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Dia da Amazônia: livro resgata língua indígena que chegou a ser considerada extinta

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Publicação desenvolvida pelos anciões indígenas, linguistas, Norte Energia e secretarias de Educação é uma forma de preservar a cultura e a memória

 (Norte Energia/Divulgação)

(Norte Energia/Divulgação)

Neste 5 de setembro, Dia da Amazônia, a comunidade Xipaya comemora a perpetuação do seu idioma e legado cultural com a publicação do livro “Xipai kaména da usetúpa – Sedja kaména bahu de anu – “fala dos nossos pais e das nossas mães, ancestrais Xipai”.
A gramática pedagógica do povo Xipaya é utilizada por professores indígenas para ensinar a língua mãe para alunos de escolas das aldeias Tukamã, Tukaya e Kujubim, localizadas nas Terras Indígenas Xipaya e Cachoeira Seca, em Altamira, na Amazônia.

A publicação comemora 3 anos em 2024, e é resultado do esforço conjunto entre a comunidade Xipaya, pesquisadores e a Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte.

Como o livro foi escrito?

Para elaborar a gramática, em 2016 e 2017 a Norte Energia promoveu oficinas com os anciões – como se referem aos indígenas mais velhos – que ajudaram os pesquisadores a desenvolverem os fonemas e construir um dicionário com palavras e frases faladas pelo povo Xipaya.

Os trabalhos foram conduzidos pela linguista Carmem Lúcia Rodrigues, professora da Universidade Federal do Pará e pesquisadora da língua xipaya desde 1988.

Yawaidu Xipaya, moradora da aldeia Kujubim e considerada a mais experiente das falantes fluentes da língua, foi fundamental para o resgate do idioma.

“Hoje, nós já estamos passando para o bisneto dela, meu filho. Nós vamos nas escolas, colocamos as músicas para serem cantadas, fazemos jogos na língua para testar os conhecimentos”, diz Antônio Xipaya, neto de Yawaidu.

Livro é importante porque o idioma quase se perdeu

Segundo Antônio, no final do século passado, a língua xipaya ficou adormecida, sendo considerada extinta por muitos.

Existia muita discriminação, preconceito. Então tinha gente que se negava a dizer que pertencia ao grupo. Hoje nós temos nossa gramática, temos muitas histórias contadas por ela (avó), e sempre falo que, como neto, preciso trabalhar muito no fortalecimento da nossa cultura”, conta.

O Programa de Educação Escolar Indígena e as ações da Norte Energia

O Programa de Educação Escolar Indígena (PEEI) faz parte do Plano Básico Ambiental do Componente Indígena (PBA-CI) da Usina Hidrelétrica Belo Monte. Ele apoia os órgãos educacionais na implantação de um sistema que atenda às especificidades das nove etnias indígenas na área de influência da usina.

  • A gramática xipaya faz parte de uma série de 36 publicações viabilizadas pelo programa
  • Financiado pela Norte Energia, o programa já disponibilizou mais de 26 mil exemplares de material didático às secretarias municipais de educação.

“As ações do Programa de Educação Escolar Indígena potencializam o fortalecimento da identidade e cultura indígena, contribuindo para o resgate das línguas xipaya, juruna e kuruaya”, explica Sabrina Miranda Brito, gerente socioambiental do componente indígena.

 

Siga a matéria em: https://exame.com/bussola/dia-da-amazonia-livro-resgata-lingua-indigena-que-chegou-a-ser-considerada-extinta/

Comissão aprova proposta que cria programa para preservar línguas dos povos indígenas

Juliana Cardoso, relatora do projeto de lei Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

A Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 3690/19, que obriga a administração pública a criar programa de preservação, recuperação e transmissão das línguas indígenas brasileiras. Já aprovado pelo Senado Federal, o texto altera a Lei Rouanet.

