Edital de fortalecimento de comunidades indígenas e tradicionais é prorrogado até o dia 28 de julho
Brasília, 03/07/2023 – A Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP) anuncia a prorrogação, para o dia 28 de julho, do prazo para o envio de propostas ao edital de enfrentamento a situações de vulnerabilidade social de povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia Legal ameaçados pelo narcotráfico.
A iniciativa visa contemplar organizações da Sociedade Civil (OSC), indígenas e comunitárias, de todo país. Serão financiados até 30 projetos que tenham atuação comprovada em apoio a redes e coletivos locais e regionais no valor de até R$ 250 mil. No total, serão investidos cerca de R$ 3 milhões em projetos.
Segundo a secretária da Senad, Marta Machado, o objetivo do edital é mitigar os efeitos do narcotráfico e demais redes criminais nas áreas mais remotas do país, retomando a proteção e segurança dos povos indígenas e tradicionais.
Eixos temáticos
O edital abrange três eixos de fomento: enfrentamento a situações de vulnerabilidade social de jovens e adultos indígenas, por meio da geração sustentável de renda e participação social; ações voltadas à prevenção de violências (sexual, física e simbólica) contra mulheres indígenas ou à mitigação dos efeitos destas violências (acesso a direitos, proteção, amparo e acolhida); e prevenção ou mitigação de invasões territoriais por narcotraficantes e outras redes criminais.
A iniciativa tem o intuito de atender as comunidades indígenas no contexto de drogas de todo o país, assim como povos e comunidades tradicionais – quilombolas, extrativistas, ribeirinhos e assentados de projetos de colonização e reforma agrária da Amazônia Legal nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Acesse o edital aqui
Canal de comunicação
A Senad também criou, para auxiliar no esclarecimento de dúvidas, um canal de comunicação que vai ajudar a orientar os inscritos.
Interessados podem entrar em contato diretamente pelo número de WhatsApp – 61 99652-5611. O atendimento ao público é de segunda-feira à sexta-feira, das 9h às 14h.
O e-mail institucional senad@mj.gov.br também está disponível para informações.
Conselho Estadual de Educação Indígena do Amazonas elege pela primeira vez uma mulher para a sua presidência
Publicado por MENEZESVIRTUALEYE em 2023/06/27
Os novos presidente e vice-presidente do Conselho Estadual de Educação Indígena do Amazonas (Ceei-AM) foram escolhidos nesta terça-feira (27/06). A eleição foi realizada de maneira presencial, no Centro de Mídias de Educação do Amazonas (Cemeam) da Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar, e também on-line, por meio do WhatsApp e pelo IPTV. No total, foram 32 conselheiros votantes, que elegeram a presidente Ivete Tukano e o vice-presidente Sebastião Solart para o próximo biênio.
Eleitos por 21 votos a 11, a presidente e o vice-presidente são dos povos Tukano e Kanamari, respectivamente. Primeira mulher eleita presidente após nove gestões masculinas, a professora Ivete Tukano destacou os principais objetivos da sua gestão em discurso de posse.
“Queremos agradecer a Tupã e aos nossos ancestrais, que sempre estão conosco. Este colegiado tem um grande compromisso com o Ceei-AM e com os alunos. Vamos trabalhar ouvindo toda a nossa base. Estamos muito felizes e agradecidos. Essa é uma vitória coletiva”.
A solenidade de posse da nova diretoria foi realizada pela secretária executiva adjunta Pedagógica, da Secretaria de Educação, Arlete Mendonça, que destacou a continuidade da atuação em conjunto entre o Ceei-AM e a Secretaria.
“Nos sentimos honrados e privilegiados pela nossa atuação em conjunto, que envolve as atividades da Gerência de Educação Escolar Indígena aqui da Secretaria. Continuamos à disposição, pelos nossos alunos. A missão continua”.
Atuação do Ceei-AM
Responsável pela fiscalização das pautas referentes aos alunos indígenas, é o Ceei-AM que assessora as equipes da Secretaria de Educação e estabelece o contato entre as comunidades, líderes e representantes escolares.
“O pleito de hoje é muito importante, porque marca um novo momento. O nosso Conselho é normativo, ou seja, a gente que organiza nossa própria atuação, entre nossas discussões internas. Um dos nossos principais objetivos é transformar o Conselho em legislação, o que nos daria mais tranquilidade para realizar nosso trabalho”, explicou a secretária executiva do Ceei-AM, Jeana Medeiros, do povo Baré.
