Línguas Indígenas

Entrevistas Dia dos Povos Indígenas 2024

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Acesse as entrevistas com a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara; Eliane Potiguara, primeira indígena a publicar um livro no país;  Joenia Wapichana, presidente da FUNAI: o escritor Daniel Munduruku e Rosa Colman, demógrafa.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/tags/entrevistas-dia-dos-povos-indigenas-2024

MEC cria comissão para produção de material didático indígena

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Comissão Nacional de Avaliação e Apoio à Produção de Material Didático e Literário Indígena (Capema) visa auxiliar formulação de políticas de alfabetização para estudantes indígenas

MEC cria comissão para produção de material didático indígena

O Ministério da Educação (MEC) instituiu, na segunda-feira, 15 de abril, a Comissão Nacional de Avaliação e Apoio à Produção de Material Didático e Literário Indígena (Capema), que será coordenada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi). O colegiado foi criado por meio da Portaria nº 28/2024, com objetivo de assessorar o MEC na formulação e no acompanhamento de políticas educacionais relacionadas à alfabetização, ao letramento e ao numeramento de estudantes indígenas. Também contribuirá para a formação de professores e gestores que atuam em escolas indígenas, assim como para a produção, avaliação, edição, publicação e distribuição de materiais didáticos e literários indígenas. 

Entre as atribuições da comissão, estão a atuação na promoção do diálogo com órgãos federais, estaduais e municipais; organizações não governamentais; movimentos sociais; organizações indígenas e indigenistas, envolvidos com a educação escolar indígena. O diálogo busca a articulação de medidas e ações integradas que promovam programas, projetos e iniciativas ligadas à alfabetização e ao processo educacional junto aos estudantes indígenas. 

De acordo com a secretária de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão, Zara Figueiredo, “espera-se que, com a atuação da Capema, possamos ter uma grande quantidade de materiais didáticos e paradidáticos escritos nas línguas indígenas”. 

Já a coordenadora-geral de Educação Escolar Indígena, Rosilene Tuxá, disse que a portaria é de suma importância para a política educacional indígena, além de a produção de material didático nas línguas indígenas ser complexa. “A Capema tem o objetivo primordial de assessorar a Secadi e o MEC na formulação e acompanhamento das políticas educacionais, observando os contextos regionais e contextos linguísticos diversos”, considerou. 

Segundo ela, o material didático será desenvolvido com a participação de professores indígenas e inserido no programa Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, a fim de que a distribuição seja célere, com a quantidade necessária para atender os estudantes indígenas. Rosilene Tuxá ainda afirmou que conta com a participação das secretarias estaduais e municipais de educação na distribuição dos livros, de modo a chegarem de fato às escolas.  

“Uma das questões garantidas na política da educação escolar indígena é que os processos de alfabetização dos povos indígenas sejam nas línguas indígenas, nos princípios do bilinguismo e do multilinguismo. Para isso, as escolas indígenas precisam de materiais e cartilhas de alfabetização escritas nas línguas indígenas. Essa é uma grande dificuldade que as comunidades indígenas e as lideranças têm pautado, a necessidade de material didático específico escrito nas línguas indígenas”, contou. 

Portaria

De acordo com o texto, a comissão deverá propiciar os meios para as comunidades indígenas produzirem seus materiais didáticos e literários, por intermédio dos programas de formação de professores indígenas. O intuito é valorizar, ampliar ou reavivar o uso das línguas indígenas e da variedade do português utilizado dentro das comunidades no seu contexto cultural. Esse processo deverá reconhecer a autoria coletiva, os saberes e as formas de transmissão dos conhecimentos indígenas. 

O texto diz, ainda, que a Comissão Nacional de Avaliação e Apoio à Produção de Material Didático e Literário Indígena terá de organizar a implantação dos seguintes espaços nas escolas indígenas: bibliotecas, laboratórios de línguas, Cantinhos da Leitura e laboratórios de tradução e informática. A meta é produzir material bilíngue e gerar mais condições de acesso à informação, além da troca de experiências interculturais. A ação se conecta a um trabalho mais amplo do governo federal, que tem atuado para ampliar o número de bibliotecas em todo o País, estimulando a leitura entre crianças e jovens. 

