Francy Baniwa, primeira mulher indígena brasileira a publicar livro de antropologia
Autora de ‘Umbigo do mundo’, ela faz doutorado no Museu Nacional e coordena projeto de cooperação internacional do Museu dos Povos Indígenas
Por Maria Guimarães — Rio de Janeiro em
Inspiração para as mulheres do povo Baniwa, Francineia Bitencourt Fontes, mais conhecida como Francy Baniwa, rompe com todas as barreiras que buscam invisibilizar os povos indígenas e surge como uma grande líder feminina para todo o Brasil. Primeira mulher Baniwa a se tornar mestre, aos 37 anos ela busca relacionar seus saberes ancestrais com as teorias acadêmicas e unificar a vivência entre a cidade e a comunidade.
— Vim ao mundo com a grande responsabilidade de ser esse fio para outras mulheres. Sempre me senti na obrigação de buscar mais conhecimento, por ver a necessidade de ter alguém com experiência profissional aqui no território para trabalhar com as mulheres, seja no movimento indígena, ou em outras instituições — pontua ela.
Francy é antropóloga, fotógrafa e pesquisadora do povo Baniwa, nascida na comunidade de Assunção, na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Com foco em Antropologia Social,também é mestra e doutoranda pelo Museu Nacional da UFRJ, além de atuar na curadoria do Museu do Índio, no Rio.
Leia a matéria em https://oglobo.globo.com/cultura/livros/noticia/2023/07/10/conheca-francy-baniwa-primeira-mulher-indigena-brasileira-a-publicar-livro-de-antropologia.ghtml
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Línguas indígenas do AM podem se tornar patrimônio cultural imaterial
A Aleam recebeu nesta segunda-feira (10) a mensagem governamental enviada pelo governador Wilson Lima (UB).
Manaus (AM) – O governador do Amazonas, Wilson Lima (UB), enviou à Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) uma mensagem governamental que propõe o reconhecimento das línguas indígenas faladas no estado como patrimônio cultural imaterial.
O documento também “estabelece a cooficialização de línguas indígenas e institui a Política Estadual de Proteção das Línguas Indígenas do Estado do Amazonas”.
A mensagem foi apresentada na Aleam nesta segunda-feira (10) e esta será analisada pelas Comissões da Casa e, posteriormente, entra em pauta para ser votada.
Conforme o texto, cabe às instituições públicas a implementação de medidas voltadas à difusão, preservação e reconhecimento das línguas tradicionais no âmbito das políticas públicas do estado.
“Serão igualmente reconhecidas como patrimônio cultural imaterial do Estado do Amazonas outras línguas que sejam revitalizadas após a publicação desta Lei”, diz parte da matéria.
O documento deixa claro que as línguas não causam “prejuízo do idioma oficial brasileiro. No Amazonas, são cooficiais as línguas indígenas, dentre outras: Apurinã, Baniwa, Desána, Kanamari, Marubo, Matis, Matsés, Mawé, Múra, Nheengatu (Língua Geral Amazônica) Tariána, Tikuna, Tukano, Waiwái, Waimirí e Yanomami.
“O reconhecimento e a garantia do direito fundamental das pessoas e comunidades indígenas ao pleno uso público da própria língua, dentro ou fora das terras indígenas”, ressalta o projeto.
Leia a matéria na fonte acessando o link: https://amazonas1.com.br/linguas-indigenas-do-am-podem-se-tornar-patrimonio-cultural-imaterial/
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Leia mais sobre a mensagem do Governador
Na mensagem o Governador afirma que “considerando que a linguagem envolve diretamente uma compreensão de mundo e códigos de conduta próprios, é de suma importância o reconhecimento das línguas faladas pelos povos indígenas do Amazonas como patrimônio cultural imaterial, bem como sua cooficialização. Tais medidas garantem que os direitos dos povos indígenas se consolidem por meio de ações e serviços, promovendo sua visibilidade, preservando as particularidades socioculturais de cada etnia, fundamentais para a manutenção da organização social, costumes, línguas, crenças e tradições.
Além disso, compreendendo que o reconhecimento, a valorização e a institucionalização das línguas indígenas requer um conjunto de medidas amplas e contínuas, propõe-se a instituição de uma Política Estadual de Proteção das Línguas Indígenas, que deve considerar as condições sociais, econômicas, ambientais e da saúde dos falantes indígenas, bem como políticas linguísticas indígenas já desenvolvidas pelas próprias comunidades.
