Direitos Humanos

Cinema deve olhar para violações a indígenas na ditadura

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LÉO RODRIGUES – REPÓRTER DA AGÊNCIA BRASIL

Publicado em 28/01/2025
Rio de Janeiro (RJ) 28/01/2025 - Cena do filme - Cinema deve olhar para violações a indígenas na ditadura.Foto: Leo Fontes/UNIVERSO PRODUÇÃO/ DIVULGAÇÃO

© LEO FONTES/UNIVERSO PRODUÇÃO/ DIVULGAÇÃO

Há uma semana, o cinema brasileiro vem comemorando a indicação do filmeAinda Estou Aqui a três categorias do Oscar. O longa-metragem alcançou o feito inédito ao levar para as telas a história da família de Rubens Paiva, deputado federal que teve seu mandato cassado pela ditadura militar e que foi posteriormente torturado e morto.

Inaugurando o calendário do audiovisual brasileiro, a Mostra de Cinema de Tiradentes que ocorre ao longo desta semana na cidade de Tiradentes, em Minas Gerais, se tornou mais um espaço para se debater e se celebrar a conquista. Mas a programação também levou para as telas um filme que, de alguma forma, resgata uma história que realça uma marca pouco conhecida do mesmo regime militar: a violação aos povos indígenas.

“São memórias que o cinema nos dá uma chance de revisitar e que podem assim ser jogadas na cara do povo brasileiro de uma certa forma”, avalia o etnólogo e cineasta Roberto Romero, um dos diretores do documentário Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá.

Exibido no domingo (26), ele aborda o assunto de uma forma lateral. O documentário narra o reencontro de Sueli Maxakali com seu pai Luiz Kaiowá. “Eu não o conheci. Eu tinha seis meses de idade e minha irmã tinha cinco anos quando ele partiu”, conta Sueli, em debate sobre o filme realizado nessa terça-feira (27). Ela também é uma das diretoras do documentário.

Luiz Kaiowá é um indígena Guarani-Kaiowá que chegou, através da Fundação Nacional do Índio (Funai), para trabalhar na terra Maxacali, em Minas Gerais. Ele operava um trator e lá se casou com a mãe de Sueli. No entanto, ele acabou voltando para a terra dos Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul.

Tudo aconteceu “no tempo dos soldados” como dizem os indígenas mais velhos que dão seus depoimentos no filme. Eles relatam os maus-tratos a que foram submetidos e o desmatamento, relegando a aldeia a uma porção de terra reduzida que sequer tinha água.

“Boa parte desse território foi dividido durante a ditadura militar. O capitão Manoel dos Santos Pinheiro, que era o sobrinho do governador de Minas Gerais, foi enviado para lá para ser o dono daquela região e fazer o que quisesse. Ele dividiu a terra entre os próprios funcionários do SPI [Serviço de Proteção aos Índios] e depois da Funai”, conta Roberto Romero, lembrando que o militar também atuou para impedir a demarcação.

O filme Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá foi dirigido a oito mãos: além de Sueli Maxacali e Roberto Romero, o quarteto foi composto ainda por Isael Maxakali e Luísa Lanna. Um ônibus levou os Maxacalis até a aldeia Guarani-Kaiowá. Dessa forma, o reencontro entre Sueli e seu pai foi também o momento de uma comunhão entre os dois povos.

Luísa defende que o cinema olhe com mais atenção para a memória que os povos indígenas guardam do período militar. “As atrocidades que aconteceram foram muitas e elas são muito pouco conhecidas pela população de uma forma geral. Mas é importante pontuar que é um buraco que não é só na cinematografia. É na história também,” enfatiza.

Rio de Janeiro (RJ) 28/01/2025 - Luísa Lanna - Cinema deve olhar para violações a indígenas na ditadura.Foto: Leo Fontes/UNIVERSO PRODUÇÃO/ DIVULGAÇÃO

A diretora Luísa Lanna defende o que cinema olhe para violações a indígenas na ditadura.  Foto: Leo Fontes/UNIVERSO PRODUÇÃO/ DIVULGAÇÃO

Ela vê a possibilidade de uma evolução paralela. “As coisas vão andando juntas. Na medida que a historiografia for reconhecendo, a cinematografia vai reconhecendo. Uma coisa puxa a outra. E assim vai tornando possível que essas histórias sejam contadas e passem a integrar o repertório histórico da população brasileira. Mas, com certeza, acho que ter mais editais dedicados principalmente a autorias indígenas e realizadores indígenas [isso] pode contribuir para resgatar essas memórias.”

