África

NJINGA e SEPÉ: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras

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v. 4 n. Especial II (2024): A Linguística, a Literatura, a educação e outras áreas afins na mesa de debates em favor do avanço da ciência

O volume 4 , nº Especial II apresenta diversos estudos linguísticos,  literários, metodologias de ensino e  outros estudos científicos que apontam para o avanço da ciência na África e no Brasil no século XXI. As universidades africanas e brasileiras produzem conhecimentos diversos que revelam os avanços científicos buscando sempre oferecer propostas para os problemas sociais, econômicos, linguísticos, culturais e políticos da atualidade. Esta publicação organizada por um trio: Luzinha Brígida de Jesus (timorense), Higor Teixeira dos Santos (brasileiro) e Abias Alberto Catito (angolano), todos da Universidade Estadual Feira de Santana, reúne resultados de estudos produzidos em diversas universidades africanas e brasileiras buscando compartilhar saberes e aprofundamento de teorias e metodologias. Encontrará nesta publicação trinta e cinco  (35) trabalhos dentre artigos originais, poesias, contos  e entrevistas. O compartilhamento de evidências por meio de publicações científicas contribui muito, ao minimizar a importância das fronteiras, e ao contribuir para a utilização de evidências na introdução de mudanças na sociedade global. Escrever é o meio muito importante para a comunicação do trabalho científico (Mengistu Asnake, Presidente da Federação Mundial das Associações de Saúde Pública, 2015). Os organizadores desda publicação incentivam a todos os pesquisadores, estudantes e docentes a compartilhar seus saberes por meio de publicações. Á todos uma boa leitura!

Acesse o link:

https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/issue/view/56

 

Publicado: 12-11-2024

Moçambique: A PARTIR DO PRÓXIMO ANO: Escolas de condução passam a ensinar em línguas locais

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Por Escrito por Abibo Selemane

 

As escolas de condução poderão passar a ensinar em línguas nacionais, nomeadamente xichangana, na Zona Sul, ndau e sena, no Centro, e macua, no Norte, com vista a permitir que maior número de cidadãos nacionais adquiram habilitação para conduzir e tenham pleno domínio do Código de Estrada, minimizando o problema de insegurança rodoviária. Numa primeira fase, o ensino vai decorrer na Escola Pontifícia Académica, na Matola, província de Maputo, no próximo ano, em xichangana

A medida vem na sequência de um estudo levado a cabo recentemente nos distritos da Matola, Chókwè, Massinga e na cidade de Maputo, onde foi constatado que nestes pontos havia fluxo de viaturas, mas a maioria dos condutores não tinha sido formado numa escola de condução para ter o documento que os habilitasse a conduzir.

Na ocasião, muitos contaram que teriam recebido instruções sobre a condução de amigos, familiares ou conhecidos. Instados a falar sobre as causas que levaram a não se dirigirem a uma escola vocacionada, responderam que não conseguiam se expressar na língua portuguesa, tendo outros alegado que dificuldade na compreensão das matérias frustrou o desejo.

Leia  na fonte:

https://www.jornaldomingo.co.mz/nacional/a-partir-do-proximo-ano-escolas-de-conducao-passam-a-ensinar-em-linguas-locais/#google_vignette


Saiba mais puxando a rede IPOL:

. Moçambique: Conduzir sem saber ler ou escrever

Publicado em Janeiro 2018 por DW

Na província do sul de Moçambique, há cada vez mais cidadãos a tirar a carta de condução sem saber ler nem escrever na língua oficial, o português. Denúncia é da procuradoria provincial. Por Carlos Matsinhe (Xai-Xai)
Há cada vez mais condutores sem saber ler nem escrever em português. É o que refere Josefina Brito, procuradora na província de Xai-Xai, que não percebe como é que há pessoas com carta de condução a aparecer em tribunal, por causa de acidentes rodoviários, sem saber falar português.

“Quando estão a ser ministradas aulas, estão-lhes a ministrar em português corrente, fácil e perceptível. Então, não se justifica que não saibam falar português. E alguns não sabem; não sabem pura e simplesmente falar português, o mínimo. Como é que entenderam as aulas que são ministradas?”, questiona.

As escolas de condução dizem que a questão é mais complexa. Silvano Nuvunga, da escola de condução Xai-Xai, garante que o seu estabelecimento respeita a lei: todos os que se inscrevem na escola apresentam o Bilhete de Identificação assinado e preenchem um boletim à entrada.  Além disso, preenchem um boletim no INATTER, que atribui as cartas de condução.