SNBE

Na semana passada, o governo federal criou o Sistema Nacional de Bibliotecas Escolares (SNBE), com o intuito de promover e incentivar a implantação de bibliotecas escolares em todas as instituições de ensino do Brasil. Entre suas dez funções básicas, o novo sistema deve definir a obrigatoriedade de um acervo mínimo de livros e de materiais de ensino nas bibliotecas escolares, com base no número de alunos efetivamente matriculados em cada unidade escolar e nas especificidades da realidade local.  

A distribuição desses materiais para a rede pública já é realizada pelo MEC, por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). O novo sistema também visa integrar todas as bibliotecas escolares do País na rede mundial de computadores e manter atualizado o cadastramento de todas as bibliotecas dos respectivos sistemas de ensino. 

Por: Ministério da Educação (MEC)

Link: https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2024/abril/mec-cria-comissao-para-producao-de-material-didatico-indigena

 

‘Nheengatu App’: conheça o 1º aplicativo voltado para o ensino de língua indígena no Brasil

Por Bruna Yamaguti, g1 DF em 

Além do português, estima-se que mais de 250 línguas sejam faladas no Brasil, segundo o Instituto do Patrimonio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Sobrevivendo ao tempo, os idiomas indígenas são parte importante da identidade do país e, pensando nisso, a pesquisadora Suellen Tobler criou o primeiro aplicativo voltado para o ensino de um idioma indígena brasileiro: o Nheengatu App.

A pesquisadora Suellen Tobler, à direita, e a professora Dailza Araújo, à esquerda — Foto: Arquivo pessoal

Vídeo /  Veja como funciona: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/video/veja-como-funciona-o-nheengatu-app-12479505.ghtml

  • 📱A ferramenta foi apresentada na 6ª edição da Campus Party Brasília, festival de tecnologia, criatividade e inovação que termina neste domingo (31), no Estádio Mané Garrincha;
  • 📱Funciona assim: depois de baixar a ferramenta, o usuário tem acesso a vários exercícios com imagens, para aprender diferentes palavras e frases (veja vídeo acima);
  • 📱Os áudios dos exercícios são feitos por George Borari, professor de Nheengatu da Escola Indígena Borari de Alter do Chão, no Baixo Tapajós;
  • 🗣 O Nheengatu tem origem no tronco linguístico do tupi, com algumas influências do português, assim como o português brasileiro tem influências do tupi.

Segundo a desenvolvedora, o Nheengatu já foi a língua mais falada da região amazônica. “Ela já foi conhecida como ‘língua geral amazônica'”, diz.

“Lancei o aplicativo em outubro de 2021. Desde então, ele tem sido usado dentro de salas de aula de escolas indígenas da região do Baixo Tapajós. Essa primeira versão do aplicativo contempla apenas a variação ‘Nheengatu Tapajowara’, que é língua da região do Baixo Tapajós, mas existem outras variações”, explica Suellen Tobler.

Ela conta que depois do lançamento do Nheengatu App, muitos povos indígenas que estão na luta pela permanência de suas culturas ficaram interessados em também fazer um aplicativo para suas próprias línguas.

“Algumas comunidades me procuraram e felizmente conseguimos viabilizar outros dois aplicativos que estão em desenvolvimento”, comemora a pesquisadora.

Imagem mostra diferentes tipos de exercícios do Nheengatu App — Foto: Reprodução

Ao todo, o aplicativo conta com 6 diferentes exercícios: de memória, de selecionar palavras, de completar frases, de selecionar frases, de escrever frases, e de formar pares (veja figura acima).

Como tudo começou

A desenvolvedora do projeto, Suellen Tobler, conta que tudo começou com o livro “Nheengatu Tapajowara”, que ela ganhou de presente da professora Dailza Araújo, da escola indígena Suraraitá Tupinambá, na Aldeia São Francisco, em Santarém, no Pará.

“Fui olhar o livro e percebi que a língua Nheengatu tinha certa semelhanças com o alemão, então eu fiquei muito curiosa e resolvi procurar cursos através de aplicativos para línguas, mas não achei nenhum voltado para línguas indígenas de povos do Brasil. Mas curiosamente, achei muitos aplicativos da Bíblia Judaico Cristã traduzida para diversas línguas indígenas. Foi quando eu percebi essa problemática”, conta Suellen.