Violações

As violações de direitos no regime militar já foram exploradas por diferentes filmes. O Que é Isso Companheiro?, Zuzu Angel, Marighella, O ano em que meus pais saíram de férias e Batismo de Sangue são alguns títulos de referência, ao qual agora se soma Ainda Estou Aqui. No entanto, nenhum deles aborda o que ocorreu com os indígenas.

Alguns livros vêm buscando tirar essas histórias do anonimato. Um dos mais recentes é Tom Vermelho do Verde, lançado em 2022 pelo jornalista e escritor Frei Betto. A obra narra um drama que tem como pano de fundo o massacre dos indígenas Waimiri Atroari durante a abertura de rodovias na Amazônia entre as décadas de 1960 e 1980. Frei Betto, que participou de ações da resistência contra a ditadura, disse em recente entrevista à Agência Brasil que atualmente compreende que os indígenas foram as maiores vítimas da violência empreendida pelos militares.

No cinema, Luísa destaca como um dos trabalhos de referência o filme GRIN – Guarda Rural Indígena, lançado em 2016 sob direção de Roney Freitas e Isael Maxakali. Já no filme Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, ela observa que essa memória da ditadura aparece de um jeito diferente dos registros produzidos pela cultura ocidental do homem branco. De acordo com a diretora, não é uma memória estanque.

“Ela se constrói a partir das várias histórias que são repassadas pelas falas das pessoas que testemunharam esse momento, que viveram esse momento. Elas vão contando cada uma sua memória, mas também as suas várias percepções dessa história, do que aconteceu. Produzem uma memória que é viva e visível. E ela é acima de tudo criativa e inventiva, nesse sentido de que mais de uma história é sempre melhor do que uma história só”, salienta.

A diretora considera que há uma desconstrução da ideia de uma história voltada para a uma busca por uma verdade única e universal. Através dos depoimentos do filme, segundo ela, são apresentadas vivências e percepções individuais.

Resistência

Os Maxakalis formam um povo com cerca de três mil pessoas vivendo na região do Vale do Mucuri em Minas Gerais, dividida em aldeias que ocupam pequenos territórios. Na maioria delas, não tem rio e a paisagem de Mata Atlântica foi substituída por pasto. O filme documenta também a luta liderada por Sueli e Isael para retomada de um novo território para cerca de 100 famílias. Em uma das cenas, uma placa é pintada para demarcar o local.

Rio de Janeiro (RJ) 28/01/2025 - Debate com diretores- Cinema deve olhar para violações a indígenas na ditadura.Foto: Leo Fontes/UNIVERSO PRODUÇÃO/ DIVULGAÇÃO

Debate sobre o papel do cinema reuniu diretores e indígenas – Foto:  Leo Fontes/UNIVERSO PRODUÇÃO/ DIVULGAÇÃO

“Antes de eu viajar para conhecer meu pai, eu queria deixar meu povo mais à vontade. Pintamos a placa para saber que ali está o meu povo”, conta Sueli. Para Roberto Romero, ao colocar o filme como parte do processo de retomada, os Maxakalis o transformam em um instrumento de resistência. Ele destaca ainda a decisão de gravar o documentário todo em idioma indígena. São faladas as línguas dos dois povos retratados: Maxakalis e Guarani-Kaiowás.

“Os Maxacalis perderam tudo de concreto, digamos assim. Mas preservaram a memória das palavras. Eles lembram os nomes de todos os animais da Mata Atlântica mesmo não convivendo com eles há décadas. E essas palavras são faladas como histórias, como narrativas. E também são cantadas. E a gente tenta mostrar isso no filme: que os cantos são parte vida social, da vida cotidiana. Para quase tudo se canta”, diz o diretor.

