Conferência internacional: POLIGLOTISMO, INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NO SUL GLOBAL: DIÁLOGOS INTER-CONTINENTAIS NO SÉCULO XXI
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POLIGLOTISMO, INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NO SUL GLOBAL: DIÁLOGOS INTER-CONTINENTAIS NO SÉCULO XXI
Maputo, Campus principal da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), De 4 a 6 de Dezembro de 2024
Pela Diversidade Linguística e Integração no Sul Global
Objectivos da Conferência:
– Promover a valorização das línguas, culturas, amizade e a fraternidade entre os povos;
– Dar maior visibilidade ao poliglotismo como ferramenta de desenvolvimento para os países do Sul Global;
– Contribuir para a valorização do ser humano num mundo caracterizado por intensas integrações.
Resumo Executivo
Dia 4/12: Abertura oficial e realização de plenárias;
Dia 5/12: Realização de mesas-redondas;
Dia 6/12: Lançamento do Movimento Poliglota em Moçambique.
Modelo do evento: Híbrido.Língua oficial do evento:
Português, com tradução simultânea para Inglês e Espanhol via Zoom.
A Conferência Internacional POLIGLOTISMO, INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NO SUL GLOBAL: DIÁLOGOS INTER-CONTINENTAIS NO SÉCULO XXI, que tem como lema “Pela Diversidade Linguística e Integração no Sul Global”, é uma iniciativa conjunta do Instituto Yglota de Poliglotismo e Integração, sediado na região trinacional do Iguaçu (Brasil, Argentina, Paraguai) e de pesquisadores moçambicanos integrados em algumas das Universidades de Moçambique, das quais destacamos as Universidades Eduardo Mondlane (UEM), onde será realizado o evento, a Universidade Aberta ISCED (UNISCED), Universidade Save (UNISAVE), Universidade WUTIVI (UNITIVA) e Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC).
O evento o congrega pesquisadores e activistas pela defesa e valorização de línguas, culturas, integração e desenvolvimento dos povos de alguns países de África, América do Sul, América do Norte, Europa e Ásia, com o objectivo de promover o diálogo inter-continental em torno do poliglotismo, integração e desenvolvimento, com maior ênfase para a região do Sul Global.
A aproximação e integração dos povos, bem como a valorização das línguas e culturas constituem um imperativo do Século XXI de modo a garantir-se o equilíbrio inter-geracional e assegurar a sustentabilidade e resiliência na gestão dos recursos, incluindo o capital humano, razão pela qual as acções de indivíduos, instituições e governos devem estar associadas nas metas de desenvolvimento do milénio e na promoção da estabilidade geopolítica assente na substituição das guerras do passado pela consolidação da paz no presente e no futuro no mundo. E para o efeito, o poliglotismo desempenha um papel importante neste processo uma vez que a aprendizagem e o uso de diferentes línguas e valorização das diversas e diferentes culturas pelo indivíduo e pela sociedade constitui uma das ferramentas mais eficientes para a compreensão do Outro e para a criação de laços de amizade, concórdia e fraternidade entre os povos, sendo esta uma das formas mais eficazes para diminuir as tensões inter-étnicas e inter-culturais. Ademais, o poliglotismo e a integração apresentam vantagens econômicas concretas considerada a sua aplicação na educação, na saúde pública, e no turismo. A Conferência Internacional representa o início de diálogo inovador, em que a diversidade linguística, cultural e étnica entre os povos do Sul Global ganha capital importância e erige-se como tema central para a aproximação dos povos e o desenvolvimento económico, a partir da discussão e cotejo das especificidades e convergências das diferentes realidades, pois apesar de sermos separados por rios, mares e oceanos temos todos o mesmo denominador comum: a valorização dos povos nas suas múltiplas e complexas diferenças.
Por isso, Moçambique, ao receber esta Conferência Internacional inscreve o seu nome no panorama internacional como uma país que que valoriza a diversidade e promove a integração dos diferentes, dos desiguais e dos desconectados num mundo cada vez mais globalizado e no qual as línguas e culturas, mais do serem vistas como forma de expressão de identidades, devem ser, também, encaradas como instrumentos impulsionadores de integração e desenvolvimentos dos Estados e respectivos povos.
Programação
PRIMEIRO DIA
04/12 (Quarta-feira)
14:00 – 15:30 Plenária de abertura.
15:35 – 16:25 Plenária principal 1
Título: O Papel das línguas na qualidade da educação e na formação do espírito de cidadania.
