Questões indígenas

Ipol e Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo (UCLPM) no I seminário de formação Intercultural educação, língua e cultura do povo awa guaja, em Santa Inês, Maranhão

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I seminário de formação Intercultural educação, língua e cultura do povo Awa Guajá

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Programação AWA

O IFMA realiza, de 15 a 17 de dezembro, no Campus Santa Inês, o I Seminário de Formação Intercultural: Educação, Língua e Cultura do Povo Awá Guajá, em parceria com a Funai.

A abertura do seminário acontece na segunda-feira (15), às 9h, com transmissão ao vivo pela TV IFMA, no YouTube, ampliando o acesso ao debate sobre as políticas educacionais voltadas aos povos indígenas de recente contato.A programação de abertura contará com mesa institucional e a palestra “Princípios da educação escolar indígena: bilíngue, diferenciada, específica e comunitária”, ministrada pelos professores Awá Guajá e José Bessa. Na parte da tarde uma mesa redonda aborda o tema Ensino e aprendizagem em contextos multilíngues com a presença de Rosangela Morello, coordenadora do IPOL.

Confira a cerimônia de abertura e assista ao vivo pelo canal da TV IFMA!

A programação do evento está aqui Seminário. Confira!!!


Para saber mais, confira a crônica  “Os Awa: uma escola na língua da gente”, publicado em junho de 2024 no site TAQUIPRATI por Jose Ribamar Bessa Freire, professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Jose Ribamar coordenou durante 30 anos o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (PROINDIO). Consultor do projeto Formação de Professores Indígenas Awa Guajá Awa Pape Mumu’u#771;ha Ma’a Kwa Mataha

https://www.taquiprati.com.br/cronica/1746-os-awa-uma-escola-na-lingua-da-gente

UCLPM na 8ª edição do Saberes Indígenas nas Escolas do RS (UFRGS)

Por Emanuelli Oliveira

Fonte: GT Geopolíticas do Multilinguismo.

Nos dias 24 e 25 de novembro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) realizou a 8ª edição da ação Saberes Indígenas nas Escolas, coordenada pela Profa. Dra. Rosani Kamury[1], que contou com a assessoria da Cátedra UNESCO em Políticas Linguísticas para o Multilinguismo, sediada na UFSC e coordenada pelo professor Gilvan Müller de Oliveira. A convite da ação, a Cátedra atuou como assessora desta edição de formação de professores Kaingáng do estado do RS.

O projeto “Saberes Indígenas na Escola” (SIE) na UFRGS é um programa nacional de formação continuada para professores indígenas, focado na produção de materiais didáticos bilíngues (línguas originárias e português) e na valorização da cultura Kaingang e Guarani, formando uma rede de educadores que criam seus próprios currículos e fortalecem a autonomia das escolas indígenas no Rio Grande do Sul, com financiamento do Ministério da Educação do Brasil.

A proposta apresentada teve como foco a inserção e promoção da língua kaingáng no ciberespaço, ressaltando a importância de fortalecer sua circulação em ambientes digitais, ampliar o acesso ao conhecimento e combater processos de invisibilização linguística.

Durante a atividade, foi iniciado o projeto Wikikaingáng, que incentiva a criação de uma Wikipédia em língua kaingáng cujo primeiro passo é a produção de verbetes escritos em língua kaingáng. O objetivo é promover a produção e valorização de conteúdos na língua, integrando diferentes saberes em um espaço colaborativo de escrita.

A iniciativa contou com a participação ativa da comunidade Kaingáng do RS, incluindo falantes, professores, anciãos e lideranças culturais, assegurando a viabilidade do projeto e que os conteúdos reflitam suas perspectivas e modos próprios de expressão. Por se tratar de um projeto aberto e contínuo, a proposta poderá incluir outras comunidades interessadas, fortalecendo a presença digital de diferentes variedades linguísticas e ampliando o alcance colaborativo da ação.