“No ato da matrícula entregamos o boletim, se preenchem os dados do contrato entre a escola e o candidato. A seguir, mandamos o candidato ao INATTER para fazer a captação [da imagem], e lá também é submetido ao preenchimento de um boletim. Torna-se difícil com este processo aparecer um condutor dizer que não sabe ler nem escrever português”, sublinha.

Escolas não cumprem normas

Segundo as escolas de condução, nas aulas, os instrutores não notam que há alunos que não sabem ler nem escrever. Os exames de código são feitos nas escolas e fiscalizados pelo INATTER. Antes, eram exames escritos, mas, há pouco tempo, começaram a ser feitos no computador. A questão que se coloca é: Como é que os instruendos fazem o exame se não sabem ler nem escrever?

Segundo Silvano Nuvunga, “há alunos que não sabem ler nem escrever, mas quando colocados no computador conseguem ter 12, 17, 18 questões corretas, porque é múltipla escolha”.

A Direção provincial dos Transportes e Comunicações em Gaza acredita que há escolas que não estão a cumprir todas as normas. Por isso, promete intensificar a fiscalização e ver se as escolas estão a usar o sistema informático nas aulas de condução, para travar práticas frauduentas. Alberto Matusse, diretor provincial dos Transportes e Comunicações, diz que há “necessidade de fazer ações de inspeção”. No mínimo, acrescenta, exige-se que as escolas de condução tenham dois monitores “para o atendimento dos candidatos”.

O responsável alerta que, este ano, todas as escolas sem as condições mínimas exigidas por lei serão encerradas.

Criar alternativas

Jaime Leonor, gestor da escola de condução Limpopo, na cidade de Xai-Xai, lembra, no entanto, que não se deve marginalizar as pessoas que não sabem ler nem escrever e precisam de ter carta de condução. Jaime Leonor sugere que uma alternativa seria introduzir um exame oral.

“O que é que a gente faz desta gente?”, questiona. Refere-se a pessoas que “saem da África do Sul” e vão conduzir para Moçambique sem carta de condução. “Não sabem ler nem escrever. Vamos continuar a deixá-los conduzir ilegalmente? É justo?”

Para Jaime Leonor, é preciso “procurar uma lei para os enquadrar”. “Na altura em que fiz a carta de condução, havia provas orais”.


Academia propõe línguas nacionais no ensino de condução
. Academia propõe línguas nacionais no ensino de condução.
(Publicado pelo portal do governo por em julho de 2018)

A Introdução de línguas nacionais no ensino de condução pode reduzir o índice das reprovações e desistências que actualmente ocorrem nas escolas de especialidade

O projecto foi desenvolvido e apresentado ontem, em Maputo, pela Universidade Pedagógica, em parceria com a Escola de Condução Pontifício Académica, e visa testar a eficácia e eficiência de uma educação bilingue (Português/línguas Bantu) no ensino e certificação de condutores de veículos automóveis. O projecto contempla ainda a produção de material em línguas Bantu, para uso no processo de ensino.

Hermínio Chissico, coordenador do projecto, disse esperar melhores resultados em termos de assimilação dos conteúdos e facilidade de comunicação entre o condutor e o fiscalizador, concorrendo para a redução de conflitos decorrentes da barreira linguística e para a consequente diminuição de acidentes de viação causados pelo fraco domínio das normas.

Com esta facilidade, espera-se, igualmente, que mais cidadãos possam ter acesso à carta de condução, que é um dos requisitos para a obtenção de emprego em muitas instituições, entre públicas e privadas.

“Pensamos que este projecto vai promover as línguas moçambicanas, porque passam a ser usadas em pé de igualdade com o Português. Também há alinhamento de Moçambique com outros países da região, que já usam as suas línguas nacionais no ensino e certificação de condutores”, disse.

Armindo Ngunga, vice-ministro da Educação e Desenvolvimento Humano, elucidou que o projecto de introdução de línguas moçambicanas no ensino e certificação da condução automóvel pretende valorizar e promover o património linguístico do país, usando as línguas Bantu nos mesmos contextos em que se usa o Português.

Ngunga disse ainda que o uso das línguas Bantu vai eliminar ou reduzir a barreira linguística, imposta pelo exclusivo uso do Português, concorrendo para a massificação de condutores credenciados.

Segundo a fonte, maior parte da população moçambicana não fala ou não domina a língua portuguesa, acabando, uns, por conduzir veículos sem a devida certificação.

“É por isso que o uso exclusivo do Português nas escolas concorre para elevadas taxas de reprovações nos exames teóricos, em virtude do fraco domínio da língua, e exclui a maioria das pessoas no acesso à carta de condução”, disse.