Oradores:
– Prof. Doutor Feliciano Chimbutana (UEM)
– Profª. Doutora Maria Elena Pires-Santos (UNIOESTE – Brasil)
– Profª. Doutora Ângela Souza (UNILA – Brasil)
– Prof. Doutor Mário Ramão (UNILA – Brasil)
– Prof. Doutor Eduardo Navarro (USP)
– Prof. Doutor David Galeano Olivera (Ateneo de Lengua y Cultura Guaraní- Paraguai)
16:30 – 17:20 Plenária principal 2
Título: O Poliglotismo como ferramenta de integração sócio-cultural e desenvolvimento económico dos países do Sul Global.
Oradores:
– Prof. Doutor Gervásio Absolone (UEM)
– Profª. Doutora Ísis Berger (UNIOESTE – Brasil)
– Gestor de Projetos Diogo Marcel, Presidente do Conselho Municipal de Turismo de Foz do Iguaçu (COMTUR – Brasil)
– MsC. Otto Mendonça (Instituto Yglota | Poliglotismo e Integração)
– Prof. Lic. Hugo López (Instituto Tecnológico Iguazu – Argentina)17:20 – 17:30 Fim dos trabalhos para o primeiro dia.
SEGUNDO DIA
05/12 (Quinta-feira)09:05 – 10:35 Mesa-redonda 1
Um olhar sobre os 50 anos das Políticas Linguísticas de Moçambique: Desafios e perspectivas.
Moderador: Mestre Danifo Chutumiá (ISUTC)- Prof. Doutor Ilídio Macaringue (UNISCED)
– Prof. Doutor Beltamiro Patrício (UNISAVE)
– Mestre Lucério Gundane (UNISAVE)
10:45 – 12:15 Mesa-redonda 2
Tikwini tirimi ta Mosambiki a sekundarya: Mabulu ya kuyaka mundzuku“Onde estão as línguas moçambicanas no ensino secundária: Um debate futurista”Moderador: Prof. Doutor Gervásio Absolone (UEM)- Prof. Doutor David Langa (UEM)
– Profª. Doutora Célia Cossa (UP)
– Lic. Egídio Monjane (INDE)
– Mestre Atanásio Majuisse (IFP de Matola)
– Representante de Direcção Nacional de Ensino Secundário, MINEDH
13:00 – 14:30 Mesa-redonda 3
Poliglotismo no Brasil, Poliglotismo na África: especificidades e convergências
Moderador: Mestre Dherek Cabral (Instituto Yglota)- Georgos Jurobola (Clube Polglota Brasil)
– Juliano Timbó (Poliglotar)
– Otto Mendonça (Instituto Yglota)Organizadores do African Languages Conference (Conferência de Línguas Africanas)
– Avishta Seeras (The Lingua-Cultura Experience / Cultura Connector)
– Ady Namaran Coulibaly (Bolingo Consult)
– Christian Elongué (Kabod Group)Organizadores do Ongea Afrika (Polyglot Movement Afrika)
– Edson Osmond (Tanzania)
– Maureen Motho (Quénia)
14:40 – 16:10 Mesa-redonda 4
Diversidade Linguística e Saúde Pública: desafios em contextos fronteiriços e migratórios.
Moderadora: Mestre Layse de Souza (Instituto Yglota)- Prof. Doutor Henrique Mateus – Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique)
– Profª. Doutora Rosângela Morello – IPOL (Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Políticas Linguísticas)
– Profa. Doutora Denise Rissato (Mestrado em Saúde Pública em Região de Fronteira – UNIOESTE)
– Lic. Ignacio Peña Ruiz – Asociación Salud Entre Culturas (Espanha)
16:10 – 16:30 Leitura da síntese do evento e Encerramento.
TERCEIRO DIA
06/12 (Sexta-feira)
Manhã 08:00–13:00 Lançamento do Movimento Poliglota Moçambique em Maputo. Projecto Itinerante de Promoção de Línguas e Culturas em comunidades.
Confira link original:
https://poliglotismosulglobal.carrd.co/
Infográfico revela os idiomas mais falados do mundo
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O inglês não é um dos mais falados e apenas 23 línguas abrigam 4,1 bilhões de falantes.
A diversidade das línguas no mundo é um fenômeno fascinante. Como exemplo, existem estimativas de que apenas 3% da população fala 96% dos idiomas existentes. Essa realidade ressalta a presença de línguas hegemônicas, enquanto outras estão em risco de extinção.