Para Isael Maxakali, preservar o idioma é uma das principais motivações para fazer filme. “É para não apagar o nosso histórico. Eu gosto de fazer filme também para que o Brasil possa conhecer nossa linguagem”, afirma.


Saiba mais puxando a rede IPOL:
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. Visite a página do filme… https://meupaikaiowa.com.br

. Aqui uma resenha do filme …Eis o mote inicial: Sueli Maxakali quer retomar o contato com o pai. Ele, a quem chamam Luiz, não é parte dos Maxakali; antes, é um Kaiowá andarilho, oriundo das bandas do Mato Grosso. De algum modo, ele foi levado para Teófilo Otoni, onde conheceu os Maxakali e a mãe de Sueli, antes de retornar para casa, anos depois.

Por que ele foi levado para tão longe? Porque estávamos na ditadura militar, e porque Luiz não tinha documentos, e porque os milicos aprisionavam os indígenas que, assim como ele, estavam soltos no mundo, forçando-os a trabalhar.

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. Matéria sobre o filme quando exibido no Festival de Brasilia: https://vertentesdocinema.com/yog-atak-meu-pai-kaiowa/
. Aqui 
. O livro citado acima, de Frei Betto, sobre o drama dos índios waimiri-atroari nos anos 1970 está aqui https://www.freibetto.org/livro/tom-vermelho-do-verde/?srsltid=AfmBOoprqk_HEVZBmyPNj9iOfXYuAo2TudP2-F2Zqg0t6PmQKktOjasQ
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. aqui matéria publicada em O Rascunho, um jornalde literatura no Brasil , editado em Curitiba e distribuído para todo o Brasil e exterior, é nacionalmente reconhecido
pela qualidade de seu conteúdo. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.
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.  matéria publicada em Continente! ,  revista contemporânea de jornalismo cultural com periodicidade mensal, produzida em Pernambuco desde 2000
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. Entrevista com Bruno Altmann gravada em 2022 sobre a publicação e a questão dos Waimiri-atroari

Colóquio Internacional sobre Plurilinguismo e Interculturalidade nas Fronteiras – Desafios e Perspectivas para o Ensino e a Formação (chamada para trabalhos)

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A Universidade de Aveiro (UA) convida investigadores, formadores, professores e demais interessados a submeterem trabalhos para o Colóquio Internacional sobre Plurilinguismo e Interculturalidade nas Fronteiras – Desafios e Perspectivas para o Ensino e a Formação, que ocorrerá nos dias 13 e 14 de novembro de 2025.

Tendo em vista aprofundar a compreensão da complexa realidade das regiões fronteiriças e os desafios específicos que esta realidade impõe à educação, o evento fomentará reflexões e diálogos sobre o ensino, aprendizagem e formação docente em contextos de fronteira, considerando o impacto das interações linguísticas e culturais, das práticas pedagógicas e das políticas linguísticas orientadas para o plurilinguismo e a interculturalidade.

As regiões de fronteira oferecem um contexto singular para a análise de questões relacionadas com a linguagem, a cidadania, a alteridade, a cognição docente e a prática pedagógica.

Eixos temáticos:

  • ●  Políticas linguísticas educativas em regiões fronteiriças: cenários educativos, desafios e potencialidades do ensino de línguas.
  • ●  Didáticas transfronteiriças: práticas pedagógicas em contextos multilíngues; educação, cultura e identidade.
  • ●  Representações sociolinguísticas: crenças e atitudes sobre línguas-culturas vizinhas e seu impacto no ensino-aprendizagem.
  • ●  Formação docente: Cenário de formação em contextos plurilingues e identidade profissional docente.

 

Submissão de propostas

Os interessados devem submeter resumos de cerca de 500 palavras (incluindo no máximo cinco referências) até 05 de junho de 2025, para o e-mail do evento. O resumo deve obedecer ao formato proposto pela organização (disponível na página do evento) e conter título, eixo temático, palavras-chave, contextualização, ancoragens teóricas, descrição do estudo empírico (se aplicável), contributos para a reflexão sobre o campo.

