Revista Boletim do Observatório da Diversidade Cultural – 98ª Edição
A 98ª Edição da Revista Boletim do Observatório da Diversidade Cultural tem como tema os “desafios da institucionalidade da cultura”.
A última edição de 2022 reúne pesquisadores, gestores e agentes culturais, além de integrantes de conselhos de políticas culturais, para uma reflexão acerca da institucionalidade da cultura e dos desafios para o futuro da gestão e das políticas públicas de cultura no Brasil. Além de abordagens críticas, alguns artigos buscaram pensar o futuro a partir da reconstrução do Ministério da Cultura e da centralidade da cultura no processo de retomada da democracia no país.
Universidade do Estado do Amazonas lança site com acessibilidade para pessoas surdas
Portal da Coordenação de Políticas para a Pessoa Surda da Universidade do Estado do Amazonas disponibiliza materiais em Libras produzidos por equipe de tradutores
Com o objetivo de tornar a universidade um ambiente mais acessível linguisticamente, a Coordenação de Políticas para a Pessoa Surda da Universidade do Estado do Amazonas (Copps/UEA) lançou site com ferramentas acessíveis para atender à comunidade acadêmica, especialmente por meio de tradução de materiais para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). No portal, serão centralizadas informações como notícias, editais, artigos, livros, entre outras.
O site conta ainda com um repositório em que são disponibilizados materiais em Libras produzidos pela equipe de tradutores da Copps. Há também um espaço dedicado a conteúdos de legislações, resoluções e portarias voltadas às políticas linguísticas para surdos na instituição.
Segundo o coordenador titular da Copps, professor mestre Marcos Roberto dos Santos, o site possibilita o acesso de alunos e professores da UEA a materiais acadêmicos importantes, como o lançamento de editais com informações traduzidas. Ele destaca que a iniciativa reforça ainda mais as políticas linguísticas para surdos que contribuem com o acesso e permanência da comunidade surda na universidade.
“Por meio do site, a Copps busca trazer, de forma acessível, informações que são de interesse de toda a comunidade acadêmica. A ideia é ofertar um espaço que represente as pessoas surdas, que tenha a identidade, a cultura e a língua delas ali fortalecidas. Nosso objetivo é que todos os dados do site estejam disponíveis em Libras”, explicou.
Apoio à inclusão
Além de oferecer a tradução dos materiais, a Copps tem uma equipe de profissionais tradutores e intérpretes de Libras que atua em diferentes atividades acadêmicas, como aulas, eventos e transmissões ao vivo.
Atualmente, a UEA conta com 19 tradutores e intérpretes de Libras em Manaus, 14 em Parintins e dois em Tabatinga. No site da coordenação, professores e coordenadores de cursos também podem acessar o formulário de solicitação de intérprete para eventos.
A intérprete de Libras, Samara Rodrigues, que presta serviços para a UEA há um ano, explica que o novo portal da Copps otimiza o processo de envio de documentação para a coordenação, processo realizado mensalmente por todos os intérpretes. Ela destaca a importância dos serviços para a inclusão dos surdos na UEA.
“Ao entrar na universidade, o aluno surdo geralmente tem um texto em Língua Portuguesa que não é sua língua materna. A sua língua materna é Libras (L1). Quando ele tem acesso às traduções, o estudante tem um desenvolvimento melhor no seu cotidiano, um aprendizado aprimorado e no portal ele tem acesso a livros e artigos traduzidos”, assinalou.
Sobre a Copps
Criada em setembro de 2020, a Copps tem o objetivo de demarcar e estabelecer políticas linguísticas institucionais de acesso e permanência para alunos, professores, bem como a comunidade surda em geral, nas ações da UEA.
A coordenação foi estabelecida com a proposta de discutir todas as políticas dessa comunidade desde o ingresso na universidade, até a permanência, tradução, interpretação e elaboração de materiais acadêmicos e informativos, assim como apoio aos docentes e discentes.
O link para acesso ao site da Copps é: https://copps.uea.edu.br/.