A política Estadual reunirá ações destinadas a assegurar a manifestação das línguas indígenas maternas e garantir a necessária base para que sejam implementadas medidas concretas em defesa dos direitos linguísticos de todos os povos.”
Leia a mensagem governamental na íntegra!
https://sapl.al.am.leg.br/media/sapl/public/materialegislativa/2023/163776/mg_57_23.pdf
IPOL puxando a rede:
Amazonas terá Política Estadual de Proteção das Línguas Indígenas
Wilson e Lula se unem para fortalecer políticas públicas a indígenas do AM
Pode a música salvar uma língua em extinção?
Um movimento liderado pela música está revitalizando a língua garífuna na América Central. Em Belize, os viajantes são convidados a participar.
Biodiversidade e belos locais para snorkel e mergulho atraem os aventureiros para a Barreira de Corais de Belize, uma das histórias bem-sucedidas de conservação da América Central. Mas em terra firme, existe outro impressionante movimento de restauração em curso: a luta para reviver uma língua ameaçada de extinção.
Durante séculos, o povo afro-indígena garífuna da América Central manteve viva a história oral da cultura por meio da língua nativa de seus ancestrais. Mas décadas de modernização, pouco e aleatório treinamento da língua nativa nas escolas garífunas, casamentos entre diferentes culturas e o preconceito linguístico, coletivamente, levaram o garífuna a ser listado no Atlas de Línguas Ameaçadas da Unesco, em 2001. Hoje, os linguistas estimam que só existem cerca de 100 mil falantes.
A ameaça de extinção de uma língua não é nova. Alguns linguistas estimam que uma delas morre a cada duas semanas, já que algumas se tornam ferramentas dominantes para o intercâmbio social e econômico, enquanto outras são marginalizadas.
Mas também existem maneiras de salvar idiomas em risco. A chave é deixar de pensar a língua como preservada, “e sim como parte do seu presente e do seu futuro”, diz Liliana Sánchez, linguista e professora da Universidade de Illinois em Chicago.
É exatamente isso que os garinagu (povo garífuna) estão fazendo. Nas últimas duas décadas, os artistas garífunas usaram um ponto importante da sua cultura – música de dança animada – para inspirar os jovens garinagu a aprender e compartilhar sua língua nativa. Hoje, com um novo projeto da Trilha de Turismo Garífuna em Belize, os viajantes também podem vivenciar e apoiar o renascimento cultural.
Garífuna: uma cultura orgulhosa
De acordo com a história oral, os garinagu descendem de um grupo de africanos ocidentais que sobreviveram ao naufrágio de seu navio negreiro no Mar do Caribe em 1600. Os sobreviventes nadaram até a ilha de São Vicente, que agora faz parte do país caribenho de São Vicente e Granadinas. Eles passaram mais de um século se estabelecendo e se misturando com a população indígena carib-arawak da ilha, criando a cultura garífuna.
Por quase 100 anos, os garinagu lutaram contra a colonização de São Vicente. Os britânicos tomaram a ilha no final de 1700, depois exilaram os garinagu sobreviventes para Honduras. A partir daqui, eles se dispersaram para a Nicarágua, Guatemala e Belize, onde, como uma cultura centrada na pesca, se estabeleceram em comunidades costeiras.
Alvin Laredo, um guia turístico garífuna da vila de Barranco, no sul de Belize, diz que os garinagu modernos precisam não apenas de histórias, mas de uma língua real para compreender a corajosa posição de seus ancestrais contra a escravidão. Sem isso, diz ele, sua cultura nunca será completa. “Se você está perdendo seu idioma, está perdendo suas raízes”, alerta. “Isso desmantelará todo o esforço dos seus antepassados.”
Laredo acrescenta que grande parte da história dos antepassados é transmitida não apenas por palavras, mas por músicas e danças, como o jankunu. Nesta dança satírica, executada ao ritmo dos tambores durante os feriados de Natal e Ano Novo, os garinagu usam máscaras brancas e trajes coloniais para zombar dos escravizadores ingleses.
O poder da canção na cultura garífuna
Em 2001, elementos da cultura garífuna – como a música, a dança e a língua – foramlistados como Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade da Unesco. Na mesma época, músicos e ativistas culturais garífunas traçaram um plano: criar melodias contagiantes, cantadas inteiramente em garífuna, com o objetivo de incentivar os jovens garinagu na valorização da cultura e aprendizagem da língua.