A proposta determina que documentos públicos solicitados pelos indígenas sejam fornecidos em português e no idioma nativo. O projeto também considera dialetos indígenas como bens de natureza imaterial do patrimônio cultural brasileiro.

Definições

Segundo o texto, a preservação se dará por meio da realização de inventários, registros, vigilância e tombamento, além de outras formas de manutenção de acervo. Já a recuperação ocorrerá pelo registro das línguas indígenas em vocabulários ortográficos e dicionários e sua codificação em gramáticas.

A transmissão, por sua vez, deverá ocorrer pela divulgação das línguas indígenas nas regiões em que são faladas nos canais públicos de comunicação, na sinalização urbana e rural, no serviço público comunitário e nos ensinos fundamental e médio, a título de disciplina curricular facultativa. Também deverá ser garantida a oferta de cursos para o ensino dessas línguas em escolas do ensino médio, sempre que houver o número necessário de alunos interessados

O parecer da relatora, deputada Juliana Cardoso (PT-SP), foi favorável ao projeto, apresentada pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO).

“Ao incluir a preservação, recuperação e transmissão dessas línguas no âmbito das políticas públicas, o PL contribui para combater a extinção de idiomas que carregam conhecimentos ancestrais, tradições, e uma visão de mundo única”, avaliou a relatora.

Próximos passos

O projeto será analisado, em caráter conclusivo, pelas comissões  de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Para virar lei, a proposta precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado.

Fonte: Agência Câmara de Notícias

 

Leia a matéria na fonte: https://ptnacamara.org.br/comissao-aprova-proposta-que-cria-programa-para-preservar-linguas-dos-povos-indigenas/

Setembro Azul: mês da visibilidade da comunidade surda e da Língua Brasileira de Sinais

O Setembro Azul é uma iniciativa que acontece anualmente no mês de setembro com o objetivo de dar maior visibilidade à comunidade surda no Brasil. Nesse mês são promovidas ações que destacam os desafios encontrados pela comunidade surda como a exclusão e o preconceito. Diante da sociedade, é como se as pessoas surdas passassem despercebidas pelos ouvintes, invisíveis. O mês também destaca a importância da valorização da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. A data também serve para ampliar a integração dos surdos e para proposição de políticas públicas em benefício dessa população.

A escolha do mês leva em consideração uma série de fatores, entre as datas significativas para os surdos em setembro está o Dia Nacional do Surdo, celebrado em 26 de setembro, o Dia Internacional da Língua de Sinais, em 23 de setembro, e o dia 30 de setembro, que celebra o Dia Internacional do Tradutor e Intérprete.

No caso do azul, a cor foi resgatada como símbolo de resistência dos surdos no contexto nazista e como uma forma de homenagear os que foram mortos nessa época. Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas identificavam as pessoas com algum tipo de deficiência com uma faixa azul no braço, por considerá-las inferiores. Com o passar dos anos a cor foi ressignificada, passando a simbolizar ao mesmo tempo a opressão enfrentada pelos surdos e o orgulho da identidade surda.

No Brasil, o 1º de setembro ficou marcado como o dia de promulgação da lei nº 12.319. Essa lei regulamentou a profissão do intérprete de Libras no país. Libras é a Língua Brasileira de Sinais, usada na comunicação dos surdos.

Para o Brasil Escola, o Setembro Azul procura ser um período para promoção de ações que atendam a comunidade surda, trazendo debates sobre os problemas e desafios dela, sobre políticas públicas que podem atendê-la, e sobre como a população deve se conscientizar do direito à inclusão dos surdos na sociedade como um todo.

Sabemos que essa luta não cabe em apenas um mês. O ato de quebrar as barreiras da acessibilidade, exige que nós quebremos os nossos preconceitos e nos aproximemos mais da comunidade surda. É necessário ouvirmos a voz das pessoas surdas, e para isso, a inclusão da Língua Brasileira de Sinais é fundamental. Precisamos da Libras como ensino nas escolas, intérpretes na saúde pública, em estabelecimentos comerciais, bancos, etc. A deficiência está na sociedade, que não acolhe a comunidade surda, e que os impede de aprenderem, consumirem e se divertirem.