O Nheengatu App foi lançado em outubro de 2021, com o apoio da Lei Aldir Blanc e da Secretaria de Cultura do Pará. Segundo Suellen, até setembro do ano passado, cerca de 2,2 mil usuários únicos da ferramenta já haviam sido registrados, mas nas comunidades, o uso do aplicativo costuma ser coletivo.

“Em sala de aula, em algumas escolas indígenas, o app é usado através do projetor. Também não são todas as pessoas que possuem dispositivos móveis, então elas costumam compartilhar os aparelhos”, diz a pesquisadora.

‘Quanto maior o número de falantes, mais viva a língua estará’

Imagem animada mostra funcionamento do Nheengatu App — Foto: Reprodução

Suellen conta que viajou por muitas aldeias e comunidades ribeirinhas para fazer oficinas de produção de conteúdo digital por meio de aplicativos gratuitos para celular. Assim, ela percebeu que era grande a demanda por materiais que pudessem documentar e apoiar a retomada linguística nessas regiões.

“São os anciões das comunidades que preservam o conhecimento da língua, e poucos são os jovens que falam, atualmente”, explica a pesquisadora.

Suellen pontua que os jovens, não apenas os de comunidades indígenas, falam a linguagem da tecnologia. Ou seja, a informação digitalizada chega muito mais rápido para as novas gerações e este fator é fundamental para o processo de retomada linguística.

Na página inicial do Nheengatu App, o usuário vê a seguinte frase: “Com a pressão linguística civilizatória, essa língua foi silenciada ao longo do tempo, mas continua viva. Quanto maior o número de falantes, mais viva ela estará!”

  • 👉 A ferramenta de aprendizagem está disponível para download no celular, e também pode ser acessada por meio do site.

Siga a leitura em:

https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2024/03/31/nheengatu-app-conheca-o-1o-aplicativo-voltado-para-o-ensino-de-lingua-indigena-no-brasil.ghtml

 

 

Saiba mais puxando a rede:

. Aplicativos para o ensino-aprendizagem de línguas indígenas de povos do Brasil – Palco: Petrobras

Palestrante(s): Suellen Tobler

https://www.youtube.com/watch?v=JruE_3yy-bw

Comentário de Adauto Soares – UNESCO aos 32 minutos e 34s

 

Projeto prevê ensino de tupi nas escolas brasileiras

Projeto prevê ensino de tupi nas escolas brasileiras
Para parlamentar, a língua indígena contribuiu para firmar a identidade cultural do Brasil e deve ser inserida na formação acadêmica

MONISE SOUZA (Publicado em 20/03/2024)

O projeto de lei que torna obrigatório o ensino da língua tupi e de outras línguas nativas originais dos povos indígenas nas escolas de educação básica está em análise na Câmara dos Deputados. O projeto 273/24 inclui a obrigatoriedade na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)

Segundo David Soares (União Brasil-SP), autor da proposta, o idioma contribuiu para o desenvolvimento do País, para o fornecimento de milhares de palavras para a língua portuguesa do Brasil e é referência da identidade cultural brasileira.

Para o parlamentar, a língua indígena contribuiu para firmar a identidade cultural do Brasil e deve ser inserida na formação acadêmica. “Não podemos deixar passar despercebidos temas que fazem parte de nossa realidade, assim como temas que fazem parte de nossa história”.

A proposta deverá ser analisada pelas comissões de Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais, Educação, Finanças e Tributação e Constituição e Justiça e de Cidadania.

*Texto sob supervisão de Bruno Hoffmann

 

Leia diretamente na fonte em: https://www.gazetasp.com.br/estado/projeto-preve-ensino-de-tupi-nas-escolas/1135614/

GT NACIONAL NO COLÓQUIO INTERNACIONAL DE LÍNGUAS INDÍGENAS – Paris

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GT NACIONAL NO COLÓQUIO INTERNACIONAL DE LÍNGUAS INDÍGENAS NO COLLÈGE DE FRANCE

 

O GT Nacional da Década das Línguas Indígenas estará presente no Colóquio Internacional de Línguas Indígenas no Collège de France em Paris no próximo dia 15 de março. O evento marca também a abertura da exposição Nhe’ẽ Porã na sede da Unesco, que vai ficar em exibição entre os dias 14 e 26 desse mês.

