Chamada para artigos – Dossiê Orientalismo África e Ásia portuguesa
A Exilium Revista de Estudos da Contemporaneidade, publicação semestral da Cátedra Edward Saïd da Unifesp (Brasil) está com chamada aberta para artigos sobre orientalismo, especialmente envolvendo países de língua portuguesa da África e da Ásia, até dia 30 de setembro. Submissões somente via site, seguindo estritamente as Diretrizes para autores e a linha editorial. A revista acolhe materiais variados, de textos acadêmicos a ensaísticos e criativos, conforme o perfil das seções.
Jovens guineenses contra discriminação da língua portuguesa e exigem respeito pela história
Um grupo de jovens guineenses está a exigir um debate nacional sobre a utilização da língua portuguesa no país, que está a ser discriminada em empresas e outras instituições a operar na Guiné-Bissau, e exigem respeito pela história
“A língua portuguesa na Guiné-Bissau tem uma história e não podemos só pelo facto de querer integrar as outras comunidades ignorar a história. Temos de ser conservadores com aquilo que é nosso e depois integrarmo-nos na sociedade que queremos”, afirmou Amiel de Carvalho, porta-voz de um grupo de jovens que quer um debate nacional sobre o assunto.
Amiel de Carvalho sublinhou que não estão contra as línguas francesa e inglesa, mas não querem ver anulada a história da Guiné-Bissau, nem a ligação que os guineenses têm com a língua portuguesa.
Em causa está, por exemplo, segundo Amiel de Carvalho, a divulgação de concursos públicos em língua francesa.
“Estamos a ser discriminados no mercado de trabalho na Guiné-Bissau, somos guineenses, e estamos a ter dificuldades em conseguir emprego devido a esta situação da língua francesa e inglesa”, disse Amiel de Carvalho.
“Eu, por exemplo, estudei num país francófono e falo fluentemente o francês, mas sinto discriminação, porque no meu país se deve falar a língua portuguesa e não a francesa”, sublinhou.
Para Amiel de Carvalho, às empresas que se instalam na Guiné-Bissau devia ser exigida a tradução de todos os documentos para português, porque o “povo guineense precisa de entender”.
“Eu trabalhei nove anos num banco e deparei-me com essa situação. Era tudo em francês. O extrato bancário está em francês. Eu não posso ser lusófono para depois interpretar o extrato da minha conta bancária, do meu dinheiro, em francês”, afirmou.
Amiel de Carvalho explicou que até os contratos no âmbito de empréstimos são feitos em francês e muitos guineenses nem sabem o que estão a assinar, pois não conhecem a língua.
“Isto acontece não só com as instituições bancárias, mas também com organizações não-governamentais, que estão no país”, apontou.
O porta-voz do grupo de jovens salientou que numa era globalizada é preciso acompanhar essa evolução, mas quem investe no país deve adaptar-se à realidade.
“Estamos aqui com uma longa história com a língua portuguesa e não podemos dizer, de um dia para o outro, já não vamos falar o português, temos de passar para o francês ou para o inglês”, concluiu.
Via Plataforma Media
Recrutamento de Professores de Língua Portuguesa para o projeto PRO-Português | Timor-Leste
A Coutinho, Neto & Orey no âmbito da sua atividade de recrutamento encontra-se a desenvolver um processo de seleção para o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. (Camões, I.P.), para a posição de 13 Professores de Língua Portuguesa, para integrarem o projeto PRO-Português. O prazo limite de candidatura é 30 de abril de 2022.
O Projeto PRO-Português tem como objetivo global “contribuir para a consolidação do sistema educativo de Timor-Leste, através do apoio ao setor da formação profissional e contínua do pessoal docente do sistema educativo do Ensino Não Superior” e, como objetivos específicos, “i) constituir uma Bolsa de Formadores Nacionais, a nível de Posto Administrativo, e consolidar as suas competências técnico-científicas, didático-pedagógicas e linguístico-comunicativas para ministrarem Cursos de Língua Portuguesa (Níveis A2, B1 e B2); ii) reforçar as competências linguístico-comunicativas em Língua Portuguesa de docentes de todos os níveis de ensino (Educação Pré-Escolar, Ensino Básico e Secundário) do sistema educativo do Ensino Não Superior de Timor-Leste”.
Mais informações no site da Neto & Orey
Português de/em Angola: Peculiaridades linguísticas e a diversidade no ensino
Peculiaridades linguísticas e a diversidade no ensino
Dr. Alexandre António Timbane, Dr. Daniel Peres Sassuco, Márcio Edu da Silva Undolo
[ Organizadores ]
Sinopse: A Língua Portuguesa surgiu na Península Ibérica e se espalhou pelo mundo por meio do processo de colonização. Após o contato entre o português e as línguas autóctones em Angola iniciou uma nova configuração linguística, com características peculiares ou próprias o que contribuiu para o surgimento da variedade angolana do português. O artigo 19º da Constituição da República de Angola (2010) estabelece a LP como a única língua oficial. A variedade angolana do português distanciou-se do Português Europeu ao longo do tempo, daí que é de suma importância que haja debates que visem caracterizar e descrever esta nova realidade sociolinguística. Este ebook tem como objetivo atiçar debates sobre a variedade angolana do português buscando refletir as peculiaridades da variedade por forma a que se possa caminhar para a normalização e criação de dicionários e gramáticas que possam ser utilizadas no ensino de português em Angola.