Deve ser por isso, segundo a fonte, que nas zonas rurais proliferam condutores não certificados de automóveis, concorrendo para o aumento de acidentes de viação.


CEA prepara Código de Estradas traduzido nas Línguas Moçambicanas

O Centro de Estudos Africanos da UEM (CEA) quer traduzir o Código de Estradas para as línguas moçamnbicanas, por forma a melhorar a segurança rodoviária no país. Os índices de sinistralidade rodoviária em Moçambique são classificados como dramáticos por várias organizações. Só para ilustrar, os acidentes de trânsito representam 10% do Produto Interno Bruto (PIB) moçambicano.
A introdução do Código de Estradas para as línguas nacionais tem por objectivo garantir o acesso de material relativo a condução nas línguas moçambicanas para facilitar a interpretação dos sinais e melhorar os comportamentos dos automobilistas na via pública.
Nesta fase, o projecto está a ser implementado em parceria com a Escola de Condução Pontifícia Académica. Por enquanto, o Código de Estradas já foi traduzido para a língua Xichangana e espera-se que, de forma gradual, a mesma iniciativa seja replicada para todas as línguas moçambicanas.
Além de facilitar a disponibilização de conteúdos sobre a condução de veículos nas línguas moçambicanas, o código traduzido vai contribuir para a redução de acidentes rodoviários, através do ensino e aprendizagem da condução de veículos automóveis nas nossas línguas.
Esta Terça-feira (15/10) teve lugar, em Maputo, o seminário sobre o “Ensino de Condução de Veículos Automóveis em Línguas Moçambicanas”, durante o qual, foram apresentados os fundamentos de ensino de condução de veículos automóveis através do ensino em línguas moçambicanas.
Na abertura, o Reitor da UEM, Prof. Doutor Manuel Guilherme Júnior, explicou que a tradução do Código de Estradas visa permitir que todos os moçambicanos possam ter acesso à carta de condução, de forma lícita, e possam conduzir os veículos automóveis de forma legal, minimizando, desta forma, o problema da segurança rodoviária.
Segundo o Reitor, o objectivo é desmistificar os condicionalismos de frequentar uma escola de condução usando somente o português “como se as competências e as habilidades requeridas para o efeito fossem inerentes ao conhecimento desta língua ”, frisou.
Na ocasião, o Director do Centro de Estudos Africanos da UEM, Prof. Doutor Carlos Arnaldo, garantiu que a unidade que dirige tudo fará para a materialização do projecto com vista a melhorar a segurança rodoviária no país.
Para o Professor Armindo Ngunga, a língua influencia, sobremaneira, no processo de formação, pois “o técnico que é formado numa língua que não entende é mal formado e tal está a acontecer com a maior parte das pessoas que conduzem carros em Moçambique, porque foram à escola de condução, não perceberam aquele português, mas receberam a carta através do exame prático e estão na rua.”
Lembrou o papel crucial das línguas moçambicanas na luta pela libertação do país e que têm produzido resultados no ensino primário, através do ensino bilingue, bem como continua a ser um meio de acesso ao emprego.
Durante o seminário, que juntou representantes da Administração Nacional de Estradas, Associação das Escolas de Condução, Associação Moçambicana das Vítimas de Acidentes Rodoviária, Comissão Técnica Científica para a Prevenção da Sinistralidade Rodoviária, Corpo Diplomático acreditado em Moçambique, foi socializado o documento de Código de Estradas traduzido para Xichangana, bem como foram colhidos subsídios sobre o Código de Estrada nas suas várias dimensões.


. Artigo: Integração das línguas nacionais na formação de professores moçambicanos: práticas, experiências, desafios

Resumo: Moçambique é considerado um mosaico linguístico no qual convivem perto de duas dezenas de línguas autóctones do grupo Bantu. Essas línguas são amplamente faladas pela população nativa, com enfoque para a que vive nas zonas rurais. Porém, a língua oficial e de ensino no país é o português, de herança colonial. Só na década de 1990 é que algumas línguas foram introduzidas a título experimental no ensino primário, em regime bilingue. Quarenta anos depois da independência nacional, a Universidade Pedagógica-instituição vocacionada a formação de professores no país-decide introduzir a formação de docentes de línguas nacionais, em 2015. O minor em Ensino de Línguas Bantu contempla Xirhonga, Xichangana, Citshwa, Cindau, Cisena, Ciwutee e Cinyanja, na cidade de Maputo e províncias de Gaza, Inhambane, Sofala, Manica e Tete, esperando-se a sua expansão, de forma gradual. Nesse quadro ainda embrionário, o modelo de formação de professores de línguas moçambicanas carece de, entre outros, pessoal interno qualificado em linguística Bantu e acervo bibliográfico, dificuldades que desafiam académicos, Governo e parceiros a todos os níveis. É nesse âmbito que parece interessante partilhar as práticas, as experiências e os desafios que se abrem na formação de professores em Moçambique. Palavras-Chave: formação de professores, línguas moçambicanas, práticas pedagógicas, experiências e desafios.

