“Amnésia ou ignorância?” Artigo de Evanildo Bechara sobre o Acordo Ortográfico
Amnésia ou ignorância?
Evanildo Bechara*
Enquanto não passavam de desacertadas opiniões de pessoas desinformadas da história das propostas iniciais, expostas em 1885 e consubstanciadas na primeira reforma ortográfica, de 1911, íamos mostrando, em jornais e revistas, a tais reformistas a sem-razão de adotar oficialmente algumas sugestões de simplificação ortográfica, entre as quais a abolição do h inicial – oje por hoje – ou a redução da forma quero em qero. Embora os defensores dessas simplificações nunca tenham chamado a atenção dos seus leitores para o fato de que algumas dessas propostas muito parecidas já tivessem sido anunciadas, cabe lembrar que a pretensa novidade data, pelo menos, do século 19.
A própria Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1907, tentou um movimento simplificador, que teve no filólogo João Ribeiro grande adepto. Todavia ele reconheceu: “Tudo aconselha a adotar um sistema conservador, embora difícil, em vez de outro qualquer, arriscado e susceptível de anarquizar a escrita”.
Especialistas brasileiros defendem Acordo Ortográfico e rejeitam simplificação da língua
Especialistas brasileiros defendem Acordo Ortográfico e rejeitam simplificação da língua
A implantação do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa (AO) foi defendida esta quarta-feira por um académico, um historiador e um linguista brasileiros, que rejeitaram o projeto de simplificação do idioma, analisado pelo Senado brasileiro, durante um debate em São Paulo.
O debate ocorreu na 23.ª Bienal Internacional do Livro e contou com a participação do gramaticista e membro da Academia Brasileira de Letras Evanildo Bechara, do linguista e coordenador da comissão brasileira no Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) Carlos Alberto Faraco, e do historiador Jaime Pinsky. Faraco criticou o adiamento do prazo para a obrigatoriedade de alicação do AO no Brasil, de janeiro de 2013 para janeiro de 2016, e defendeu a integridade do documento, ou seja, que o acordo não sofra alterações. O projeto de simplificação do idioma tem sido defendido por linguistas brasileiros, liderados por Ernani Pimentel, e está em análise na Comissão de Educação do Senado brasileiro.
Plataforma Macau entrevista Gilvan Müller de Oliveira
Plataforma Macau entrevista Gilvan Müller de Oliveira
Por Patrícia Neves*
A lei para o aprofundamento das relações com a lusofonia aprovada em maio na Galiza poderá facilitar eventuais integrações de Macau e Goa na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), defende o diretor executivo do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), Gilvan Müller de Oliveira. Em entrevista ao Plataforma Macau, o responsável considera a cooperação económica como uma plataforma para a promoção do português, mas alerta para a necessidade de Portugal e Brasil superarem uma “disputa disfuncional” pela língua.
África: Documentário aborda experiências de estudantes dos Palop no Brasil
África: Documentário aborda experiências de estudantes dos Palop no Brasil
O documentário ‘O Outro Lado do Atlântico’ enfoca cotidiano de jovens graduados e universitários dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) no Brasil e finaliza gravações neste mês de agosto. As filmagens do documentário foram feitas nas cidades de Rio de Janeiro, Fortaleza e Redenção, no Brasil, e nas ilhas de Santiago, São Vicente e Santo Antão, em Cabo Verde. O longa-metragem teve suporte financeiro de leis de incentivo à cultura no Brasil e é um projeto dos diretores Daniele Ellery e Márcio Câmara, com produção de Allan Deberton.
Marechal Cândido Rondon (PR) promove palestra sobre a África
Marechal promove palestra sobre a África
No dia 25 de agosto foi realizada palestra sobre “A colonização europeia em África e o seu impacto na hibridação de línguas e culturas: O caso da língua portuguesa em Moçambique”, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) no campus de Marechal Candido Rondon.
A palestra foi ministrada pelo professor Ilídio Enoque Alfredo Macaringue da Universidade Pedagógica Sagrada Familiar (Unisaf), sendo voltada para alunos dos cursos de História, Geografia, Letras, professores da rede municipal e do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e envolvidos em movimentos sociais.
O evento teve como objetivo discutir aspectos históricos e culturais da África, enfocando visões simplificadoras de uma realidade complexa. Também abordou o papel da língua gramatical portuguesa, enquanto língua oficial de Moçambique, para construção da nacionalidade do País.
A palestra foi organizada pelo Colegiado de História, Núcleo de Pesquisa e Documentação Sobre o Oeste do Paraná (Cepedal) e o Movimento Negro Organização Étnico-racial Nagô de Marechal Cândido Rondon (Oeran).
Durante o evento, Ilídio também lançou seu livro sobre o tema da palestra.
Tese investiga práticas, atitudes e identidades linguísticas entre jovens moçambicanos plurilíngues
Tese investiga práticas, atitudes e identidades linguísticas entre jovens moçambicanos plurilíngues
A tese de doutorado intitulada “As línguas não ocupam espaço dentro de nós”: práticas, atitudes e identidades linguísticas entre jovens moçambicanos plurilíngues foi recentemente defendida por Letícia Cao Ponso, aluna do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade Federal Fluminense (UFF), sob a orientação da Profª Drª Cláudia Roncarati (in memoriam), do Prof. Dr. Xoán Lagares e coorientada pelo Prof. Dr. Gregório Firmino.
Confira abaixo o resumo da tese.
RESUMO Esta tese investiga as atitudes, as práticas e as identidades linguísticas de uma comunidade de estudantes do curso de Letras na cidade de Maputo (Moçambique) acerca do estatuto das línguas autóctones moçambicanas e do português, língua ex-colonial em processo de nativização. A partir de uma pesquisa etnográfica, realizada durante o ano de 2012, proponho-me a descrever e a analisar os estatutos atribuídos às línguas pelos falantes plurilíngues, bem como relacioná-los às experiências particulares e concretas dos sujeitos da pesquisa nos âmbitos em que hoje se articulam movimentos de persistência e emancipação plurilinguísticas: a radiodifusão em línguas locais, as práticas religiosas, o comércio nos mercados, a educação bilíngue, os ritos tradicionais, as vivências familiares. Busco compreender os significados sócio-simbólicos de “ser plurilíngue” segundo os valores e as relações culturais específicas dessa comunidade, nas práticas sócio-históricas que as tornaram possíveis em meio ao cenário de colonização e descolonização linguística ocorrida em Moçambique nas últimas décadas. O aporte teórico advém da Etnografia da Fala e da Sociolinguística Interacional de base interpretativa (Hymes, 1962; Hymes, Gumperz, 1964; Goffmann, 1979; Blom; Gumperz, 1972; Gumperz, 1982a, 1982b). Valho-me também da reflexão feita por teóricos da pós-colonialidade (Fanon, 1968; Wa Thiong’o, 1986; Bhabha, 1994 e 1998; Mignolo, 2003 e 2010; Santos; Meneses, 2010; Santos, 2004, 2006 e 2011, Ramose, 2011) para tecer uma discussão desse objeto de tese em meio aos processos de minorização das línguas efetuados pelo encontro colonial em África e seus desdobramentos na construção de identidades linguísticas híbridas. A contribuição deste estudo é propor uma metodologia quali-quantitativa de base etnográfica para os estudos contatuais (especialmente de atitudes linguísticas) nos contextos multilíngues pós-coloniais.
Baixe a tese aqui: PONSO_2014_DO_plurilinguismo_atitudes_Mocambique