NÃO AO MARCO TEMPORAL
Texto por @marcossabaru
O marco temporal é mais uma tentativa de apagamento.
O MARCO TEMPORAL é uma máquina de moer história.
Ele acaba com a história, muda toda a história. Porque, para ele, de 5 de outubro de 88 pra trás não há mais história, e sim a partir daquele dia, ele inverte a lógica também: quem não estava passa a estar, e quem estava passa a ser invasor.
PARECE QUE QUEM CHEGOU NAS CARAVELAS FORAM OS INDÍGENAS.
Ele coloca o colonizador como dono da terra e o indígena como invasor.
O marco temporal nega a presença do indígena neste território e negando a presença do indígena ele nega a contribuição. O marco temporal nega as práticas que a gente teve de sobrevivência, nega a nossa ciência, nega o canto, a pintura, a culinária. O marco temporal nega o Brasil da democracia.
Pela democracia
NÃO AO MARCO TEMPORAL
Assista aos vídeo e repasse!
Saiba mais, visite:
Apib – Articulação dos povos indígenas do Brasil
https://apiboficial.org/marco-temporal/
CIMI – Conselho Indigenista Missionário
Greenpeace
Museu celebra a potência da música brasileira e de nosso idioma no Dia Internacional da Língua Portuguesa 2023
Publicado em 28 de abril de 2023 na página do Museu da Lgua Portuguesa
Chico César, Lirinha, KL Jay e Samba da Vela estão entre os convidados. Cantos indígenas, lusofonia, música caipira, funk, rap, embolada, coco e MPB estão presentes na programação, toda gratuita, que vai ocupar vários espaços do Museu nos dias 5 e 6 de maio
O Museu da Língua Portuguesa promove uma celebração à potência e à diversidade da música brasileira no contexto do Dia Internacional da Língua Portuguesa 2023, comemorado em 5 de maio, com uma série de atividades nos dias 5 e 6 em diversos espaços do Museu. O tema principal do evento será Língua e Canção, que permeia boa parte da programação da instituição da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo neste ano. Todas as ações, assim como a entrada ao Museu, serão gratuitas nesses dois dias.
Com curadoria do historiador e músico Cacá Machado, o Dia Internacional da Língua Portuguesa 2023 vai abordar a variedade da língua portuguesa e do cancioneiro do país, que se manifesta por meio de diferentes gêneros musicais. Pois, se tem uma gente, um povo, que se revela por meio da música, é o brasileiro.
“O Dia da Língua do Museu da Língua Portuguesa se organizará em dois eixos temáticos/poéticos: ‘Cio da terra: sonoridades da língua e da canção’ e ‘Máquina de ritmo: a misturada geral sob o signo do suingue’. O ‘Cio da terra’ abarca a vocação da língua portuguesa (e brasileira em particular) em transformar tudo em canção: religião, trabalho, jogos, afetos. Tradição oral do litoral e do sertão. Tradição lírica. Cantos vindos pelo mar: Portugal, África, Brasil. Nossos cantos das terras. Já o ‘Máquina de ritmo’ é o reconhecimento do ritmo brasileiro (importado, recriado e exportado) como força motriz de uma tradição poderosa de dicção da língua e da canção brasileira. Do samba ao rap, passando pelo coco, pela embolada, pelo funk e outros sacolejos”, afirma Machado.
Na programação, a MPB se fará presente em um show de voz e violão de Chico César. A influência africana no português e a lusofonia aparecem em conversa entre o sociólogo brasileiro Mário Medeiros e a professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Universidade de São Paulo, Rita Chaves – o escritor e professor angolano Ondjaki participará virtualmente deste bate-papo.
A atriz Luah Guimarães, a percussionista Victória dos Santos, o diretor Vadim Nikitin e o compositor e curador da programação, Cacá Machado, farão uma performance remixando literatura e canções da língua portuguesa. Já o tradicional Samba da Vela aporta no Saguão Central da Estação da Luz.
