05 encontros virtuais, com duração média de 1h30min, a serem realizados nas quintas-feiras dos dias 17 de agosto (Dia Estadual do Patrimônio Cultural) e 02, 09, 16 e 23 de setembro de 2021, no horário das 19h às 20h30min.
Canal YouTube do Colegiado Setorial da Diversidade Linguística
Link para inscrições (aberto no período de 01/08 até 16/08/2021)
A participação como ouvinte é livre e gratuita, porém, para obter certificado de extensão (PROREXT/UFRGS), é necessário realizar a inscrição através do link acima e ter no mínimo 75% de presença nas mesas redondas.
A experiência zambiana no verso e reverso das políticas linguísticas na educação
A história da política linguística educativa zambiana pode ser dividida em três períodos: pré-independência, entre 1920 até Outubro de 1964; de 1964 até 1991, aquando do anúncio da Terceira República; e o período contemporâneo.
Quatro factores foram determinantes para a adopção da política educativa do pré-independência: a Comissão Phelps-Strokes; o Instituto Internacional Africano; a UNESCO; e o factor Missionário.
Do ponto de vista filosófico, segundo Mubanga Kashoki em «Utilização das Línguas Africanas na Educação Básica: Lições da Experiência Zambiana», era consenso geral que a língua materna (língua primeira ou língua de casa) foi o veículo mais apropriado para ministrar a educação (i.e., conhecimentos e habilidades) aos povos submetidos à administração colonial. A Comissão Phelps-Stokes, por exemplo, opinava que “todos os povos têm um direito inerente à sua própria língua” e desmerecia o facto de que “no passado, praticamente, todas as nações, que dominavam outras, forçaram a sua língua aos povos nativos e desencorajaram o uso das suas línguas nativas”. Acrescenta que, a época, essa Comissão não deixou de constatar que “felizmente, nos dias de hoje, as únicas nações que ainda mantêm esta atitude nas suas possessões são os franceses e os portugueses – quaisquer que sejam os motivos – a política é insensata e injusta”.
Esta posição foi reforçada pelo Instituto Internacional de Línguas e Culturas (mais tarde, Instituto Internacional Africano) que, em 1930, emitiu a seguinte posição: “É um princípio universalmente reconhecido na educação moderna que uma criança deve receber instrução através da sua língua materna e este privilégio não deve ser negado à criança africana”.
Mais de duas décadas depois, a UNESCO reforçava a aprovação deste princípio num relatório de 1951, intitulado . “O Uso das Línguas Vernaculares na Educação”. Este relatório surge após a realização de um encontro de especialistas que chegaram à conclusão que, do ponto de vista psicológico e filosófico cardinal, “os alunos deviam iniciar a sua escolarização através do meio (de instrução) constituído pela língua materna”, acrescentando, por seu turno, que tal não implicava na negação aos africanos do acesso às línguas europeias ou metropolitanas. Num último ponto desse mesmo relatório, constava ainda o seguinte: “Nós reconhecemos que é indubitavelmente necessário para o progresso de África, que muitos africanos adquiram um conhecimento profundo de uma língua europeia para obter livre acesso à fonte da vida e pensamento ocidentais, mas este será melhor compreendido e apreciado pelo estudante se ele aprendeu a pensar primeiro na sua própria língua e a compreender a sua própria civilização.”
Por sua vez, também as missões católicas adoptaram as línguas africanas, tanto no campo da educação religiosa, como no campo da educação formal. Neste período, os quatro ou cinco primeiros anos do ensino primário eram feitos em línguas africanas, destacando-se, numa primeira fase: o Bemba, o Lozi, o Nyanja, e o Ronga. Posteriormente, o ensino primário também se fez em Kaonde, Lunda e Luvale. Paralelamente, o Inglês era ensinado como disciplina, com vista à criação dos pré-requisitos necessários à continuação dos estudos em classes mais avançadas. No ensino secundário o Inglês passava a ser o único meio de comunicação.