Em 2023, a Secretaria de Educação conta com mais de 10 mil alunos indígenas matriculados nas unidades de ensino rede estadual.
Vítimas de tortura: indígenas ainda sentem violações sofridas na ditadura
Prisão, trabalho forçado e proibição da língua materna foram algumas das violações sofridas por povos originários durante a ditadura militar no país. Mais de 8 mil indígenas foram mortos nesse período
Aline Gouveia / postado em 26/06/2023 08:11 / atualizado em 26/06/2023 14:43
O relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) apontou que pelo menos 8.350 indígenas foram mortos durante a ditadura militar, entre os anos de 1964 a 1984. Entretanto, apenas dez povos foram estudados pelo colegiado, representando 3,3% das etnias existentes no Brasil, o que indica que esse número pode ser bem maior. Dos 305 povos indígenas do país, a CNV identificou e registrou graves violações de direitos dos Tapayuna, Parakanã, Araweté, Arara, Panará, Waimini-Atroari, Cinta-Larga, Xetá, Yanomami e Xavante. Ao longo dos anos de repressão estatal, os “guardiões da floresta” sofreram torturas e inúmeras tentativas de desumanização, como prisão arbitrária, trabalho análogo ao escravo e proibição da fala da língua materna. Nesta segunda-feira (26/6), é celebrado o Dia Internacional de Apoio às Vítimas de Tortura — data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1997. Por isso, o Correio resgatou as memórias sobre as violações de direitos durante a ditadura e ouviu especialistas sobre a possibilidade de criação de uma Comissão da Verdade Indígena para apurar os fatos com profundidade.
Em Minas Gerais, no ano de 1969, foi instalado o reformatório Krenak, no município de Resplendor. Nesse local, comparado a um campo de concentração pela CNV, indígenas de 23 etnias foram presos. À Comissão da Verdade, o ancião Oredes Krenak relatou que a prisão ocorria como uma forma de controlar os povos. “(Éramos) punidos por coisas pequenas, por desobediências de não querer fazer o trabalho obrigatório, ou quando nos pediam coisas que nós não sabíamos fazer. Também era proibido fazer nosso artesanato. Meu pai e minha tia Bastiana íamos vender flechas em Valadares, mas a guarda é que decidia quanto tempo podia ficar fora. Se passavam desse tempo, eram punidos na volta. A punição era: ficar preso, passar dois dias sem comer, mais dois dias só com duas refeições e só eram soltos no quinto dia. Na cadeia, muitos passavam fome, ficavam sem comer e beber”, diz o relato.
As violências sofridas pelos povos originários vieram à tona por meio de um relatório redigido em 1967, pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia, do Ministério do Interior. O documento, de mais de sete mil páginas, desapareceu por quatro décadas e só foi encontrado em 2013, no Museu do Índio, no Rio de Janeiro. “A falta de assistência, porém, é a mais eficiente maneira de praticar o assassinato. A fome, a peste e os maus-tratos estão abatendo povos valentes e fortes. Venderam-se crianças indefesas para servir aos instintos de indivíduos desumanos. Torturas contra crianças e adultos, em monstruosos e lentos suplícios, a título de ministrar justiça”, denunciou o procurador à época.
- Recomendações da CNV sobre direitos indígenas estão em retrocesso, diz relatório
- Relatório Figueiredo que mostra extermínio de aldeias é encontrado
- Webstories: Dia de Apoio às Vítimas de Tortura
As denúncias presentes no relatório foram frutos de uma expedição que percorreu mais de 16 mil quilômetros, a pedido do então ministro do Interior, Albuquerque Lima, em 1967. Entre as formas de tortura, o procurador Jader de Figueiredo relatou “caçadas humanas” promovidas com metralhadoras e dinamites — que eram atiradas de aviões, “inoculações propositais de varíola” em povoados isolados e doações de açúcar misturado ao veneno estricnina. Segundo o professor e pesquisador Walison Vasconcelos, os impactos das violações dos direitos durante a ditadura ainda são sentidos no cotidiano dos povos indígenas. O estudioso desenvolve trabalhos com o povo Krenak desde 2006 e ressalta a resistência indígena em tentar reconstruir a própria cultura. “A maioria dos Krenak com quem me relacionei traz na própria biografia as marcas de uma história dificílima, marcada por exílios forçados que desestruturaram suas famílias, por múltiplas violências do Estado, pelo esbulho de seu território, entre tantas outras”, lembra.