https://www.researchgate.net/publication/347538124_Integracao_das_linguas_nacionais_na_formacao_de_professores_mocambicanos_praticas_experiencias_desafios


Museu da Bahia receberá obras repatriadas de artistas negros

Peças foram adquiridas legalmente por duas colecionadoras americanas que resolveram doar acervo de 750 objetos ao Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira, em Salvador.

Por Lucas Fróes em 21 de setembro de 2024

Fachada do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab) em Salvador
Muncab receberá 750 obras do acervo das americanas Marion Jackson e Barbara Cervenka Foto: Cristian Carvalho and Muncab

Desde os 7 anos, seu filho Celestino Gama passou ajudá-lo a dar acabamento nas obras. Ele também se tornou escultor e adotou o nome artístico de Louco Filho. Agora, obras suas e de seu pai estão entre as 750 peças de dezenas de artistas de Bahia, Pernambuco e Ceará que serão repatriadas a partir do ano que vem pelo Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), em Salvador.

“São obras de diversos formatos, de diversas técnicas, então há uma diversidade muito grande”, diz a codiretora do Muncab, Jamile Coelho.

"Oxalá" de Louco Filho
“Oxalá” de Louco Filho é uma das obras que serão repatriadas Foto: Con/Vida

Trata-se da mais numerosa repatriação de obras brasileiras de que se tem notícia. Quase todas criadas por artistas negros em diálogo com a cultura afro-brasileira, as peças datam de um período que vai dos anos 1960 até o início do século 21. Elas incluem pinturas, esculturas, trajes, arte sacra e ritualização do sagrado.

Esse grande processo de repatriação começou graças a uma iniciativa de duas colecionadoras americanas: a historiadora de arte Marion Jackson e a artista plástica Barbara Cervenka, que desde 1992 adquiriram as obras em visitas periódicas à Bahia. A partir de 2019, as duas visitaram diversas instituições até escolherem o Muncab como destino para a devolução do acervo que montaram.

“Os artistas estão bem felizes. Seu José Adário, por exemplo, é um dos últimos artífices de paramentas e ferramentas para candomblé e orixás. Nesse acervo temos 17 obras dele, e em formatos que ele não produz mais”, explica Jamile Coelho. O artista de 77 anos fabrica portões, agogôs e ferramentas de santo há mais de seis décadas.

José Adário
Obras de José Adário também fazem parte do acervo repatriados Foto: Alana Silveira

“Normalmente, os colecionadores só compram de artistas que já morreram. Eu achei fantástico que elas compraram muitas obras nossas, fizeram exposições e divulgaram a gente”, diz Raimundo Bida, autor de obras naïf que também serão repatriadas.

Ao longo das últimas três décadas, Marion e Barbara fizeram exposições nos Estados Unidos e no Canadá com o acervo que compraram dos artistas brasileiros.

“Elas frequentavam muito minha loja no Pelourinho. Várias vezes conversávamos, elas procuravam saber mais da gente”, conta a designer Goya Lopes, que terá duas peças repatriadas, sobre as constantes visitas das duas colecionadoras ao Centro Histórico de Salvador.

Movimento de repatriação de obras cresce no mundo

No último dia 12 de setembro, no Rio de Janeiro, uma cerimônia marcou a repatriação histórica do manto tupinambá ao Brasil após 335 anos. A peça, que estava em um museu na Dinamarca, retornou ao Brasil em julho, num momento em que diversos países do mundo exigem a devolução de peças levadas para Europa em um contexto imperialista.

“Repatriar, devolver esse material, tem a ver com o processo de reparação histórica que a colonização causou. Esse material foi roubado, foi pilhado, foi retirado dos seus locais como os próprios povos foram retirados e coisificados, transformados em mercadoria. Repatriar é um ganho político para quem devolve, e é uma reparação histórica dos povos que foram vilipendiados”, afirma o antropólogo Marlon Marcos, professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).

