Arquivo do mês: novembro 2021

Documentação de línguas indígenas brasileiras: uma necessidade para além dos estudos linguísticos

A Linguística Documental é o campo de estudos dedicado à documentação de registros (falados ou escritos) e revitalização de línguas minoritárias e/ou ameaçadas de extinção. Apesar de haver resquícios de documentação linguística no Brasil desde o século XVI, com os missionários e viajantes europeus relatando e registrando (por meio de cartas, listas de palavras, sermões, gramáticas etc.) as línguas indígenas faladas no litoral do Brasil, foi a partir dos anos 1990 que a área alcançou o status de disciplina.

De acordo com a linguista e antropóloga brasileira Bruna Franchetto (2004), no Brasil, todas as línguas indígenas são consideradas minoritárias e, devido a isso, surge a urgente necessidade de se documentar e preservar essas línguas para que, dessa maneira, as memórias linguística, histórica, sociocultural e afetiva desses povos sejam preservadas.

Fonte; https://www.imaginie.com.br/temas/a-extincao-de-linguas-indigenas-no-brasil/

Para que uma documentação linguística seja realizada, é necessário que a/o profissional responsável pela coleta de registros falados e/ou escritos numa determinada comunidade disponha de um leque de ferramentas (gravadores, câmeras, caderno de campo e computadores, por exemplo) que auxiliam em todas as etapas do processo, desde antes da documentação até as etapas pós-documentação. Todas as ferramentas devem ser checadas antes de serem utilizadas, e o uso deve ser feito com discernimento sem deixar de lado os aspectos éticos envolvidos no processo de documentação, uma vez que a privacidade e o protagonismo das comunidades indígenas devem ser respeitados.

Segundo a linguista Cilene Campetela e demais pesquisadores (2017), muitos projetos foram e têm sido idealizados em diversas instituições públicas do país com o intuito de documentar e garantir a preservação de línguas ameaçadas de extinção, sobretudo as línguas indígenas. Com isso, professores e alunos, por meio da elaboração de estudos e projetos, têm cada vez mais despertado o interesse de outras pessoas no que se refere a esse campo de estudos tão necessário que é o campo da Linguística Documental.

Mesmo com esses esforços, é notório que são muitos os fatores que se apresentam como obstáculos ao processo de documentação, a exemplo das questões econômicas e socioculturais que nos permeiam. Ainda assim, é necessário resistir, pois só assim teremos disponíveis políticas e projetos de documentação e revitalização que, como sugere o título deste texto, é uma necessidade que vai muito além dos estudos linguísticos.

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I Encontro Regional Sul da Década das Línguas Indígenas no Brasil

Participe do primeiro encontro de discussão do “Plano de Ação da Década Internacional das Línguas Indígenas no Brasil” organizado pelo GT Nacional da Década das Línguas Indígenas. Esse plano foi elaborado por uma equipe formada por indígenas representantes das cinco regiões do país, representantes de organizações indígenas e parceiros não indígenas que compõem o GT da Década. Venham discutir com a gente as ações que serão realizadas na Década das Línguas Indígenas no Brasil (2022-2032).
Quando:  03/12/21
Horário do encontro: 19h (horário de Brasília).
Em breve, divulgaremos  o link da sala online (Meet Google).
Link para leitura do Plano de Ação AQUI

XXV Encontro dos difusores do Talian

Para acompanhar a programação de palestras da  SEDAC/RS,  IPHAN,  UNICENTRO, UNESCO e as  mostras de difusores, músicas,  teatro, literatura, cursos, siga os links!

Faceboook @EdgarMaróstica 

Dia 26/11 às 19:00, acesse aqui

Dia 27/11 às 14:00, acesse aqui 

 

Canal institucional da Unicentro no Youtube:

Dia 26/11 às 19:00, acesse aqui

Dia 27/11 às 14:00, acesse aqui

 

FLIP Online tem Margaret Atwood, Eliane Brum, Conceição Evaristo e mais!