“Algumas pessoas contam as torturas que presenciaram. Gente amarrada sendo arrastada por cavalos e outras atrocidades. Há uma anciã que certa vez me disse que até hoje sente muito medo da polícia. Do ponto de vista da sua organização social, os impactos foram muito profundos. Uma das coisas que o poder militar executou quando invadiu as terras e as vidas dos Krenak foi proibí-los de conversar na língua materna. A longo prazo isto teve um impacto terrível, pois a língua é um dos principais vetores da organização social. Alguém acha normal rezar para seu Deus em uma língua estrangeira, por exemplo? Ou ensinar para as crianças sobre o mundo que os rodeia sem poder dizer o nome próprio das coisas, os topônimos? Faz algum tempo já que os Krenak gastam muita energia em projetos para retomar as práticas de conversação na língua materna. E isso tem dado um ótimo resultado, na perspectiva deles. Mas é claro que muito se perdeu para sempre com a simplificação da sintaxe”, acrescenta Walison.
Reparação
Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade propôs 13 recomendações para a reparação aos povos indígenas após as violações de direitos. Entretanto, segundo análise do Instituto Vladimir Herzog, não houve avanço em nenhum dos tópicos propostos. Além da instalação de uma Comissão Nacional Indígena da Verdade, a CNV recomendou a realização de um pedido público de desculpas do Estado, criação e fortalecimento de políticas públicas, assim como o estabelecimento de um “grupo de trabalho no âmbito do Ministério da Justiça para organizar a instrução de processos de anistia e reparação aos indígenas atingidos por atos de exceção, com especial atenção para os casos do Reformatório Krenak e da Guarda Rural Indígena”.
Em abril, o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, anunciou a criação de uma comissão para acompanhar o cumprimento das recomendações da Comissão da Verdade. Ao Correio, a coordenadora de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog, Gabrielle Oliveira de Abreu, afirmou que os retrocessos na garantia dos direitos dos povos originários foram agravados a partir de 2019, com a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “A Funai passou a ser chamada de ‘nova Funai’, cuja política facilitou a regularização de terras invadidas e estimulou a mecanização da lavoura em terras indígenas, com a distribuição massiva de tratores e carretas, o que contraria as culturas originárias. Em 2021, 60% das coordenações da Funai eram chefiadas por militares”, frisa Gabrielle.
Em 2021, a Justiça Federal condenou a União pelos crimes contra os povos indígenas de Minas Gerais durante a ditadura. A setença determinou que o governo federal acelerasse o processo de demarcação da terra Sete Salões — considerada sagrada pelos Krenak. O avanço nessa determinação só veio neste ano, já no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em abril, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) assinou os relatórios de identificação e delimitação do território. Depois dessa etapa, vem a declaração, homologação e, por fim, a regularização. “A gente precisa reconhecer as violações e também fazer as reparações. A Funai entende que todos os povos indígenas devem ter seus direitos implementados e respeitados. É necessário não apenas regularizar a terra, mas também proteger”, diz Joenia Wapichana, presidente do órgão, ao Correio.
A Justiça também determinou que o estado de Minas Gerais implementasse ações e iniciativas voltadas ao registro, transmissão e ensino da língua Krenak, a fim de preservar a memória desse povo. Além disso, a implantação e ampliação do Programa de Educação Escolar Indígena foi outra determinação judicial. A Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais informou que existem 24 escolas destinadas à educação indígena no estado, que atendem 12 etnias: Kamakã Mongoió, Kaxixó, Kiriri, Krenak, Maxakalí, Mokuriñ, Pankararu, Pataxó, Pataxó Hã-Hã-Hãe, Tuxá, Xakriabá e Xucuru-Kariri.
“A pasta assegura as especificidades no atendimento ao estudante da Educação Escolar Indígena, garantindo a construção de proposta pedagógica, conforme a realidade de cada comunidade indígena. A matriz curricular é específica por etnia e foram construídas juntamente com representantes das escolas indígenas e suas lideranças, respeitando as línguas, a cultura e tradições da etnia a qual a comunidade pertence, incluindo a etnia Krenak”, afirmou a Secretaria ao Correio.
Para Gabrielle, medidas de reparação são importantes para assegurar os direitos dos povos indígenas — que são historicamente “violentados”. “A responsabilização do Estado e também de empresas e grandes fazendeiros envolvidos nos conflitos de terra durante a ditadura, colocam luz ao fato histórico de que os povos indígenas, e outros grupos marginalizados do Brasil, foram brutalmente perseguidos e assassinados. Ter decisões judiciais relativas ao direito à memória e, principalmente, favorável à demarcação de terra, como o caso do TI Sete Salões, área sagrada para os Krenaks, é exemplar para cobrarmos os modos do judiciário proceder quanto aos crimes de Estado. É preciso que as recomendações da CNV sejam de fato aplicadas e que as etnias expulsas de suas terras durante a ditadura e nos dias atuais tenham seu direito assegurado”, diz.