Contudo, ainda de acordo com Mubanga Kashoki, com a independência da Zâmbia optou-se pelo Inglês como único meio de instrução, logo a partir da 1ª classe, seguindo as recomendações feitas, em 1963, por uma Missão de Planeamento da UNESCO. Até que, em 1992, a Zâmbia regressou ao uso das línguas africanas como meios de aprendizagem, depois dos professores, sobretudo, das zonas rurais, entre 1974 e 1977, manifestarem esse desejo. Tal facto acabou por ser mais tarde entendido como resposta mais realista à situação então prevalecente no terreno: “a prescrição do Inglês como único meio de instrução não se coadunava muito com a prática corrente.”
No fundo, aqueles professores das áreas rurais “consideravam impraticável usar, como único meio de instrução ou comunicação entre professor e alunos, uma língua que as crianças, em primeiro lugar, não trazem de suas casas para a escola.” Com esta fundamentação de ordem prática, os professores, em exercício de funções, lançavam claros sinais para a priorização das necessidades educativas dos alunos, face à política educativa que fora levada a cabo entre 1964 a 1991.
Assim, o carácter endógeno da filosófica educativa voltou a prevalecer naquele país africano.
André da Costa*
Ph.D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais
Jornal de Angola
Debates, show e cinema incrementam a sexta edição de Mekukradjá
Com curadoria da antropóloga e cineasta Júnia Torres e do educador Daniel Munduruku, a programação on-line reúne lideranças indígenas
De 28 a 30 de julho (quarta-feira a sexta-feira), o Itaú Cultural transmite em seu site www.itaucultural.org.br e na página do Youtube, a sexta edição do Mekukradjá – Circuito de Saberes, com encontros dedicados às tradições, à resistência, às renovações e a outros aspectos dos universos indígenas no Brasil contemporâneo. Com curadoria da antropóloga e documentarista Júnia Torres e do educador Daniel Munduruku, esta edição tem como tema O futuro está na memória! e conta com participações de importantes lideranças do campo acadêmico, audiovisual, musical, literatura, artes visuais e de artes cênicas.
Em três dias de programações on-line e ao vivo, o evento traz conversas – ou Círculos de Saberes – que abordam assuntos relacionados à tradição, renovação e cultura dos povos originários. A representatividade indígena no mundo virtual, bem como suas iniciativas empreendedoras, participações ativas em produções culturais e a manutenção das práticas ambientais coletivas, são alguns dos temas abordados pelos 18 convidados de comunidades do Acre, Alagoas, Bahia, Roraima, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo.
Destaque para as presenças do vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dário Kopenawa Yanomami, do apresentador do podcast Copiô, Parente, Cristian Wari’u, a escritora de literatura indígena, Julie Dorrico, o cineasta, Ziel Karapotó, e o estilista e bailarino clássico, Edenilson Dias Delgado.
Sempre com duas mesas de debate por dia, às 10h e às 16h, a mostra exibe, ainda, O verbo se fez carne (2019), primeiro curta-metragem do diretor Ziel Karapotó e que será transmitido após a fala do cineasta.
Vencedor de 20 prêmios no circuito de cinema nacional, o filme fala sobre as cicatrizes deixadas pela invasão dos europeus em Abya Yala, que, na língua do povo Kuna, significa Terra madura, Terra Viva ou Terra em florescimento e é sinônimo de América. Na produção audiovisual, Karapotó utiliza seu corpo para denunciar a imposição da língua do colonizador aos povos indígenas, uma face do projeto colonialista.
Também está programada uma apresentação musical do Brô MC’s, primeiro grupo de rap indígena do Brasil. Formado por jovens das etnias Guarani e Kaiowa, o conjunto traz em suas músicas letras marcantes, extrapola fronteiras físicas e imateriais e constrói pontes por meio do rap e das culturas indígena e do hip hop. Com o show RETOMADA, trabalho recente do grupo, a apresentação propõe divertimento, reflexão, informação e entretenimento ao público, que poderão desfrutar de um repertório que varia linguisticamente do português ao guarani, passando também pelo espanhol.
Confira abaixo a programação, com as sinopses das mesas e perfis dos participantes:
Websérie produzida por jovens indígenas será lançada dia 31 de julho
Projeto “Reikwaapa-Saberes Guarani” é uma verdadeira experimentação audiovisual para os indígenas.

