Podcast do G20 em Guarani será apresentado na Unesco
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Projeto do coletivo de comunicadores Djagwa Etxa faz parte do projeto Opaná, em parceria com a Itaipu Binacional
O podcast do G20 Brasil produzido na língua indígena guarani, parte do projeto Opaná: Chão Indígena, em parceria com a Itaipu Binacional, será apresentado na reunião multissetorial sobre Povos Indígenas e Mídia, na sede da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), nos dias 26 e 27 de novembro, em Paris, na França.
O programa, produzido pelo coletivo de comunicadoras e comunicadores indígenas Djagwa Etxa, em parceria com o G20 Brasil, será apresentado pelo comunicador indígena Micael Eliabe, da comunidade Tekoha Nara’i, Terra Indígena Laranjinha, localizada no norte do Paraná.
Paulo Porto, gestor do Programa de Sustentabilidade Indígena da Itaipu Binacional, avalia que o convite para participar no evento junto à Unesco demonstra a relevância de programas que fortaleçam comunidades originárias.
O encontro na Unesco irá reunir organizações de mídia indígenas e não indígenas, incluindo emissoras públicas, reguladores de mídia, mídia privada e comunitária, além de acadêmicas e acadêmicos e representantes de entidades vinculadas à ONU para discutir o desenvolvimento de mídias livres, independentes e pluralísticas para promover o direito à liberdade de expressão e acesso à informação.
Podcast em parceria com o G20
Desde março deste ano, o coletivo Djagwa Etxa trabalha na produção de podcast em parceria com o G20 Brasil, com o objetivo de produzir boletins de rádio na língua indígena Guarani para disseminar informação e ser uma forma de consolidar a cultura oral do povo Guarani.
O coletivo é responsável pelas traduções e produção dos boletins em Guarani, com conteúdo jornalístico produzido pela comunicação do G20 Brasil. A distribuição é gratuita para emissoras de rádio no Brasil e no exterior. Os boletins estão disponíveis nos sites Rádio Gov, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), e no site g20.org, do G20 Brasil.
O coletivo Djagwa Etxa, que significa “olhar da onça”, um dos animais sagrados dos povos originários e que cuida das matas, é formado por jornalistas e comunicadoras e comunicadores indígenas dos povos Guarani e Kaingang da Terra Indígena Laranjinha (PR). Surgiu em 2023 durante o Acampamento Terra Livre (ATL), a maior assembleia dos povos indígenas realizada, desde 2004, no mês de abril, em Brasília (DF).
Micael explica que o surgimento do coletivo partiu da necessidade em dar visibilidade às línguas indígenas brasileiras. Para o comunicador, o convite para produzir e gravar conteúdos para o G20 é uma oportunidade para preservar culturas, tradições e conhecimentos ancestrais. “É uma maneira de valorizarmos e fortalecermos nossas línguas, o seu uso e, ao mesmo tempo, estamos contribuindo para o desenvolvimento de habilidades linguísticas e comunicativas dos indígenas que estão envolvidos no projeto”, considera.
Sobre o convite em participar do encontro na França, Micael diz que está muito otimista e feliz pela oportunidade de apresentar o trabalho de comunicadoras e comunicadores indígenas do sul do Brasil para o mundo. “Este é um evento que mostra que estamos no caminho certo e que tem gente de olho nos nossos trabalhos. Teremos mais visibilidade para os povos indígenas do sul do País”, afirma.
OPANÁ: Chão Indígena
O podcast na língua indígena guarani faz parte do Opaná: Chão Indígena, projeto da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), por meio do Programa CAPA em parceria com a Itaipu Binacional. O projeto tem como foco a segurança alimentar às comunidades indígenas com base na agroecologia, o acesso ao saneamento e água potável, além do fortalecimento cultural. Atua com as comunidades Guarani localizadas no Oeste e Litoral do Paraná, atendendo um total de 32 comunidades do povo Avá Guarani e Guarani Mbya, distribuídas em dez municípios paranaenses.
