Francy Baniwa, primeira mulher indígena brasileira a publicar livro de antropologia
Por Maria Guimarães — Rio de Janeiro em
Inspiração para as mulheres do povo Baniwa, Francineia Bitencourt Fontes, mais conhecida como Francy Baniwa, rompe com todas as barreiras que buscam invisibilizar os povos indígenas e surge como uma grande líder feminina para todo o Brasil. Primeira mulher Baniwa a se tornar mestre, aos 37 anos ela busca relacionar seus saberes ancestrais com as teorias acadêmicas e unificar a vivência entre a cidade e a comunidade.
— Vim ao mundo com a grande responsabilidade de ser esse fio para outras mulheres. Sempre me senti na obrigação de buscar mais conhecimento, por ver a necessidade de ter alguém com experiência profissional aqui no território para trabalhar com as mulheres, seja no movimento indígena, ou em outras instituições — pontua ela.
Francy é antropóloga, fotógrafa e pesquisadora do povo Baniwa, nascida na comunidade de Assunção, na Terra Indígena Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Com foco em Antropologia Social,também é mestra e doutoranda pelo Museu Nacional da UFRJ, além de atuar na curadoria do Museu do Índio, no Rio.
Leia a matéria em https://oglobo.globo.com/cultura/livros/noticia/2023/07/10/conheca-francy-baniwa-primeira-mulher-indigena-brasileira-a-publicar-livro-de-antropologia.ghtml
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Línguas indígenas do AM podem se tornar patrimônio cultural imaterial
A Aleam recebeu nesta segunda-feira (10) a mensagem governamental enviada pelo governador Wilson Lima (UB).
Manaus (AM) – O governador do Amazonas, Wilson Lima (UB), enviou à Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) uma mensagem governamental que propõe o reconhecimento das línguas indígenas faladas no estado como patrimônio cultural imaterial.
O documento também “estabelece a cooficialização de línguas indígenas e institui a Política Estadual de Proteção das Línguas Indígenas do Estado do Amazonas”.
A mensagem foi apresentada na Aleam nesta segunda-feira (10) e esta será analisada pelas Comissões da Casa e, posteriormente, entra em pauta para ser votada.
Conforme o texto, cabe às instituições públicas a implementação de medidas voltadas à difusão, preservação e reconhecimento das línguas tradicionais no âmbito das políticas públicas do estado.
“Serão igualmente reconhecidas como patrimônio cultural imaterial do Estado do Amazonas outras línguas que sejam revitalizadas após a publicação desta Lei”, diz parte da matéria.
O documento deixa claro que as línguas não causam “prejuízo do idioma oficial brasileiro. No Amazonas, são cooficiais as línguas indígenas, dentre outras: Apurinã, Baniwa, Desána, Kanamari, Marubo, Matis, Matsés, Mawé, Múra, Nheengatu (Língua Geral Amazônica) Tariána, Tikuna, Tukano, Waiwái, Waimirí e Yanomami.
“O reconhecimento e a garantia do direito fundamental das pessoas e comunidades indígenas ao pleno uso público da própria língua, dentro ou fora das terras indígenas”, ressalta o projeto.
Leia a matéria na fonte acessando o link: https://amazonas1.com.br/linguas-indigenas-do-am-podem-se-tornar-patrimonio-cultural-imaterial/
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Leia mais sobre a mensagem do Governador
Na mensagem o Governador afirma que “considerando que a linguagem envolve diretamente uma compreensão de mundo e códigos de conduta próprios, é de suma importância o reconhecimento das línguas faladas pelos povos indígenas do Amazonas como patrimônio cultural imaterial, bem como sua cooficialização. Tais medidas garantem que os direitos dos povos indígenas se consolidem por meio de ações e serviços, promovendo sua visibilidade, preservando as particularidades socioculturais de cada etnia, fundamentais para a manutenção da organização social, costumes, línguas, crenças e tradições.
Além disso, compreendendo que o reconhecimento, a valorização e a institucionalização das línguas indígenas requer um conjunto de medidas amplas e contínuas, propõe-se a instituição de uma Política Estadual de Proteção das Línguas Indígenas, que deve considerar as condições sociais, econômicas, ambientais e da saúde dos falantes indígenas, bem como políticas linguísticas indígenas já desenvolvidas pelas próprias comunidades.