Muitas conquistas já foram obtidas, mas ainda há muito o que conquistar. Todos podemos participar da luta da comunidade surda, conhecendo, apoiando e difundindo sua rica cultura.

 

 

Siga a leitura em : https://oexpresso.com.br/setembro-azul-mes-da-visibilidade-da-comunidade-surda-e-da-lingua-brasileira-de-sinais/

Linguicídio desconhece o “pretoguês”

Por EDELBERTO BEHS* em 08/09/2024

 

Linguicídio desconhece o “pretoguês”

Diferente do idioma falado em Portugal, o português do Brasil, pela importante contribuição que recebeu de idiomas africanos trazidos pelos escravos, deveria se chamar “pretoguês”. A proposição é da antropóloga negra Lélia Gonzalez e vem corroborada pelo professor da Universidade Federal do Sul da Bahia, Gabriel Nascimento, em seu livro “Racismo Linguístico: Os subterrâneos da linguagem e do racismo” (Editora Letramento, 2019).

Uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado, Lélia Gonzalez também descreveu a América Latina como “amefricana”, para dizer que, apesar do branqueamento, há muitas razões para descrever boa parte da América Latina como proveniente de uma intensa racialização.

O signo “negro” não é um conceito natural. Ele foi criado pela branquitude. “Ou seja, os negros africanos, antes de serem colonizados e sequestrados, não se chamavam como ‘negros’ ou reivindicavam para si a identidade ‘negra’ como ‘naturalmente’ deles”, escreve Nascimento.

Negros e indígenas foram e são vítimas de um “epistemicídio” traduzido num “linguicídio”. A filósofa e escritora Aparecida Sueli Carneiro define o “epistemicído” como o extermínio do conhecimento do outro. “É o formato pelo qual a colonialidade sequestra, subtrai tudo o que puder se apropriar a apaga os saberes e práticas dos povos originários e tradicionais”, explica a ativista diretora do Geledés – Instituto da Mulher Negra.

O epistemicídio também está relacionado ao linguicídio. Segundo Sueli, o combate às línguas já faladas pelos povos originários negros e indígenas figura como um dos primeiros atos do mito da brasilidade linguística. O professor alemão Wolf Dietrich, vinculado à Universidade Federal do Paraná, lembra que quase um século depois da chegada do europeu ao Brasil, índios e portugueses tinham como principal idioma de comunicação a Língua Geral, com base no tupi, língua falada pelos Tupinambás.

Crédito: Portal do Amazonas

Foi o marquês de Pombal, com suas reformas, que implantou uma política que impediu o uso da Língua Geral como idioma de comunicação da população que vivia no Brasil. Nascimento pergunta por que, num país com mais de 180 línguas indígenas o português, além da Língua Brasileira de Sinais – Libras, é a única língua oficial do país?

“Assim, não se pode afirmar a língua como um lugar pacífico. A língua é um lugar de muitas dores para muitos de nós”, confessa Nascimento. O estudioso negro oriundo da Martinica, Frantz Fanon, entende a língua como uma marca de dominação e por onde também acontece a figura estruturante do racismo. Para Nascimento, “o racismo é produzido nas condições históricas, econômicas, culturais e políticas, e nelas se firmam, mas é a partir da língua que ele materializa suas formas de dominação”.

Para o filósofo, historiador e professor universitário camaronês Achille Mbembe, a negritude não é um conceito de autoidentificação dos negros, “mas uma imposição perversa” através de sinais, como a manutenção da visão da miséria relacionada a países da África, ou a piadas racistas e provérbios populares negativos.