Os resultados foram expressivos: mais de 30 verbetes foram criados e inseridos na Incubadora Wikimedia em apenas dois dias, demonstrando o potencial da iniciativa e o engajamento coletivo no fortalecimento da presença digital do kaingáng. Os próximos passos do projeto incluem o envolvimento dos alunos das escolas kaingáng, ampliando a formação para a comunidade escolar e estimulando a continuidade da criação de verbetes como prática pedagógica e de fortalecimento linguístico.

A assessoria da Cátedra conta com a participação fundamental de Artur Correa, assistente de projetos da associação Wikimedia Brasil, e Emanuelli Oliveira[2], integrante do GT Geopolíticas do Multilinguismo, a seção estudantil da Cátedra UNESCO LPM, e mestranda do Programa de Pós-graduação em Linguística da UFSC.

Essa iniciativa e parceria reforça o compromisso com a presença digital das línguas indígenas, considerando metas da Década Internacional das Línguas Indígenas da UNESCO, destaca o papel das universidades públicas na promoção do multilinguismo e da valorização dos saberes tradicionais e, sobretudo, valoriza a agência dos professores indígenas na criação e desenvolvimento da primeira Wikipédia em uma língua indígena brasileira.

     

 

Siga a matéria na fonte: https://geomultling.ufsc.br/uclpm-na-8a-edicao-do-saberes-indigenas-nas-escolas-do-rs-ufrgs/

Adeus, Nacau Gakran!

 

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Adeus, Nacau Gakran!
É com muito pesar que anunciamos o falecimento hoje, em 09/12/2025, de nosso querido colega e colaborador Nacau Gakran.
Com palavras afetuosas e espírito acolhedor, Nacau fez parte de nossa equipe de pesquisadores e professores que atuam no campo da educação escolar indígena, sendo responsável por propor abordagens da e na língua xokléng/laklaño. Como aluno da Licenciatura Indígena da UFSC, afirmava sempre o seu compromisso com as demandas e sonhos de seu povo.
Com Nacau aprendemos que o que nos rodeia é parte de nós, e merece nossa atenção. Nacau nos deixou e por isso sentiremos saudade. Mas será sempre lembrado como um sopro de vida que cruzou nosso caminho. Nós do IPOL, agora queremos te dizer: vá em paz, querido Nacau!

Direto da trincheira: recentrando o mundo, amazonizando a COP

Fotomontagem: SOLL/SUMAUMA

 

Desde o último domingo, 2 de novembro, SUMAÚMA navega rumo a Belém com quase 100 lideranças indígenas, quilombolas e ribeirinhas, cientistas, jornalistas e artistas, iniciando a cobertura da primeira cúpula do clima na Amazônia a partir do conhecimento e dos valores da Floresta e de seus povos.

Nós, de SUMAÚMA, somos correspondentes de guerra, a guerra movida contra a Natureza. Um conflito desigual, em que a Natureza é massacrada e os humanos estão não caminhando, mas correndo rumo à extinção. Assim, chegamos à COP30 prontos para disputar um cenário coalhado de lobistas de petróleo, mineração, soja, carne, créditos de carbono. E disputar, para uma plataforma de jornalismo baseada na Amazônia, é contar a COP com o melhor do jornalismo tradicional – investigação, precisão, respeito à palavra exata, honestidade –, mas a partir das perspectivas, valores e linguagem dos povos que têm pouco espaço nas negociações. Se não fosse por eles, já não haveria nem floresta nem qualquer bioma em pé. Se não fosse por eles, que defendem a Natureza com seu corpo e com frequência inaceitável são assassinados por isso, nós nem estaríamos aqui tendo esta conversa, porque o planeta já seria impossível de habitar.

SUMAÚMA defende, desde seu manifesto de fundação, que os legítimos centros do mundo são onde está a vida – a Amazônia, os oceanos, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pantanal, a Caatinga, o Pampa, as outras florestas tropicais, todos os biomas. E não onde está o mercado – os centros políticos e econômicos onde o colapso do clima foi produzido e segue sendo produzido. Em SUMAÚMA, portanto, a Natureza primeiro. E isso inclui seus povos, não apenas os que os não Indígenas chamam de humanos, mas todos os humanos – animais, plantas, fungos, montanhas, rios… Esse é o entendimento horizontal que se opõe ao antropocentrismo, conhecimento presente na maioria das cosmogonias indígenas, e é também assim que SUMAÚMA compreende o mundo que somos. A floresta primeiro é o tronco da nossa cobertura. A partir desse valor que se enraíza em conhecimentos ancestrais, lançamos rios voadores para irrigar o debate que definirá nossa vida. E assim faremos na COP30.

