Línguas de povos originais se tornam “segundo idioma” em cidade cheia de aldeias – CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS
“Eu creio que é um avanço, uma conquista para nossos direitos”, comentou morador da aldeia Lagoinha
Por Geniffer Valeriano | 26/04/2023 09:21
Mais três línguas são acrescentadas como “cooficiais” no município de Miranda, cidade que fica a 201 km da Capital. São como outras formas de comunicação paralelas à língua portuguesa. Desde 2017, a língua Terena já faz parte dessa lista, mas no dia 11 de abril deste ano, a língua Kinikinau, Libras (Língua Brasileira de Sinais) e a LTS (Língua Terena de Sinais) começaram a fazer parte também.
Morador da aldeia Lagoinha, Arildo Cebalio, de 49 anos, conta que vê a nova emenda publicada como um incentivo a preservação da cultura indígena. “Alguns anos atrás, crianças quando começavam a aprender a falar, primeiro aprendiam a falar o terena e depois a falar português. Hoje está bem diferente, nós vemos as nossas crianças a falar o português e não o terena”, disse.
Cercados pela língua portuguesa, Arildo conta que atualmente tem sido um desafio passar o ensinamento da língua Terena para os mais novos. “Hoje é até difícil de passar para os filhos, mesmo que eles tenham apoio e nós como pais, os mais velhos que ensinam, mas a gente já está rodeado de tanta coisa que já vem em português pra gente, né?”.
Com o novo decreto, fica estabelecido que não pode haver descriminação de nenhuma das línguas, sendo ela oficial ou cooficial. Sendo garantido o direito à escolha da opção pedagógica que mais parecer adequada às famílias.
“No caso dos estudantes que apresentem necessidades de comunicação, o acesso aos conteúdos deve ser garantido por meio da utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema de Braille, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a Língua Terena de Sinais (LTS), sem prejuízo do aprendizado”, diz trecho do parágrafo único.
CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS
Mestre Chico, o griô que planta palavras em Quimbundo, Iorubá e Lingala
Nos dedos, uma tartaruga. No pulso, um bracelete de metal. Nos olhos, fogo. Mestre Chico é um homem de Xangô. Para conhecer o seu terreiro, o Ponto de Cultura Tambores de Angola, assentado na Zona Norte de Porto Alegre, é preciso tirar os calçados. Ao entrar pela porta, e atravessar um longo corredor, saúda-se o dono da Casa, Exu, o senhor dos caminhos, que fez este encontro acontecer. “Eu não sabia as perguntas que você iria fazer, mas ele sabia”, diz o Mestre.
Francisco Paulo Jorge Pinto, o Mestre Chico, completa 70 anos este ano, e pelo menos 60 destes foram dedicados a vivenciar profundamente as tradições africanas e afro-brasileiras. Percussionista, artistas plástico e capoeirista nascido em Pelotas, ele é uma das únicas pessoas falantes de Iorubá, Quimbundo e Lingala no Rio Grande do Sul. Ele ensina a outros mestres e crianças, e acredita que as línguas africanas são como heranças ancestrais recebidas. São como vasos, preciosos e perecíveis, que, se não são alimentados na continuidade, desaparecem.
A Casa de Mestre Chico é um lar para os tambores, instrumentos recebidos ou confeccionados ao longo de sua vida, reunidos em uma única sala, que guarda também seus livros, fotografias, e um acervo com pedaços da história dos Sopapos, do Batuque e dos mestres e mestras do sul do país. Angola, Nigéria e África do Sul são alguns dos lugares de origem dos tambores que o Mestre têm. Os Sons de África vivem ali.