Altaci Rubim, integrante do GT Brasil da DILI, vai participar da mesa “Língua e Memória: transmissão de saberes originários”. Na apresentação, a professora e pesquisadora Kokama vai tratar da concepção de língua-espírito como proposta de renovação epistemológica no estudo das línguas indígenas, bem como das atividades do GT Nacional da Década das Línguas Indígenas no Brasil, que desde 2021 tem implementado o Plano de Ação para salvaguarda e fortalecimento dos idiomas originários no país.

 

 

 

 

 

 

 

 

. Confira aqui a programação: 

Programacao-Coloquio-College-de-France

 

“Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação”

A exposição “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação”, criada pelo Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, ocupará entre 14 e 26 de março o Hall Ségur, no prédio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Paris. A exibição estará disponível para visitação ao longo do Conselho Executivo da entidade, com 195 observadores — além de 58 estados-membros participantes. No museu paulistano, a exibição foi vista entre outubro de 2022 e abril de 2023 e recebeu 189 mil visitantes.

Museu da Língua Portuguesa lança exposição virtual de 'Nhe'ẽ Porã ...

São Paulo para crianças - Línguas indígenas! Nhe'ẽ Porã: Memória e ...

. Museu da Língua Portuguesa “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação”

https://www.museudalinguaportuguesa.org.br/memoria/exposicoes-temporarias/nhee-pora-memoria-e-transformacao/

 

 

 

 


Saiba mais puxando a rede IPOL:

“Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação” em Paris

 

心 Kokoro | Coração – Ailton Krenak e Hiromi Nagakura – CONVERSA NA REDE

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“Conversa na Rede” é uma série de Conversas Selvagem onde os pensamentos fluem com a delicadeza e frescor do balanço das redes, objeto repleto de simbologia na história do Brasil e de seus povos nativos. São conversas sobre a vida, realizadas entre Ailton Krenak e uma constelação de pensadores.

“O coração podia ser pensado como a chave para todas as transformações que a gente deseja no mundo.” – Ailton Krenak “Talvez seja aí que resida o poder dos povos originários: manter as portas abertas para o futuro. É o que penso.” – Hiromi Nagakura Neste quarto episódio da série “Conversa na Rede” – ‘心 Kokoro’, que quer dizer ‘coração’ em japonês –, Ailton Krenak e Hiromi Nagakura se encontram na casa-ateliê de Tomie Ohtake, em São Paulo. Reunidos após muitos anos, os dois amigos relembram episódios de suas vivências na Amazônia enquanto refletem sobre temas como as fronteiras no mundo contemporâneo, a relação entre floresta e metrópole e a possibilidade de conexão verdadeira entre as pessoas. A conversa conta ainda com a participação musical de Marlui Miranda, trazendo uma camada sensível com cantigas e histórias dos povos indígenas com os quais conviveu.

Rio de Janeiro (RJ), 27/02/2024 - O fotógrafo, Hiromi Nagakura e o filósofo indígena, Ailton Krenak, se emocionam em frente a uma foto dos dois, da década de 90. Exposição fotográfica “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, no CCBB, centro da cidade . Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Foto by Tania Rego