Um exemplo de nossa cobertura é a entrevista feita pelo jornalista-floresta Wajã Xipai e pelo coidealizador de SUMAÚMA e jornalista do The Guardian, Jonathan Watts, com o secretário-geral da ONU, António Guterres. Foi a única entrevista individual que Guterres deu antes da COP e a primeira exclusiva a um jornalista indígena, repercutindo em diversos países. Wajã tem 19 anos, vive na Terra do Meio, no Pará, em sua aldeia, e fez a primeira edição do Micélio, o Programa de Coformação de Jornalistas-floresta de SUMAÚMA. Ao terminá-lo, foi contratado para nossa base em Altamira, um dos epicentros da destruição da Floresta Amazônica e de seus povos, um desvario que é o maior município do Brasil, a mais de 800 quilômetros de Belém.

SUMAÚMA, como já contamos tantas vezes, é um projeto de transmissão de poder. Em sete anos nossa redação será majoritariamente formada por jornalistas-floresta, inclusive em posições de comando. Em nosso programa com duração de um ano, a equipe-ponte ensina o jornalismo que fazemos há quase quatro décadas e as jovens* de população tradicional e das periferias urbanas nos ensinam como contam histórias e dão notícias, no caso dos Indígenas há mais de 10 mil anos na Amazônia. Deste encontro entre mundos são criados novos jornalismos, a partir de outros valores e conhecimentos. A diferença que faz um jornalista indígena fazendo perguntas a um secretário-geral da ONU a partir da experiência de ser floresta e de estar sendo dizimado nossos leitores podem constatar em nossa plataforma. É essa cobertura que estará na COP30 em Belém.

Em acelerada corrida rumo à extinção, precisamos ousar. E nós ousamos. Nos preparamos para a COP desde o início de 2025. Toda a nossa equipe e os jornalistas em coformação do Micélio, assim como colegas de outras plataformas de jornalismo amazônidas, fizeram, de março a outubro, um curso preparado a nosso pedido por Cristiane Fontes, a Krika. Com duas horas semanais, escutamos e debatemos sobre os principais temas da COP e para além da COP, porque a COP acaba mas a luta não. As melhores pessoas dentro e fora do Brasil, as que mais conheciam os assuntos em profundidade, deram 60 horas para nos prepararmos para a COP. Este curso em breve será um presente para nossos leitores-apoiadores.

RODA DE SONHOS: JORNALISTAS-FLORESTA MOSTRARÃO A COP QUE NINGUÉM VÊ, PORQUE O QUE SE ENTENDE COMO PERIFERIA É O LEGÍTIMO CENTRO. FOTO: SOLL/SUMAÚMA

Saiba mais seguindo a leitura na fonte: https://sumauma.com/direto-da-trincheira-recentrando-o-mundo-amazonizando-a-cop/

Censo 2022: Brasil tem 391 etnias e 295 línguas indígenas

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Editoria: IBGE | Jana Peters e Marília Loschi | Arte: Claudia Ferreira

Com 53.446 indígenas, etnia Makuxí é a terceira mais populosa do país – Foto: Mario Vilela/ Funai

Dados do Censo Demográfico 2022 mostram a existência de 391 etnias, povos ou grupos indígenas no Brasil. Do total da população indígena em 2022 (1.694.836 pessoas), 74,51% declararam etnia, sendo as etnias mais populosas Tikúna (74.061), Kokama (64.327) e Makuxí (53.446). No Censo de 2010, havia um total de 896.917 indígenas e 305 diferentes etnias.