O ocidente, frisa Nascimento, usou a linguagem para racializar sujeitos na América desde 1492 e como objeto para fortalecer os regimes colonialistas, nomeando e conceituando o mundo numa visão eurocêntrica. Assim, “o mundo ocidental produziu nos ‘outros’ os signos de dominação ao chamá-los de ‘raça’ ao passo que, ao criar essas definições, criou o branco, cristão, civilizado, heterossexual e burguês”, escreve o professor baiano.

 

Infografia Indíganas PT – INFOGRAFIA_Lenguas indíganas PT – Somos Iberoamérica / Somos Ibero-América (somosiberoamerica.org)

Mas, continua, ao subjugar o negro, “o próprio branco se desumanizou, transformando-se, ele próprio, em animal, e assim invocando o esgotamento do próprio projeto do humanismo”, levando, inclusive, a sistemas perverso, como é o caso do fascismo.

Recorrendo ao poeta, dramaturgo e político da negritude, Aimé Fernand David Césaire, o professor Nascimento constata que o racismo cria suas marcas também na branquitude. “Um Hitler, um Trump ou um Bolsonaro não nascem à toa. Antes do fascismo, o racismo é a condição estruturante que permite que, nessas sociedades, tanto o colonizador quanto o colonizado enfrentem os fantasmas da raça criados pelo colonizador”.

*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Ilustração da capa: Paula P. Rezende.

Leia diretamente na fonte: https://red.org.br/noticia/linguicidio-desconhece-o-pretogues/

Curso na Unesc quer manter viva a língua guarani, um dos idiomas mais falados no Mercosul

Foto: AgeCom Unesc

 

Uma das marcas que constituem a identidade cultural de uma nação é o idioma falado por seus membros. O Brasil, colonizado por Portugal, é conhecido pelo senso comum como um país monolíngue, em que o único idioma falado é o português. Enquanto isso, no Paraguai e na Bolívia, o Tupi-guarani é uma das línguas oficiais, e está entre as mais importantes da América Latina. Para tentar manter vivo esse idioma, a Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) lançou o curso de Introdução à Língua e à Cultura Guarani.

O Brasil é o país que possui a maior população guarani entre os países sul-americanos e, ainda assim, não reconheceu a língua indígena como parte do seu repertório oficial. Jacaré, paçoca, piranha, sabiá – essas são algumas das diversas palavras presentes no vocabulário dos brasileiros que derivam de uma língua que possui raízes antigas: o Tupi-guarani. Quando a esquadra de Pedro Álvares Cabral desembarcou na costa brasileira, o país ainda se chamava Pindorama, nome que em tupi significa “terra/região/lugar das palmeiras”.

Indicadores do censo demográfico de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstram que o país possui cerca de 1,7 milhão de indígenas situados em mais de 4,8 mil municípios do território brasileiro, sendo que a maior parte reside na região Norte do país. No ranking dos estados com maior população indígena, Santa Catarina se encontra na 17ª posição, com mais de 21,5 mil nativos. Essa população é composta por três povos distintos: os Kaingang, os Laklãnõ/Xokleng e os Guarani. Deste último grupo, estima-se que existam cerca de 2 mil membros nas terras catarinenses.

Formado em arqueologia e história, o professor da Unesc Juliano Bitencourt Campos conta que desde a graduação teve contato com temáticas indígenas. Atualmente, o foco é a pesquisa sobre ocupação dos povos originários. Foi ele quem orientou o aluno Fabiano Alves (ou Kárai, nome em Guarani), primeiro indígena a se formar na Unesc pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA). O professor explica que Fabiano faz parte da etnia Guarani Mbyá, caracterizada principalmente pelo dialeto falado por seus membros.