FONTE: Agência Amazonas
Estudante de Direito defende pesquisa inédita sobre normas jurídicas do seu povo, os Sateré-Mawé
“Se isso um dia foi do povo Sateré-Mawé nós também temos direito”. Com uma frase do seu pai, João Ferreira de Souza, o João Sateré, Jafé Ferreira de Souza abre um estudo inédito e que representa um legado para o seu povo de origem e para a Universidade Federal de Santa Catarina. A monografia As normas consuetudinárias do Povo Sateré-Mawé (Amazonas) enquanto ordenamento jurídico: Princípios e fontes à luz do Pluralismo Jurídico de Santi Romano faz uma análise de instituições, fenômenos jurídicos e de princípios norteadores que regem a nação indígena Sateré-Mawé, presente na bacia do rio Amazonas.
Jafé defendeu a pesquisa junto ao curso de Direito na quinta-feira, 8 de dezembro, sob orientação do professor Arno Dal Ri Jr. Fruto de uma linhagem de liderança entre os Sateré-Mawé, Ywania Sateré (U’T), ele escolheu a UFSC para fazer sua faculdade, tornando-se o primeiro bacharel em Direito do seu povo. Participaram da banca os professores Antonio Carlos Wolkmer, Diego Nunes e Mariana Malacrida.
O objeto de estudo de Jafé Sateré, recentemente aprovado para dar seguimento à pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Direito, são as normas consuetudinárias, que dizem respeito aos costumes de um povo. “Dentre os 305 povos indígenas existentes, com as mais de 270 línguas indígenas, o povo Sateré-Mawé, é constituído, por assim dizer, de um ordenamento jurídico próprio de caráter não estatal segundo os seus costumes e tradições”, sinaliza o estudo.
De acordo com o pesquisador, no caso dos Sateré-Mawé, as normas são executadas milenarmente por intermédio dos rituais. “O direito originário está demarcado na memória dos ancestrais. E como direito originário, como o primeiro direito, temos o direito à terra”, exemplifica.
No caderno de campo que construiu sua pesquisa, baseada em intensa entrevista e observação in loco na Andirá-Marau, o acadêmico registrou que os Sateré-Mawé estão em locais ricos em biodiversidade, o que faz com que sejam mais do que defensores do meio ambiente e guardiões da floresta: eles detêm o conhecimento pleno sobre a fauna e flora por permanecerem na Terra.
“A vida, a cosmologia, a terra, e todos os saberes e ciências próprios não são assuntos desconhecidos, pelo contrário há domínio sobre o meio em que vivem. Por esta razão, por serem conhecedores do ambiente territorial onde se localizam, acreditam que o direito originário é o primeiro direito”, indica, no estudo.
De acordo com a pesquisa defendida por ele, a Constituição Federal é um dispositivo que positivou um direito originário, consagrando questões sobre organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, além dos direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Este processo desencadeou na demarcação das terras indígenas. No caso dos Sateré-Mawé, relata Jafé, as terras foram invadidas por uma empresa e houve intensa mobilização nacional e internacional, com a demarcação datada de 1986.
“Existe uma operação política quando você positiva uma norma, pois cria-se um direito à não inclusão. Então, você está positivando e tutelando”, critica Jafé Sateré. Ele se refere ao fato de a Constituição Federal criar uma norma de reconhecimento dos direitos indígenas, mas ao mesmo tempo colocá-los como indivíduos que devem ser tutelados pelo Estado, mesmo que já tenham seus próprios costumes, tradições, rituais, ordenamento jurídico próprio e modos de vida.
Guaraná (Waranã)
Os Sateré-Mawé são os originadores da cultura do Guaraná, são os filhos do Guaraná, que está presente no mito de origem do povo, descrito na monografia de Jafé Sateré. O protagonismo da fruta também está presente em rituais milenares que os Sateré-Mawé realizam como práticas dos costumes e das tradições. Tais rituais e protocolos são vistos como fonte de normas jurídicas consuetudinárias igualmente abordadas na pesquisa do acadêmico.
Um deles é o denominado Wará, que demanda lideranças para constituição de um conselho ou reunião, como descreve o trabalho. Durante este ritual, pronunciamentos a respeito do trabalho são executados e procedimentos e atividades assentados e deferidos. “O ritual do Wará faz jus ao ofício de chancela na tomada de decisão de quaisquer que fossem os planejamentos acertados entre o conselho ou reunião”, descreve.