O Censo identificou 295 línguas indígenas, com 474.856 falantes de dois anos ou mais de idade. As três línguas com maior número de falantes são: Tikúna (51.978), Guarani Kaiowá (38.658) e Guajajara (29.212), mas a pesquisa captou línguas faladas por grupos menores e até por uma única pessoa. Em 2010, foram identificadas 274 línguas entre os indígenas de cinco anos ou mais.

Entre 2010 e 2022, houve um aumento de falantes de língua indígena entre as pessoas indígenas de cinco anos, passando de 293.853 para 433.980 falantes. Contudo, percentualmente ocorreu uma redução no período: passando de 37,35% para 28,51%. Por outro lado, dentro de Terra Indígena, o peso de falantes de língua indígena se ampliou, passando de 57,35%, em 2010, para 63,22%, em 2022.

Estas informações fazem parte do Censo Demográfico 2022: Etnias e línguas indígenas – Principais características sociodemográficas – Resultados do universo, divulgado hoje (24) pelo IBGE.

O evento de divulgação acontece a partir das 10h no Instituto de Geociências da Unicamp, em Campinas (SP). Haverá transmissão ao vivo pelo IBGE Digital. Os dados poderão ser acessados no portal do IBGE e em plataformas como o SIDRA, o Panorama do Censo e a Plataforma Geográfica Interativa (PGI), sendo que nesses dois últimos poderão ser visualizados, também, por meio de mapas interativos.

Marta Antunes, gerente de Povos e Comunidades Tradicionais e Grupos Populacionais Específicos do IBGE, salienta que a importância desta divulgação reside no retrato da diversidade da população indígena no país. “O Brasil, quando você olha para outros países da América Latina, tem essa diversidade étnica e linguística. Esse quantitativo expressivo de etnias, esse quantitativo expressivo de línguas faladas”, comenta. “Ao mesmo tempo, a gente teve esse grande aumento da população indígena entre 2010 e 2022, de quase 90%. Então, havia muita curiosidade: quem são esses indígenas?”

 

Brasil registra aumento expressivo na diversidade étnica indígena

Com a passagem do número de etnias de 305, em 2010, para 391, em 2022, verificou-se que dentro de Terras Indígenas foram registrados 335 etnias, povos ou grupos indígenas em 2022, número acima daquele de 2010, que foi 250. Fora de Terras Indígenas foram contabilizados 373 etnias, povos ou grupos indígenas em 2022 e 300 em 2010.

Os resultados destacam as diversas formas de organização social dos povos indígenas e múltiplos fatores devem ser considerados na sua interpretação, como os movimentos migratórios, o processo de urbanização, os processos de autoafirmação e reemergência étnica, que ocorrem quando grupos indígenas voltam a se diferenciar perante outros grupos e a sociedade não indígena. “São pessoas que se declaravam indígenas, mas não acionavam o pertencimento a uma etnia povo ou grupo indígena específico, mas que ao longo dos anos vêm valorizando esse pertencimento fruto de diferentes processos socio organizativos. Nos últimos anos, fruto também do próprio Censo, isso passa a ser valorizado”, explica Marta Antunes. “Declarar para o IBGE o seu pertencimento àquela etnia passa a ser valorizado. Depois de anos de ocultação para lidar com o racismo, principalmente no contexto urbano, se reúnem condições favoráveis para a declaração do pertencimento étnico”.

Além da declaração de 75 novas etnias, não informadas em 2022, Marta destaca outros fatores que contribuem para um aumento no número de etnias, como processos de desagregação de subgrupos que passaram a se identificar como etnias distintas, migrações recentes (como a de indígenas venezuelanos e consolidadas, e melhorias na captação e validação dos dados realizadas pelo IBGE durante o Censo 2022.

Em 2022, 73,08% dos residentes declararam ao menos uma etnia. O Censo captou, pela primeira vez, a dupla declaração de etnia, permitindo que indígenas declarem seu duplo pertencimento étnico, e 1,43% do total de indígenas declarou pertencer a duas etnias.

“Há pessoas que acionam as etnias da mãe e do pai e declaram seu duplo pertencimento étnico. Não tinha como o IBGE pedir ao informante que dissesse qual é a principal. Isso é uma riqueza que o Censo conseguiu captar”, explicou Marta.