Evento se inspirou na capacidade de regeneração e colaboração da natureza para criar uma programação poderosa, capaz de imaginar novos futuros

É tempo de reconexão, após quase dois anos em que a humanidade foi obrigada a se isolar por conta da pandemia de Covid-19. Por isso, a FLIP Online foi buscar na natureza e sua capacidade de regeneração a inspiração para os debates da 19ª edição, que acontece entre os dias 27 de novembro e 5 de dezembro.

FLIP Online

Crédito: Reprodução/ Facebook @flip.paratyNomes poderosíssimos se juntam para mais uma edição da FLIP

Pensar em um novo futuro, com mais responsabilidade ambiental, é o objetivo da festa literária este ano. Para dar conta dessa missão, pela primeira vez o evento contou com um coletivo de curadores. Cinco pessoas das mais diversas áreas uniram suas expertises para estimular reflexões profundas no público e entre os participantes.

Hermano Vianna é antropólogo e o coordenador desse time poderoso. Juntam-se a ele Anna Dantes, colaboradora da Escola Viva Huni Kuin e uma das fundadoras do Selvagem – Ciclo de estudos sobre a vida; Evando Nascimento, escritor e filósofo, pioneiro na reflexão sobre literatura e plantas no Brasil; João Paulo Lima Barreto, antropólogo do povo Tukano, do Alto Rio Negro, fundador do Centro de Medicina Indígena em Manaus; e Pedro Meira Monteiro, professor da Princeton University e um dos fundadores da oficina Poéticas Amazônicas, no Brazil LAB da Universidade.

A programação foi norteada pela ideia de Nhe’éry, que é como o povo Guarani se refere à Mata Atlântica. Isso porque, de acordo com o cineasta e liderança do povo Guarani Mbya, Carlos Papá, essa expressão significa “onde as almas se banham”. Além disso, Nhe’éry é a capacidade de conduzir mensagens por meio de fios de palavras.

Durante a Flip Online, os espectadores podem assistir as 19 mesas pelo YouTube oficial do evento. Para quem não quiser perder nadinha, basta escolher os debates da sua preferência e ativar o sininho. Confira a programação completa aqui.

Um dos destaques é o bate-papo “Folhas e verbos”, no dia 28, às 18h, com a escritora da Costa do Marfim Véronique Tadjo e o poeta brasileiro Edimilson de Almeida Pereira. Enquanto ela escreveu o romance “Na companhia dos homens”, ainda não publicado no Brasil, sobre o auge da pandemia de Ebola na África Ocidental, em que um baobá assiste a tudo, impassível; ele explora muito as árvores em seus poemas, sempre carregados de uma sabedoria ligada ao candomblé e suas conexões ancestrais com o mundo vegetal.

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Pesquisa revela troca de cartas em tupi entre indígenas do século 17

Traduzidos pelo professor Eduardo Navarro, da USP, documentos dão informações sobre a Insurreição Pernambucana

Fotomontagem de Lívia Magalhães com imagens de Patrick Raynaud/APIB e Eduardo Navarro/Arquivo

 

A história é escrita pelos vencedores. No caso brasileiro, primeiro foram os portugueses e, depois, os holandeses. Documentos que contam a história brasileira pela perspectiva dos que foram vencidos – os povos originários – são raros. O professor Eduardo Navarro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, especialista em tupi antigo e em literatura do Brasil colonial, mostra uma dessas exceções. Navarro pesquisou seis cartas trocadas entre indígenas em 1645, os únicos textos conhecidos que os próprios indígenas escreveram em tupi nos tempos coloniais. Essas cartas estão guardadas nos arquivos da Real Biblioteca de Haia, na Holanda, e detalham uma guerra religiosa travada entre portugueses e holandeses, com a presença de indígenas em cada lado, conhecida como Insurreição Pernambucana (1645-1654).