Qualquer que seja as tomadas de decisões, a cuia de sapó – bebida tradicional que consiste na guaraná ralado num recipiente – é simultaneamente repassada para os participantes do conselho de pajés. “Disso temos que o ritual do Wara obtém êxito de validade e de eficiência como fonte originária regulamentadora de protocolos que antecedem as tomadas de decisões”.
O trabalho também descreve o Puretig, que segundo os Sateré-Mawé é frequentemente tratado como sendo uma Constituição. Jafé escreve que “esta peça é de grande relevância no sistema político, social e cultural, assim como no ordenamento jurídico não estatal deste povo originário”. O Puretig é materializado numa espécie de remo sagrado – peça de madeira com aproximadamente 1,50m de altura, com desenhos geométricos gravados em baixo relevo, recobertos com tinta branca, a tabatinga. “Neles estão gravados o que deve ser seguido de forma abstrata e de cunho moral para a sociedade Sateré-Mawé”, explica na pesquisa.
No estudo, o pesquisador também faz uma distinção entre os princípios jurídicos – que são conjunto de fatores ou de elementos essenciais que satisfazem as ordem dos rituais Sateré-Mawé -, e os ritos, que são considerados nulos e sem fundamentos e objetivos não fossem esses princípios. “O ordenamento que a monografia traz tem caráter moral, de vivência, das condutas que são praticadas diariamente”, explica.
O trabalho de Jafé também foi de cunho antropológico, sociológico e histórico quanto ao seu povo. Ele precisou entrevistar lideranças tradicionais para recuperar e traduzir em linguagem científica, técnico-jurídica, registros normativos consuetudinário que passavam de geração para geração oralmente ou pela experiência.
Liderança
Jafé Ferreira de Souza, ou Jafé Sateré como é conhecido, é uma liderança tradicional da nação Sateré-Mawé e também um embaixador do seu povo, por conta do caminho de cerca de 3 mil quilômetros que separam Florianópolis da região de Parintins e da aldeia onde nasceu, Ponta Alegre, no estado do Amazonas. Ele, que chegou a estudar Engenharia da Computação na Universidade Estadual do Amazonas, mas desistiu por conta da inclinação às Ciências Jurídicas, escolheu a UFSC após uma pesquisa sobre as instituições brasileiras que eram referência no ensino de Direito.
A importância da família e também da comunidade na sua formação foram fundamentais para a construção da monografia. Jafé fala com muito orgulho sobre a construção da liderança do seu pai, João Sateré, que estudou até a quarta série do Ensino Fundamental, mas percorreu o mundo representando seu povo e o movimento indígena. “Meu pai é um sábio do nosso povo, esteve à frente de muitas lutas, inclusive em nível nacional e internacional. Ele foi um dos fundadores do movimento indígena do Amazonas. Isso me possibilitou um salto maior nos estudos”, conta.
O acadêmico sente orgulho de ser formado por meio das políticas de ações afirmativas e, durante o percurso na universidade, teve participação em diversas ações e políticas internas: participou de palestras, grupos de estudo, atividades estudantis, congresso de direito. Também integrou o movimento indígena na universidade. Além de ter estagiado em órgãos do Judiciário, ele também participou de atividades de monitoria para indígenas e quilombolas da UFSC.
Já aprovado no mestrado, em que pretende dar continuidade na pesquisa e estudar as normas consuetudinárias do povo Sateré-Mawé com ênfase questões criminais, ele tem o objetivo de, brevemente, prestar o concurso da Ordem dos Advogados do Brasil. Ser juiz federal também está entre os seus planos.
Em 2019, ele participou de um dos episódios do Vida UFSC. “A gente acredita que a grande arma que temos hoje seria a interpretação das leis, porque geralmente algo vem de cima para baixo e não de baixo para cima”, indicou. Hoje, prestes a se tornar o primeiro jurista Sateré-Mawé, está pronto também para apresentar o resultado dos anos de atividade acadêmica e de imersão ao seu povo.