A declaração de dupla etnia é mais comum entre os jovens de até 29 anos residentes em Terras Indígenas. Na análise por sexo, verificam-se poucas diferenças na participação de mulheres e homens nas etnias declaradas como única ou dupla etnia.

Fora de Terras Indígenas, é preciso considerar as dinâmicas distintas conforme a localização, urbana ou rural, do domicílio. Em 2022, a população indígena fora de Terras Indígenas em áreas urbanas cresceu significativamente, de 324.834 pessoas em 2010 para 844.760 pessoas em 2022. Em áreas rurais fora de Terras Indígenas o aumento foi menor, de 80.663 pessoas em 2010 para 227.232 pessoas em 2022.

São Paulo tem o maior número de etnias, povos ou grupos indígenas

São Paulo é a Unidade da Federação com o maior número de etnias, povos ou grupos indígenas identificados pelo Censo. Ao todo, foram 271 etnias declaradas. Em seguida, destacam-se o Amazonas, com 259 etnias, e a Bahia, com 233.

Em todos os estados, com exceção do Amapá, ocorreu uma ampliação do total de etnias, com destaque para Amazonas, Bahia e Goiás, em termos absolutos. Já os estados com maior aumento percentual foram Mato Grosso do Sul, Roraima e Tocantins.

Os municípios com maiores quantitativos de etnias eram São Paulo/SP (194 etnias), seguido de Manaus/AM (186), Rio de Janeiro/RJ (176) e Salvador/BA (142). Em Brasília/DF, foram identificadas 167 etnias. Fora das capitais, os que apresentaram maiores quantitativos foram Campinas (SP), com 96 etnias, Santarém (PA), com 87 e Iranduba (AM), com 77. Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, atribui o aumento da diversidade étnica em cidades médias à presença de universidades, políticas de inclusão e mobilizações indígenas.

“Campinas, Foz do Iguaçu e cidades do Mato Grosso do Sul passaram a ser polos de atração da população indígena. Isso mudou o mapa da diversidade no Brasil na última década”, diz Fernando.

 

 

 

Tikúna é a maior etnia

A etnia Tikúna tinha o maior quantitativo de indígenas, com 74.061 pessoas, seguida pela etnia Kokama, com 64.327 pessoas, e a Makuxí, com 53.446 pessoas. Por outro lado, 21 etnias, povos ou grupos indígenas apresentaram menos de 15 pessoas.

Os Kokama são um dos principais exemplos de amplo crescimento de seu quantitativo entre 2010 e 2022. Os aperfeiçoamentos metodológicos do Censo 2022 e os processos de reafirmação identitária nos últimos anos tornaram os Kokama a segunda etnia mais populosa registrada no levantamento. Segundo Fernando Damasco, “habitantes do rio Amazonas, no lado peruano, e no rio Solimões, no lado brasileiro, os Kokama estão localizados principalmente fora de Terras Indígenas reconhecidas e em áreas urbanas. Além disso, têm um histórico de migração nas últimas décadas, principalmente proveniente do Peru. Nos últimos anos, fortaleceram suas formas de organização comunitária, com reinvindicações pelo acesso a direitos fundamentais. Com essa mobilização e as melhorias que efetuamos no levantamento, o retrato desse grupo no Brasil foi aperfeiçoado”. reafirmação étnica, somado à migração e à melhoria da captação nas cidades”.

Analisando as 29 etnias mais populosas (com mais de 10 mil pessoas), o maior percentual de pessoas residindo em Terra Indígena é da etnia Yanomami/Yanomán, com 94,34% de sua população nesta situação, seguida da Guajajara, com 80,28% e da Xavante, com 79,5%. A etnia com menor percentual vivendo em Terra Indígena é a Pankará, com apenas 0,13%.

 

Censo 2022 identifica 295 línguas indígenas, Tikúna é a mais falada

Os resultados do Censo mostram aumento do número de línguas indígenas faladas ou utilizadas no domicílio por pessoas indígenas de dois anos ou mais. Em 2010, eram 274 e, em 2022, 295 línguas. As quatro línguas com maior número de falantes são: Tikúna (51.978); Guarani Kaiowá (38.658); Guajajara (29.212); e Kaingang (27.482).