Entre as ações do projeto, está a produção de podcasts que tratam de temas sobre segurança alimentar, segurança hídrica e combate ao racismo.
Jhony Luchmann, coordenador do projeto Opaná, observa que a ação complementa um conjunto de atividades que estão sendo executadas para que políticas públicas cheguem às comunidades Guarani do Oeste e do Litoral do Paraná e proporcionem qualidade de vida e dignidade para todas as pessoas. “É a presença do Estado através de uma parceria que tem experiência e condições técnicas de executar estas políticas públicas”, afirma.
Oficina ‘O Atlas UNESCO das Línguas do Mundo: As Línguas Brasileiras’ Oficina Atlas UNESCO Brasil 2024
Oficina ‘O Atlas UNESCO das Línguas do Mundo: As Línguas Brasileiras’
Esta oficina tem como objetivo apresentar o Atlas UNESCO das Línguas do Mundo, uma iniciativa das Nações Unidas voltada para mapear e promover a diversidade linguística global. O Atlas tem como base metodológica um questionário central que inclui informações sobre aspectos relacionados ao estatuto, à filiação genética, às funções e aos usuários das línguas. Ao final da oficina, os participantes (pesquisadores) terão a oportunidade de sanar dúvidas sobre o questionário e aprimorar sua compreensão sobre as questões e a relevância do Atlas UNESCO. Data: 05/10/2024 Horário: 10h (horário de Brasília) Modalidade: Remota
Página oficial da atividade: Geopolimulti
Clique para se inscrever aqui: Inscricoes UFSC
Funai lança Gramática Pedagógica da Língua Wapichana e reforça importância da preservação das línguas indígenas
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Após uma década de luta e dedicação, o povo indígena Wapichana, de Roraima, celebrou um momento histórico nesta terça-feira (24) com o lançamento da Gramática Pedagógica da Língua Wapichana. A iniciativa, promovida pelo Museu do Índio, órgão científico-cultural da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em parceria com professores e lideranças indígenas, representa a consolidação de anos de esforços para o reconhecimento e a preservação da língua.
A Gramática Pedagógica Wapichana foi construída para ser uma das frentes de fortalecimento e revitalização da língua Wapichana para que possa ser repassada às futuras gerações. Além disso, a iniciativa contribui com a educação nas escolas indígenas. O lançamento ocorreu na Comunidade Indígena Tabalascada, no município de Cantá (RR).
A presidenta da Funai, Joenia Wapichana, celebrou a conquista. Ela lembrou que a autarquia tem como atribuição orientar a política indigenista para promover a defesa dos direitos indígenas. Sendo assim, buscar a consolidação e garantir a perpetuação das línguas indígenas é uma forma de assegurar que suas culturas, saberes e tradições sejam repassados e eternizados. Joenia também reforçou que proteger os direitos dos povos indígenas é uma obrigação conjunta dos governos Federal, estaduais e municipais.
“Estamos retornando os trabalhos para que a Funai seja mais presente nas comunidades e caminhe ao lado dos povos indígenas para que projetos iguais a esse não sejam apenas uma novidade, mas sejam mais frequentes. A gente vai buscar parcerias com as organizações indígenas e outros órgãos. Esse lançamento é uma porta para que outros trabalhos nessa linha sejam lançados”, afirmou a presidenta.
O lançamento é um marco importante para a educação indígena em Roraima, beneficiando diretamente os professores, alunos e demais comunidades indígenas da região. A gramática busca atender à heterogeneidade dos falantes, contribuindo para o fortalecimento da identidade e preservação cultural do povo Wapichana. Para a diretora do Museu do Índio, Fernanda Kaingáng, a iniciativa representa um importante incentivo à educação — ponto de partida para garantir a presença indígena nos espaços de poder.