O evento é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito dos projetos UIDB/00194/2020 e UIDP/00194/2020, e pelo CNPq -Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Brasil.

Siga o link para a leitura da Chamada para Trabalhos_VF

 

Participe!

Viver no Brasil falando Hunsrückisch [Documentário]

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Viver no Brasil falando Hunsrückisch [Documentário]

Após quase dois séculos da imigração alemã no Brasil, o Hunsrückisch ainda hoje é falado por mais de 1 milhão de brasileiros. Separados às vezes por milhares de quilômetros, as experiências e sentimentos dos falantes se entrelaçam. A partir das pesquisas realizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo, foram selecionados trechos de entrevistas que ilustram diferentes usos da língua, tanto no meio familiar como na administração, na imprensa, no comércio, em manifestações culturais, na educação e na religião. Além do cotidiano, da história e da cultura dessas comunidades, o documentário procura registrar temas essenciais para o entendimento da formação da língua e da identidade nas comunidades alemãs no Brasil, como as diferentes denominações, a grande variação interna da língua, a chegada à escola e a dificuldade na hora de aprender o português, a relação com o alemão standard e a convivência com outras variedades de alemão.

Viver no Brasil falando Hunsrückisch busca dar ouvidos à língua e à visão de mundo dos falantes de Hunsrückisch. O documentário é um produto do IHLBrI (Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração), coordenado por Cléo Vilson Altenhofen (ALMA-H / UFRGS) e Rosângela Morello (IPOL).

O documentário foi lançado durante o III Encontro de Falantes de Hunsrückisch, em Nova Petrópolis, Rio Grande do Sul, Brasil. Data de lançamento: 13 de outubro de 2018 (Brasil)


Ficha técnica
Direção: Gabriel Schmitt e Ana Winckelmann
Roteiro: Ana Winckelmann e Gabriel Schmitt
Edição e Montagem: Alice Soares
Equipe de entrevistadores: Ana Winckelmann, André Ricardo Kuster-Cid, Angélica Prediger, Gabriel Schmitt, Gerônimo Loss Bergmann, Jussara Habel, Luana Cyntia dos Santos Souza, Paola Inhaquite Wollmann, Sofia Froehlich Kohl, Viktorya Zalewski Pietsch dos Santos
sob coordenação de: Cléo Vilson Altenhofen (PPGL/UFRGS)
Transliterações: Gabriel Schmitt, Jussara Habel, Ana Winckelmann
Traduções:
Português: Jussara Habel, Angélica Prediger, Sofia Froehlich Kohl, Gabriel Schmitt
Alemão: Gerônimo Loss Bergmann e Angélica Prediger
Pomerano: Gisleia Simone Devantier Blank
Sapato de Pau: Fernanda von Mühlen, Márcio Von Mühlen e Neiva Von Mühlen
Italiano: Clarice Campani e Bárbara Coelho
Espanhol: Maria Liz Benitez e Luiz Roberto Lins Almeida
Francês: Isadora Leão
Inglês: Gerônimo Loss Bergmann e Igor Schwingel
Produção: Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração, com apoio do IPHAN.
Saiba mais: O projeto Atlas Linguístico-Contatual das Minorias Alemãs na Bacia do Prata (ALMA) é um macroprojeto desenvolvido em conjunto pelas áreas de Romanística (da Christian-Albrecht-Universität de Kiel – CAU, Alemanha) e Germanística (do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Brasil), sob a coordenação de Harald Thun (Kiel) e Cléo V. Altenhofen (Porto Alegre).
Faça download do livro “Hunsrückisch em prosa & verso : textos do Concurso Literário de Poemas e Contos em Hunsrückisch 2017” no link https://lume.ufrgs.br/handle/10183/184118

Pós-Graduação online gratuita em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Literaturas Afro-brasileira

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A Secretaria de Relações Internacionais (SINTER), a Secretaria de Educação a Distância (SeAd) e a Pró-Reitoria de Pós-Graduação (PROPG) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) convidam professores da educação básica dos países e regiões de língua portuguesa, exceto do Brasil, a se inscreverem no processo seletivo para o curso de pós-graduação lato sensu em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Afro-Brasileira da UFSC, Brasil.