Foto: Reprodução/Secom Espírito Santo
A Websérie de quatro episódios “Reikwaapa-Saberes Guarani” é uma produção audiovisual feita por jovens da aldeia Kwaagwy Porã, localizada em Aracruz. Em cada episódio, guardiões da memória Guarani transmitem para os mais jovens os conhecimentos. O lançamento está marcado para este sábado (31), às 19 horas, no canal Reikwaapa no YouTube. A websérie conta com recursos de acessibilidades visual e auditiva (legendagem descritiva, audiodescrição e libras) em todos os episódios.
Foram três intensos meses de produção, durante a pandemia do novo Coronavírus (Covid-19). A partir de um roteiro escrito por Marcelo Guarani e Ricardo Sá, crianças, jovens e adultos da aldeia Kwaagwy Porã se envolveram na realização dos quatro episódios da websérie, incluindo filmagem, direção e edição.
Todo o processo de filmagem e edição foi feito pelos membros do núcleo de audiovisual, sem interferências (nem a presença física) da equipe não indígena. O acompanhamento do projeto foi todo feito à distância, respeitando as regras de isolamento social, essenciais neste momento de pandemia. Somente a parte de finalização da obra foi feita por Marlos Broco (que também exerceu a função de assistente de direção), em parceria com Ricardo Sá. Durante esta etapa, foi trabalhada a legendagem, que exigiu bastante cuidado para não distorcer o sentido das palavras faladas em guarani. Algumas palavras, inclusive, foram deixadas na língua original, para que o público não indígena possa se familiarizar com o idioma guarani, que é extremamente rico e simbólico.
Segundo Maynõ Guarani, coordenador indígena do projeto e editor de dois episódios, a realização do projeto foi importante para que o povo Guarani possa ter suporte para produzir seus próprios filmes, e por meio deles, contar a história do ponto de vista do povo indígena. “A websérie retrata um pouco do nosso cotidiano, que ajuda a desconstruir o estereótipo indígena. Também mostra a nossa cosmologia e nossa filosofia de vida, possibilitando a transmissão dos conhecimentos guarani para os nossos parentes e também para os não-indígenas nos conhecerem realmente”, afirma Maynõ Guarani.
Para o autor do projeto e também documentarista Ricardo Sá, o projeto é o resultado de uma longa caminhada. “A ideia nasceu quando Marcelo Guarani me convidou para realizar um piloto da série Reikwaapa, em 2012. O filme teve uma ótima recepção e demonstrou seu potencial, tanto internamente (na comunidade Guarani) quanto na sociedade não indígena. Depois disso, viabilizamos, em parceria com a produtora Raquel Lucena, uma oficina de realização audiovisual, orientada pelo cineasta indígena Alberto Alvares. E, por último, surgiu a oportunidade, por meio do edital da Lei Aldir Blanc, de consolidarmos nossa proposta, montando um núcleo de produção audiovisual dentro da aldeia. Sinto que, a partir de agora, este grupo de realizadores e realizadoras indígenas poderá seguir seu caminho, descobrir seu estilo, como já demonstram alguns dos episódios da série “Reikwaapa-Saberes Guarani”, e fazer do audiovisual uma expressão da cultura guarani, mas também um meio de vida”, afirma Ricardo Sá.
O projeto é uma realização da Interferências Filmes e conta com recursos da Lei Aldir Blanc, via Edital de Seleção de Projetos e Concessão de Prêmio Cultura Digital 2020, por intermédio da Secretaria da Cultura (Secult), direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, do Governo Federal.
Sobre os episódios:
Além de TANGARÁ (sobre o pássaro), serão exibidos TXÕDARO (sobre a dança dos guerreiros), PETYGWA MIRIM (sobre o cachimbo sagrado) e OREMA ROOTA (sobre a Terra Sem Males).