A música caipira também é lembrada em trabalho de Suzana Salles e Lenine Santos, que recebem o instrumentista Webster Santos. O funk é destaque na participação de Meno del Picchia, MC Lanzinho, MC Tizzi e Batata Boy. Ritmos originários do Norte e Nordeste do país, como coco, ganham espaço com Caçapa, Lirinha e os cantadores de embolada Antônio Caju e Rouxinol Pereira. Contos e cantos indígenas estarão em performance com Denilson Baniwa, Lilly Baniwa e Andreia Duarte.
Para fechar a programação, Xis e KL Jay realizam o Papo da Quebrada, uma aula-show em que falarão sobre o rap com uma discotecagem ao vivo. A mediação será da jornalista Gisele Coutinho.
Enquanto essas atividades estiverem acontecendo, será exibido, em looping, no miniauditório do Museu, o documentário “Nelson Cavaquinho” (1969), dirigido por Leon Hirszman.
“Pensei a programação em três camadas. Uma primeira são as rodas de conversas, que chamamos aqui de ‘Conversas de botequim’. Serão dois encontros, um sobre a língua portuguesa viva na literatura negra contemporânea (Portugal-África-Brasil) e outro sobre a língua brasileira nordestina. Outra camada são os shows: da música caipira ao funk de São Paulo, passando pelo rap e emboladas. Por fim, duas performances acontecerão junto ao público do Museu, trazendo as línguas dos povos originários e um remix da literatura e de canções da língua portuguesa. Enfim, o público terá uma ampla amostra da língua portuguesa contemporânea”, finaliza o curador.
Confira a programação completa:
5 DE MAIO
11h – Performance Antes do Tempo Existir
No Pátio A e na Rua da Língua
O artista visual Denilson Baniwa, a atriz Lilly Baniwa e a diretora Andreia Duarte se valem de memórias longínquas dos povos originários na apresentação de uma performance em que real e ficção se mesclam para questionar a lógica de produtividade da sociedade contemporânea.
Grátis (com necessidade de retirada de ingressos para entrar no Museu)
13h – Show Samba da Vela
No Saguão Central da Estação da Luz
O tradicional Samba da Vela, com a presença de 13 integrantes, apresenta clássicos do gênero, além de canções de novos compositores e autorais, nesta apresentação no Saguão Central da Estação da Luz. O show tem hora para começar, às 13h, e só vai acabar quando a vela acesa para a ocasião se apagar.
Grátis (sem necessidade de retirada de ingressos)
16h – Conversa de botequim Língua Negra Lusoafrobrasileira
No Auditório e pelo YouTube do Museu da Língua Portuguesa (com libras)
A influência da língua africana no português e lusofonia são os temas desta conversa que vai reunir o sociólogo brasileiro Mário Medeiros e a professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Universidade de São Paulo, Rita Chaves. O escritor e professor angolano Ondjaki participará remotamente deste bate-papo.
Grátis (com necessidade de retirada de ingressos para entrar no Museu – quem já estiver no Museu terá entrada livre para este evento)
17h – Show Caipira
No Pátio B
A cantora Suzana Salles e o tenor Lenine Santos convidam o multi-instrumentista Webster Santos para realizar uma releitura de clássicos da música caipira, como “Boi Soberano”, “Beijinho Doce” e “Índia”, tendo como referências artistas fundamentais para este gênero da música brasileira, como Cascatinha e Inhana, Angelino de Oliveira, Tião Carreiro e Pardinho e João Pacífico.
Grátis (sem necessidade de retirada de ingressos)
19h – Show Chico César, voz e violão
No Auditório e na Praça da Língua
Nesta apresentação de voz e violão especial para o Museu, Chico César celebra a língua portuguesa em suas canções. Algumas delas, como “Mama África”, “À Primeira Vista” e “Pensar em Você”, viraram hits e fizeram o cantor e compositor paraibano ser conhecido em todo o Brasil.
Grátis (retirada de ingressos a partir das 17h – dois por pessoa – na bilheteria do portão A. Sujeito a lotação)
9h às 18h – Documentário Nelson Cavaquinho
No miniauditório
Dirigido por Leon Hirszman, este filme, lançado em 1969, acompanha o dia a dia do sambista Nelson Cavaquinho, autor de músicas como “Juízo Final” (com Élcio Soares), “A Flor e o Espinho” (com Guilherme de Brito e Alcides Caminha) e “Folhas Secas” (com Guilherme de Brito).