"Revolta dos Malês" de Sol Bahia
“Revolta dos Malês” de Sol Bahia também será repatriada Foto: Con/Vida

Em 2020, após o assassinato de George Floyd, um homem negro que foi cruelmente asfixiado por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, as manifestações de protesto organizadas pelo movimento Black Lives Matter fizeram o debate sobre equidade racial impactar também em mercados econômicos.

No mercado das artes contemporâneas, o apelo dessas manifestações por reparação histórica sensibilizou museus e colecionadores pelo mundo a refletirem sobre a devolução de obras aos seus países de origem.

“Esses movimentos sempre existiram. Mas, agora, por conta do crescimento político e econômico das populações negras, essa denúncia e essa luta têm sido mais tête-à-tête. Foram construídas novas leituras de mundo que fazem com que os museus dos Estados Unidos e da Europa sintam uma certa vergonha”, explica Marcos.

Muncab planeja exposição com obras repatriadas

Apesar da documentação legal já ter sido assinada, a repatriação das 750 obras que virão para o Muncab não é imediata devido ao complexo processo de preservação do acervo. Uma equipe do museu irá a Detroit, nos Estados Unidos, estudar a melhor logística possível para o traslado até Salvador.

Mudanças bruscas de temperatura podem causar danos irreversíveis ao material, que deverá ser devidamente climatizado. Um estudo técnico vai definir se as peças virão em lotes. Para a repatriação, o Muncab tem a parceria do Instituto Ibirapitanga e do Con/Vida, organização dedicada à cultura, tradição e história das Américas fundada por Marion Jackson e Barbara Cervenka.

Mulheres olham obras em exposição no Muncab
Muncab planeja abertura da exposição do novo acervo com a presença dos artistas e das colecionadoras. Foto: Luan Teles and Secult/BA

“A gente discute muito o processo de repatriação de obras que foram roubadas de seus países de origem. Mas essas obras vêm numa outra tratativa, com um olhar curatorial e sensível da Barbara e da Marian. Elas levaram as obras para os Estados Unidos e, também com um olhar sensível, perceberam a importância dessa devolução”, diz Jamile Coelho.

Quando as obras chegarem, o Muncab planeja abrir uma exposição com a presença dos artistas e das colecionadoras.

“Vai ser um momento mágico e fantástico, não só pra mim, mas pra todo mundo poder ver como era a efervescência cultural das décadas de 80 e 90 no Centro Histórico de Salvador”, comemora o artista plástico Raimundo Bida. “O que mais vai me emocionar é que os artistas que estarão expondo foram importantes para mim, e alguns já não estão mais aqui”, completa.

Aberto em 2011, capitaneado pelo poeta tropicalista Capinan, que teve ao seu lado nomes como o artista plástico Emanoel Araujo (1940-2022), o Muncab foi reaberto em novembro do ano passado, após três anos fechado, recebendo cerca de 150 mil visitantes nessa nova fase.

A intenção da direção do museu é também emprestar parte do material repatriado para instituições no Brasil e no mundo, para que as obras possam ser divulgadas e estudadas.  “A arte negra brasileira não está nas escolas de arte. É fundamental que a gente levante esse debate sobre essa produção intelectual desses artistas que produziram obras magníficas e que ainda são qualificadas como arte popular”, diz Coelho.

Leia a matéria na fonte: https://www.dw.com/pt-br/museu-da-bahia-receber%C3%A1-obras-repatriadas-de-artistas-negros/a-70269427


Saiba mais puxando a rede IPOL:

. Visite o museu navegando em sua página: https://museuafrobrasileiro.com.br/

. Conheça o museu: https://pelourinhodiaenoite.salvador.ba.gov.br/museu-nacional-de-cultura-afro-brasileira-muncab/

. Acompanhe o Instagram do MUNCAB: https://www.instagram.com/muncab.oficial

NJINGA e SEPÉ: v. 4 n. 2 (2024): Línguas, literaturas e outras artes no espaço angolano

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Apresentação do Vol. 4, nº 2 (2024): Línguas, literaturas e outras artes no espaço angolano

Autor: Jorge Gumbe “Oferendas para Kiàndà”. Técnica: acrílico sobre tela. Ano: 1999