“É importante entendermos que o Brasil tem 274 línguas com dialetos diferentes, e essas línguas são divididas por troncos linguísticos. O guarani, que dentro da língua há a divisão dos dialetos – Mbya, Nhandewa e o Kaiowa – é do tronco linguístico tupi. Os Laklãnõ/Xokleng e os Kaingang, também presentes aqui em SC, não são do tronco tupi, eles são do tronco Macro-jê, da língua Jê. Essas duas línguas (Guarani e Jê) são divididas por troncos linguísticos”, explica. Juliano utiliza um comparativo para entender melhor essa diferenciação: o caso do português e do espanhol, que são línguas parecidas e provém do mesmo tronco, enquanto o alemão e o holandês são de uma outra divisão, ainda que ambos pertençam ao mesmo tronco.

Essas definições não apenas diferem os grupos linguísticos, mas também outras características dos povos originários. “Os Tupi-guarani e os Tupinambás são do mesmo tronco linguístico. Lá pelo ano 1500, no Brasil, os franceses ficaram na região entre Salvador e Rio de Janeiro, mais ao norte do país, enquanto os portugueses ficaram mais na região onde fica o estado de São Paulo. Os portugueses encontraram os tupi-guarani e os franceses os tupinambás. Na história, os tupinambás são mais aguerridos, mais fortes, eles confrontavam e iam à guerra. E, então, os franceses não conseguiram fazer aqueles processos de invasão que os portugueses fizeram, porque os portugueses encontraram os tupi-guarani: mais dóceis, que são de articular, de negociar”, pontua Juliano.

A professora Normélia Ondina Lalau de Farias é coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) da Unesc, que foi fundado há 18 anos. Para ela, a luta de resistência à dominação portuguesa contribuiu para a criação de novos dialetos no país. “Nós temos a chegada dos povos africanos, a formação dos quilombos e tivemos um reforço no sentido de união desses povos, que vieram da diáspora africana, mais os povos originários. Viviam nos quilombos harmonicamente os indígenas, os negros e alguns europeus que não concordavam com o sistema escravocrata. Por isso, eles tinham que encontrar uma forma de se comunicarem, então em alguns momentos, dialetos africanos se sobressaíram. A linguagem guarani, também aliada à questão do português de Portugal, traz a riqueza do nosso vocabulário, em que usamos muitas expressões que são do guarani, outras que são de origem africana mesclada ao português”, expõe Normélia.

Indígenas no ensino superior
O Programa de Equidade Racial da Unesc, lançado em 2022, busca ampliar o acesso às bolsas de estudos para cursos de graduação, contempla estudantes negros (pretos e pardos) e indígenas. Normélia comenta que esse programa foi a porta de entrada para os indígenas da região ao curso superior. “A Unesc conta hoje com 12 alunos indígenas, em diversos cursos da universidade, que não são aldeados (estão fora da aldeia). Em 2019, teve a chegada do estudante Fabiano Alves, que faz parte da aldeia de Imaruí (Tekoá Marangatu) e que foi contemplado com uma bolsa por meio do programa, possibilitando a ele fazer seu mestrado em Ciências Ambientais”. Fabiano foi o primeiro mestre indígena formado pela Unesc, e no início de julho desse ano, publicou seu primeiro artigo em revista especializada sobre o modo de vida Guarani na terra indígena Tekoá marangatu, em Imaruí.

Neste ano, o Neabi apresentou o “6º Abril Indígena – Aldear a Universidade para a Justiça Social”, uma jornada acadêmica organizada em parceria com o curso de História, que contou com uma extensa programação de atividades, como a exposição de autores indígenas, seminários com acadêmicos e rodas de conversa. Nesta edição, também ocorreu o lançamento do livro ‘Oboré: quando a terra fala’, uma coletânea de sete autores das etnias indígenas Xacriabá, Fulni-ô, Tapuia, Tukano, Laklãnõ/Xokleng, Kaingang e Guarani, que dá voz à arte e à cultura ancestral dos povos originários. Alguns exemplares podem ser encontrados na Biblioteca Central Professor Eurico Back, da Unesc.