Ou, como disse o cantor, compositor e Artista da Paz da Unesco Andy Palácio, de Belize, em uma entrevista de 2007: Torne a cultura garífuna “legal”.
O Punta rock fez exatamente isso. A música punta tradicional é tocada com tambores e maracas, com sons que ecoam os dos ancestrais africanos dos garinagu. Paranda, outro estilo clássico de música garífuna, adiciona guitarra às melodias, o que sugere a influência da cultura centro-americana.
Punta rock é “o que realmente explode”, diz Laredo. É semelhante à punta, mas com teclado, guitarra elétrica e buzinas – a mistura perfeita para impressionar no cenário mundial.
Palácio, líder no renascimento cultural, reuniu músicos garífunas em toda a América Central para formar a banda Garifuna Collective, em 2007. Suas letras garífunas enviaram uma poderosa mensagem: é hora de defender nossa cultura.
Depois de várias turnês mundiais e prêmios internacionais de música, a banda “colocou a cultura garífuna no mapa internacional e levou Belize junto com ele”, destaca Laredo. Mesmo após a morte de Palácio, em 2008, suas letras e o trabalho de ativistas musicais garífunas em toda a América Central acenderam uma chama cultural para garinagu em todo o mundo.
“A música me deixou intrigado com a cultura; tornou-se uma identidade”, comenta Kevin Ramirez, músico e produtor garífuna radicado em Nova York, onde seus pais, ambos garífunas, imigraram de Honduras. Ramirez cresceu aprendendo sobre a cultura de sua família, mas, como garífuna-americano, lutou para compreender sua identidade. “Sou negro, mas os negros americanos não me acolheram porque eu falava espanhol. Eu falava espanhol, mas os latinos não me acolheram por ser negro”.
Ele encontrou um sentimento de pertencimento depois de visitar Honduras e assistir a shows ao vivo de música garífuna. Essas viagens o inspiraram a fundar a Hagucha Records, uma das principais gravadoras garífunas da atualidade. Sua história de recuperação cultural, aprimoramento e difusão da cultura e da língua por meio da música espelha a trajetória de muitos artistas garífunas contemporâneos.
O músico James Lovell, por exemplo, adotou a língua aos 16 anos para seguir os passos de seu músico belizenho favorito, e promotor cultural, Pen Cayetano, “o rei do punta rock”. Lovell tornou-se parte de um esforço de base maior para ensinar o idioma em Nova York. Hoje há cada vez mais aulas de língua garífuna disponíveis on-line.
(Você pode se interessar por: Os melhores destinos do mundo em 2022)
A mensagem de Palácio inspirou outros grupos de músicos: os fundadores da Battle of the Drums, uma competição internacional de música em Belize. Esta reconhecida equipe ajuda escolas de ensino fundamental e médio em Belize com o ensino da cultura e a língua garífuna através da música – uma estratégia emprestada por outros professores de línguas que ensinam garífuna por meio da música.
A música salvará a língua garífuna? O tempo vai dizer. O garífuna permanece na lista de línguas ameaçadas da Unesco, atualizada pela última vez em 2010. E, como os havaianos aprenderam ao revitalizar sua própria língua após a colonização, esse tipo de renascimento é um caminho longo que envolve várias gerações.
Apoio do turismo em Belize
O renascimento da língua garífuna tem um novo e bem-vindo impulso: a Trilha de Turismo Garífuna de Belize, lançada formalmente em março de 2022. Semelhante às experiências culturais maias do país, esta trilha é o primeiro esforço coletivo de Belize para promover experiências de turismo garífuna. Em vez de seguir um modelo turístico de “dançarinos em resorts”, os garinagu convidam os viajantes a experimentar e se conectar com eles onde eles moram e em seus termos.
(Artigo relacionado: Morte de anciãos por covid-19 ameaça línguas indígenas do Brasil)
A iniciativa é financiada por doações, liderada pelo Conselho de Turismo de Belize e pela Organização de Turismo do Caribe, e inclui 50 empresas de proprietários garífunas em Dangriga e Hopkins, dois centros culturais na costa sul de Belize. À medida que o caminho avança, os organizadores esperam adicionar mais negócios locais.
As experiências vão desde aulas de música no Centro de Percussão Lebeha, em Hopkins, até admiração da arte tradicional na Galeria de Arte e Artesanato Garinagu, em Dangriga. As metas para a conclusão da trilha em 2024 incluem treinamento de guias turísticos e expansão para outras cidades garífunas.