O curso faz parte da Universidade Aberta do Brasil (UAB/Capes) e tem como objetivo do Curso formar, em nível de especialização, professores da educação básica na área de literaturas africanas e afro-brasileiras, para atuação em disciplinas de língua portuguesa e correlatas, bem como em projetos interdisciplinares.

Serão oferecidas 100 vagas para estudantes internacionais dos países e regiões de língua portuguesa, exceto do Brasil, conforme Projeto de Extensão da UFSC cadastrado sob no 202500388.

Entenda-se como países de língua portuguesa: os membros plenos da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP); os observadores associados da organização como região de língua portuguesa; e a Região Administrativa Especial (RAE) de Macau, na República Popular da China (RPC)

Para mais informações siga o link na publicação.
Participe! Divulgue!

Edital Pós-doutorado junior na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará

A Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, por meio do Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas Territoriais na Amazônia (PDTSA) e Rede Bionorte-Marabá, torna público o Edital que visa selecionar 1 (um) bolsista de pós-doutorado júnior (PDJ) para atuação no projeto “Uso, conservação e intercâmbio de plantas e saberes entre povos indígenas do Sudeste do Pará” financiado na chamada Amazônia+10 expedições científicas. Participe!

 

GT Geopolíticas do Multilinguismo entrevista Daniel Pimienta

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Por Simone Schwambach y Camila Muniz

Daniel Pimienta. Fonte: OBDILCI.

El doctor Daniel Pimienta es un francés nacido en Marruecos. Estudió matemática aplicada e informática en la Universidad de Niza (Francia). Trabajó 12 años con IBM Francia como arquitecto de sistemas de telecomunicación. En 1988, ingresó en la Unión Latina, en Santo Domingo, como asesor científico y responsable del proyecto de creación de una red para América latina (REDALC). Fue uno de los pioneros del tema de las TIC para el desarrollo, construyendo redes nacionales en Perú, República Dominicana y Haití. En 1993, crea la Fundación Redes y Desarrollo (FUNREDES), trabajando temas como brecha digital, alfabetización informacional, comunidades virtuales y diversidad lingüística en Internet. Ha sido Secretario Ejecutivo de la Red mundial para la diversidad lingüística (MAAYA) y, desde 2017, es responsable del Observatorio de la diversidad lingüística y cultural en la Internet (OBDILCI), retomando y actualizando las actividades de FUNREDES para crear indicadores de la presencia de las lenguas en la Internet.

Pimienta: OBDILCI prosigue las actividades de un proyecto de FUNREDES del mismo nombre que nació en 1998 y que yo dirigía. Cuando FUNREDES ceso sus actividades, en 2017, mantuve las actividades de ese proyecto y en secuencia formalicé la existencia de una nueva estructura asociativa para enmarcar ese proyecto. La asociación OBDILCI tiene existencia legal en Francia como asociación desde enero de 2021.

OBDILCI es una estructura pionera en el tema de la medición del espacio de las lenguas en la Internet, un tema con implicaciones fuertes en el más general de la promoción de la diversidad lingüística en la Internet porque sin indicadores fiables y perennes es muy complicado desarrollar políticas públicas acertadas. Sin embargo, ese campo cuenta con demasiado pocos actores académicos (y en general actores que no han permanecido) y ha sido abandonado a empresas de marketing pocas trasparentes y con datos donde los sesgos son generalmente no estudiados, a pesar de ser a menudo enormes.

OBDILCI ofrece datos mas confiables y apoyados por metodologías expuestas en el mínimo detalle y sometidas al escrutinio de los pares, en publicaciones científicas.  En margen de ese proyecto principal de producción de indicadores que permiten entender mejor la evolución de las lenguas en el ciberespacio, OBDILCI desarrolla proyectos coherentes con su misión de promover la diversidad lingüística y cultural en la Interne, los cuales están expuestos de manera sistemática en su sitio Web y en publicaciones.