Entre 2010 e 2022, dentro das Terras Indígenas, houve um aumento de falantes de língua indígena entre as pessoas indígenas de cinco anos ou mais, passando de 293.853 para 433.980 falantes. Contudo, percentualmente, ocorreu uma redução entre 2010 (37,35%) e 2022 (28,51%).

“O avanço do português nas Terras Indígenas é um destaque dos resultados desse Censo. O principal fator é certamente a necessidade crescente de uso do português em necessidades da vida social, como estudo e trabalho, muitas vezes com deslocamento para áreas urbanas, ou com avanço da urbanização sobre as Terras Indígenas. A ausência de políticas educacionais específicas que garantam o ensino em línguas indígenas contribui decisivamente para esse cenário. Fatores históricos são relevantes, pois em muitas situações, por racismo e discriminação, os indígenas foram obrigados a deixar de utilizar as suas línguas no cotidiano e em espaços públicos, substituindo-as pelo português, o que impacta também o uso no domicílio. Apesar disso, esse Censo revelou também que, apesar da ampliação do uso do português, houve crescimento de falantes de línguas indígenas, seja por razões demográficas, seja pelo fortalecimento do uso das línguas pelos indígenas, por meio de ações de revitalização e de fomento da educação bilíngue”, explicou Fernando Damasco.

O Censo permitiu a declaração de até três línguas indígenas por pessoa, revelando regiões com forte multilinguismo, como o Alto Rio Negro, o Norte do Pará e o Parque do Xingu. A análise etária mostra que os falantes exclusivos de línguas indígenas são majoritariamente jovens, o que pode indicar potencial de continuidade.

“Os dados mostram que a transição do uso exclusivo da língua indígena para o uso combinado com o português ocorre principalmente entre jovens, a partir dos 15 anos de idade para os homens, e dos 20 a 24 anos para as mulheres. Essa mudança pode estar diretamente relacionada à entrada na escola, ao contato com o ensino formal e a necessidade de uso do português nos espaços de trabalho”, observou Fernando.

A distribuição dos falantes de língua indígena também revela desafios para o exercício da cidadania. “A oficialização das línguas indígenas é uma demanda central. Sem reconhecimento formal, os indígenas enfrentam barreiras no acesso a serviços públicos, como ausência de intérpretes em escolas e prefeituras. Isso afeta diretamente o acesso à cidadania”, destacou Fernando.

Taxa de alfabetização é mais elevada entre indígenas que falam apenas português

Das 1,19 milhão de pessoas indígenas de 15 anos ou mais, cerca de 308 mil são falantes de língua indígena. Destes, 78,55% (242 mil) são alfabetizados, uma taxa de alfabetização inferior à das pessoas indígenas como um todo, que foi de 84,95% em 2022. Na comparação com os dados de 2010, ocorreu uma redução significativa da taxa de analfabetismo: de 32,13% para 21,45%.

Ainda no grupo de pessoas indígenas de 15 anos ou mais, as que falam apenas línguas indígenas têm a taxa de analfabetismo mais elevada, 31,85%, seguida das que falam língua indígena e português no domicílio, 15,45%, e aquelas que não falam nem língua indígena e nem português no domicílio, 14,98%. Os indígenas que falam apenas português têm a taxa de alfabetização mais elevada, 87,21%.

Mais de 3 mil crianças yanomami não têm registro de nascimento

Considerando a população indígena de até cinco anos, 94,09% possuem registro de nascimento, totalizando 194 mil crianças com registro em cartório (89,12%) ou com Registro Administrativo de Nascimento Indígena – RANI (4,97%). O percentual de crianças de até cinco anos que não têm registro de nascimento foi de 5,42%, 4,91 p.p. acima na comparação com a população residente até cinco anos do país (0,51%), em 2022.