O turismo por si só não salvará uma língua. Um renascimento sustentável deve criar raízes com os próprios falantes nativos. Mas o turismo pode fornecer uma motivação eficaz para a retenção da língua: renda. Sánchez acredita que mais oportunidades econômicas, juntamente com o orgulho de identidade cultural, podem ajudar a motivar os jovens garinagu a continuar aprendendo o idioma.
Há outro lugar, talvez inesperado, onde Laredo e Ramirez encontram esperança para o futuro da cultura de seus antepassados: o TikTok, onde vídeos de punta-rock com novas versões de músicas e danças tradicionais garífunas acumularam 800 milhões de visualizações – número que continua crescendo.
Veja a matéria na fonte: https://www.nationalgeographicbrasil.com/viagem/2022/07/pode-a-musica-salvar-uma-lingua-em-extincao
Uma trajetória de trabalho na educação escolar indígena, a experiência de Gilvan M. de Oliveira
Em 2013, o professor Gilvan M. de Oliveira, fundador do IPOL (Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Politicas Linguisticas), e então a frente do IILP (Instituto Internacional de Língua Portuguesa) como Diretor Executivo, participou de uma entrevista com o Prof Lino João de Oliveira Neves – Departamento de Antropologia UFAM, fazendo um recorte histórico a partir do primeiro processo de cooficialização de língua a nível municipal quando em 2002, São Gabriel da Cachoeira no Amazonas cooficializou três das línguas faladas no seu território a partir de uma lei ordinária da Câmara de Vereadores: o baniwa, o nheengatu e o tukano, criando assim uma via nova e uma tecnologia social para o reconhecimento do multilinguismo brasileiro.
Gilvan comenta que “a cooficialização de línguas em nível municipal, através de lei promulgada pela câmara de vereadores, é um verdadeiro movimento social no Brasil que conta já com 22 línguas oficializadas em 51 municípios, 13 línguas indígenas e 9 línguas alóctones ou de imigração, em onze estados brasileiros nas regiões norte, centro oeste, sudeste e sul (dados de 2022)”.
Assista a sequencia de 6 vídeos com Gilvan Mûller de Oliveira, Trajetórias na Educação Bilíngue Intercultural Indígena
- Parte 1: Reconhecimento da diversidade linguística do Rio Negro e no Brasil https://youtu.be/cJikLQ1IBzM
- Parte 1: Reconhecimento da diversidade linguística do Rio Negro e no Brasil (Continuação) https://youtu.be/x06Qtw3Qg04
- Parte 2: Vitalidade linguística e promoção do conhecimento https://youtu.be/z4_onKt6HDk
- Parte 2: Vitalidade linguística e promoção do conhecimento (Continuação) https://youtu.be/RMo9BcY7Ebo
- Parte 3: Línguas locais e os desafios da educação diferenciada https://youtu.be/jNRKRBiFPxU
- Parte 3: Línguas locais e os desafios da educação diferenciada (Continuação) https://youtu.be/GFP_bV5QUrA
Para conhecer a Universidade Federal da Amazônia e a Licenciatura, visite as páginas abaixo:
Universidade Federal do Amazonas – UFAM Instituto de Ciências Humanas e Letras – ICHL
Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável
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Saiba mais sobre Gilvan M. de Oliveira nesta entrevista publicada na página da Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL (http://www.revel.inf.br/pt),
edição número 14 (http://www.revel.inf.br/pt/edicoes/?id=41)
Link para a entrevista: http://www.revel.inf.br/files/e92f933a3b0ca404b70a1698852e4ebd.pdf
Que língua os Yanomamis falam?
Dentro do grupo étnico yanomami, são falados seis idiomas nativos. Três deles estão ameaçados de desaparecer.
Em yanomama, um dos idiomas yanomamis, televisão é utupë taamotima thë (mostrador de imagens); garfo se diz pore nahasi (unha de fantasma); e hospital, hanɨpratima yano (casa onde [as pessoas] são cortadas).
Já a palavra para “helicóptero” é tixo, que significa “beija-flor”, exemplifica o Instituto Socioambiental (ISA), organização da sociedade civil que atua na defesa da diversidade socioambiental brasileira, no livro Línguas Yanomami no Brasil, publicado pelo instituto em 2020.
Os yanomamis formam um dos grupos linguísticos mais relevantes para o patrimônio etnolinguístico nacional, segundo afirma o ISA. No total, existem seis idiomas falados pelos moradores da Terra Indígina Yanomami: yanomami, sanöma, ninam, yanomam, ỹaroamë e yãnoma.