FONTE: Agecom/UFSC
Dossiê Especial: Migrações contemporâneas, português língua de acolhimento e políticas linguísticas
Revista Linguagem, Ensino e Educação – Lendu, do curso de Letras da Unesc, acaba de publicar seu mais recente número.
Dossiê Especial: Migrações contemporâneas, português língua de acolhimento e políticas linguísticas, disponível AQUI
Convidamos a navegar no sumário da revista para acessar os artigos!
MPF recomenda que Secretaria de Segurança da PB permita que indígenas tenham nome de etnia em carteira de identidade
Órgão alega que medida é constitucional e assegura concretização de direitos referentes à cultura e identidade dos povos
Indígenas Tabajara. Crédito da foto: Ascom MPF/PB
O Ministério Público Federal (MPF) expediu recomendação à Secretaria de Estado da Segurança e Defesa Social da Paraíba, para que insira informação referente ao pertencimento étnico do indígena, que assim o desejar, no campo “observação” do documento oficial de identificação (RG). Para o MPF, tal medida, além de não encontrar impedimento legal, assegura ao indígena a concretização de direitos referentes à cultura e identidade, a partir da certificação de sua identidade étnica, de modo a reconhecer sua organização social, língua, crença, tradições e costumes.
O procurador Renan Paes Felix justificou na recomendação que a informação referente ao pertencimento étnico do indígena também “é importante para que o Estado tenha em mão o quantitativo de indígenas de cada etnia, de maneira a otimizar a adoção de políticas públicas específicas e de proteção das comunidades indígenas locais”. O membro do MPF ressaltou que “a medida não encontra vedação no ordenamento jurídico, e prestigia aspirações constitucionais, supralegais e legais, o que torna indispensável sua implementação”.
No documento, o procurador da República cita que compete ao Ministério Público Federal a responsabilidade de defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas. Lembra, também, que a Constituição Federal reconhece aos indígenas sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições. Pontua, ainda, que a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas estabelece que todos têm o direito coletivo e individual de manter e desenvolver suas características e identidades étnicas e culturais distintas, incluindo o direito à autoidentificação.
A recomendação foi expedida a partir de representação do Coletivo Indígena Colmeia. O MPF fixou prazo de 15 dias para que o Estado da Paraíba informe se acata a recomendação e relate as ações e cronograma previstos para seu cumprimento. Ou, por outro lado, apresente justificativa que explique, fundamentadamente, os motivos pelos quais entende não ser possível o cumprimento da medida recomendada.
Procedimento nº 1.24.000.001282/2022-99
Diálogos sobre a Educação reúne autoridades e especialistas em Brasília
Realizado pela OEI no Brasil, evento apresenta dados inéditos sobre a qualidade da educação brasileira, com mais 5 mil questionários aplicados em pesquisa sobre a Primeira Infância; evento será presencial, com transmissão ao vivo pela internet e inscrições podem ser feitas gratuitamente.
Estão abertas as inscrições para a segunda edição do Diálogos sobre a Educação da Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), que reunirá autoridades, juristas, gestores e especialistas da Educação com o objetivo de discutir os principais desafios da Educação brasileira.
O evento contará com a participação de nomes relevantes como José Henrique Paim, ex-ministro da Educação e atual coordenador da equipe de transição na área da educação; Benjamin Zymler, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU); Francisco Gaetani, especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental; Nuno Crato, ex-ministro da Educação de Portugal; Maria Helena Guimarães Castro, Presidente do Conselho Nacional de Educação; Fernanda Castro Marques, do Movimento Colabora Educação; além de outros 30 especialistas na área.
Nos três dias de evento serão discutidos temas como a Educação brasileira oferecida às crianças de zero a 6 anos, com a divulgação dos resultados da pesquisa do projeto “Primeiros Anos”; a relevância do bilinguismo com foco nos idiomas português e espanhol, falados por mais de 800 milhões de pessoas no mundo; e a importância da governança na Educação, com a avaliação de projetos considerados importantes no atual contexto.
As inscrições para participar do Diálogos sobre a Educação – 2ª Edição, promovido pela OEI no Brasil são gratuitas e podem ser feitas no site https://oei.int/pt/escritorios/brasil. O evento também será transmitido ao vivo no canal da organização no YouTube – https://www.youtube.com/oeibrasil .