Grátis (com necessidade de retirada de ingresso para entrar no Museu)
6 DE MAIO
11h – Performance Já passou de português
No Saguão Central da Estação da Luz
A atriz Luah Guimarães, a percussionista Victória dos Santos, o diretor Vadim Nikitin e o compositor Cacá Machado reúnem literatura e canções da língua portuguesa em performance que passará por diversos espaços do Museu da Língua Portuguesa. A ideia é mostrar as relações entre a língua escrita e a musicalidade em nosso idioma.
Grátis (sem necessidade de retirada de ingressos para entrar no Museu)
13h – Show Fluxo do Funk
No Saguão Central da Estação da Luz
O músico e pesquisador Meno del Picchia faz um apanhado do funk paulista, marcado pela ostentação em suas letras, entre outros estilos. Neste pocket show, ele recebe como convidados MC Lanzinho, MC Tizzi e Batata Boy, representantes da nova geração do funk.
Grátis (sem necessidade de retirada de ingressos)
15h – Conversa de botequim: Do Nordeste brasileiro
No Pátio B e pelo YouTube do Museu da Língua Portuguesa (com libras)
A influência da língua e canção nordestinas na formação da cultura brasileira é o tema da roda de conversa Do Nordeste brasileiro. Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, e os cantadores de embolada Antônio Caju e Rouxinol Pereira participam do encontro, que terá mediação do compositor e produtor musical Caçapa.
Grátis (sem necessidade de retirada de ingressos)
16h – Show Do Nordeste brasileiro
No Pátio B
Logo após a roda de conversa, Lirinha, Caçapa, Antônio Caju e Rouxinol Pereira colocam em prática o que falaram no debate realizado no Dia Internacional da Língua Portuguesa do Museu. No repertório, eles cantam e tocam emboladas, cocos e repentes.
Grátis (sem necessidade de retirada de ingressos)
18h – Papo da Quebrada: aula-show com Xis e KL Jay
No Pátio B e pelo YouTube do Museu da Língua Portuguesa (com libras)
Os rappers Xis, autor do sucesso “Us Mano e As Mina”, e KL Jay, DJ do grupo Racionais MC’s, vão promover uma aula-show sobre o rap e ainda apresentar alguns clássicos do gênero por meio de uma discotecagem ao vivo. A mediação será da jornalista Gisele Coutinho.
Grátis (sem necessidade de retirada de ingressos)
9h às 18h – Documentário Nelson Cavaquinho
No miniauditório
Dirigido por Leon Hirszman, este filme, lançado em 1969, acompanha o dia a dia do sambista Nelson Cavaquinho, autor de músicas como “Juízo Final” (com Élcio Soares), “A Flor e o Espinho” (com Guilherme de Brito e Alcides Caminha) e “Folhas Secas” (com Nelson Antonio da Silva e Guilherme de Brito).
Grátis (com necessidade de retirada de ingressos para entrar no Museu)
ATENÇÃO: INGRESSO PARA O SHOW DO CHICO CÉSAR
A entrada ao Museu da Língua Portuguesa não garante acesso ao show do cantor Chico César. Para prestigiar este evento, é preciso retirar ingressos – dois por pessoa – a partir das 17h, no dia 5 de maio (sexta-feira), inclusive quem já está dentro do Museu. Sujeito a lotação.
SERVIÇO
Museu da Língua Portuguesa
De terça a domingo, das 9h às 16h30 (permanência até 18h)
R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Grátis nos dias 5 e 6 de maio
Grátis para crianças até 7 anos
Grátis aos sábados
Acesso pelo Portão A
Venda de ingressos na bilheteria e pela internet
Leia mais sobre:
Museu da língua portuguesa terá exposição sobre canção popular do Brasil
Matéria na Folha de São Paulo por Monica Bergamo em 19 MAIO 2023
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A canção popular do Brasil será o tema da próxima exposição temporária do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
Bossa nova, MPB, funk, rap, sertanejo e outros gêneros serão abordados em “Essa Nossa Canção”, mostra que será inaugurada em julho. A curadoria será de Hermano Vianna e Carlos Nader, com coordenação geral de José Miguel Wisnik e Isa Grinspum Ferraz.