A perda de uma língua representa uma diminuição significativa nos tesouros culturais da humanidade. No entanto, um infográfico produzido pelo South China Morning Post em 2015 revela que menos de 20 idiomas dominam amplamente o cenário global.
A colonização histórica influenciou a disseminação de certas línguas, como o francês, que ainda se destaca em antigas colônias. Dentro das grandes línguas, há uma variedade de dialetos que ilustram ainda mais a pluralidade linguística.
Os idiomas mais destacados são:
- Chinês
- Espanhol
- Hindu
- Inglês
- Francês
A língua portuguesa, por exemplo, é quase totalmente dominada pelo Brasil, com uma minoria de falantes em Portugal, de onde é originária.
Já o espanhol tem sua maior origem no México, seguido por Argentina e Colômbia.
Confira o gráfico completo a seguir:
Confira matéria no link: Infográfico revela os idiomas mais falados do mundo; veja
Confira também a publicaçConfira a publicação original:
https://www.scmp.com/infographics/article/1810040/infographic-world-languages
UE aposta no multilinguismo para promover competitividade
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A diversidade linguística constitui um dos traços distintivos da UE. Num bloco de países com 24 línguas oficiais, uma das prioridades da União é conseguir que os cidadãos europeus falem vários idiomas.
A diversidade linguística faz parte do ADN do projeto de integração europeia. A defesa deste património está consagrada na sua divisa (“Unida na diversidade”) e inscrita logo no artigo 3 do Tratado: “a União respeita a riqueza da sua diversidade cultural e linguística”. O Tratado também diz que a União Europeia (UE) tem por objetivo “desenvolver a aprendizagem e a divulgação das línguas dos Estados-membros”.
A União tem atualmente 24 línguas oficiais e três alfabetos. Outras 60 línguas regionais ou locais são faladas por cerca de 40 milhões de pessoas. Além disso, existe na UE um número importante de outras línguas faladas por imigrantes de países terceiros, calculando-se que convivam 175 nacionalidades no conjunto do espaço comunitário.
A UE defende a ideia de que todos os cidadãos devem dominar duas línguas, além da materna. Ser poliglota é uma mais-valia e fator de competitividade. Há estudos que mostram que os estudantes Erasmus+ – o programa de mobilidade estudantil da UE – têm mais possibilidades de conseguir trabalho e menos probabilidades de serem desempregados de longa duração.
As novas gerações têm vindo a reforçar paulatinamente as competências linguísticas. Dados do Eurostat mostram que o número de alunos com vocação para falar vários idiomas tem aumentado. Entre 2013 e 2022, a percentagem de alunos do ensino primário na UE que aprenderam pelo menos 2 línguas estrangeiras aumentou de 4,6% para 6,5%. Nos primeiros anos do secundário, essa proporção subiu de 58,4% para 60,7%, estando Portugal (93%) no grupo de países com maior percentagem de alunos nesta situação.
Como a UE promove a diversidade
A UE criou vários instrumentos para dinamizar a aprendizagem das línguas. Existe o programa Europa Criativa com um orçamento de 2,4 mil milhões de euros para o período 2021-2027 que promove a diversidade e o património cultural e linguístico europeu e fomenta a competitividade dos setores culturais e criativos.
Para além do emblemático programa Erasmus, a UE dispõe ainda do Dia Europeu das Línguas (26 de setembro), do Selo Europeu das Línguas – um prémio da Comissão para estimular novas iniciativas de ensino e aprendizagem – e do prémio “Juvenes Translatores” para as melhores traduções feitas por estudantes da UE. Também cofinancia projetos do Centro Europeu de Línguas Modernas.
Novos e velhos desafios
Ao longo das décadas, o programa Erasmus foi melhorado, tornando-se mais inclusivo, fomentando a participação de mais estudantes, sobretudo de meios desfavorecidos. Outro desafio consiste no desenvolvimento da iniciativa Universidades Europeias que visa estabelecer alianças entre instituições de ensino superior. Graças a estas alianças, os estudantes podem obter um diploma combinando estudos em vários países europeus.
As instituições europeias promovem o multilinguismo com serviços de tradução e interpretação de excelência. A realidade é que os idiomas europeus enfrentam o domínio do inglês como língua franca na comunicação no dia a dia entre cidadãos de diferentes nacionalidades e entre protagonistas das instituições europeias. Outra questão está relacionada com o pedido relativo a determinadas línguas regionais – como o catalão, basco e galego – de serem reconhecidas como línguas oficiais da UE.