A política Estadual reunirá ações destinadas a assegurar a manifestação das línguas indígenas maternas e garantir a necessária base para que sejam implementadas medidas concretas em defesa dos direitos linguísticos de todos os povos.”
Leia a mensagem governamental na íntegra!
https://sapl.al.am.leg.br/media/sapl/public/materialegislativa/2023/163776/mg_57_23.pdf
IPOL puxando a rede:
Amazonas terá Política Estadual de Proteção das Línguas Indígenas
Wilson e Lula se unem para fortalecer políticas públicas a indígenas do AM
Edital de fortalecimento de comunidades indígenas e tradicionais é prorrogado até o dia 28 de julho
Brasília, 03/07/2023 – A Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP) anuncia a prorrogação, para o dia 28 de julho, do prazo para o envio de propostas ao edital de enfrentamento a situações de vulnerabilidade social de povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia Legal ameaçados pelo narcotráfico.
A iniciativa visa contemplar organizações da Sociedade Civil (OSC), indígenas e comunitárias, de todo país. Serão financiados até 30 projetos que tenham atuação comprovada em apoio a redes e coletivos locais e regionais no valor de até R$ 250 mil. No total, serão investidos cerca de R$ 3 milhões em projetos.
Segundo a secretária da Senad, Marta Machado, o objetivo do edital é mitigar os efeitos do narcotráfico e demais redes criminais nas áreas mais remotas do país, retomando a proteção e segurança dos povos indígenas e tradicionais.
Eixos temáticos
O edital abrange três eixos de fomento: enfrentamento a situações de vulnerabilidade social de jovens e adultos indígenas, por meio da geração sustentável de renda e participação social; ações voltadas à prevenção de violências (sexual, física e simbólica) contra mulheres indígenas ou à mitigação dos efeitos destas violências (acesso a direitos, proteção, amparo e acolhida); e prevenção ou mitigação de invasões territoriais por narcotraficantes e outras redes criminais.
A iniciativa tem o intuito de atender as comunidades indígenas no contexto de drogas de todo o país, assim como povos e comunidades tradicionais – quilombolas, extrativistas, ribeirinhos e assentados de projetos de colonização e reforma agrária da Amazônia Legal nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Acesse o edital aqui
Canal de comunicação
A Senad também criou, para auxiliar no esclarecimento de dúvidas, um canal de comunicação que vai ajudar a orientar os inscritos.
Interessados podem entrar em contato diretamente pelo número de WhatsApp – 61 99652-5611. O atendimento ao público é de segunda-feira à sexta-feira, das 9h às 14h.
O e-mail institucional senad@mj.gov.br também está disponível para informações.
Conselho Estadual de Educação Indígena do Amazonas elege pela primeira vez uma mulher para a sua presidência
Publicado por MENEZESVIRTUALEYE em 2023/06/27
Os novos presidente e vice-presidente do Conselho Estadual de Educação Indígena do Amazonas (Ceei-AM) foram escolhidos nesta terça-feira (27/06). A eleição foi realizada de maneira presencial, no Centro de Mídias de Educação do Amazonas (Cemeam) da Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar, e também on-line, por meio do WhatsApp e pelo IPTV. No total, foram 32 conselheiros votantes, que elegeram a presidente Ivete Tukano e o vice-presidente Sebastião Solart para o próximo biênio.
Eleitos por 21 votos a 11, a presidente e o vice-presidente são dos povos Tukano e Kanamari, respectivamente. Primeira mulher eleita presidente após nove gestões masculinas, a professora Ivete Tukano destacou os principais objetivos da sua gestão em discurso de posse.
“Queremos agradecer a Tupã e aos nossos ancestrais, que sempre estão conosco. Este colegiado tem um grande compromisso com o Ceei-AM e com os alunos. Vamos trabalhar ouvindo toda a nossa base. Estamos muito felizes e agradecidos. Essa é uma vitória coletiva”.