Crianças indígenas de MS serão alfabetizadas na língua materna; programa atende quatro línguas
Alfabetiza MS Indígena será implantado nos 79 municípios do Estado
O processo de alfabetização de crianças indígenas de Mato Grosso do Sul será feito na própria linguagem utilizada pela comunidade. Isso porque o programa Alfabetiza MS Indígena traduzirá materiais didáticos para quatro línguas de povos originários do Estado.
A ação foi tema de seminário na UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) nesta quinta-feira (18). “É um programa que nós lançamos, assinamos ele em 21, implementamos no estado em 22. MS Alfabetiza é um regime de colaboração que o Estado faz com todos os municípios”, lembrou o secretário-adjunto de Educação, Edio de Castro.
Segundo o adjunto, a parceria entre o Estado e município se dá pela distribuição de material pedagógico produzido por MS. “A educação visa alfabetizar na idade certa, ou seja, no primeiro e no segundo ano”, afirmou.
Nestas fases, o ensino é ofertado pelas redes municipais. Assim, 60 escolas de MS participam, sendo que 30 serão premiadas pelo bom desempenho.
Alfabetiza MS Indígena
Para melhor atender as crianças indígenas, criadas em línguas originárias, o programa passou por adaptação. “Vamos transcrever todo esse material a partir deste ano, para implementar no que vem junto com eles na linguagem deles”, explicou.
Além disso, destacou que “isso vai facilitar, evidentemente, a alfabetização deles, em igualdade de condições com os que estão nas nossas redes no dia a dia”. No início, haverá tradução do material para quatro línguas.
“Esse início vai começar com quatro, Guarani, Kaiowá, Terena e Kadiwéu”, apontou. No entanto, são sete línguas originárias em MS, sendo que três estão quase extintas do território sul-mato-grossense.
Assim, a coordenadora do MS Alfabetiza, Estela Andrade, disse que estão em processo de contratação de tradutores. “As línguas ainda serão de acordo com os linguistas que nós vamos conseguir contratar para fazer tradução do material”, ressaltou.
Quando o projeto começa?
Conforme a diretora da Fadeb (Fundação de Apoio e Desenvolvimento da Educação Básica de MS), Cecília Motta, “ano que vem a criança será alfabetizada em duas línguas, na língua indígena e na portuguesa”.
Ela ressaltou que o projeto é o primeiro do país. “O Brasil está construindo uma alfabetização na língua portuguesa, mas no Brasil não tem apenas a língua portuguesa, temos outras línguas. E MS é o segundo estado com maior população indígena”, lembrou.
“A gente é alfabetizado na língua da gente e eles falam uma língua toda diferenciada”, disse. Sobre as três línguas que estão em processo de extinção, a diretora garantiu que haverá um trabalho de resgate.
Comunicação pela língua nativa
Na Aldeia Bananal, em Aquidauana, 90% da comunidade se comunica com a língua nativa. Anciões usam o terena na aldeia, língua que se mantém entre as crianças.
Ao Jornal Midiamax, o cacique e professor, Celio Fialho, disse que os materiais traduzidos ajudam na manutenção da língua.
“A importância da manutenção da língua é a valorização da cultura. Uma vez que a comunidade indígena ela perde sua língua, ela perde uma parte da sua cultura”, explicou.
Assim, destacou que o “trabalho dentro da Secretaria de Educação, dentro do âmbito da educação, ele é muito importante, porque lá dentro da escola além manter a cultura, valoriza”.
Secretaria de Educação Indígena
Por fim, o professor e técnico pedagógico indígena nacional, Joaquim Maná Kaxinawá, palestrou no seminário. Em entrevista, lamentou que a educação formou-se no país de forma não inclusiva. “Os povos começaram a pensar: Por que a gente só aprende conhecimento e não ensina o nosso conhecimento?”, lembrou.