Leia a matéria na fonte: https://www.cmjornal.pt/mais-cm/especiais/europa-viva/detalhe/ue-aposta-no-multilinguismo-para-promover-competitividade?ref=Tecnologia_CmaoMinuto
Língua Mirandesa O futuro do Mirandês está numa carta “esquecida numa gaveta”
Passaram 26 anos desde o reconhecimento oficial da língua mirandesa, mas a passos-largos pode estar a aproximar-se o fim do mirandês enquanto língua veicular. Por fazer está a ratificação da carta europeia das línguas minoritárias, a criação de um instituto da língua e de um quadro de professores.
Por Lara Castro / Grupo Renascença
Depois de aprovado o articulado, a língua mirandesa passou a ser reconhecida oficialmente em Portugal – é a segunda língua oficial do país.
A par da lei, foi publicada a Convenção Ortográfica e ,nos cinco anos iniciais, houve mais obras publicadas em mirandês do que nos anteriores 50 anos. “Os Lusíadas”, “Mensagem”, “O Principezinho”, “Os Quatro Evangelhos” e até Asterix e Obelix, são apenas alguns exemplos.
No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para a salvaguarda da língua, a começar pela ratificação da Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias, que foi assinada, a 7 de setembro de 2021, pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, mas que ainda não entrou em vigor.
Não ratificação da carta “é uma questão de inércia”
Alfredo Cameirão, da Associação de Língua e Cultura Mirandesa (ALCM) diz à Renascença que a carta “é um passo absolutamente determinante” para “o futuro e sobrevivência da língua”.
A carta permitirá que o mirandês seja usado como uma língua regional, em todos os campos da sociedade, sendo um instrumento internacional dedicado especificamente à proteção da língua.
Ratificar a carta permitirá, por exemplo, reforçar e dignificar a presença da língua na escola ou até mesmo obrigar o Estado Central a garantir que um mirandês que queira ser ouvido em tribunal em língua mirandesa tenha um tradutor para o fazer.
A ratificação da carta implicará também uma monitorização por parte do Conselho da Europa.
Em junho de 2023, foi aprovada pela Assembleia da República uma resolução que recomenda ao governo que conclua a vinculação da República Portuguesa à Carta Europeia.
Questionado pela Renascença sobre o que falta para a ratificação da Carta, Alfredo Cameirão garante desconhecer “onde está essa carta e o que falta para ratificar”, acreditando que “é uma questão de inércia” que explica o problema.
O dirigente da ALCM relembra ainda que não há razões para não ratificar, uma vez que “os eventuais encargos financeiros estão salvaguardados pela Câmara Municipal”.
A espera é decisiva para o futuro da língua, já ameaçado pela perda de falantes e de população na região.
“Cada dia que passa na preservação da língua, é um atraso, porque as medidas [da carta europeia] são necessárias e até urgentes”, acrescentou.
Para a ratificação da Carta, é exigido que Portugal se comprometa a implementar pelo menos 35 medidas constantes na Carta. Destas, algumas delas já estão no terreno através de um protocolo estabelecido entre a ALCM com a Câmara Municipal de Miranda do Douro.
O processo de ratificação da carta está entregue ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), e está a ser conduzido pela Comissão Nacional para os Direitos Humanos (CNDH).
Fonte do MNE explica que “foram identificadas 21 das 35 medidas obrigatórias necessárias, permanecendo em falta as restantes”
Na última reunião plenária da CNDH, em julho deste ano, ficou decidido que “as diferentes áreas governativas no processo de instrução da ratificação deste instrumento jurídico iriam revisitar os seus pareceres e enviar ao Secretariado Executivo da CNDH, com a maior brevidade, novas propostas de medidas para que, no seu conjunto, se possam identificar as medidas em falta e, assim, se poder prosseguir com o processo de ratificação.”
Não havendo previsão de data para a entrada em vigor da carta, Alfredo Cameirão acredita que “esteja esquecida no fundo de alguma gaveta” por falta de interesse no tema e na preservação de uma língua com séculos de história. “Como somos muito poucos e estamos muito longe do poder, no sentido literal e no sentido figurado, presumimos que seja essa a única razão. Não há outra razão”, sublinhou.
Alfredo Cameirão reforça: “Os mirandeses começaram a pedir para Portugal assinar a carta logo a seguir à aprovação da lei do Mirandês, demorou 20 anos, se a ratificação demorar outros 20 – é uma coisa complicada.”