A solenidade de posse da nova diretoria foi realizada pela secretária executiva adjunta Pedagógica, da Secretaria de Educação, Arlete Mendonça, que destacou a continuidade da atuação em conjunto entre o Ceei-AM e a Secretaria.
“Nos sentimos honrados e privilegiados pela nossa atuação em conjunto, que envolve as atividades da Gerência de Educação Escolar Indígena aqui da Secretaria. Continuamos à disposição, pelos nossos alunos. A missão continua”.
Atuação do Ceei-AM
Responsável pela fiscalização das pautas referentes aos alunos indígenas, é o Ceei-AM que assessora as equipes da Secretaria de Educação e estabelece o contato entre as comunidades, líderes e representantes escolares.
“O pleito de hoje é muito importante, porque marca um novo momento. O nosso Conselho é normativo, ou seja, a gente que organiza nossa própria atuação, entre nossas discussões internas. Um dos nossos principais objetivos é transformar o Conselho em legislação, o que nos daria mais tranquilidade para realizar nosso trabalho”, explicou a secretária executiva do Ceei-AM, Jeana Medeiros, do povo Baré.
Em 2023, a Secretaria de Educação conta com mais de 10 mil alunos indígenas matriculados nas unidades de ensino rede estadual.
Vítimas de tortura: indígenas ainda sentem violações sofridas na ditadura
Prisão, trabalho forçado e proibição da língua materna foram algumas das violações sofridas por povos originários durante a ditadura militar no país. Mais de 8 mil indígenas foram mortos nesse período
Aline Gouveia / postado em 26/06/2023 08:11 / atualizado em 26/06/2023 14:43
O relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) apontou que pelo menos 8.350 indígenas foram mortos durante a ditadura militar, entre os anos de 1964 a 1984. Entretanto, apenas dez povos foram estudados pelo colegiado, representando 3,3% das etnias existentes no Brasil, o que indica que esse número pode ser bem maior. Dos 305 povos indígenas do país, a CNV identificou e registrou graves violações de direitos dos Tapayuna, Parakanã, Araweté, Arara, Panará, Waimini-Atroari, Cinta-Larga, Xetá, Yanomami e Xavante. Ao longo dos anos de repressão estatal, os “guardiões da floresta” sofreram torturas e inúmeras tentativas de desumanização, como prisão arbitrária, trabalho análogo ao escravo e proibição da fala da língua materna. Nesta segunda-feira (26/6), é celebrado o Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura — data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1997. Por isso, o Correio resgatou as memórias sobre as violações de direitos durante a ditadura e ouviu especialistas sobre a possibilidade de criação de uma Comissão da Verdade Indígena para apurar os fatos com profundidade.
Em Minas Gerais, no ano de 1969, foi instalado o reformatório Krenak, no município de Resplendor. Nesse local, comparado a um campo de concentração pela CNV, indígenas de 23 etnias foram presos. À Comissão da Verdade, o ancião Oredes Krenak relatou que a prisão ocorria como uma forma de controlar os povos. “(Éramos) punidos por coisas pequenas, por desobediências de não querer fazer o trabalho obrigatório, ou quando nos pediam coisas que nós não sabíamos fazer. Também era proibido fazer nosso artesanato. Meu pai e minha tia Bastiana íamos vender flechas em Valadares, mas a guarda é que decidia quanto tempo podia ficar fora. Se passavam desse tempo, eram punidos na volta. A punição era: ficar preso, passar dois dias sem comer, mais dois dias só com duas refeições e só eram soltos no quinto dia. Na cadeia, muitos passavam fome, ficavam sem comer e beber”, diz o relato.
As violências sofridas pelos povos originários vieram à tona por meio de um relatório redigido em 1967, pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia, do Ministério do Interior. O documento, de mais de sete mil páginas, desapareceu por quatro décadas e só foi encontrado em 2013, no Museu do Índio, no Rio de Janeiro. “A falta de assistência, porém, é a mais eficiente maneira de praticar o assassinato. A fome, a peste e os maus-tratos estão abatendo povos valentes e fortes. Venderam-se crianças indefesas para servir aos instintos de indivíduos desumanos. Torturas contra crianças e adultos, em monstruosos e lentos suplícios, a título de ministrar justiça”, denunciou o procurador à época.