Entre 1993 e 1998, Ailton e Nagakura viajaram juntos por diferentes territórios indígenas. A exposição traz os registros dos encontros com os povos Krikati, Guarani Mbya, Ñandeva e Kaiowá, Yawanawá, Yanomami, Huni Kuï – Kaxinawá, Akrãtikatêjê – Gavião da Montanha e Ashaninka. Essa conversa foi filmada no âmbito da exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, que foi inaugurada em outubro de 2023 no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, com a presença de ambos. O livro “Um rio, um pássaro” (Dantes Editora, 2023), com reflexões feitas por Ailton durante essas viagens, também foi lançado durante a semana de abertura da exposição. “Conversa na Rede” é uma série de Conversas Selvagem onde os pensamentos fluem com a delicadeza e frescor do balanço das redes, objeto repleto de simbologia na história do Brasil e de seus povos nativos. AILTON KRENAK é pensador, ambientalista e uma das principais vozes do saber indígena. Criou, juntamente com a Dantes Editora, o Selvagem – ciclo de estudos sobre a vida. Vive com sua família na aldeia Krenak, nas margens do rio Doce, em Minas Gerais. É autor dos livros “Ideias para Adiar o fim do mundo” (Companhia das Letras, 2019), “O amanhã não está à venda” (Companhia das Letras, 2020), “A vida não é útil” (Companhia das Letras, 2020), “Futuro ancestral” (Companhia das Letras, 2022) e “Um rio um pássaro” (Dantes Editora, 2023). Em 2022, foi eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras. HIROMI NAGAKURA nasceu em 1952 na cidade de Kushiro, ao norte da ilha de Hokkaido, no Japão. Desde criança, amou gente e a natureza, interessado em pessoas e culturas de outros lugares do mundo. Em 1979, com 27 anos, Nagakura decidiu tornar-se fotojornalista independente, caminho que o levou à África do Sul, União Soviética, Afeganistão, Turquia, Peru, Brasil e vários outros países, em todos os continentes. Sua obra, já reconhecida no Japão, é exposta pela primeira vez no Brasil na exposição Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak, com curadoria desse amigo e personagem de seu trabalho.

Assista aqui a conversa entre Krenak e Hiromi Nagakura relembrando 30 anos de memórias e sobre a floresta e a vida. Ouça o canto de Marlui Miranda, cantora, compositora, arranjadora, pesquisadora e produtora cultural nascida em Fortaleza. É considerada a mais importante intérprete e pesquisadora da música indígena do Brasil, realizando turnês no Brasil e no exterior. Gravou, interpretou e realizou turnês com importantes nomes da música popular brasileira, entre os quais Egberto Gismonti, Gilberto Gil e Naná Vasconcelos.

 


Selvagem – ciclo de estudos sobre a vida é um projeto que realiza atividades e diálogos entre saberes a partir de perspectivas indígenas, acadêmicas, científicas, tradicionais e de outras espécies.

Todas as atividades são gratuitas e incluem rodas de conversas, publicação de cadernos, ciclos de leituras e conteúdos audiovisuais (conversas online, vídeos e bate-papos), com enfoque na diversidade de saberes [1].

O Selvagem também realiza ações de apoio a projetos indígenas de fortalecimento e transmissão de saberes tradicionais, através de uma rede intitulada de Escolas Vivas. As escolas recebem repasses financeiros mensais, com o intuito de apoiar sua manutenção.

História

Selvagem – ciclo de estudos sobre a vida foi criado por Anna Dantes, pesquisadora e editora, e Ailton Krenak, escritor, ativista e liderança indígena, com a proposta inicial de realizar um ciclo de estudos presencial [2] que promovesse conversas e encontros relacionando conhecimentos de diferentes perspectivas.

A primeira edição do ciclo de estudos aconteceu nos dias 13, 14 e 15 de novembro de 2018 no teatro do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e foi mediada por Ailton Krenak, assim como as edições posteriores.[3] Nesse ano, foram abordados temas como as origens da vida, as plantas mestras e o DNA. A edição foi construída a partir de uma diversidade de perspectivas, recebendo nomes relevantes da antropologia, como Els Lagrou e Jeremy Narby [4], lideranças indígenas, como Moisés Piyãko e Torami-Kehiri (Luiz Luna), e cientistas, como Gustavo Porto de Mello e Alexandre Quinet. [5][6]

 

Assista aqui a Conversa na Rede com Krenak e : https://www.youtube.com/watch?v=j_wBZgh6wcs


 

Saiba mais puxando a rede com IPOL:

. Visite o canal Youtube SELVAGEM ciclo de estudos sobre a vida

https://www.youtube.com/c/SELVAGEMciclodeestudossobreavida

. Visite e conheça os conteúdos na página https://selvagemciclo.com.br/

. Matéria “Amazônia entre amigos ” publicada por Nelson Gobbi em O Globo

Confira na fonte: https://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/noticia/2024/02/29/amazonia-entre-amigos-mostra-no-ccbb-do-rio-traz-160-fotos-de-viagens-de-hiromi-nagakura-e-ailton-krenak-nos-anos-1990.ghtml