Dois professores para 400 alunos “é manifestamente insuficiente”
Atualmente, o mirandês é ensinado, a todos os níveis de ensino, desde a pré-primária até ao 12º ano, como disciplina de opção nas escolas de Miranda do Douro.
Segundo a ALCM, cerca de 80% dos alunos optam por aprender mirandês. São cerca de 400 alunos, mas só existem dois professores para ensinar, o que “ é manifestamente insuficiente”, alerta Alfredo Cameirão.
Numa altura em que a língua já não se transmite de pais para filhos, o ensino na escola “ganha ainda mais importância na transmissão do mirandês para as novas gerações”.
“Para que o mirandês possa ganhar outra dignidade, e que não surja só como quase um aspecto mais folclórico” é fundamental criar condições para que possam haver mais professores de mirandês.
Os dois professores que atualmente ensinam mirandês lecionam tanto à pré-primária como ao 12º ano. Sem manuais, sem programa oficial e sem carreira de professores, seria importante criar um quadro de docentes “para dar alguma estabilidade às pessoas”.
A par da assinatura da carta europeia das línguas regionais e minoritárias e a par da dignificação da intensificação da presença da língua na escola, é outra grande prioridades a criação de um instituto da língua que possa responsabilizar-se por operacionalizar estratégias de defesa, desenvolvimento e salvaguarda do mirandês.
No Orçamento do Estado de 2023, estava uma proposta submetida pelo deputado do Livre, Rui Tavares, que foi aprovada, mas não chegou a sair do papel. Em 2024, o OE voltou a incluir a mesma proposta com o dobro do montante – 200 mil euros, para a criação do Instituto. Com a queda do governo, tudo voltou para a “gaveta”.
Por que é importante o mirandês?
Para Alfredo Cameirão a explicação para a importância da conservação da língua é simples: “O mirandês não serve para nada, é mais ou menos como a poesia que também não serve para nada.”
Atualmente, todos os falantes de mirandês são também falantes de português e, por isso, do ponto de vista pragmático, o mirandês “tem muito pouco utilidade porque efetivamente é redundante”. Todavia, do ponto de vista cultural, “tem um valor único e insubstituível”, além de que poderá assumir valor do ponto de vista económico. “Bem aproveitado, pode render muito em termos financeiros”, afiança.
Uma língua “descoberta” pela curiosidade
Desde a existência de Portugal como reino independente, o mirandêsfoi sempre falado, naquela região do país, por gerações e gerações.
O mirandês é a versão em território português de uma realidade linguística que também existe em Espanha, já desde a Idade Média, o asturo-Leonês. Durante séculos e séculos a língua mirandesa foi falada em território português, com o desconhecimento de toda a gente. A “descoberta” da língua só chegou ao resto da comunidade nacional no final do século XIX, e tudo graças a um jovem curioso de ouvido atento.
José Leite de Vasconcelos, na altura estudante de medicina na Universidade do Porto, nascido em Viseu, foi surpreendido pelo facto de haver na camarata um colega que era português, mas cuja língua materna não era portuguesa. Falava a denominada língua “charra”.
“Não é o Português a única língua usada em Portugal (…) fala-se aqui também o mirandês”, anunciou em 1882, José Leite de Vasconcelos no “Dialecto Mirandês”
Confira a matéria na fonte: https://rr.sapo.pt/noticia/amp/pais/2024/09/17/o-futuro-do-mirandes-esta-numa-carta-esquecida-numa-gaveta/393917/
Saiba mais na matéria publicada em RTP ensina: https://ensina.rtp.pt/artigo/salvar-o-mirandes-para-que/
Salvar o Mirandês? Para quê?
Dia 17 de setembro, celebra-se o Dia Oficial da Língua Mirandesa, cujo reconhecimento foi consagrado pela Lei n.º 7/99. Herança do asturo-leonês, passou pela fala de geração em geração, e conheceu um novo impulso pelo trabalho do filólogo Leite de Vasconcelos, que tentou fixá-la por escrito. Nas últimas décadas, os portugueses empenharam-se na salvação do lince ibérico. E que tal ajudarem agora a salvar uma língua?