As exibições acontecerão semanalmente, sempre aos sábados, às 19 horas, no canal Reikwaapa no YouTube. (687) Reikwaapa? – YouTube
Agenda de exibições:
TANGARÁ – 31.07
TXÕDARO – 07.08
PETWGUA MIRIM – 14.08
OREMA ROOTA – 21.08
Acompanhe a divulgação do projeto pelas redes sociais:
(20+) Reikwaapa – Saberes Guarani | Facebook
Reikwaapa Saberes Guarani (@reikwaapa) • Fotos e vídeos do Instagram
Mais informações:
Ricardo Sá – produtor executivo: (27) 9998 0859
Mainõ Guarani – coordenador indígena: (27) 99846-1533
Babalorixá pai Ivo de Xambá é o novo Doutor Honoris Causa pela UFPE
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Foto: Anderson Lima/UFPE |
Renascido das cinzas, Museu da Língua Portuguesa reabre com novidades
Há cinco anos, espaço sofreu com o incêndio que matou um bombeiro; restauro custou R$ 85 milhões

Reprodução/Facebook
Cerimônia oficial de inauguração será no sábado que vem; os ingressos poderão ser adquiridos exclusivamente pela internet
Após cinco anos do incêndio que destruiu o Museu da Língua Portuguesa, finalmente o espaço está pronto para reabrir as portas. O restauro minucioso da estrutura na Estação da Luz, marco da arquitetura paulistana, custou R$ 85 milhões. O espaço é um dos mais visitados do Brasil — mais de 4 milhões de pessoas visitaram o espaço até o incêndio, que matou um bombeiro. Apesar do acidente, a tecnologia foi capaz de preservar todo o conteúdo, que passou por um processo de atualização e será reexibido. Permanecem no acervo as principais atrações. Entre elas está a “Palavras Cruzadas”, que mostra as línguas que influenciaram o português no Brasil.
A curadora do museu, Isa Grinspum, celebra a conclusão da reforma. “Demos muito mais espaço para as questões do português falado em todo o planeta. Ela é uma língua planetária, falada por mais de 261 milhões de pessoas. Seja na África, na Ásia, na Europa ou nas Américas. Demos muito mais atenção para isso. Demos também mais atenção para diversidade regional dos falares no Brasil, que já era bastante abordado e agora está muito mais intensamente abordado.” O museu promete também proporcionar novas experiências com atrações inéditas, como por exemplo “Línguas do Mundo”, a qual mastros se espalham pelo hall com áudios em 23 idiomas — selecionados entre os mais de sete mil existentes.
Outra instalação nova é a “Falares”, que traz os diferentes sotaques e expressões do idioma no país. E a “Laços de Família”, uma espécie de árvore etimológica da língua portuguesa, luminosa e bidimensional. A reconstrução do prédio manteve o conceito original e adicionou novos espaços de exibição. Depois de um mergulho profundo na língua portuguesa, quem vier ao museu poderá conferir mais uma novidade: um espaço a céu aberto, com vista para o Parque da Luz e a torre do relógio, no coração de São Paulo. A estreia na exposição temporária é com a mostra “Língua Solta”, dos curadores Fabiana Moraes e Moacir do Anjos. Com 180 peças que vão desde mantos bordados por Arthur Bispo do Rosário até uma projeção de memes do coletivo Saquinho de Lixo — passando por cartazes de rua, cordéis, rótulos de cachaça e revestimento de muros.
Ganhando um novo significado com obras de artistas contemporâneos, Isa Grinspum explica que cada visitante vai receber um chaveiro touchscreen para que não seja necessário tocar nas telas interativas. “O visitante entre em um diálogo criativo com esses conteúdos todos. Ele não é um visitante passivo. A gente faz muitas provocações para que o visitante se envolva com os conteúdos. A ideia é que ele saia daqui com orgulho da língua portuguesa, que produziu coisas tão incríveis quanto uma canção do Chico Buarque, uma obra do Guimarães Rosa, o rap dos Racionais e um samba do Nelson Cavaquinho. Tudo isso está aqui.” A cerimônia oficial de inauguração será no sábado que vem. Os ingressos poderão ser adquiridos exclusivamente pela internet, com dia e hora marcados. A capacidade de público está restrita a 40 pessoas a cada 45 minutos.
*Com informações da repórter Caterina Achutti
Por Jovem Pan