Pimienta: El proyecto nace en 1998 cuando el presidente francés Chirac hace declaraciones, en una reunión mundial de la francofonía, que demuestran una percepción de una Internet totalmente dominada por el inglés y dejando ningún espacio para cambiar ese estado. En esos tiempos, éramos parte de un movimiento internacional de la sociedad civil, muy amplio, y quisimos demostrar, con datos duros, que la realidad era distinta de esta visión reductora y pesimista. A partir de ahí, los métodos han ido perfeccionándose y la diversidad medida extendiéndose, la dominancia anglófona extrema, siendo un fenómeno transitorio natural de un campo nuevo a la intersección de la informática y la ciencia, dos campos marcados sin duda con un sesgo anglófono mayúsculo. Hoy en día, nuestros datos reflejan una realidad donde la Internet es el espacio con la dosis de multilinguismo la más alta que jamás haya existido. Desde luego, si desafortunadamente las miles de lenguas con figuras de hablantes reducidas quedaron aun afuera, más del 95% de la población mundial puede interactuar con las redes con su lengua materna o segunda (se estima a 750 el numero de lenguas con existencia digital, solo el 10% de las lenguas existentes pero una cifra que recubre más de 96% de hablantes).

El impacto principal de nuestros trabajos es mostrar que el multilinguismo es la esencia del ciberespacio y que la creación de contenidos debe ser una tarea prioritaria para cada lengua, dadas las apuestas mayores planteadas, sea a nivel lingüístico, cultural, económico o geopolítico.

Una Web alojando conocimientos creados en mi lengua y reflejando mi cultura es posible y es mi deber de contribuir en esa dirección, sin dejarme impresionar con datos, a menudo sesgados, que pretenden desmotivarme afirmando una necesidad de pasar por la pretendida lingua franca del ciberespacio. Menos del 20% de la población mundial entiende el inglés, la lingua franca de la Internet es el multilinguismo, apoyado por recursos de traducción cada día más eficientes y disponibles.

Pimienta: No estoy suficientemente competente en el tema de los entrenamientos de los LLM con datos sintéticos para opinar con valor agregado; su pregunta me va a motivar a investigar más ese tema.

Mi relación con la informática es muy temprana, he sido estudiante de la primera maestría de informática creada en 1970 en la Universidad de Niza, algunos profesores aprendiendo el tema al mismo tiempo que lo enseñaban, lo que era sumamente pedagógico. Desde entonces he seguido de cerca, en mis estudios y luego en mi trabajo, los progresos de esa disciplina. ¡Los dos subtemas de la inteligencia artificial y de la traducción por programa podrían haber sido las promesas frustradas las más espectaculares de la informática entre 1970 y 2010! Los progresos fueron muy lentos y los resultados, tanto de los mal llamados “sistemas expertos” y de los complejos y caros programas de traducción bastante mediocres. De repente, en los últimos años, con la introducción de totalmente nuevos ángulos de abordaje (aprendizaje profundo, algoritmos neuronales, modelos de lenguas) el paradigma cambio. Los progresos se aceleraron y llegaron a productos espectaculares y al alcance de todos. Nadie puede negar hoy en día que más que espectaculares son extraordinarias las nuevas herramientas de inteligencia artificial y especialmente prácticas las ayudas de traducción que se hacen más versátiles (traducción de sitio web, interpretación en YouTube, …). Estamos viviendo un momento histórico para los dos temas y para la intersección de esos dos temas, un momento que plantea retos tan extraordinarios como las mismas herramientas, retos éticos en mayoría:

  • ¿Como dar los debidos créditos a las fuentes abiertas que usan sin restricción los programas de IA, y remunerar debidamente las fuentes no abiertas que puedan usar?
  • ¿Como asegurar que las fuentes reflejan debidamente la necesaria diversidad lingüística y cultural y no se transforman en un agente hiper poderoso de aculturación?
  • ¿Como controlar y superar los sesgos que vienen dentro de las fuentes seleccionadas?
  • ¿Como lograr que las personas que hacen uso entienden que en última medida deben guardar el control de los productos y asegurarse de que los productos no sean parte de las alucinaciones que son un efecto colateral natural y por el momento inevitable de los modelos de lenguas?
  • La lista no se termina ahí y es significativo que la encuesta conducida por la universidad Elon hacía más de 300 expertos del tema y de temas adyacentes, y a la cual participe con una contribución en la línea de sus preguntas, sobre el tema de que hay que esperar de la IA en 2040, arrojo resultados donde una forma de pesimismo emerge, así como un grito consensuado para la urgencia e importancia de regulaciones.