Siga a leitura da matéria aqui:
Lançamento oficial da Década Internacional das Línguas Indígenas no Brasil
Sobre a Década Internacional das Línguas Indígenas
Cerca de 97% da população mundial fala somente 4% dessas línguas, e somente 3% das pessoas do mundo falam 96% de todas as línguas existentes. A grande maioria dessas línguas, faladas sobretudo por povos indígenas, continuarão a desaparecer em um ritmo alarmante. Por isso, a Assembleia Geral das Nações Unidas (Resolução A/RES/74/135) proclamou o período entre 2022 e 2032 como a Década Internacional das Línguas Indígenas (International Decade of Indigenous Languages – IDIL 2022-2032), para chamar a atenção mundial sobre a situação crítica de muitas línguas em perigo de desaparecimento e a necessidade de usá-las e preservá-las para as gerações futuras.
Leia mais em https://pt.unesco.org/news/lancamento-oficial-da-decada-internacional-das-linguas-indigenas-no-brasil
Edital seleciona pesquisadores sobre línguas indígenas
Publicado em 27 de fevereiro de 2023
As duas pessoas selecionadas vão receber bolsas de R$ 2 mil para desenvolver estudos sobre línguas indígenas
O Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, está com inscrições abertas para edital que selecionará duas pessoas para desenvolver pesquisas sobre línguas indígenas durante o ano de 2023, com uma bolsa mensal de R$ 2 mil ao longo de seis meses, entre abril e setembro. Os estudos terão como foco a exposição principal do Museu e podem usar como fonte a atual exposição temporária, dedicada ao tema – Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação.
As inscrições deverão ser feitas entre 23 de fevereiro e 12 de março pela internet (bit.ly/Edital_MLP). Na página do Edital, estão a lista completa de documentos necessários, as regras de participação, prazos e condições. Postulantes precisam ter curso de graduação e/ou comprovante de matrícula de pós-graduação (especialização, mestrado ou doutorado) reconhecido pelo Ministério da Educação, além de já terem atuado anteriormente com línguas e/ou culturas indígenas.
As pessoas selecionadas vão atuar na pesquisa e análise iconográfica documental dos conteúdos da exposição principal; na criação de material editorial sobre os módulos “O enfrentamento dos mundos” e “Terras Brasilis”, da experiência Português do Brasil; além de participar de um ciclo de formação para a equipe interna do Museu. O material produzido durante a pesquisa poderá ser difundido em mídias variadas, como podcasts, redes sociais, vídeos, entre outros, de forma a disseminar o conhecimento gerado.
A carga horária será de 20 horas semanais, sem necessidade de dedicação exclusiva.
O processo de seleção, realizado pelo Comitê de Orientação de Pesquisa do Centro de Referência do Museu da Língua Portuguesa, será realizado em duas fases. Na primeira, serão selecionadas as seis melhores candidaturas com base na Carta de Intenção e no Currículo Lattes/CNPq. Em seguida, as pessoas pré-selecionadas serão convocadas para a fase de entrevista. A nota final será composta pela média ponderada das notas obtidas nas avaliações da Carta de Intenção, do Currículo e da entrevista.
SERVIÇO
Edital de Seleção de Pesquisadores
Inscrições de 23 de fevereiro a 12 de março
No link bit.ly/Edital_MLP.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
O que é o Edital de Seleção de Pesquisadores(as)?
O Centro de Referência do Museu da Língua Portuguesa vai selecionar duas pessoas para realizar pesquisas sobre as línguas indígenas presentes na exposição principal do Museu da Língua Portuguesa.
Quem pode participar?
Pode participar quem já concluiu curso de graduação e/ou algum curso de pós-graduação (especialização, mestrado ou doutorado) reconhecido pelo Ministério da Educação. As pessoas deverão ter formação e/ou atuação anterior com línguas e culturas indígenas.
Qual o período da pesquisa e o valor da bolsa?
As duas pessoas selecionadas vão receber uma bolsa mensal no valor bruto de R$ 2 mil ao longo de seis meses, de abril a setembro de 2023. A carga horária é de 20 horas semanais, sem necessidade de dedicação exclusiva.
Que atividades os(as) pesquisadores(as) bolsistas deverão desenvolver?