A escritora Martha Batista de Lima foi a responsável por reunir os textos. Já na apresentação do livro, ela evidencia as injustiças enfrentadas pelos povos indígenas nos últimos séculos: “Foram necessários quinhentos anos para que os povos originários tivessem direito a uma relativa cidadania nesta nação hoje chamada Brasil. Foram muitas lutas para haver o reconhecimento do direito aos seus territórios na Constituição brasileira de 1988”. Oboré, nome que dá título à obra, é um instrumento de sopro que os tupinambás ancestrais utilizavam para chamar seu povo quando era necessário fazer uma comunicação, um pacto ou proposição a todos da aldeia. Quando o líder tocava, os membros se reuniam para ouvir o que ele tinha a dizer. Com os textos selecionados, Martha reúne diferentes vozes de lideranças indígenas dos quatro cantos do país. Uma contribuição para que essas e outras histórias, por muitas vezes apagadas e esquecidas, sejam preservadas.

Arte em grafite na parede da Escola Indígena de Ensino Fundamental Tekoá Marangatu evidencia a relação dos povos originários com o mundo moderno, ainda que busque preservar a sua cultura. (Crédito: EIEB Tekoá Marangatu/Arquivo)

Mantendo a cultura viva
Com o propósito de ampliar a compreensão sobre a riqueza cultural dos guaranis, e de estreitar os laços entre os indígenas e os não-indígenas, a Escola de Idiomas da Unesc lançou, esse ano, o curso de Introdução à Língua e à Cultura Guarani.

Segundo a assessora pedagógica da Escola de Idiomas da Unesc, Dayane Cortez, as aulas devem começar ainda este ano, assim que completar a primeira turma. Até agora, os alunos matriculados para o curso são, em sua maioria, não-indígenas. Os principais interessados são acadêmicos dos cursos de licenciatura, mestrandos das linhas de pesquisa de antropologia e história, além de professores da própria universidade.

Dayane cita que a Unesc prevê, dentro das políticas de educação, o contato dos alunos com a história e a cultura afro-brasileira e indígena. “Nosso quadro da Escola de Idiomas conta com o professor Luís Alberto González Rolón, que tem formação em Letras e nasceu no Paraguai. As primeiras línguas dele são o guarani e o espanhol. Dentro da programação do curso, está previsto a participação de indígenas da região que já nos acompanham ou têm algum contato com a universidade”, comenta a assessora.

Professor nos cursos de história, geografia e biologia, Juliano Bitencourt leciona disciplinas que dialogam com os povos originários. Para ele, a presença do curso sobre o tupi-guarani na cartela de idiomas da Unesc promove inclusão e diversidade. “Colabora na compreensão de outras culturas como é o caso desse tronco linguístico, representado pelo tupi. A universidade, fazendo isso, dá sinais para a comunidade interna e externa que ela se preocupa com a diversidade”, comenta. “Isso é o ponto chave: a diversidade do outro. Isso pode colaborar na compreensão, pode estar criando grupos de pessoas que têm uma sensibilidade, uma percepção para criar também políticas voltadas para essas populações que ficam à margem da sociedade”, conclui.

Por que o Brasil não tem o guarani como língua oficial?
Para compreender melhor o porquê de o guarani ser reconhecido como idioma oficial no Paraguai e na Bolívia, mas não no Brasil, o professor recorre à história da colonização. “Há uma complexidade na questão. Em 1820, o governo brasileiro fez uma política para trazer as pessoas da Europa, para ‘branquear’ o território e ocupar os espaços ‘vazios’. Aqui para eles era vazio, apesar de existir açorianos e muitos Laklãnõ/Xokleng. Eles queriam ocupar espaços para não acontecer o que acabou acontecendo no Paraguai, que tem línguas-mães indígenas. A população do Paraguai é quase 90% indígena”, explica. “O Brasil foi dominado por Portugal, e os outros países foram pela Espanha, que fez uma política de não colonizar, mas sim de tirar tudo que tinha de proveito. No Brasil, os indígenas foram perdendo seus espaços, foram colonizados, assassinados”, completa.