“Estamos aqui celebrando o resultado de dez anos de trabalho de muitos professores, porque cultura viva é o que nos garante direito a território. A cada duas semanas desaparece uma língua no mundo, são línguas indígenas, são as nossas línguas. Então a gente quer parabenizar a força do movimento indígena e dos professores indígenas aqui de Roraima. Os alunos que estão aqui serão a presidência de amanhã, serão os parlamentares de amanhã, serão os coordenadores regionais de amanhã”, destacou a diretora.
A criação da gramática pedagógica atende a uma demanda por continuidade da formação de professores e ampliação dos materiais de apoio ao ensino da língua Wapichana. A iniciativa se soma a outros esforços de valorização e preservação da língua e cultura indígena no Brasil, num momento em que a educação e o fortalecimento identitário se mostram mais necessários do que nunca. A professora Wanja Sebastião participou da construção da gramática e comemorou o lançamento. Ela lembrou a contribuição fundamental de Wendy Wapichana, que faleceu em decorrência da covid-19.
“Chegamos a este momento, que é de gratidão e orgulho para nós, do povo indígena Wapichana. Nossa luta vem de longe, desde nossos ancestrais. Aqui, lembramos de todos os colegas que contribuíram para este trabalho e que não estão mais entre nós. Wendy Wapichana foi fundamental para este trabalho, participando das entrevistas, pesquisas e levantamentos em todas as comunidades. Hoje, ela não está conosco, mas sempre estará em nossa história e memória”, pontuou a professora.
Também participaram do evento a coordenadora regional da Funai em Roraima, Marizete de Souza; o coordenador e Tuxaua da comunidade, Cesar da Silva; os professores indígenas Benedita André da Silva, Nilzimara da Souza Silva, Thomas Pinto Isaac e Wanja Sebastião; a coordenadora-geral de Educação Escolar Indígena, Rosilene Tuxá; a coordenadora-geral da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), do Ministério da Educação (MEC), Pierangela Nascimento; o secretário de educação do município do Cantá, Igor Rodrigues; a coordenadora estadual da Organização dos Professores Indígenas de Roraima, Marileia Teixeira; e o coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima, Edinho Batista.
Confira a íntegra da Gramática Pedagógica da língua Wapichana.
Gramáticas Pedagógicas
A nova coleção de Gramáticas Pedagógicas em línguas indígenas foi produzida no contexto do Projeto de Documentação de Línguas Indígenas, desenvolvido desde 2008 por meio de uma parceria entre Funai/Museu do Índio e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e surge como uma ferramenta essencial para fortalecer o ensino e a aprendizagem das línguas originárias, ao mesmo tempo em que promove reflexões sobre as estruturas gramaticais e a importância política do uso contínuo de suas línguas maternas.
Assessoria de Comunicação/Funai
Leia a matéria na fpnte no link: https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/noticias/2024/funai-lanca-gramatica-pedagogica-da-lingua-wapichana-e-reforca-importancia-da-preservacao-das-linguas-indigenas
Museu da Bahia receberá obras repatriadas de artistas negros
Por 21 de setembro de 2024
Desde os 7 anos, seu filho Celestino Gama passou ajudá-lo a dar acabamento nas obras. Ele também se tornou escultor e adotou o nome artístico de Louco Filho. Agora, obras suas e de seu pai estão entre as 750 peças de dezenas de artistas de Bahia, Pernambuco e Ceará que serão repatriadas a partir do ano que vem pelo Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador.
“São obras de diversos formatos, de diversas técnicas, então há uma diversidade muito grande”, diz a codiretora do Muncab, Jamile Coelho.

Trata-se da mais numerosa repatriação de obras brasileiras de que se tem notícia. Quase todas criadas por artistas negros em diálogo com a cultura afro-brasileira, as peças datam de um período que vai dos anos 1960 até o início do século 21. Elas incluem pinturas, esculturas, trajes, arte sacra e ritualização do sagrado.
Esse grande processo de repatriação começou graças a uma iniciativa de duas colecionadoras americanas: a historiadora de arte Marion Jackson e a artista plástica Barbara Cervenka, que desde 1992 adquiriram as obras em visitas periódicas à Bahia. A partir de 2019, as duas visitaram diversas instituições até escolherem o Muncab como destino para a devolução do acervo que montaram.