Além de desenvolver estudos sobre línguas indígenas, a atuação envolve a atualização dos conteúdos da exposição principal, criação de materiais editoriais sobre os módulos “O enfrentamento dos mundos” e “Terras Brasilis”, da experiência Português do Brasil, participação em ciclo de formação para a equipe interna e de eventos ligados ao tema realizados pelo MLP; além de produzir conteúdo de difusão em mídias variadas e relatório de atividades e acompanhamento.
Qual é o período de inscrição?
De 23 de fevereiro a 12 de março de 2023.
Como se inscrever?
A inscrição deve ser feita pela internet, no link bit.ly/Edital_MLP.
Quais são os documentos necessários?
A lista completa de documentos necessários pode ser encontrada na página do edital (bit.ly/Edital_MLP). Entre eles estão o comprovante de conclusão de curso de graduação e/ou o comprovante de matrícula de pós-graduação, carta de intenção com no máximo duas laudas e link do Currículo Lattes/CNPq atualizado.
Quem avaliará as candidaturas?
O processo de seleção será realizado pelo Comitê de Orientação de Pesquisa do Centro de Referência do Museu da Língua Portuguesa e será composto por duas fases. Na primeira, serão selecionadas as seis melhores candidaturas com base na Carta de Intenção e no Currículo modelo Lattes/CNPq. Em seguida, esses seis participantes serão convocados para a fase de entrevista. A nota final será composta pela média ponderada das notas obtidas nas avaliações da Carta de Intenção, do Currículo e da entrevista.
Quando o resultado será anunciado?
As inscrições homologadas serão publicadas no site do Museu da Língua Portuguesa (www.museudalinguaportuguesa.org.br) no dia 13 de março. Já o resultado final será anunciado, também no site do Museu, no dia 28 de março.
Para quaisquer dúvidas, consultar o edital ou entrar em contato pelo e-mail centrodereferencia@mlp.org.br.
confira a matéria neste link: Edital Museu da Língua Portuguesa
UNESCO: “até ao fim deste século 3000 línguas podem desaparecer”
Aproximadamente 3 mil das mais de 7 mil línguas atualmente faladas no mundo estão em perigo de desaparecerem até ao final do século XXI.
O “Dia Internacional da Língua Materna” foi aprovado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) na Conferência Geral de 1999, por iniciativa do Bangladesh, e tem sido celebrado a 21 de fevereiro de cada ano, desde o ano de 2000.
Segundo dados da UNESCO, existem atualmente mais de 7.000 línguas faladas em todo o mundo, das quais 6.700 são faladas por povos indígenas e são “as línguas mais ameaçadas do mundo”.
Segundo o projeto de resolução adotado como parte do Ano Internacional das Línguas Indígenas da ONU, que foi criado em 2019, a UNESCO apelou aos Estados para estabelecerem fundos e mecanismos para a proteção das línguas indígenas.
Segundo a UNESCO, as populações indígenas, mesmo que constituam uma pequena proporção da população de um país, constituem a maior parte da sua diversidade cultural e linguística. O desaparecimento das línguas pode significar uma perda irreversível do cosmopolitismo e do património comum da humanidade.
Segundo o Atlas Mundial das Línguas em Perigo da UNESCO, desde 1950, as línguas que não faladas por ninguém são consideradas “extintas”.
Para que uma língua seja considerada “segura”, deve ser falada por todas as gerações e não podem existir quaisquer restrições à língua. De acordo com esta classificação, 4% das línguas faladas até à data foram consideradas “extintas”.
Das línguas faladas atualmente, 10% estão classificadas como “sob nível de ameaça crítica”, 9% “sob nível de ameaça grave”, 11% “sob nível de ameaça definitivo” e 10% como “vulneráveis”.
A UNESCO teme que estas línguas possam desaparecer até ao final deste século.
Publicado em:
https://www.trt.net.tr/portuguese/cultura-e-arte/2023/02/21/unesco-ate-ao-fim-deste-seculo-3000-linguas-podem-desaparecer-1949423