Entre as etnias com os maiores quantitativos de crianças de até cinco anos sem registro de nascimento, os destaques vão para os Yanomami/Yanomán, com 3.288 crianças sem registro, o que corresponde a 65,54%, seguido dos Sanumá, pertencentes ao mesmo agrupamento étnico, com 879 crianças sem registro (97,34%), e em seguida pelos Makuxí, com 748 crianças sem registro (7,89%).

Principais etnias enfrentam precariedades no saneamento básico

Como é possível que pessoas de etnias diferentes residam no mesmo domicílio, a divulgação de informações de saneamento básico (acesso à forma principal de abastecimento de água, destinação de esgoto e de lixo) está elaborada por moradores dos domicílios segundo sua etnia, povo ou grupo indígena. Outra consideração metodológica é que a análise excluiu os domicílios do tipo maloca e habitações indígenas sem parede, uma vez que são arranjos com suas próprias soluções culturais.

Considerando esta exceção, entre as etnias com maiores quantitativos de moradores em domicílios particulares permanentes sem acesso a água encanada até dentro do domicílio proveniente de rede geral de distribuição, poço, fonte, nascente ou mina, destacam-se os Tikúna, com 54.897 moradores nessa situação, correspondendo a 74,21% dos moradores desse grupo étnico, seguidos dos Guarani-Kaiowá, com 35.011 (70,77%), e dos Kokama, com 29.641 (46,26%). Os Guajajara, com 73,78%, representam mais de 27 mil indígenas nessa situação; Makuxí, com 51,52%, são mais de 26 mil. Em termos percentuais, destacam-se os Yanomami/Yanomán, com 93,07%, ou 7.343 pessoas.

Quando à destinação do esgoto, os maiores quantitativos de moradores que utilizavam fossa rudimentar, buraco, vala, rio, córrego, mar ou outra forma ou sem esgotamento devido a inexistência de banheiro ou sanitário estavam entre os Tikúna, com 68.670 moradores nessa situação, correspondendo a 92,82% dos moradores desse grupo étnico, seguidos dos Kokama, com 53.197 (83,02%) e dos Guarani-Kaiowá, com 40.590 (82,05%). Os Makuxí, com 72,23%, representam mais de 37 mil indígenas nessa situação; Kaingang, com 81,41%, são 36.941. Em termos percentuais, destacam-se os Guajajara, com 91,41%, ou 34.152 pessoas, e os Xacriabá, com 90,96%, mais de 12 mil pessoas.

Em relação à destinação do lixo, os maiores quantitativos de moradores sem acesso a serviço de coleta direta ou indireta do lixo estavam entre os Tikúna, com 56.660 moradores nessa situação, correspondendo a 76,59% dos moradores desse grupo étnico, seguidos dos Guarani-Kaiowá com 39.837 (80,53%) e dos Makuxí, com 36.329 (70,35%). Em termos percentuais, destacam-se os Guajajara, com 85,66%, cerca de 32 mil pessoas, e os Xavante, com 81,43%, mais de 15 mil pessoas.

Mais sobre a pesquisa

O Censo Demográfico é a mais completa operação estatística realizada no país, indo a todos os domicílios dos 5.570 municípios brasileiros. A divulgação “Censo 2022: Etnias e línguas indígenas: Principais características sociodemográficas – Resultados do universo” traz estatísticas sobre as diversidades étnica e linguística da população indígena, com indicadores de sexo, idade, alfabetização, registro de nascimento e acesso a saneamento básico, desagregadas segundo as etnias, povos ou grupos indígenas a que pertencem.

As informações contemplam os seguintes recortes territoriais: Brasil, Grandes Regiões, Unidades da Federação, Municípios, Amazônia Legal, Amazônia Legal por Unidades da Federação, Terras Indígenas e Terras Indígenas por Unidades da Federação.

Confira a matéria na fonte: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/44848-censo-2022-brasil-tem-391-etnias-e-295-linguas-indigenas

 

 

CNJ lança manual para fortalecer acesso de povos indígenas à Justiça

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Foto Romulo Serpa – CNJ

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no âmbito do Programa Justiça Plural, lançou o Manual de Implementação daResolução n. 454/2022, que reúne orientações para que o Poder Judiciário assegure o acesso à Justiça a pessoas, comunidades e povos indígenas.