“Aqui na região, por volta de 1900, os gestores contratavam pessoas para exterminar os indígenas, chamados de bugreiros. A mesma coisa que aconteceu com os bandeirantes, pessoas que entravam no interior para matar os indígenas ou pegar para escravos. No Brasil tivemos essa política de higienização étnica. Por isso o Brasil é diferente”, ressalta Juliano. O professor ainda defende que esse é um dos motivos pelos quais quem ocupa espaços nas universidades e no poder, não são os indígenas. “No primeiro governo de Getúlio Vargas (1930), ele fez isso também: um processo de proibir línguas. Ele exigiu que a única língua fosse o português, tanto que os colonos italianos e alemães também sofreram, porque não podiam falar na sua língua materna, e os indígenas sofreram mais ainda”, enfatiza.

A palavra “guarani”, na língua dos povos originários, significa guerreiro indomável ou povo livre como tempestade. Atualmente, o guarani é a língua oficial do Paraguai (ao lado do castelhano), é uma das três línguas oficiais para o trabalho no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), e língua co-oficial do município de Tacuru, no Mato Grosso do Sul.

Inscrições abertas
A Escola de Idiomas da Unesc está com as inscrições abertas para o curso de Guarani. As aulas têm foco na fala, compreensão, leitura e escrita da língua, além de trabalhar o contato com a cultura indígena. Para mais informações, os interessados podem mandar uma mensagem pelo WhatsApp da escola no número (48) 3431-4533. Para atendimento presencial, a Secretaria da Escola de Idiomas localiza-se na Unesc, no Bloco L, Sala 2, e o horário de atendimento é das 13h às 17h e das 18h às 22h.

Fonte: AgeCom Unesc.

 

 

 

 

Leia diretamente na fonte: https://www.diplomaciabusiness.com/curso-na-unesc-quer-manter-viva-a-lingua-guarani-um-dos-idiomas-mais-falados-no-mercosul/

A UFSC no Fórum Municipal dos Países BRICS em Moscou (IMBRICS)

 

 

Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (UCLPM) da UFSC, representada pelo Prof. Gilvan Müller de Oliveira (DLLV), participa nesta quarta-feira, 28 de agosto, do Seminário Preservação e apoio ao multilinguismo dos povos indígenas. Melhores práticas da Federação Russa e dos países BRICS”, promovido pela Agência Federal de Assuntos Étnicos da Federação Russa no âmbito do grande Fórum Municipal dos Países BRICS em Moscou

 

Na ocasião, o Prof. Gilvan apresentará uma contribuição sobre a situação do multilinguismo no Brasil – um dos fundadores do Grupo de Países dos BRICS – centrada n’ “As Línguas Indígenas Brasileiras e sua Equipagem para o Ciberespaço”.

 

A Cátedra UNESCO LPM / UFSC (2018-26), é responsável pelos dados brasileiros do Atlas UNESCO das Línguas do Mundo, em andamento, que inclui informação sobre o uso das línguas brasileiras minorizadas na Internet e permite constatar a sua incipiente preparação, até o momento, para o ambiente digital.

A principal proposta será a da criação, no âmbito da Organização e da Presidência do Brasil em 2025, do Quadro Comum de Referência das Línguas dos BRICS (QuaLinBRICS), que permitirá acompanhar a situação das línguas de cada país, fomentar a sua equipagem tecnológica e o seu ensino no âmbito nacional e internacional em uma estratégia de consenso entre os países membros.

Leia a nota na fonte: Secretaria de Relações Internacionais | Office of International Relations (ufsc.br)


Saiba mais sobre a Cátedra em:

https://orbicom.ca/brazil-florianopolis/

. Atlas UNESCO das Línguas no Mundo

https://en.wal.unesco.org/

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