Este dossiê é dedicado aos estudos e pesquisas sobre as Línguas, as Literaturas e Artes no espaço angolano. Angola localiza-se na costa ocidental da África Austral, ao Sul do Equador, limitando-se ao norte e ao nordeste pela República Democrática do Congo, ao leste pela Zâmbia, ao sul pela Namíbia e ao oeste pelo Oceano Atlântico. O nome Angola, etimologicamente deriva da palavra “Ngola”, nome atribuído a uma dinastia dos povos Ambundo, fixados no médio-Kwanza. A adaptação para o nome Angola resulta de processos históricos e da colonização portuguesa.
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 O país possui uma diversidade linguística composta por línguas do grupo bantu, do grupo khoisan e outras ainda sem classificação, para além da língua gestual. O português é língua oficial de acordo com a Constituição da República de 2010, no artigo 19º. A cultura também é diversa e observa-se atualmente uma mistura de culturas e práticas devido às migrações e imigrações, devido às influencias e contatos como outros povos, por vezes impulsionados pelas tecnologias e pelo mundo globalizado. Existe uma relação histórica entre o Brasil e Angola que dura desde o período colonial quando milhares de africanos, a maioria proveniente da região onde hoje é Angola foram presos, transportados e escravizados no Brasil. Aliás, a formação do povo brasileiro também resulta da presença de africanos naquele espaço geográfico.Foi em 1975 que o país finalmente proclamou a sua independência total passando a criar suas próprias infraestruturas e sistemas de governação. A educação tem sido um grande desafio em todos os setores da sociedade por isso, há abrir alas para que haja debates e estudos que possam buscar soluções para os problemas da educação em Angola.
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Este dossiê intitulado Línguas, literaturas e outras artes no espaço angolano foi pensado no intuito de reunir estudos sobre angola para que sejam divulgados e conhecidos em Angola e além-fronteiras. A Revista Njinga & Sepéé um espaço importante de divulgação e de compartilhamento dos saberes porque esses saberes poderão ser acessados e visualizados por bibliotecas internacionais demanda que é atendida pela indexação. Estamos cientes ao fato de que há vários estudos produzidos em Angola e que não são conhecidos porque os autores não têm oportunidades de acesso à revistas gratuitas. Encontramos na Revista Njinga & Sepé um lugar especial onde estudos sobre Angola possam ser apresentados e discutidos por forma a que a ciência avance com maior celeridade.
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Este dossiê visa dar a conhecer à comunidade acadêmica e não só sobre temáticas específicos de Angola, contribuindo, desta feita, para a melhor compreensão possível sobre a pluralidade das realidades socioeconômicas, literárias, linguísticas, políticas, antropológicas e culturais dos angolanos. Encontramos na Revista Njinga & Sepé um parceiro que olha para os países africanos(e não só)como parceiros prioritários para que a cooperação Sul-Sul se efetive por meio desta Revista da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.Estas parcerias impactam outras esferas de políticas públicas, como as culturais e educacionais que, a despeito das reformas significativas que Angola vem conhecendo marcadas de retrocessos que, mais do que meras políticas de estado, atingem os sujeitos angolanos social e historicamente constituídos; é o caso, por exemplo, do sistema de ensino que se pensa plural, porém deixa a desejar, quando se questiona o perfil de professores monolíngues, cuja formação, na maior parte dos casos, não responde eficazmente à educação intercultural em todas as suas nuances. Ora, essas e outras preocupações elencadas são abordadas criticamente pelos autores, na ordem em que seus trabalhos estão apresentados neste vol.4, nº2, 2024.Este dossiê é composto por vinte e quatro (24) textos dedicados às discussões e debates sobre educação, a descrição linguística, diversas literaturas africanas e artes.
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Clique no link abaixo para acessar esta apresentação completa e resumos dos artigos publicados neste dossiê:

As publicações científicas permitem a circulação do conhecimento e a busca de novos saberes. É fundamental que os saberes conquistados por meio de pesquisas e estudos sejam compartilhados e discutidos no meio científico. O método hipotético-dedutivo de Karl Popper (1902-1994) nos mostra que onde termina uma pesquisa, inicia outra e assim sucessivamente. A ciência é inesgotável. Neste Vol.4, nº2 (2024) organizado pelos professores Daniel Peres Sassuco, Nsimba José e Manuel da Silva Domingos encontraremos contribuições de estudos das áreas de Linguística, Literatura, Artes e Educação relativos à Angola. São estudos que falam sobre Angola na sua profundidade e visam promover um espaço de debate permanente para que o conhecimento circule  e seja compartilhado nacionalmente e além fronteiras. As pesquisas apresentadas neste dossiê criticam o rumo que Angola está trilhando, especialmente na formação de professores, na descrição e ensino de línguas, de Química e de Biologia. Para além de criticar, os trabalhos publicados apontam caminhos possíveis para a melhoria da qualidade do ensino em Angola. Os autores clamam pelo apoio das autoridades para que situação se reverta o mais breve possível, pensando numa Angola mais desenvolvida. A formação de profissionais com qualidade evita a multiplicação de analfabetos funcionais que não poderão efetivamente contribuir o necessário. Com relação às linguas, Angola precisa dar atenção especial e urgente para descrição, revitalização e políticas de ensino das línguas autóctone respeitando assim a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos (1996). Desejamos a todos uma leitura atenta, crítica, colaborativa e não se esqueçam de compartilhar a Revista com estudantes, colegas, docentes e outros interessados. Visitem o Canal da Revista Njinga & Sepé e lá vão encontrar palestras e seminários que reforçam a divulgação do conhecimento gratuito, de qualidade e de acesso livre. Este é um compromisso desta Revista. BOA LEITURA!