Comissão Nacional da Verdade Indígena
Proposta em 2014, pela Comissão da Verdade, a ideia da criação de uma comissão específica para investigar a fundo as violações sofridas pelos povos originários tem ganhado cada vez mais força. Em audiência pública em abril, o pesquisador Marcelo Zelic apontou que a medida é importante para produzir novas provas materiais e ouvir todos os povos. O professor do Instituto Federal de Goiás Walison Vasconcelos defende que o grupo seja composto por maioria indígena. “É preciso reconhecer que os não indígenas são incapazes de fazer uma justiça plena neste assunto. é impossível negar o terror vivido pelos indígenas nos anos de chumbo. Uma Comissão Nacional da Verdade Indígena seria importante para que o Brasil conhecesse os horrores de uma guerra civilizatória durante a ditadura. A partir daí poderíamos, guiados pelos indígenas, aprender a não repetir”, ressalta o pesquisador.
O Ministério Público Federal (MPF) também endossa a instalação da Comissão, pontuando a necessidade de participação e protagonismo dos povos originários. Segundo o órgão, é fundamental que a sociedade saiba acerca das violações praticadas no período repressivo. “O trabalho da Comissão Nacional da Verdade Indígena há de ser essencial para a construção dos alicerces do processo de efetivação dos direitos dos povos indígenas no país e das reparações a que fazem jus, incluindo o reconhecimento de seus territórios. Finalmente, a proposta tem o potencial de orientar a redefinição da estratégia pedagógica necessária para fazer com que o restante da sociedade brasileira compreenda a multiculturalidade da população brasileira e a necessidade de permanente respeito aos direitos de todos”, afirma o MPF, em nota técnica.
Segundo os especialistas, a falta de reparação abre brechas para novas violações contra os povos indígenas. Um dos exemplos recentes, e que atingem o povo Krenak, é o rompimento da barragem em Mariana, em 2015, pela mineradora Samarco (Vale/BHP Billiton). O desastre matou 19 pessoas, impactou as comunidades do local e liberou 39 milhões de metros cúbicos no município mineiro — contaminando o Rio Doce. Esse rio, chamado Watu pelo povo Krenak, é considerado sagrado. “Eles se relacionam com ele como uma entidade personificada, assim como vários outros componentes naturais e paisagísticos da região que habitam. O Watu é fonte de conhecimento, de purificação, e de fortalecimento espiritual, o que demonstra sua importância sagrada. Com o crime da Samarco e a impossibilidade de acesso ao Watu, uma das principais reclamações deles passou a ser o enfraquecimento da sua espiritualidade, que até hoje vem causando vários problemas nas suas aldeias, algo que na medicina ocidental chamaríamos de ‘saúde mental'”, destacou o pesquisador Walison. Portanto, justiça e medidas de reparação também são fundamentais para garantir proteção futura aos povos indígenas.
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Que língua os Yanomamis falam?
Dentro do grupo étnico yanomami, são falados seis idiomas nativos. Três deles estão ameaçados de desaparecer.
Em yanomama, um dos idiomas yanomamis, televisão é utupë taamotima thë (mostrador de imagens); garfo se diz pore nahasi (unha de fantasma); e hospital, hanɨpratima yano (casa onde [as pessoas] são cortadas).
Já a palavra para “helicóptero” é tixo, que significa “beija-flor”, exemplifica o Instituto Socioambiental (ISA), organização da sociedade civil que atua na defesa da diversidade socioambiental brasileira, no livro Línguas Yanomami no Brasil, publicado pelo instituto em 2020.
Os yanomamis formam um dos grupos linguísticos mais relevantes para o patrimônio etnolinguístico nacional, segundo afirma o ISA. No total, existem seis idiomas falados pelos moradores da Terra Indígina Yanomami: yanomami, sanöma, ninam, yanomam, ỹaroamë e yãnoma.
A informação é do projeto de pesquisa de 2019 intitulado “Diversidade Linguística na Terra Indígena Yanomami”, desenvolvido pelo ISA, em parceria com a Hutukara Associação Yanomami e outras organizações indígenas, que identificou a sexta língua falada por este povo no país: o yãnoma. O livro Línguas Yanomami no Brasil deriva deste projeto de pesquisa.