Pimienta: El predominio del inglés en la Internet es parte de la historia; Internet es cada día más un ámbito multilingüe y donde los contenidos tienden a ser proporcionados a la cantidad de hablantes de cada lengua. La situación es distinta para las herramientas de la IA, aunque un multilinguismo, aun no tan equilibrado, se manifiesta de manera temprana. Es primordial que cada lengua vea actores que luchan para que su lengua tenga el espacio que merece en esta nueva carrera para instrumentos de la IA.

Todo lo que acabo de expresar es cierto para las lenguas que poseen números de hablantes (L1 o L2) que se cuentan en millones. No es así para las lenguas cuyo numero de hablantes es bajo, y ahí los retos son distintos y a veces dramáticos.

Es útil tener una idea de la amplitud del problema: mas del 80% de las lenguas tienen menos de 100 000 hablantes y el factor económico juega un papel de barrera alta para las recomendadas acciones.

LENGUAS NUMERO PORCENTAJE
Con más de 10 millón de hablantes 125 1.6 %
Con más de un millón de hablantes 447 6 %
Con menos de 1 000 000 hablantes 7158 94 %
Con menos de 100 000 hablantes 6157 81 %
Con menos de 10 000 hablantes 4292 56 %
Con menos de 1 000 hablantes 2310 30 %
TOTAL 7615 100 %
Fonte: Ethnologue Global Dataset #27, 2024, antes de reagrupar en macro-lenguas.

Para compensar el pesimismo que puede resultar de esas cifras crudas, es importante entender que más de 44% de la población mundial entiende mas de una lengua, y con el juego de las segundas lenguas, las 362 lenguas de más de un millón de hablantes[1] permiten que 96% de la población mundial tienen acceso potencial a la Internet en su lengua materna o su segunda lengua.

Existen muchas familias de lenguas que no se han atribuido una macro-lengua, y las cifras imponen tratarlas de la misma manera que las macro-lenguas. Así, aunque la lengua Maya Yucateco no llega a 1 millón de hablantes, la familia Mayense, que incluye dos lenguas de más de un millón de hablantes, Quekchí y Quiché, reagrupa 31 lenguas por más de 6.5 millones de hablantes. Al igual, la familia Otomangues reagrupa 179 lenguas por un total de mas de 1.7 millones de hablantes, aunque ninguna de las lenguas que la componen llegue a 100 000 hablantes.

El reagrupamiento por familia es una necesidad para afrentar esos retos.

Pimienta: En la respuesta precedente se considero la necesidad de reagrupar lenguas por familias para llegar a cifras críticas que permiten bajar las barreras económicas. Para los países del Sur, una estrategia análoga debe, en la medida del posible, ser considerada: unir esfuerzos entre países que presentan características que lo permiten; el primer criterio que viene a la mente es obviamente regional. América latina debe entender ese reto como un reto regional antes que nacional.


[1] Esa cifra, a diferencia de la del cuadro precedente, toma en cuenta las macro-lenguas que reagrupan en una sola lengua muchas otras lenguas.

Simone Schwambach

Professora auxiliar do Departamento de Linguística e Estudos Orientais da Universidade Complutense de Madri (UCM). É licenciada em Letras pela Universidade de Caxias do Sul e tem um mestrado em ensino de português para hispanófonos. Atualmente é doutoranda do programa de Linguística Teórica e Aplicada da UCM em cotutela com a UFSC.

Camila Muniz

Graduanda em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas (Bacharelado) na UFSC. Possui experiência em tecnologias educacionais e interesses de pesquisa em política linguística, diversidade linguística e inteligência artificial.

 

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