A informação é do projeto de pesquisa de 2019 intitulado “Diversidade Linguística na Terra Indígena Yanomami”, desenvolvido pelo ISA, em parceria com a Hutukara Associação Yanomami e outras organizações indígenas, que identificou a sexta língua falada por este povo no país: o yãnoma. O livro Línguas Yanomami no Brasil deriva deste projeto de pesquisa.
(Relacionado: Yanomamis levam turistas de volta ao cume mais alto do Brasil)
O projeto faz um perfil de cada língua da família yanomami e aponta uma grande diversidade de dialetos dentro dos idiomas identificados, com pelo menos dezesseis variações dialetais. Das existentes, a língua yanomami mais falada no Brasil é o yanomam, com cerca de 11 mil e 700 falantes.
Além disso, a pesquisa mostra que essas nuances de idioma se misturam em pelo menos nove zonas de bilinguismo no território. “Essas zonas são ilustrações eloquentes do intenso contato que os yanomamis têm entre si”, afirma Ana Maria Machado, antropóloga do ISA, em artigo publicado no site oficial do instituto.
Idiomas yanomamis estão ameaçados
O projeto do ISA avaliou, ainda, como está a saúde dos idiomas dessa família linguística. Entre as principais ameaças a que estão submetidos está a intensificação do contato com a sociedade não indígena.
Segundo diz a antropóloga do ISA, “as línguas em maior contato com os brancos, seja por estarem em regiões de fronteira da Terra Indígena Yanomami ou por terem um fluxo muito grande de relações com os não índios, são as mais ameaçadas”. Por exemplo, o yanomami falado no Alto Rio Negro e as três línguas do limite leste da Terra Indígena Yanomami – ninam, ỹaroamë e yãnoma – são as que estão sob maior risco.
(Leia também: Pode a música salvar uma língua em extinção?)
Além disso, o livro Línguas Yanomami no Brasil revela algumas misturas e a “yanomização” das palavras após o contato com os brancos (ou os napëpë, no idioma yanomami). Por exemplo, para “piloto de avião” se usa apiama xẽe e, ou literalmente “sogro do avião”. No caso, o avião estaria trabalhando a serviço de quem o pilota porque, na cultura yanomami, os genros devem trabalhar para seus sogros.
https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura/2023/05/que-lingua-os-yanomamis-falam
Quantas línguas indígenas são faladas na América Latina?
O Brasil é o país da região com maior número de idiomas nativos, seguido pelo México e pela Colômbia.
No mundo, existem 8324 idiomas (falados ou em língua de sinais), dos quais cerca de 7 mil ainda estão em uso. Desses, quase 6700 são línguas indígenas, conforme indicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Na América Latina, os idiomas mais comuns são o espanhol e o português, mas existem muitas outras línguas igualmente ricas e valiosas. De acordo com o Banco Mundial, na região existem 560 línguas indígenas. Os cinco países com o maior número de idiomas nativos são: Brasil (186), México (67), Colômbia (65), Peru (47) e Venezuela (37).
As línguas indígenas estão em risco de desaparecer
O Plano de Ação Global da Década Internacional das Línguas Indígenas da Unesco (IDIL 2022-2032) afirma que “as línguas, com suas complexas implicações para a identidade, a diversidade cultural, a espiritualidade, a comunicação, a integração social, a educação e o desenvolvimento, têm uma importância crucial para as pessoas e o planeta”.
O documento da Unesco destaca que a língua é um componente fundamental dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, sendo essencial para a realização do desenvolvimento sustentável, da boa governança, da paz e da reconciliação. No entanto, adverte o Plano, elas estão desaparecendo a um ritmo alarmante.
De acordo com o Banco Mundial, uma em cada cinco comunidades indígenas perdeu sua língua materna nas últimas décadas. Por exemplo, nas ilhas do Caribe, quase todas desapareceram.
O organismo indica que 26% delas estão em risco de desaparecer, enquanto a Unesco considera que esse percentual ultrapassa os 40%.
(Conteúdo relacionado: Mulheres indígenas que estão à frente da preservação de povos amazônicos)
Conforme o Plano de Ação Global, o desaparecimento progressivo das línguas indígenas “está relacionado, na prática, com a discriminação estrutural a que foram submetidas, com a situação de vulnerabilidade de seus falantes e sinalizadores, cujo uso real de suas próprias línguas no dia a dia depende de suas realidades socioculturais, econômicas, políticas, ambientais e demográficas”.
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