Publicado: 17-09-2024

 

Acesse a revista no link: https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/issue/view/55

NJINGA e SEPÉ: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras! Nova edição

v. 3 n. Especial II (2023): A Linguística e a Educação em debate nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e no Brasil

Esta publicação referente ao Vol.3, nºEspecial II, 2023 reúne trabalhos que debatem aspectos teóricos e práticos sobre os estudos linguisticos, e educacionais, especificamente as  metodologias e métodos de ensino nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e no Brasil. Trata-se de uma publicação organizada pela Profa. Dra. Maria Goreti Varela Freire Silva, docente da Universidade de Cabo Verde, em Cabo Verde em coordenação com Prof. Dr. Alexandre António Timbane (UNILAB/USP). A Revista Njinga & Sepé é acolhedora, é incentivadora à pesquisa e à publicação e abriu exceção para artigos de outras áreas do saber na Seção VII “Varia”. Nesta Seção VII foram acolhidas pesquisas sobre Economia, Administração, Saúde pública, Antropologia, Sociologia, literatura  e outras ´´areas afins. O objetivo é de oferecer oportunidades para que pesquisas possam ser compartilhadas, discutidas e incentivadas, especialmente para países sem recursos tecnológicos e financeiros para a publicação. A interação científica entre o Brasil e os países africanos é urgente e de salutar porque a UNILAB é uma instituição de integração internacional que presa pela cooperação e trocas científicas com Sul-Sul para que todos os países da integração possam crescer juntos . Os materiais publicados foram sujeitos à avaliação aos pares e às cegas por forma a garantir a cientificidade dos mesmos. Agora convidamos para que leiam e compartilhem com colegas, docentes, estudantes à todos sem exceção!

Profª. Drª. Maria Goreti Varela Freire Silva (Universidade de Cabo Verde, Cabo Verde)

Prof. Dr. Alexandre António Timbane (Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Brasil)

Publicado: 14-12-2023

Sobre a Revista

O nome daRevista Njinga & sepé (مَجَلَّة نْجِينْغَا & سِيپِي) é uma singela homenagem a Rainha africana Njinga Mbandi* e ao guerreiro indígena brasileiro Sepé Tiarajú** ambos símbolos das lutas de resistência e da afirmação das identidades africanas e brasileiras. Homenagear Njinga Mbandi e Sepé Tiarajú é, sem sombra de dúvidas, uma inspiração para os desafios que esta Revista apresenta perante o mundo, porque o preconceito com relação às línguas faladas pelos povos africanos e povos do Brasil ainda é grande.

A Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas, e Brasileiras é um periódico da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) que visa divulgar pesquisas inéditas de pesquisadores, professores, estudantes de graduação e de pós-graduação que se interessam pelas temáticas das culturas, dos debates sobre políticas linguísticas críticas e pela descrição de línguas timorenses,  africanas, indígenas brasileiras e de sinais com intuito de revitalizar, preservar, registrar e respeitar as culturas e identidades dos respectivos povos.

 

Visite o canal Youtube REVISTA NJINGA & SEPÉ para acessar outros conteúdos em vídeo https://www.youtube.com/@revistanjingasepe5651/featured

 

Idiomas minoritários: pesquisas investigam a morfossintaxe das línguas Pykobyê e Changana

Inéditos em seus campos, trabalhos foram defendidos no primeiro semestre deste ano no Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos da Fale

O pesquisador João Henrique em trabalho de campo, em comunidade do povo Gavião do Maranhão
O pesquisador João Henrique em trabalho de campo (Foto: Arquivo pessoal)

Apesar da riqueza e da diversidade apresentadas pelas línguas indígenas brasileiras e pelas línguas africanas, as especificidades das suas morfossintaxes são ainda pouco conhecidas até mesmo pela comunidade científica especializada, em razão do histórico privilégio dado, no Brasil, ao estudo e à investigação do português. Duas pesquisas defendidas no Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos (PosLin) da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG no primeiro semestre deste ano incorporam essa tendência experimentada nas últimas décadas, com o surgimento de grupos, laboratórios e pesquisadores dedicados ao estudo de idiomas minoritários.