O professor explica que essas seis cartas pertenciam ao arquivo da Companhia das Índias Ocidentais, uma empresa de comércio com capitais privados e também capitais do Estado holandês. Essa companhia organizou uma invasão do Nordeste brasileiro em 1625, que não foi bem-sucedida. Os integrantes da companhia voltaram para o país europeu com alguns indígenas a bordo, entre eles os caciques Pedro Poti e Antônio Paraopeba. Na Holanda, os caciques foram convertidos ao protestantismo calvinista. Cinco anos depois, houve outra tentativa de invadir a costa do Nordeste. E dessa vez deu certo, principalmente, em Pernambuco, onde os holandeses permaneceram por 24 anos, desde 1630 até 1654.

Carta de Felipe Camarão a Pedro Poti, de 19 de agosto de 1645 – Foto: Arquivo de Eduardo Navarro

 

“E por que Portugal deixou a Holanda invadir o seu território?”, provoca Navarro. Ele relata que, em 1645, fazia cinco anos que Portugal tinha saído do domínio espanhol e, para firmar sua independência, era necessário obter apoio dos holandeses. Essa aliança foi consolidada pelo padre Antônio Vieira, que também era diplomata. Ele escreveu o plano Papel Forte, que consistia em entregar o Nordeste brasileiro em troca de apoio político. Já os senhores de engenho não queriam a presença dos holandeses, pois muitos estavam endividados com a Companhia das Índias Ocidentais. Queriam que os holandeses fossem embora, para não pagar suas dívidas. Nesse período, o conde Maurício de Nassau foi quem administrou Pernambuco e conseguiu apaziguar os conflitos religiosos e dos senhores de engenho. Ele criou um ambiente de tolerância religiosa, numa época em que em território português era obrigatório o catolicismo e as outras religiões eram consideradas heresia.

Carta de de Felipe Camarão a Antônio Paraopeba, de 4 de outubro de 1645 – Fotos: Arquivo de Eduardo Navarro

 

Quando Nassau voltou para a Europa, em 1644, começaram a acontecer conflitos religiosos. Jacob Rabbi, um alemão a serviço do governo holandês, provocou um massacre em Cunhaú, no Rio Grande do Norte. As portas da Igreja de Nossa Senhora das Candeias foram trancadas e dezenas de fiéis foram mortos. Esse foi o estopim para a Insurreição Pernambucana.

Navarro descreve que, do lado holandês, ficaram Pedro Poti e Antônio Paraopeba, indígenas protestantes, e, do lado português, Felipe Camarão, indígena católico, que pedia a seus parentes Poti e Paraopeba que voltassem para o lado português. “Esses pedidos estão nas cartas, todas de 1645: a primeira é de agosto e as últimas são de outubro. Foram preservadas seis cartas, mas imagino que deve haver mais”, destaca o professor. Ele conta que a primeira carta de que há registro é de Felipe Camarão, pedindo para que Pedro Poti deixasse os holandeses, sob a alegação de que eram hereges e “estão no fogo do diabo”. Camarão escrevia que os indígenas precisavam se unir, pois eram do mesmo sangue e não podiam se matar daquela maneira. A resposta do Poti é conhecida através de um resumo em holandês feito por um pastor holandês. “Poti respondeu que não havia motivo para apoiar os portugueses, já que eles só fizeram mal para seu povo: escravizaram e praticaram violência contra os potiguaras. Uma crítica bem contundente”, ressalta Navarro. Diferentes dos holandeses, os portugueses não preservaram as cartas dos indígenas, entre elas a resposta de Poti. “Por isso só é possível ver as cartas que os holandeses receberam”, lamenta o professor.

Carta de Felipe Camarão a Pedro Poti, de 4 de outubro de 1645 – Fotos: Arquivo de Eduardo Navarro

 

O conteúdo das cartas é constituído por textos sobre indígenas que desejam que seus parentes se unam, que abandonem as suas posições na guerra e parem de matar os seus parentes. Há comentários em que eles pedem que suas antigas tradições sejam revigoradas. Por meio das cartas, obtêm-se também informações mais específicas, como os nomes dos caciques que morreram na guerra e os lugares em que eles lutaram.

Carta de Diogo da Costa a Pedro Poti, de 17 de outubro de 1645 – Fotos: Arquivo de Eduardo Navarro

 

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