Hiromi Nagakura é a imagem; Ailton Krenak, a palavra. Vindos de realidades distintas, separados por milhares de quilômetros e quase um ano de nascimento (o japonês é de outubro de 1952 e o brasileiro é de setembro de 1953), o fotógrafo e o escritor se conheceram em 1993, quando o primeiro veio registrar o povo krikati, no sudoeste do Maranhão, e pediu ajuda ao segundo, para acompanhá-lo nas viagens à floresta que fazia na época.

Do primeiro contato, a dupla fez expedições, de cerca de 40 dias cada uma, entre 1993 e 1998. Viajando pelos estados de Amazonas, Acre, Pará, Roraima, Mato Grosso, Maranhão e São Paulo, o fotógrafo registrou o cotidiano de sete etnias: ashaninka, xavante, krikati, gavião, yawanawá, yanomami e kaxinawá, além da população ribeirinha e de trabalhadores da floresta. Toda essa trajetória está documentada na mostra “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”, que acaba de chegar ampliada ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio, após ser montada no ano passado no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.

Além das 160 fotos, vídeos e objetos dos povos visitados, a mostra é um registro da amizade entre Nagakura e Krenak, que perdura por mais de três décadas após o fim das jornadas dos anos 1990. Mesmo sem trocarem nenhuma palavra em japonês ou português (assim como nas viagens, Nagakura é acompanhado todo o tempo por uma tradutora), os dois passam todo o tempo brincando e se comunicando por gestos e expressões faciais, como na tarde em que O GLOBO acompanhou a finalização da montagem da exposição.

Krenak, que assina a curadoria da mostra junto de Angela Pappiani, Eliza Otsuka e Priscyla Gomes, lembra com precisão o dia em que Nagakura chegou à sede da Aliança dos Povos da Floresta, no bairro do Butantã, em São Paulo, acompanhado da própria Eliza Otsuka (que seria sua intérprete nas expedições), para apresentar seu plano de segui-lo “como uma sombra” em suas futuras viagens.

— No primeiro contato houve uma desconfiança natural. Pensei: como vou levar esse cara que não conheço para andar no meio do mato, pelas aldeias, e se acontece alguma coisa com ele? Ficava com aqueles versos de “Bye, bye, Brasil” na cabeça: “Mas a ligação tá no fim/Tem um japonês ’trás de mim” — brinca o imortal da ABL, citando a canção de Chico Buarque e Roberto Menescal. — Fiz uns comentários assustadores para ver se ele mudava de ideia, sobre onça, sucuri, mas ele era duro na queda e não se assustava com qualquer barulho.

Antes de decidir vir ao Brasil, Nagakura já era um fotógrafo premiado, que cobriu a guerra civil em El Salvador, a ocupação soviética no Afeganistão, e o fim do apartheid na África do Sul. Após ler um artigo sobre a luta dos krikatis pela demarcação de suas terras, decidiu iniciar um projeto no Brasil.

— Além de ficar impressionado com o relato, tinha uma simpatia pela causa porque acredito que os indígenas têm uma identidade étnica com os japoneses. Quando cheguei ao Brasil, ouvi falar muito sobre o Ailton, que era envolvido nos projetos de demarcação de terras, e que seria ideal para me conduzir pelas aldeias — relembra Nagakura. — Não queria fotografar um conflito, de forma abrangente, como já havia feito. Minha ideia era ir para a Amazônia com alguém que conhecesse profundamente a sua cultura, e registrar como essa luta (pela demarcação) influencia cada família, cada indivíduo.

Criança yanomâmi — Foto: Divulgação/Hiromi Nagakura
Criança yanomâmi — Foto: Divulgação/Hiromi Nagakura

Maior exposição de Nagakura dedicada às suas viagens no Brasil, a mostra no CCBB conta com um conjunto inédito de fotos, com o registro dos bastidores das expedições e da amizade desenvolvida a cada ano, além de um vídeo gravado com os dois no Tomie Ohtake.