Não se espere menos do que um texto provocatório nesta ocasião em que um pequeno grupo (de umas centenas? de uns milhares?) de pessoas tenta dar um impulso determinante na vida da única língua oficial falada em Portugal para lá da língua dominante (o “grave”, como se diz em Terras de Miranda). Afinal, estamos a falar de história, património, uma riqueza única e ameaçada. O Dia Oficial da Língua Mirandesa é uma nova ocasião para que se juntem as boas vontades daqueles que resistem, que viram reconhecido o “direito a cultivar e promover a língua mirandesa, enquanto património cultural, instrumento de comunicação e de reforço de identidade da terra de Miranda”. Uma passagem da legislação que consagra igualmente “o direito da criança à aprendizagem do mirandês”.
Historicamente, o mirandês remonta a tempos medievais e resistiu à assimilação total pelo português ao longo dos séculos. Em muitas regiões do mundo, outras línguas foram marginalizadas ou postas de lado em favor de línguas dominantes, e o mesmo ocorreu em Portugal. No entanto, o mirandês sobreviveu, refletindo a resiliência do povo transmontano e a sua ligação profunda com o território e com as suas raízes. Salvá-lo é, portanto, assegurar que as gerações futuras têm acesso a este legado.
Economia e desenvolvimento sustentável
Do ponto de vista económico, a promoção do mirandês pode impulsionar o turismo cultural e fortalecer a economia local. A autenticidade da língua pode atrair visitantes interessados em explorar esta zona de Portugal, proporcionando uma experiência cultural genuína. Além disso, a língua mirandesa pode ser uma mais-valia na educação e na criação de iniciativas locais, fortalecendo a coesão comunitária e promovendo o desenvolvimento sustentável. Ao promover o uso do mirandês, também se cria uma base sólida para fomentar o comércio de produtos e serviços culturais únicos da região.
Salvar a língua mirandesa é, assim, um dever histórico, cultural e económico, a que o projeto Ensina, da RTP, se associa. Publicamos hoje um conjunto de animações em mirandês (mais seguirão nas próximas semanas) e um pequeno dicionário português-mirandês. Estamos empenhados em ajudar os professores de mirandês e as escolas – não apenas as locais mas também aquelas que ensinam o mirandês noutros pontos do país – a beneficiar de materiais audiovisuais atraentes e simples de utilizar. E esperamos que este pequeno contributo tenha um papel neste movimento que parece, finalmente, ganhar uma nova vida.
O mirandês é um símbolo da resistência cultural e uma prova viva da diversidade de Portugal. Defendê-lo é garantir que esta riqueza linguística continua a florescer e a contribuir para a identidade nacional.
Matéria publicada em RTP ensina: https://ensina.rtp.pt/artigo/salvar-o-mirandes-para-que/
NJINGA e SEPÉ: v. 4 n. 2 (2024): Línguas, literaturas e outras artes no espaço angolano
As publicações científicas permitem a circulação do conhecimento e a busca de novos saberes. É fundamental que os saberes conquistados por meio de pesquisas e estudos sejam compartilhados e discutidos no meio científico. O método hipotético-dedutivo de Karl Popper (1902-1994) nos mostra que onde termina uma pesquisa, inicia outra e assim sucessivamente. A ciência é inesgotável. Neste Vol.4, nº2 (2024) organizado pelos professores Daniel Peres Sassuco, Nsimba José e Manuel da Silva Domingos encontraremos contribuições de estudos das áreas de Linguística, Literatura, Artes e Educação relativos à Angola. São estudos que falam sobre Angola na sua profundidade e visam promover um espaço de debate permanente para que o conhecimento circule e seja compartilhado nacionalmente e além fronteiras. As pesquisas apresentadas neste dossiê criticam o rumo que Angola está trilhando, especialmente na formação de professores, na descrição e ensino de línguas, de Química e de Biologia. Para além de criticar, os trabalhos publicados apontam caminhos possíveis para a melhoria da qualidade do ensino em Angola. Os autores clamam pelo apoio das autoridades para que situação se reverta o mais breve possível, pensando numa Angola mais desenvolvida. A formação de profissionais com qualidade evita a multiplicação de analfabetos funcionais que não poderão efetivamente contribuir o necessário. Com relação às linguas, Angola precisa dar atenção especial e urgente para descrição, revitalização e políticas de ensino das línguas autóctone respeitando assim a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos (1996). Desejamos a todos uma leitura atenta, crítica, colaborativa e não se esqueçam de compartilhar a Revista com estudantes, colegas, docentes e outros interessados. Visitem o Canal da Revista Njinga & Sepé e lá vão encontrar palestras e seminários que reforçam a divulgação do conhecimento gratuito, de qualidade e de acesso livre. Este é um compromisso desta Revista. BOA LEITURA!
Acesse a revista no link: https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/issue/view/55