Então, reforçou a importância do projeto pioneiro em MS. “De 1,3 mil povos que existia, só existem 305 povos. São estimadas 70 línguas falantes e outras já não falam mais”, lastimou a perda da cultura.
“Futuramente nós queremos que seja criada a Secretaria Especial de Educação Indígena, tanto no meu estado [Acre], quanto no MEC, quanto nos municípios. Onde tiver esses povos tem que ter essa demanda, essa instituição”, comentou.
Diálogo de investigadores sobre la diversidad lingüística
Em 23 de maio de 2023 será realizado o evento “Diálogo de investigadores sobre la diversidad lingüística” com a participação de especialistas e pessoas representativas da cultura peruanas. Conheça a programação e acompanhe.
Visite o site do Ministerio da Cultura / Peru para conhecer as atividades e ações que vem sendo realizadas para a promoção das línguas originais peruanas.
https://www.facebook.com/mincu.pe
Saiba mais:
Vila Pavão, município no estado Espirito Santo, recebe exemplares do Inventário da Língua Pomerana
INVENTÁRIO DA LÍNGUA POMERANA
IPOL faz entrega de exemplares do livro Inventário da Língua Pomerana para a Secretaria Municipal de Educação do municipio de Vila Pavão, no Espirito Santo.
A publicação é fruto de um projeto de pesquisa que durante três anos levou aos estados de Espirito Santo, Santa Catarina Rio Grande do Sul.
Txai Suruí conta como os povos indígenas da Amazônia usam a tecnologia para defender seus territórios
Ativista indígena participa da noite de abertura do Web Summit Rio, evento que acontece entre hoje (1) e quinta-feira (4) no Riocentro
Por Lia Hama, Época Negócios –
“Na época em que meu avô Marimop Suruí era o chefe maior do povo Paiter Suruí, as armas que eles tinham para defender seu território eram o arco e a flecha. Hoje temos os drones, os satélites do Google, as câmeras de vídeo, os celulares e as redes sociais para denunciar as invasões às nossas terras na Amazônia”, afirmou à ÉPOCA Negócios a ativista indígena Txai Suruí.
Em 2021, a estudante de Direito atraiu os holofotes do mundo inteiro ao discursar na abertura da 26ª Conferência da ONU sobre o Clima em Glasgow. Hoje, aos 26 anos, é uma das vozes mais potentes na defesa dos povos indígenas do Brasil. A ativista acumula as funções de coordenadora-geral da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé (que trabalha com 21 povos indígenas da Amazônia), coordenadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia e conselheira da WWF-Brasil e do Pacto Global da ONU no Brasil.
Txai também é produtora-executiva do documentário “O Território”, que narra a luta do povo Uru-eu-wau-wau e da indigenista Ivaneide Bandeira, mãe de Txai, contra a invasão de terras indígenas em Rondônia. Dirigido por Alex Pritz, o filme levou os prêmios de Público e Especial do Júri para Obra Documental no Festival de Sundance em 2022. Boa parte das imagens foram feitas por Bitaté Uru-eu-wau-wau, líder indígena que aprendeu a usar o drone e o GPS para denunciar o avanço de fazendeiros em seu território.
Txai participa hoje (1/05) da noite de abertura do Web Summit Rio, edição brasileira do festival de tecnologia e inovação. Também estarão no palco: Paddy Cosgrave, fundador e CEO do evento; Ayo Tometi, cofundadora do movimento Black Lives Matter; David Vélez, fundador e CEO do Nubank; os apresentadores Luciano Huck e Maju Coutinho; Eduardo Paes, prefeito da cidade do Rio de Janeiro, e outros convidados. O festival acontece até quinta-feira (4/05) no Riocentro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
Na entrevista a seguir, Txai fala sobre as políticas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o uso das tecnologias para a defesa dos territórios indígenas, a parceria pioneira feita por seu pai, o cacique Almir Suruí, com o Google Earth, o assassinato do amigo Ari Uru-eu-wau-wau e as ameaças de morte recebidas pela família.