(Relacionado: Yanomamis levam turistas de volta ao cume mais alto do Brasil)
O projeto faz um perfil de cada língua da família yanomami e aponta uma grande diversidade de dialetos dentro dos idiomas identificados, com pelo menos dezesseis variações dialetais. Das existentes, a língua yanomami mais falada no Brasil é o yanomam, com cerca de 11 mil e 700 falantes.
Além disso, a pesquisa mostra que essas nuances de idioma se misturam em pelo menos nove zonas de bilinguismo no território. “Essas zonas são ilustrações eloquentes do intenso contato que os yanomamis têm entre si”, afirma Ana Maria Machado, antropóloga do ISA, em artigo publicado no site oficial do instituto.
Idiomas yanomamis estão ameaçados
O projeto do ISA avaliou, ainda, como está a saúde dos idiomas dessa família linguística. Entre as principais ameaças a que estão submetidos está a intensificação do contato com a sociedade não indígena.
Segundo diz a antropóloga do ISA, “as línguas em maior contato com os brancos, seja por estarem em regiões de fronteira da Terra Indígena Yanomami ou por terem um fluxo muito grande de relações com os não índios, são as mais ameaçadas”. Por exemplo, o yanomami falado no Alto Rio Negro e as três línguas do limite leste da Terra Indígena Yanomami – ninam, ỹaroamë e yãnoma – são as que estão sob maior risco.
(Leia também: Pode a música salvar uma língua em extinção?)
Além disso, o livro Línguas Yanomami no Brasil revela algumas misturas e a “yanomização” das palavras após o contato com os brancos (ou os napëpë, no idioma yanomami). Por exemplo, para “piloto de avião” se usa apiama xẽe e, ou literalmente “sogro do avião”. No caso, o avião estaria trabalhando a serviço de quem o pilota porque, na cultura yanomami, os genros devem trabalhar para seus sogros.
https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura/2023/05/que-lingua-os-yanomamis-falam
Quantas línguas indígenas são faladas na América Latina?
O Brasil é o país da região com maior número de idiomas nativos, seguido pelo México e pela Colômbia.
No mundo, existem 8324 idiomas (falados ou em língua de sinais), dos quais cerca de 7 mil ainda estão em uso. Desses, quase 6700 são línguas indígenas, conforme indicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Na América Latina, os idiomas mais comuns são o espanhol e o português, mas existem muitas outras línguas igualmente ricas e valiosas. De acordo com o Banco Mundial, na região existem 560 línguas indígenas. Os cinco países com o maior número de idiomas nativos são: Brasil (186), México (67), Colômbia (65), Peru (47) e Venezuela (37).
As línguas indígenas estão em risco de desaparecer
O Plano de Ação Global da Década Internacional das Línguas Indígenas da Unesco (IDIL 2022-2032) afirma que “as línguas, com suas complexas implicações para a identidade, a diversidade cultural, a espiritualidade, a comunicação, a integração social, a educação e o desenvolvimento, têm uma importância crucial para as pessoas e o planeta”.
O documento da Unesco destaca que a língua é um componente fundamental dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, sendo essencial para a realização do desenvolvimento sustentável, da boa governança, da paz e da reconciliação. No entanto, adverte o Plano, elas estão desaparecendo a um ritmo alarmante.
De acordo com o Banco Mundial, uma em cada cinco comunidades indígenas perdeu sua língua materna nas últimas décadas. Por exemplo, nas ilhas do Caribe, quase todas desapareceram.
O organismo indica que 26% delas estão em risco de desaparecer, enquanto a Unesco considera que esse percentual ultrapassa os 40%.
(Conteúdo relacionado: Mulheres indígenas que estão à frente da preservação de povos amazônicos)
Conforme o Plano de Ação Global, o desaparecimento progressivo das línguas indígenas “está relacionado, na prática, com a discriminação estrutural a que foram submetidas, com a situação de vulnerabilidade de seus falantes e sinalizadores, cujo uso real de suas próprias línguas no dia a dia depende de suas realidades socioculturais, econômicas, políticas, ambientais e demográficas”.
Saiba mais:
Povo krahô vence em Cannes
80 anos após massacre liderado por fazendeiros, povo krahô vence em Cannes.