“O Manual oferece diretrizes práticas para questões específicas como comunicação processual, realização de perícias antropológicas, depoimentos em línguas indígenas, direitos de crianças e adolescentes indígenas, demandas territoriais, criminais e trabalhistas, entre outras”, explica João Paulo Schoucair, conselheiro do CNJ e coordenador do Fórum Nacional do Poder Judiciário para monitoramento e efetividade das demandas relacionadas aos Povos Indígenas (Fonepi).

Acesse o Manual de Implementação da Resolução n. 454/2022

Entre essas diretrizes, destaca-se a importância de formar mediadoras e mediadores, conciliadoras e conciliadores e intérpretes indígenas, a fim de fortalecer o protagonismo das próprias comunidades na resolução de conflitos, além de garantir processos culturalmente adequados às particularidades de cada povo.

Nas demandas que envolvem mulheres, crianças, adolescentes e pessoas indígenas privadas de liberdade, o texto orienta a observância dos protocolos específicos do CNJ voltados à proteção de grupos vulneráveis e à adoção de procedimentos sensíveis às diferenças culturais.

Também recomenda a realização de mutirões de atualização processual, com o objetivo de garantir a correta identificação de pessoas e comunidades indígenas nos registros judiciais. Outro ponto central é a necessidade de adequação de sistemas informatizados para incluir campos específicos que registrem a identidade e a etnia das partes envolvidas nos processos.

Paradigmas

A publicação é resultado de um amplo processo de diálogo intercultural que se iniciou no Grupo de Trabalho “Direitos Indígenas: Acesso à Justiça e Singularidades Processuais”, instituído pelo CNJ. O grupo foi composto por lideranças indígenas, magistradas e magistrados, representantes do Ministério Público, da Defensoria Pública, da OAB, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), além de pesquisadoras e pesquisadores, antropólogas e antropólogos e organizações da sociedade civil.

Esse trabalho em conjunto permitiu uma troca inédita entre o conhecimento jurídico e os saberes tradicionais dos povos indígenas. Isso deu mais legitimidade e consistência técnica à Resolução CNJ nº 454/2022 e ao manual, que transforma esses princípios em orientações práticas para o trabalho do Judiciário.

“O diálogo estabelecido no Grupo de Trabalho foi fundamental para que a Resolução 454 e este manual refletissem as nossas vozes, nossas práticas e nossos modos de compreender a justiça”, ressaltou Samara Pataxó, jurista indígena e embaixadora do Observatório dos Direitos Humanos do Poder Judiciário (ODH/CNJ), que também integrou o Grupo de Trabalho que deu origem à proposta da Resolução n. 454/2022.

O Grupo de Trabalho se uniu para mudar a ideia antiga de que os povos indígenas precisam ser tutelados. O objetivo foi reafirmar que eles têm total capacidade de decidir e agir por si mesmos, como garantem a Constituição de 1988 e acordos internacionais assinados pelo Brasil, como a Convenção 169 da OIT e as declarações da ONU e da OEA sobre os direitos dos povos indígenas.

O manual reúne essas ideias e coloca em prática princípios como o direito de os povos se identificarem por si mesmos, o diálogo entre diferentes culturas, o respeito aos territórios e às formas próprias de cada povo resolver seus conflitos. Além de explicar esses conceitos, o documento também traz orientações práticas para que a Justiça atue de forma mais adequada e respeitosa à diversidade étnica do Brasil.

Programa Justiça Plural

A publicação também contou com o apoio do programa Justiça Plural, iniciativa do CNJ em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) que busca fortalecer as capacidades do Poder Judiciário na promoção dos direitos humanos e socioambientais e na ampliação do acesso à Justiça por populações estruturalmente vulnerabilizadas.

Texto: Lali Mareco
Edição: Sâmia Bechelane
Agência CNJ de Notícias

Confira a matéria diretamente no site CNJ: https://www.cnj.jus.br/cnj-lanca-manual-para-fortalecer-acesso-de-povos-indigenas-a-justica/

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