ÉPOCA NEGÓCIOS – Você se tornou conhecida no mundo inteiro como porta-voz dos povos indígenas no Brasil. Como você avalia as políticas adotadas pelo governo Lula nessa área?
TXAI SURUÍ – Esse governo começou com algo histórico, que foi a criação do Ministério dos Povos Indígenas. É um exemplo para outros países, porque até então os povos originários não estavam representados. Há muito tempo vínhamos denunciando a situação dos Yanomamis e ninguém fazia nada a respeito. Agora temos um ministério que não deixa isso ser invisibilizado, que luta por essas questões, que são de direitos humanos. Claro que há um caminho longo pela frente, mas existe um olhar novo em relação aos povos indígenas e à floresta.
Você é produtora-executiva do filme “O Território”, sobre a luta por sobrevivência do povo Uru-eu-wau-wau em Rondônia. O documentário mostra jovens indígenas usando drones para fiscalizar o território. Quando essa tecnologia chegou para vocês e qual é a sua importância?
Essa tecnologia veio como uma forma de responder às ameaças e invasões. Os últimos seis anos foram muito difíceis para nós, indígenas. Houve uma militarização muito grande, tanto da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) quando da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena). Colocaram pessoas que não gostam de indígenas nesses órgãos que deveriam zelar pelo nosso bem-estar. Quando denunciávamos o que estava acontecendo, falavam: “Vocês estão mentindo, só acreditamos se trouxerem provas”. Então, junto com a Associação Kanindé e a WWF, levamos os drones para as aldeias e formamos jovens para lidar com a tecnologia, fortalecendo assim o monitoramento e a proteção do território. Também usamos esses equipamentos para fazer o levantamento da fauna e da flora e realizar a análise das mudanças do clima da região.
O filme mostra duas visões opostas: a dos indígenas que vivem na floresta e a dos invasores, que acham que progresso é derrubar árvore para plantar soja e criar gado. Como conciliar essas visões?
Não adianta fazer a desintrusão, que é a retirada dos invasores, e não oferecer outro caminho para a pessoa seguir. É preciso mostrar que é possível proteger a floresta e ganhar dinheiro com isso. Não gosto de falar em termos financeiros, mas é preciso conversar sobre alternativas de renda para essas pessoas. Existem soluções que são baseadas na natureza. É possível, por exemplo, fazer reflorestamento e participar do mercado de carbono. Eles podem ganhar mais dinheiro com isso do que com a criação de gado.
Você poderia citar um exemplo de projeto bem-sucedido com uma solução baseada na natureza?
Outro dia, o Luciano Huck visitou a nossa aldeia Lapetanha em Cacoal, na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia. Ele conheceu nosso trabalho de reflorestamento chamado Pamine, que significa “renascer da floresta”. O projeto acabou de ser premiado com o “Nobel Verde”, o United Earth Amazonia Award. As nossas agroflorestas produzem um café premiadíssimo, vendido para uma das maiores empresas de café do Brasil, a 3 Corações. Plantamos o café junto com bananeiras, cacauzeiros, castanheiras e outras plantas sagradas para nós. Também trabalhamos com etnoturismo, temos as nossas bangalocas (mistura de bangalôs e ocas) para hospedar turistas. Mostramos a eles nosso modo de vida e nossa cultura ancestral. Queremos que as pessoas da cidade entendam por que nós, indígenas, nos entendemos como parte da natureza e porque é tão importante preservá-la.
Quem banca esses projetos?
Às vezes são doadores do Brasil, às vezes são doadores do exterior. O projeto de turismo foi financiado pelo Fundo LIRA (Legado Integrado da Região Amazônica), uma parceria entre o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), a Fundação Gordon and Betty Moore e o Fundo Amazônia.
O filme “O Território” mostra um amigo de infância seu, o Ari Uru-eu-wau-wau, que era um guardião da floresta e foi assassinado. Você tem esperança de que o responsável seja punido?
Não posso perder a esperança. Vamos continuar exigindo justiça para o Ari, para que o que aconteceu com ele não se repita e para que a morte dele não tenha sido em vão. A gente sabe que a pessoa que matou o Ari estava envolvida com as invasões ao território. Até hoje, existem mais de 6 mil cabeças de gado só numa pequena parte do território dos Uru eu-wau-wau.