II Jornada Saramago Vive! Literatura, Marxismo e História
A II Jornada Saramago Vive! Literatura, Marxismo e História, será promovida pelo grupo de pesquisa “Saramago, leitor de Marx”, do Programa de Pós-graduação em Letras da PUC Minas, com o apoio do Centro de Estudos Luso-afro-brasileiros, e se realizará no decorrer dos dias 25 e 26 de novembro de 2021.
O evento se propõe a homenagear Saramago, refletindo sobre suas obras a partir de uma perspectiva marxista e em diálogo com a História.
Estarão presentes palestrantes nacionais e internacionais, cujo traço comum com o grupo de pesquisa é a paixão pelas obras do autor português.
Mais informações e inscrições AQUI
Que língua é essa? Desvendando o português brasileiro
Para muitos estudiosos, a língua falada hoje no Brasil já é um idioma independente do português europeu.
Ouça o áudio:
quando você apaga a forma de uma pessoa falar, você está deslegitimando uma visão de mundo junto
Um idioma falado por mais de 211 milhões de pessoas. Cada uma a seu modo.
Diabé isso aí, mano? Tá doido, é? Deixe de arrumação!
Com seus diversos sotaques, ritmos e expressões, o português que a gente usa hoje no Brasil é muito diferente daquele que chegou com os primeiros colonizadores.
Para alguns linguistas, o português brasileiro e o europeu já podem ser considerados dois idiomas distintos. Um elemento importante nesse processo de mudança foi a interação com as línguas indígenas e africanas. Alguns traços dessas influências são bem perceptíveis, como explica o professor de linguística Marcos Bagno.
“O que chama a atenção para nós no português europeu é essa contração, esse desaparecimento das vogais. O que aconteceu lá, não aconteceu aqui. Mantivemos o ritmo silábico pausado que era característica do português antigo, e muito provavelmente, por conta da influência já mencionada das línguas africanas. Porque as línguas africanas que vieram para cá têm esse padrão silábico ta-ca-ta-ca-ta. Então isso influenciou”, afirma.
Ô, porqueira!
Das línguas indígenas, herdamos os sons anasalados, que são especialmente fortes no Nordeste. Se na região se fala “bãnana” e não “banana”, é por influência dos povos originários.
E o famoso “r” caipira da “porrrteira” tem origem semelhante, como conta o professor Bagno:
“O interessante é que quando a gente vai ao Paraguai, onde a população toda fala guarani, que é a língua irmã do tupi, lá a gente também encontra. Me lembro que estava no avião indo pro Paraguai, e a comissária de bordo paraguaia disse ‘puerta’ com r caipira”, salienta.
Mano do céu! Céloko, tá tirano, né?
Já o “s” chiado, bem marcante no sotaque carioca, vem do português europeu. Quando a Coroa se estabeleceu no Rio de Janeiro em 1808, com uma corte de cerca de 15 mil pessoas, esse jeito de falar acabou se espalhando e sendo adotado pelos moradores da cidade. Os imigrantes que chegaram ao Brasil no século XIX e começo do XX, vindos de países como Itália, Japão e Alemanha, também deixaram sua contribuição. Por exemplo: na cidade de São Paulo, as pessoas sentem “fóme” e não “fôme”, um traço herdado do italiano.
E as mudanças não param por aí: uma língua, qualquer que seja ela, está sempre em mutação. O idioma que a gente fala hoje no Brasil vai ser muito diferente daquele falado daqui a 100, 200 anos. E a língua também pode ser um espaço de disputa. Cecilia Farias, Pesquisadora do Centro de Referência do Museu da Língua Portuguesa, dá um exemplo que está acontecendo agora mesmo, e que vem gerando discórdia entre os brasileiros — ou brasileires.
“A gente vê toda uma disputa hoje com o uso do gênero neutro para uma linguagem inclusiva, para fugir do masculino genérico. As pessoas jovens têm uma abertura maior para esse caso específico. Então pode ser que em algum momento uma parte da população vá internalizando isso e ela vá entrando na nossa estrutura”, afirma.
Égua, mana, e eu sofrendo aqui com o preço do açaí!
Outras transformações acontecem pelo uso cotidiano. O professor Bagno aponta que há uma tendência a não marcar mais o plural em todas as palavras:
“Por um processo cognitivo chamado ‘economia linguística’, nós evitamos redundâncias. Então ao dizer ‘As meninas bonitas todas vieram’, você faz um gasto excessivo de marca de plural, porque se você disser ‘As menina bonita toda veio’, dá pra perceber que é mais de uma. Porque marcando só no artigo, o plural já está bonitinho ali”, explica.
Mas bah, tchê, tá frio de ranguear cusco!
No entanto, Bagno acredita que essa mudança não deve ser absorvida tão cedo pela norma padrão do idioma. E o motivo para isso está no preconceito linguístico. O professor aponta que esse tipo de discriminação é comum em sociedades centradas na língua escrita, mas fica ainda mais forte onde há muita desigualdade social. Para Cecilia Farias, é uma coisa que empobrece a cultura brasileira.
“Acaba funcionando sim como marcador de classe, como marcador de poder, como uma forma de você apagar aquela realidade. Se a gente considerar que cada língua e cada variante expressa o mundo de uma forma, traz pontos de vista sobre o mundo de uma forma, quando você apaga a forma de uma pessoa falar como não se fosse legítima, você está deslegitimando toda uma visão de mundo junto”, afirma.
Edição: Daniel Lamir.