- Recomendações da CNV sobre direitos indígenas estão em retrocesso, diz relatório
- Relatório Figueiredo que mostra extermínio de aldeias é encontrado
- Webstories: Dia de Apoio às Vítimas de Tortura
As denúncias presentes no relatório foram frutos de uma expedição que percorreu mais de 16 mil quilômetros, a pedido do então ministro do Interior, Albuquerque Lima, em 1967. Entre as formas de tortura, o procurador Jader de Figueiredo relatou “caçadas humanas” promovidas com metralhadoras e dinamites — que eram atiradas de aviões, “inoculações propositais de varíola” em povoados isolados e doações de açúcar misturado ao veneno estricnina. Segundo o professor e pesquisador Walison Vasconcelos, os impactos das violações dos direitos durante a ditadura ainda são sentidos no cotidiano dos povos indígenas. O estudioso desenvolve trabalhos com o povo Krenak desde 2006 e ressalta a resistência indígena em tentar reconstruir a própria cultura. “A maioria dos Krenak com quem me relacionei traz na própria biografia as marcas de uma história dificílima, marcada por exílios forçados que desestruturaram suas famílias, por múltiplas violências do Estado, pelo esbulho de seu território, entre tantas outras”, lembra.
“Algumas pessoas contam as torturas que presenciaram. Gente amarrada sendo arrastada por cavalos e outras atrocidades. Há uma anciã que certa vez me disse que até hoje sente muito medo da polícia. Do ponto de vista da sua organização social, os impactos foram muito profundos. Uma das coisas que o poder militar executou quando invadiu as terras e as vidas dos Krenak foi proibí-los de conversar na língua materna. A longo prazo isto teve um impacto terrível, pois a língua é um dos principais vetores da organização social. Alguém acha normal rezar para seu Deus em uma língua estrangeira, por exemplo? Ou ensinar para as crianças sobre o mundo que os rodeia sem poder dizer o nome próprio das coisas, os topônimos? Faz algum tempo já que os Krenak gastam muita energia em projetos para retomar as práticas de conversação na língua materna. E isso tem dado um ótimo resultado, na perspectiva deles. Mas é claro que muito se perdeu para sempre com a simplificação da sintaxe”, acrescenta Walison.
Reparação
Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade propôs 13 recomendações para a reparação aos povos indígenas após as violações de direitos. Entretanto, segundo análise do Instituto Vladimir Herzog, não houve avanço em nenhum dos tópicos propostos. Além da instalação de uma Comissão Nacional Indígena da Verdade, a CNV recomendou a realização de um pedido público de desculpas do Estado, criação e fortalecimento de políticas públicas, assim como o estabelecimento de um “grupo de trabalho no âmbito do Ministério da Justiça para organizar a instrução de processos de anistia e reparação aos indígenas atingidos por atos de exceção, com especial atenção para os casos do Reformatório Krenak e da Guarda Rural Indígena”.

Em abril, o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, anunciou a criação de uma comissão para acompanhar o cumprimento das recomendações da Comissão da Verdade. Ao Correio, a coordenadora de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog, Gabrielle Oliveira de Abreu, afirmou que os retrocessos na garantia dos direitos dos povos originários foram agravados a partir de 2019, com a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “A Funai passou a ser chamada de ‘nova Funai’, cuja política facilitou a regularização de terras invadidas e estimulou a mecanização da lavoura em terras indígenas, com a distribuição massiva de tratores e carretas, o que contraria as culturas originárias. Em 2021, 60% das coordenações da Funai eram chefiadas por militares”, frisa Gabrielle.
Em 2021, a Justiça Federal condenou a União pelos crimes contra os povos indígenas de Minas Gerais durante a ditadura. A setença determinou que o governo federal acelerasse o processo de demarcação da terra Sete Salões — considerada sagrada pelos Krenak. O avanço nessa determinação só veio neste ano, já no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em abril, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) assinou os relatórios de identificação e delimitação do território. Depois dessa etapa, vem a declaração, homologação e, por fim, a regularização. “A gente precisa reconhecer as violações e também fazer as reparações. A Funai entende que todos os povos indígenas devem ter seus direitos implementados e respeitados. É necessário não apenas regularizar a terra, mas também proteger”, diz Joenia Wapichana, presidente do órgão, ao Correio.