Quando o filme foi lançado mundialmente em setembro do ano passado, você temia por ameaças de morte contra você e a sua família. Isso aconteceu? Vocês tiveram a segurança reforçada?
O filme mostra como tiveram que subir o muro da casa da minha mãe em Porto Velho, por causa das ameaças recebidas por ela. Em certo momento, tivemos que levá-la para outro lugar. Isso é uma constante em nossa vida. Quando eu tinha 14 anos, tivemos que ficar um ano sendo acompanhados pela Força Nacional por causa das ameaças que meus pais receberam após denúncias sobre invasões e retiradas ilegais de madeira do nosso território. Quando voltei da COP26, essas ameaças ocorreram também, tanto na internet quanto pessoalmente. Fui perseguida mais de uma vez por um carro com vidro escuro em Porto Velho. Passei um período viajando por causa disso, não podia ficar na cidade.
Quem são as pessoas que te inspiram na luta pela defesa dos povos indígenas?
Minha mãe [a indigenista Ivaneide Bandeira Neidinha Suruí], porque é uma mulher forte, batalhadora e corajosa. E meu pai [o cacique Almir Suruí], porque é visionário. Os Paiter Suruí foram o primeiro povo indígena do Brasil a trabalhar com mercado de carbono, por ideia dele. Também veio dele a iniciativa de fazer uma parceria com o Google. Em 2007, ele bateu na porta deles na Califórnia e disse que faltava um projeto da empresa com os povos indígenas. Foi daí que nasceu o Mapa Cultural dos Suruí, no Google Earth.
O cineasta João Moreira Salles está fazendo um documentário sobre você e o seu pai. Como foram as gravações?
João me acompanhou na época das eleições presidenciais do ano passado. Eu estava em Nova York, depois voltei para o Brasil. Uma outra equipe acompanhou meu pai, que estava se candidatando a deputado federal por Rondônia. Para a gente, essas eleições eram uma questão de vida ou morte, assim como era para os Yanomami ou para os Munduruku. O João mostrou o que eu estava vivendo como uma jovem mulher indígena, que tem uma perspectiva de luta diferente das gerações passadas. O povo Paiter Suruí tem 54 anos de contato com não indígenas. Meu avô lutou com arco e flecha para que o nosso território não fosse invadido. Ele mandou meu pai estudar na cidade para aprender como o homem branco vive. Meu pai fez a mesma coisa comigo. Hoje falo inglês, estudo Direito e tenho facilidade em usar novas tecnologias.
Qual é a importância das redes sociais no seu trabalho como ativista?
Uso as redes sociais para denunciar o que acontece em nossos territórios. Outro dia estava agoniada porque, em Rondônia, o povo Tupari estava com cinco aldeias alagadas. As famílias perderam tudo, ficaram sem comida e sem água potável, porque a roça delas foi alagada e o poço foi infiltrado com a lama das enchentes. Não tenho como dormir enquanto meu povo está sofrendo. Meu trabalho é usar as redes sociais, acionar os meios de comunicação e tentar levar ajuda para esses lugares. Até pouco tempo atrás, a gente falava de crise climática como algo do futuro, mas são coisas que já estão acontecendo.
Em que outros projetos você está trabalhando?
Me formo este ano no curso de Direito. Estou tentando escrever um livro infantil e, mais para frente, quero trabalhar em um livro que mostre como é possível viver em harmonia com a natureza. Busco fazer um trabalho decolonial, trazer outra visão sobre a vida. O homem branco diz: “Só existe este caminho a seguir, não existe outra alternativa”. Nós, indígenas, estamos aqui para dizer: “Não é verdade. Dentro desse mundo, existem vários outros mundos. Há muitas outras filosofias, ciências e tecnologias”. Como diz o líder indígena Ailton Krenak, se existe um futuro, o futuro é ancestral.
(A participação de Txai está em 2h14min e 51s … https://www.youtube.com/watch?v=zAWFvYwmc2c)