Os curdos e a sua língua em estilhaços
Por Margarita Correia, Professora e investigadora, coordenadora do Portal da Língua Portuguesa, em 30 Janeiro 2023
Muito se falou nos últimos meses do Curdistão e do povo curdo, devido ao veto que a Turquia pretende impor à adesão da Suécia à NATO, com base no argumento de este país dar proteção a nacionalistas curdos e militantes do PKK (Partidos dos Trabalhadores do Curdistão), que a Turquia considera e quer ver considerados internacionalmente como terroristas.
O Curdistão é uma grande região histórico-cultural de cerca de 500 mil km2, que abrange regiões da Turquia, Síria, Irão e Iraque; nestes dois países são reconhecidas, respetivamente, a província do Curdistão e a Região Autónoma Curda. Estima-se que haja entre 30 e 45 milhões de curdos, distribuídos pelos quatro países referidos (cerca de metade na Turquia) e por uma extensa diáspora, especialmente na Alemanha. Os curdos constituem a quarta maior etnia da Ásia Ocidental, depois dos árabes, persas e turcos, mas o “Estado Curdo”, prometido pelos aliados ocidentais em 1922, nunca se concretizou e o nacionalismo curdo é duramente reprimido na região e convenientemente obnubilado pela comunidade internacional: a Suécia constitui uma exceção. De resto, a história recente dos curdos é feita de luta armada, genocídio, massacres e de traições da comunidade internacional.
“O facto de a língua curda não se encontrar estandardizada – i.e. a sua forma convencional não estar estabelecida e codificada – contribui também para a sua fragilidade.”
A língua curda reflete a conturbada história do povo – aqueles que o reprimem atacam também a sua identidade e a sua língua, através de processos sistemáticos de assimilação, que têm conduzido a um decréscimo significativo de falantes de curdo no Curdistão do Norte (Turquia) e à sua substituição pelo turco. O facto de a língua curda não se encontrar estandardizada – i.e. a sua forma convencional não estar estabelecida e codificada – contribui também para a sua fragilidade.
O curdo é uma língua indo-europeia, pertencente ao ramo iraniano, juntamente com o persa, o pastó e o balúchi, com as quais partilha muitas características. Não é consensual a divisão dos dialetos (variedades regionais) do curdo, mas fontes académicas defendem a existência de quatro dialetos: o curdo setentrional ou curmânji, o mais falado de todos, na Turquia, Síria, Iraque, nordeste e noroeste do Irão; o curdo central ou sorâni, falado sobretudo no Curdistão Iraquiano e na província iraniana do Curdistão; o curdo meridional ou pehlewani, falado em províncias do Iraque e do Irão; e o zaza-gorani (duas línguas iranianas faladas no noroeste do Irão) que, embora não seja estritamente curdo do ponto de vista linguístico, é incluído nos dialetos desta língua porque os seus falantes se afirmam como membros da etnia curda, constituindo uma “comunidade imaginada” (Anderson, 1999, Imagined Communities). Devido à grande dispersão geográfica e a variadas e difíceis condições sociais e linguísticas, a inteligibilidade entre falantes dos vários dialetos de curdo (linguisticamente, condição sine qua non para se falar de dialetos e não de línguas diferentes) encontra-se fortemente comprometida.
O curdo não possui uma escrita unificada específica, sendo escrito em alfabetos diferentes de acordo com as regiões onde é falado: uma forma de alfabeto árabe modificado (Irão e Iraque), uma forma de alfabeto latino adaptado (Turquia e Síria); alfabeto cirílico, pelos curdos de regiões de domínio soviético.
A manutenção e/ou reposição da unidade da língua curda é crucial para sustentar as ambições nacionalistas do povo curdo. Atualmente, porém, ela parece resultar mais de um desejo e de um sentimento de “curdidade” do que de condições sociais, políticas e linguísticas favoráveis.
https://www.dn.pt/opiniao/os-curdos-e-a-sua-lingua-em-estilhacos-15746054.html
Diversidade dos idiomas falados pelos indígenas é tema de uma exposição em São Paulo
Os idiomas indígenas, que estão entre as quase 200 línguas que o Brasil tem, ganharam uma exposição dentro do Museu da Língua Portuguesa.
Assista o vídeo… https://globoplay.globo.com/v/11299138/
A diversidade de idiomas falados pelos indígenas é tema de uma exposição no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
O Brasil não fala uma língua só. Além do português, tem outras quase 200: bororo, que é diferente de aruaque, que também não é igual a mura. São as línguas dos povos da floresta. Os idiomas indígenas que sobreviveram ao tempo como árvores de tronco forte e que ganharam uma exposição dentro do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. “Nhe porã”, algo como “belas palavras” em guarani-mibyá.
“O português que a gente fala no Brasil é uma variante, não é o mesmo português, por exemplo, que é falado em Portugal e em outros países. Ele é uma variante em função da interferências das línguas originárias, das línguas indígenas e de línguas de africanos que foram escravizados e trazidos para cá”, explica Marília Bonas, diretora técnica do Museu da Língua Portuguesa.
CPLP reitera compromisso com o multilinguismo
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) reiterou, na última quinta-feira, 20, em Nova Iorque, o compromisso com o multilinguismo e o princípio da paridade entre as seis línguas das Nações Unidas.
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa constatou que os novos meios de comunicação digital e plataformas dos média tradicionais são essenciais para facilitar a prestação dos serviços de forma mais eficaz, regozijando-se pelo uso das redes sociais como um veículo vital para alcançar uma audiência global, especialmente, os jovens, reiterando o seu apoio às acções do Departamento de Comunicação Global na liderança de respostas à comunicação de crise nos níveis nacional e global, incluindo o combate à desinformação.A CPLP elogiou, igualmente, os esforços do Departamento de Comunicação Global em apoiar a agenda das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável, paz e segurança, direitos humanos e outros desafios enfrentados pela ONU, voltando a afirmar o seu compromisso na prossecução dos seus objectivos de divulgar informação sobre as actividades da ONU em língua portuguesa.
FONTE: Notícias de Moçambique
UFRR aprova título Doutor Honoris Causa para liderança indígena – Davi Kopenawa

O líder xamã indígena Davi Kopenawa, da etnia Yanomami, recebeu na última sexta-feira, 5, a aprovação do Conselho Universitário da Universidade Federal de Roraima (CUNI/UFRR) para ser agraciado com a máxima distinção acadêmica concedida pela instituição, o título de Doutor Honoris Causa.
A titulação será concedida por sua liderança e contribuição na luta pelos direitos indígenas, reconhecidas tanto nacional como internacionalmente. A decisão aprovada pelo CUNI pode ser acessa neste endereço https://bit.ly/3vIN6vS.
FONTE: UFRR