“Os artistas estão bem felizes. Seu José Adário, por exemplo, é um dos últimos artífices de paramentas e ferramentas para candomblé e orixás. Nesse acervo temos 17 obras dele, e em formatos que ele não produz mais”, explica Jamile Coelho. O artista de 77 anos fabrica portões, agogôs e ferramentas de santo há mais de seis décadas.

“Normalmente, os colecionadores só compram de artistas que já morreram. Eu achei fantástico que elas compraram muitas obras nossas, fizeram exposições e divulgaram a gente”, diz Raimundo Bida, autor de obras naïf que também serão repatriadas.
Ao longo das últimas três décadas, Marion e Barbara fizeram exposições nos Estados Unidos e no Canadá com o acervo que compraram dos artistas brasileiros.
“Elas frequentavam muito minha loja no Pelourinho. Várias vezes conversávamos, elas procuravam saber mais da gente”, conta a designer Goya Lopes, que terá duas peças repatriadas, sobre as constantes visitas das duas colecionadoras ao Centro Histórico de Salvador.
Movimento de repatriação de obras cresce no mundo
No último dia 12 de setembro, no Rio de Janeiro, uma cerimônia marcou a repatriação histórica do manto tupinambá ao Brasil após 335 anos. A peça, que estava em um museu na Dinamarca, retornou ao Brasil em julho, num momento em que diversos países do mundo exigem a devolução de peças levadas para Europa em um contexto imperialista.
“Repatriar, devolver esse material, tem a ver com o processo de reparação histórica que a colonização causou. Esse material foi roubado, foi pilhado, foi retirado dos seus locais como os próprios povos foram retirados e coisificados, transformados em mercadoria. Repatriar é um ganho político para quem devolve, e é uma reparação histórica dos povos que foram vilipendiados”, afirma o antropólogo Marlon Marcos, professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).

Em 2020, após o assassinato de George Floyd, um homem negro que foi cruelmente asfixiado por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, as manifestações de protesto organizadas pelo movimento Black Lives Matter fizeram o debate sobre equidade racial impactar também em mercados econômicos.
No mercado das artes contemporâneas, o apelo dessas manifestações por reparação histórica sensibilizou museus e colecionadores pelo mundo a refletirem sobre a devolução de obras aos seus países de origem.
“Esses movimentos sempre existiram. Mas, agora, por conta do crescimento político e econômico das populações negras, essa denúncia e essa luta têm sido mais tête-à-tête. Foram construídas novas leituras de mundo que fazem com que os museus dos Estados Unidos e da Europa sintam uma certa vergonha”, explica Marcos.
Muncab planeja exposição com obras repatriadas
Apesar da documentação legal já ter sido assinada, a repatriação das 750 obras que virão para o Muncab não é imediata devido ao complexo processo de preservação do acervo. Uma equipe do museu irá a Detroit, nos Estados Unidos, estudar a melhor logística possível para o traslado até Salvador.
Mudanças bruscas de temperatura podem causar danos irreversíveis ao material, que deverá ser devidamente climatizado. Um estudo técnico vai definir se as peças virão em lotes. Para a repatriação, o Muncab tem a parceria do Instituto Ibirapitanga e do Con/Vida, organização dedicada à cultura, tradição e história das Américas fundada por Marion Jackson e Barbara Cervenka.

“A gente discute muito o processo de repatriação de obras que foram roubadas de seus países de origem. Mas essas obras vêm numa outra tratativa, com um olhar curatorial e sensível da Barbara e da Marian. Elas levaram as obras para os Estados Unidos e, também com um olhar sensível, perceberam a importância dessa devolução”, diz Jamile Coelho.
Quando as obras chegarem, o Muncab planeja abrir uma exposição com a presença dos artistas e das colecionadoras.