Em maio, a pesquisadora Clauâne Pâmela Leal Dias Carolino defendeu a primeira dissertação brasileira de mestrado sobre a morfossintaxe do Changana, a terceira língua mais popular de Moçambique, falada atualmente por cerca de 2 milhões de pessoas, somadas as suas cinco variações. As outras duas são o Emakhuwa, que tem cerca de 5,8 milhões de falantes, e o Português, com 3,6 milhões. Dois meses antes, em março, João Henrique Santos de Souza já havia defendido tese sobre a morfossintaxe da língua indígena brasileira gavião Pykobyê, falada pelo povo Gavião do Maranhão.

Os trabalhos foram orientados pelo professor Fábio Bonfim Duarte, que coordena o Laboratório de Línguas Indígenas e Africanas (Laliafro) da Faculdade de Letras, instituição que já há alguns anos vem promovendo uma transformação no estudo de línguas minoritárias na Universidade. Com efeito, os trabalhos integram projeto maior de descrição, documentação, análise teórica e promoção de línguas indígenas e africanas desenvolvido pelo laboratório. Além da orientação de Duarte, a pesquisa de Clauâne Carolino contou com a coorientação do professor David Alberto Seth Langa, do Departamento de Línguas da Universidade Eduardo Mondlane, de Maputo, Moçambique.

A pesquisadora Pâmela Leal pesquisou a morfossintaxe da Changana, terceira língua mais popular de Moçambique
Clauâne Carolino pesquisou a morfossintaxe do Changana, terceira língua mais falada em Moçambique (Foto: Arquivo pessoal)

Memória e fortalecimento
O Changana integra o grupo linguístico bantu, que pertence à família Congo-Kordofaniana, tronco Níger-Congo. As línguas bantu se estendem desde Camarões até a Leste e ao Sul do continente africano. A língua Changana, especificamente, é falada em países como Moçambique, África do Sul e Zimbábue. Em Moçambique, é um dos vários idiomas nacionais, muito falado nas províncias de Inhambane, Gaza e Maputo. O estudo desenvolvido por Clauâne fornece uma descrição detalhada de aspectos da estrutura gramatical da língua.

O Pykobjê, por sua vez, é uma língua do complexo dialetal Timbira, que faz parte da família Jê, do tronco linguístico Macro-Jê. Em sua pesquisa, João Henrique Santos descreveu aspectos da gramática e investigou o seu sistema de Caso – particularmente, o seu elaborado sistema de marcação diferencial do sujeito.

A pesquisa nasceu de pedido do próprio povo Gavião do Maranhão, que, sob as conhecidas ameaças que oprimem os diversos povos indígenas brasileiros, teme o risco de ver a sua língua morrer, em razão da crescente diminuição de seus falantes e da morte dos seus integrantes mais velhos. Hoje, cerca de 1,2 mil indivíduos vivem na comunidade. “A preservação de uma língua é parte importante da própria humanidade, de sua história e diversidade. Trata-se, portanto, de um registro para as futuras gerações”, afirma Fábio Duarte.

“O trabalho de João Henrique opera como memória e como fortalecimento da língua”, acrescenta o professor. “A sua semente surgiu quando o próprio povo solicitou um linguista para estudá-la. Por se tratar de uma língua minoritária, sua preservação se torna urgente, e este trabalho cumpre importante tarefa”, afirma. O povo Gavião – também denominado Gavião-Pykobjê – habita a Terra Indígena Governador, no município de Amarante, no Maranhão, no Sudoeste do estado, próximo ao município de Imperatriz.

Dissertação: O comportamento dos objetos pós-verbais em construções aplicativas do Changana
Pesquisadora: Clauâne Pâmela Leal Dias Carolino
Defesa: maio de 2023

Tese: Pyhcop Cati Ji Jarcwaa: alinhamentos morfossintáticos e marcação diferencial
Pesquisador: João Henrique Santos
Defesa: março de 2023

João Henrique em pesquisa de campo junto ao povo Gavião, do Maranhão
João Henrique em pesquisa de campo junto ao povo Gavião, do Maranhão (Foto: Arquivo pessoal)

Ewerton Martins Ribeiro

Leia diretamente na fonte: https://ufmg.br/comunicacao/noticias/idiomas-minoritarios-pesquisas-investigam-a-morfossintaxe-das-linguas-pykobye-e-changana

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