A Justiça também determinou que o estado de Minas Gerais implementasse ações e iniciativas voltadas ao registro, transmissão e ensino da língua Krenak, a fim de preservar a memória desse povo. Além disso, a implantação e ampliação do Programa de Educação Escolar Indígena foi outra determinação judicial. A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais informou que existem 24 escolas destinadas à educação indígena no estado, que atendem 12 etnias: Kamakã Mongoió, Kaxixó, Kiriri, Krenak, Maxakalí, Mokuriñ, Pankararu, Pataxó, Pataxó Hã-Hã-Hãe, Tuxá, Xakriabá e Xucuru-Kariri.
“A pasta assegura as especificidades no atendimento ao estudante da Educação Escolar Indígena, garantindo a construção de proposta pedagógica, conforme a realidade de cada comunidade indígena. A matriz curricular é específica por etnia e foram construídas juntamente com representantes das escolas indígenas e suas lideranças, respeitando as línguas, a cultura e tradições da etnia a qual a comunidade pertence, incluindo a etnia Krenak”, afirmou a Secretaria ao Correio.
Para Gabrielle, medidas de reparação são importantes para assegurar os direitos dos povos indígenas — que são historicamente “violentados”. “A responsabilização do Estado e também de empresas e grandes fazendeiros envolvidos nos conflitos de terra durante a ditadura, colocam luz ao fato histórico de que os povos indígenas, e outros grupos marginalizados do Brasil, foram brutalmente perseguidos e assassinados. Ter decisões judiciais relativas ao direito à memória e, principalmente, favorável à demarcação de terra, como o caso do TI Sete Salões, área sagrada para os Krenaks, é exemplar para cobrarmos os modos do judiciário proceder quanto aos crimes de Estado. É preciso que as recomendações da CNV sejam de fato aplicadas e que as etnias expulsas de suas terras durante a ditadura e nos dias atuais tenham seu direito assegurado”, diz.
Comissão Nacional da Verdade Indígena
Proposta em 2014, pela Comissão da Verdade, a ideia da criação de uma comissão específica para investigar a fundo as violações sofridas pelos povos originários tem ganhado cada vez mais força. Em audiência pública em abril, o pesquisador Marcelo Zelic apontou que a medida é importante para produzir novas provas materiais e ouvir todos os povos. O professor do Instituto Federal de Goiás Walison Vasconcelos defende que o grupo seja composto por maioria indígena. “É preciso reconhecer que os não indígenas são incapazes de fazer uma justiça plena neste assunto. é impossível negar o terror vivido pelos indígenas nos anos de chumbo. Uma Comissão Nacional da Verdade Indígena seria importante para que o Brasil conhecesse os horrores de uma guerra civilizatória durante a ditadura. A partir daí poderíamos, guiados pelos indígenas, aprender a não repetir”, ressalta o pesquisador.
O Ministério Público Federal (MPF) também endossa a instalação da Comissão, pontuando a necessidade de participação e protagonismo dos povos originários. Segundo o órgão, é fundamental que a sociedade saiba acerca das violações praticadas no período repressivo. “O trabalho da Comissão Nacional da Verdade Indígena há de ser essencial para a construção dos alicerces do processo de efetivação dos direitos dos povos indígenas no país e das reparações a que fazem jus, incluindo o reconhecimento de seus territórios. Finalmente, a proposta tem o potencial de orientar a redefinição da estratégia pedagógica necessária para fazer com que o restante da sociedade brasileira compreenda a multiculturalidade da população brasileira e a necessidade de permanente respeito aos direitos de todos”, afirma o MPF, em nota técnica.