“Vai ser um momento mágico e fantástico, não só pra mim, mas pra todo mundo poder ver como era a efervescência cultural das décadas de 80 e 90 no Centro Histórico de Salvador”, comemora o artista plástico Raimundo Bida. “O que mais vai me emocionar é que os artistas que estarão expondo foram importantes para mim, e alguns já não estão mais aqui”, completa.
Aberto em 2011, capitaneado pelo poeta tropicalista Capinan, que teve ao seu lado nomes como o artista plástico Emanoel Araujo (1940-2022), o Muncab foi reaberto em novembro do ano passado, após três anos fechado, recebendo cerca de 150 mil visitantes nessa nova fase.
A intenção da direção do museu é também emprestar parte do material repatriado para instituições no Brasil e no mundo, para que as obras possam ser divulgadas e estudadas. “A arte negra brasileira não está nas escolas de arte. É fundamental que a gente levante esse debate sobre essa produção intelectual desses artistas que produziram obras magníficas e que ainda são qualificadas como arte popular”, diz Coelho.
Leia a matéria na fonte: https://www.dw.com/pt-br/museu-da-bahia-receber%C3%A1-obras-repatriadas-de-artistas-negros/a-70269427
Saiba mais puxando a rede IPOL:
. Visite o museu navegando em sua página: https://museuafrobrasileiro.com.br/
. Conheça o museu: https://pelourinhodiaenoite.salvador.ba.gov.br/museu-nacional-de-cultura-afro-brasileira-muncab/
. Acompanhe o Instagram do MUNCAB: https://www.instagram.com/muncab.oficial
Comissão aprova proposta que cria programa para preservar línguas dos povos indígenas
A Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 3690/19, que obriga a administração pública a criar programa de preservação, recuperação e transmissão das línguas indígenas brasileiras. Já aprovado pelo Senado Federal, o texto altera a Lei Rouanet.
A proposta determina que documentos públicos solicitados pelos indígenas sejam fornecidos em português e no idioma nativo. O projeto também considera dialetos indígenas como bens de natureza imaterial do patrimônio cultural brasileiro.
Definições
Segundo o texto, a preservação se dará por meio da realização de inventários, registros, vigilância e tombamento, além de outras formas de manutenção de acervo. Já a recuperação ocorrerá pelo registro das línguas indígenas em vocabulários ortográficos e dicionários e sua codificação em gramáticas.
A transmissão, por sua vez, deverá ocorrer pela divulgação das línguas indígenas nas regiões em que são faladas nos canais públicos de comunicação, na sinalização urbana e rural, no serviço público comunitário e nos ensinos fundamental e médio, a título de disciplina curricular facultativa. Também deverá ser garantida a oferta de cursos para o ensino dessas línguas em escolas do ensino médio, sempre que houver o número necessário de alunos interessados
O parecer da relatora, deputada Juliana Cardoso (PT-SP), foi favorável ao projeto, apresentada pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO).
“Ao incluir a preservação, recuperação e transmissão dessas línguas no âmbito das políticas públicas, o PL contribui para combater a extinção de idiomas que carregam conhecimentos ancestrais, tradições, e uma visão de mundo única”, avaliou a relatora.
Próximos passos
O projeto será analisado, em caráter conclusivo, pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Para virar lei, a proposta precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado.
Fonte: Agência Câmara de Notícias
Leia a matéria na fonte: https://ptnacamara.org.br/comissao-aprova-proposta-que-cria-programa-para-preservar-linguas-dos-povos-indigenas/
Linguicídio desconhece o “pretoguês”
Por EDELBERTO BEHS* em 08/09/2024
Diferente do idioma falado em Portugal, o português do Brasil, pela importante contribuição que recebeu de idiomas africanos trazidos pelos escravos, deveria se chamar “pretoguês”. A proposição é da antropóloga negra Lélia Gonzalez e vem corroborada pelo professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, Gabriel Nascimento, em seu livro “Racismo Linguístico: Os subterrâneos da linguagem e do racismo” (Editora Letramento, 2019).
Uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado, Lélia Gonzalez também descreveu a América Latina como “amefricana”, para dizer que, apesar do branqueamento, há muitas razões para descrever boa parte da América Latina como proveniente de uma intensa racialização.
O signo “negro” não é um conceito natural. Ele foi criado pela branquitude. “Ou seja, os negros africanos, antes de serem colonizados e sequestrados, não se chamavam como ‘negros’ ou reivindicavam para si a identidade ‘negra’ como ‘naturalmente’ deles”, escreve Nascimento.
Negros e indígenas foram e são vítimas de um “epistemicídio” traduzido num “linguicídio”. A filósofa e escritora Aparecida Sueli Carneiro define o “epistemicído” como o extermínio do conhecimento do outro. “É o formato pelo qual a colonialidade sequestra, subtrai tudo o que puder se apropriar a apaga os saberes e práticas dos povos originários e tradicionais”, explica a ativista diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra.
O epistemicídio também está relacionado ao linguicídio. Segundo Sueli, o combate às línguas já faladas pelos povos originários negros e indígenas figura como um dos primeiros atos do mito da brasilidade linguística. O professor alemão Wolf Dietrich, vinculado à Universidade Federal do Paraná, lembra que quase um século depois da chegada do europeu ao Brasil, índios e portugueses tinham como principal idioma de comunicação a Língua Geral, com base no tupi, língua falada pelos Tupinambás.

Crédito: Portal do Amazonas
Foi o marquês de Pombal, com suas reformas, que implantou uma política que impediu o uso da Língua Geral como idioma de comunicação da população que vivia no Brasil. Nascimento pergunta por que, num país com mais de 180 línguas indígenas o português, além da Língua Brasileira de Sinais – Libras, é a única língua oficial do país?
“Assim, não se pode afirmar a língua como um lugar pacífico. A língua é um lugar de muitas dores para muitos de nós”, confessa Nascimento. O estudioso negro oriundo da Martinica, Frantz Fanon, entende a língua como uma marca de dominação e por onde também acontece a figura estruturante do racismo. Para Nascimento, “o racismo é produzido nas condições históricas, econômicas, culturais e políticas, e nelas se firmam, mas é a partir da língua que ele materializa suas formas de dominação”.
Para o filósofo, historiador e professor universitário camaronês Achille Mbembe, a negritude não é um conceito de autoidentificação dos negros, “mas uma imposição perversa” através de sinais, como a manutenção da visão da miséria relacionada a países da África, ou a piadas racistas e provérbios populares negativos.
O ocidente, frisa Nascimento, usou a linguagem para racializar sujeitos na América desde 1492 e como objeto para fortalecer os regimes colonialistas, nomeando e conceituando o mundo numa visão eurocêntrica. Assim, “o mundo ocidental produziu nos ‘outros’ os signos de dominação ao chamá-los de ‘raça’ ao passo que, ao criar essas definições, criou o branco, cristão, civilizado, heterossexual e burguês”, escreve o professor baiano.

Infografia Indíganas PT – INFOGRAFIA_Lenguas indíganas PT – Somos Iberoamérica / Somos Ibero-América (somosiberoamerica.org)
Mas, continua, ao subjugar o negro, “o próprio branco se desumanizou, transformando-se, ele próprio, em animal, e assim invocando o esgotamento do próprio projeto do humanismo”, levando, inclusive, a sistemas perverso, como é o caso do fascismo.
Recorrendo ao poeta, dramaturgo e político da negritude, Aimé Fernand David Césaire, o professor Nascimento constata que o racismo cria suas marcas também na branquitude. “Um Hitler, um Trump ou um Bolsonaro não nascem à toa. Antes do fascismo, o racismo é a condição estruturante que permite que, nessas sociedades, tanto o colonizador quanto o colonizado enfrentem os fantasmas da raça criados pelo colonizador”.
*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).
Ilustração da capa: Paula P. Rezende.
Leia diretamente na fonte: https://red.org.br/noticia/linguicidio-desconhece-o-pretogues/