— Eu não tenho que saber japonês para conversar com ele, nem ele tem que saber português para falar comigo. A gente se comunica há 30 anos assim, sem ficar preso à barreira do idioma, da gramática — comenta Krenak. — O Nagakura-san é um fotógrafo com os ouvidos abertos para a palavra. Tem grandes fotógrafos que preferem publicar só suas imagens. Ele não, ele sabe que são coisas complementares. Essa série continua me dando muitos presentes. Um deles é ver um profissional da sua estatura, aos 71 anos, vindo do Japão novamente só para acompanhar essa abertura.

O fotógrafo conta que, nas aldeias, viu que a barreira da língua não seria um impedimento principalmente pela forma com que as crianças se aproximavam dele. E brinca, dando uma explicação para a longa amizade com Krenak.

— O Ailton também é uma criança, o seu coração é assim. Adultos criam barreiras para a comunicação, as crianças, não. Por isso nossa amizade deu certo — diz Nagakura, sorrindo.

Diversidade étnica

Em cartaz no Rio até 27 de maio, e contando com rodas de conversas com lideranças ashaninka, huni kuin, krikati, entre outras, a mostra vai seguir para os CCBBs de Brasília (11/6 a 18/8) e Belo Horizonte (24/09 a 18/11). A curadora adjunta Angela Pappiani torce para que a mostra possa passar também pela Região Norte.

— Nosso desejo é que ela siga, mesmo em tamanho reduzido, para a Amazônia. Ainda há muita discriminação contra os indígenas nas regiões próximas as aldeias, inclusive com o risco de violência física — comenta Angela. — Seria uma forma de reforçar a identidade e a autoestima dessas populações e mostrar aos não-indígenas toda essa beleza. Há uma dificuldade logística e de recursos, mas vamos batalhar por isso.

Mãe yanomâmi amamentando — Foto: Divulgação/Hiromi Nagakura
Mãe yanomâmi amamentando — Foto: Divulgação/Hiromi Nagakura

Para Krenak, a exposição pode também alertar para a responsabilidade dos brasileiros de todo o país com a proteção da floresta e com a autonomia dos povos nativos sobre os seus territórios.

— Esse ideia da Amazônia como patrimônio da Humanidade nos parece desgastada, diante da situação em que nos encontramos. Mas é real, sobretudo para nós, brasileiros, que temos a maior parte deste bioma no nosso território — ressalta o escritor. — Mesmo com fotos feitas há 30 anos, a mostra eleva a nossa autoestima por pertencer a uma comunidade tão plural, com uma diversidade étnica e cultural magnífica. Muitas dessas fotos não poderiam ser mais feitas hoje, com várias destes locais devastados pelo desmatamento, o garimpo. Gostaria que a euforia trazida pela beleza e a vida dessas imagens fosse compartilhada por todos, para mudarmos essa realidade.

Nagakura lembra que os problemas citados por Krenak já eram vistos por ele nos anos 1990.

— Infelizmente, é algo que não mudou, embora tenha piorado. Naquela época já víamos garimpeiros e os ianomâmis já enfrentavam problemas. Na época não existia a demarcação das terras, mas mesmo hoje, pelos relatos que acompanho, ainda está difícil — compara o fotógrafo. — Eu nunca quis fazer nada exótico, essa não é uma série sobre “indígenas”. Somos todos seres humanos, nascidos em lugares diferentes. Você não precisa ter conhecimento sobre cada um dos povos retratados para ver o lado humano em cada imagem.

Após os anos 1990, Nagakura voltou ao Brasil em outras oportunidades para encontrar Krenak (para a foto que ilustra a capa desta edição, eles posaram diante de um registro de ambos feito em 2004, de volta ao território Krikati). O fotógrafo planeja voltar às aldeias em breve, com um equipamento bem diferente do usado há 30 anos.

— Fotografava com cromo 35mm, com câmera analógica. No processo, não sinto uma grande diferença em usar o digital agora. Você tem mais opções e é um formato mais amigável. Antes, havia muita curiosidade das pessoas em saberem como foram fotografadas, e poder mostrar para elas na hora facilita a comunicação.

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