Segundo os especialistas, a falta de reparação abre brechas para novas violações contra os povos indígenas. Um dos exemplos recentes, e que atingem o povo Krenak, é o rompimento da barragem em Mariana, em 2015, pela mineradora Samarco (Vale/BHP Billiton). O desastre matou 19 pessoas, impactou as comunidades do local e liberou 39 milhões de metros cúbicos no município mineiro — contaminando o Rio Doce. Esse rio, chamado Watu pelo povo Krenak, é considerado sagrado. “Eles se relacionam com ele como uma entidade personificada, assim como vários outros componentes naturais e paisagísticos da região que habitam. O Watu é fonte de conhecimento, de purificação, e de fortalecimento espiritual, o que demonstra sua importância sagrada. Com o crime da Samarco e a impossibilidade de acesso ao Watu, uma das principais reclamações deles passou a ser o enfraquecimento da sua espiritualidade, que até hoje vem causando vários problemas nas suas aldeias, algo que na medicina ocidental chamaríamos de ‘saúde mental'”, destacou o pesquisador Walison. Portanto, justiça e medidas de reparação também são fundamentais para garantir proteção futura aos povos indígenas.
Leia a matéria na fonte:
Que língua os Yanomamis falam?
Dentro do grupo étnico yanomami, são falados seis idiomas nativos. Três deles estão ameaçados de desaparecer.
Em yanomama, um dos idiomas yanomamis, televisão é utupë taamotima thë (mostrador de imagens); garfo se diz pore nahasi (unha de fantasma); e hospital, hanɨpratima yano (casa onde [as pessoas] são cortadas).
Já a palavra para “helicóptero” é tixo, que significa “beija-flor”, exemplifica o Instituto Socioambiental (ISA), organização da sociedade civil que atua na defesa da diversidade socioambiental brasileira, no livro Línguas Yanomami no Brasil, publicado pelo instituto em 2020.
Os yanomamis formam um dos grupos linguísticos mais relevantes para o patrimônio etnolinguístico nacional, segundo afirma o ISA. No total, existem seis idiomas falados pelos moradores da Terra Indígina Yanomami: yanomami, sanöma, ninam, yanomam, ỹaroamë e yãnoma.
A informação é do projeto de pesquisa de 2019 intitulado “Diversidade Linguística na Terra Indígena Yanomami”, desenvolvido pelo ISA, em parceria com a Hutukara Associação Yanomami e outras organizações indígenas, que identificou a sexta língua falada por este povo no país: o yãnoma. O livro Línguas Yanomami no Brasil deriva deste projeto de pesquisa.
(Relacionado: Yanomamis levam turistas de volta ao cume mais alto do Brasil)
O projeto faz um perfil de cada língua da família yanomami e aponta uma grande diversidade de dialetos dentro dos idiomas identificados, com pelo menos dezesseis variações dialetais. Das existentes, a língua yanomami mais falada no Brasil é o yanomam, com cerca de 11 mil e 700 falantes.
Além disso, a pesquisa mostra que essas nuances de idioma se misturam em pelo menos nove zonas de bilinguismo no território. “Essas zonas são ilustrações eloquentes do intenso contato que os yanomamis têm entre si”, afirma Ana Maria Machado, antropóloga do ISA, em artigo publicado no site oficial do instituto.
Idiomas yanomamis estão ameaçados

O projeto do ISA avaliou, ainda, como está a saúde dos idiomas dessa família linguística. Entre as principais ameaças a que estão submetidos está a intensificação do contato com a sociedade não indígena.
Segundo diz a antropóloga do ISA, “as línguas em maior contato com os brancos, seja por estarem em regiões de fronteira da Terra Indígena Yanomami ou por terem um fluxo muito grande de relações com os não índios, são as mais ameaçadas”. Por exemplo, o yanomami falado no Alto Rio Negro e as três línguas do limite leste da Terra Indígena Yanomami – ninam, ỹaroamë e yãnoma – são as que estão sob maior risco.
(Leia também: Pode a música salvar uma língua em extinção?)
Além disso, o livro Línguas Yanomami no Brasil revela algumas misturas e a “yanomização” das palavras após o contato com os brancos (ou os napëpë, no idioma yanomami). Por exemplo, para “piloto de avião” se usa apiama xẽe e, ou literalmente “sogro do avião”. No caso, o avião estaria trabalhando a serviço de quem o pilota porque, na cultura yanomami, os genros devem trabalhar para seus sogros.
https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura/2023/05/que-lingua-os-yanomamis-falam