Por Peu Araújo – Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP) em 27/05/2023
Dirigido por Renée Nader Messora e João Salaviza, o longa-metragem “A Flor do Buriti” ganhou nesta sexta-feira (26 de maio) o Prix d’Ensemble, prêmio destinado a melhor equipe, no Festival de Cannes de 2023. O filme estreou em Cannes nesta terça-feira (23) com aplausos da plateia que duraram mais de 10 minutos.
“O festival está fazendo uma sinalização de que é importante trazer também para esse espaço um debate sobre como a gente vai continuar vivendo nessa terra. Não é só o nosso filme que é feito com indígenas, tem vários filmes nessa seleção e isso é um sinal de que realmente os olhos estão voltados para a situação do planeta, porque esses povos no fim das contas são quem estão segurando a queda do céu, como diz o (Davi) Kopenawa”
Renée Nader Messora, diretora de “A Flor do Buriti”.
Massacre Krahô em 1940
O longa-metragem traz a urgência de dois temas: a luta pela terra e as diferentes formas de resistência implementadas pela comunidade Krahô, localizada no Tocantins. O filme retrata também a história do massacre causado por fazendeiros na comunidade Krahô, em 1940. Segundo registros, dezenas de pessoas foram mortas.
“Tem essa história que traz uma emoção real e uma tristeza real para as próximas gerações. Está vivo, nós vamos levar isso para a comunidade, eles vão assistir com nós. Todo mundo vai chorar, todo mundo com certeza vai se emocionar e chorar, porque é a realidade que nós estamos mostrando”, diz Francisco H?jnõ Krahô, que atua no longa-metragem e trabalha na equipe de segurança da comunidade. H?jnõ fala ainda sobre a importância do filme: “A imagem é uma história. Sem a imagem ninguém vai ver a história, porque os mais jovens vão assistir ao filme e as imagens vão dizer que isso realmente aconteceu. O vídeo vai afirmar. ‘Sim, aconteceu sim’. A gente não tinha nascido, não tinha reconhecimento. O filme traz isso, traz essa informação pra gente.”
Criação com os Krahô
Para a realização do longa-metragem, os diretores Renée Nader Messora e João Salaviza exerceram diariamente o diálogo com a comunidade Krahô. Ao todo, foram 15 meses de filmagem. “O filme vai se construindo junto, na nossa relação, das coisas que a gente vai vivendo”, conta a diretora. A relação de Renée com a comunidade Krahô é muito mais antiga do que a gravação de “A Flor do Buriti ” e vai muito além do cinema. Ela explica: “O filme é uma consequência da nossa vida. O nosso projeto é muito mais um projeto de vida do que um projeto artístico. Em 2012 eu saí de São Paulo, aluguei uma casa em Itacajá, no Tocantins, e desde então é o lugar onde eu passo a maior parte do meu tempo”. Antes de retratar a vida dos Krahôs, Renée estabeleceu uma relação de troca com a comunidade com oficinas de técnicas audiovisuais. E dessas oficinas vieram os exercícios práticos.
“Eles entenderam primeiro que eles poderiam registrar festas, histórias, mitos, uma cantiga que só um idoso sabia, aquela memória poderia ser reativada no futuro. A coisa começou assim.”
Durante o projeto, a comunidade Krahô, com a ajuda de Renée e de outros membros da equipe, fez o seu próprio jornal. Toda semana uma pauta é definida e as gravações acontecem. E toda sexta-feira à noite eles projetavam o jornal para toda a aldeia. Protestos em Cannes Nesta quarta-feira (24), a equipe do filme “A Flor do Buriti” fez um protesto contra o Marco Temporal no tapete vermelho do Festival de Cannes. Com uma faixa escrito “o futuro das terras indígenas no Brasil está sob ameaça”, seguido da frase “não ao Marco Temporal”, a equipe cerrou os punhos e chamou a atenção para a votação que acontece no Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 7 de junho.
“O protesto foi importante para mim e para o meu povo. A minha preocupação não é só com o meu povo, é com parentes do Brasil inteiro. Esse protesto vai ser importante para que os parlamentares reflitam e pensem numa forma de não levar isso para a frente. Tem que dialogar”, afirma Francisco H?jnõ Krahô Esse não é o primeiro protesto que esta equipe faz em Cannes. Em 2018, no início do governo Bolsonaro, foram até Cannes falar em defesa da demarcação de terras. “Não tem outra razão para estarmos ali no tapete vermelho se não for assim”, conclui Renée.
Leia na fonte: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2023/05/27/80-anos-apos-massacre-liderado-por-fazendeiros-povo-kraho-vence-em-cannes.htm