Guarani do Google Tradutor não é o falado por indígenas brasileiros
Criação tecnológica da empresa acabou incorporando à plataforma apenas o Guarani Paraguaio, ignorando a pluralidade do idioma
Na última semana, o Google adicionou o idioma Guarani ao Tradutor , junto com 23 outras línguas. Na ocasião, a empresa afirmou que queria romper barreiras com “populações que falam línguas pouco ou nada representadas no mundo da tecnologia”.
Embora a notícia seja vista como animadora por linguistas e indígenas, o idioma trazido pelo Google Tradutor não é exatamente o falado por populações indígenas que vivem no Brasil. De acordo com análise de Marci Fileti Martins, professora do Mestrado Profissional em Linguística e Línguas Indígenas (PROFLLIND), do Museu Nacional/UFRJ, a língua presente na plataforma é o chamado Guarani Paraguaio.
“O Guarani é um complexo de línguas e dialetos”, comenta a professora. Ao todo, são nove, sendo sete delas faladas atualmente. Isso significa que o Guarani falado no Paraguai não é o mesmo falado por povos indígenas espalhados pelo Brasil, por exemplo.
Por que o Google Tradutor só fala o Guarani Paraguaio?
As novas línguas contempladas pelo Tradutor foram adicionadas ao sistema por meio de um modelo de aprendizado de máquina. Apesar de ter contado com a ajuda de falantes nativos e de especialistas na área de linguística, o Google afirma que as traduções foram construídas usando sistemas de inteligência artificial.
“As 24 línguas adicionadas são as primeiras que acrescentamos à ferramenta usando a tradução automática Zero-Shot, na qual um modelo de aprendizado de máquina vê apenas textos monolíngues – ou seja, aprende a traduzir para outro idioma sem jamais ter visto um exemplo”, disse Isaac Caswell, engenheiro de software do Google Tradutor, no lançamento da novidade.
Segundo o Google, não é possível afirmar que o Guarani presente no Tradutor é, de fato, o Paraguaio, já que o desenvolvimento da tradução foi baseado no Guarani falado comumente por todos os povos do Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia.
Websérie produzida por jovens indígenas será lançada dia 31 de julho
Projeto “Reikwaapa-Saberes Guarani” é uma verdadeira experimentação audiovisual para os indígenas.
A Websérie de quatro episódios “Reikwaapa-Saberes Guarani” é uma produção audiovisual feita por jovens da aldeia Kwaagwy Porã, localizada em Aracruz. Em cada episódio, guardiões da memória Guarani transmitem para os mais jovens os conhecimentos. O lançamento está marcado para este sábado (31), às 19 horas, no canal Reikwaapa no YouTube. A websérie conta com recursos de acessibilidades visual e auditiva (legendagem descritiva, audiodescrição e libras) em todos os episódios.
Foram três intensos meses de produção, durante a pandemia do novo Coronavírus (Covid-19). A partir de um roteiro escrito por Marcelo Guarani e Ricardo Sá, crianças, jovens e adultos da aldeia Kwaagwy Porã se envolveram na realização dos quatro episódios da websérie, incluindo filmagem, direção e edição.
Todo o processo de filmagem e edição foi feito pelos membros do núcleo de audiovisual, sem interferências (nem a presença física) da equipe não indígena. O acompanhamento do projeto foi todo feito à distância, respeitando as regras de isolamento social, essenciais neste momento de pandemia. Somente a parte de finalização da obra foi feita por Marlos Broco (que também exerceu a função de assistente de direção), em parceria com Ricardo Sá. Durante esta etapa, foi trabalhada a legendagem, que exigiu bastante cuidado para não distorcer o sentido das palavras faladas em guarani. Algumas palavras, inclusive, foram deixadas na língua original, para que o público não indígena possa se familiarizar com o idioma guarani, que é extremamente rico e simbólico.
Segundo Maynõ Guarani, coordenador indígena do projeto e editor de dois episódios, a realização do projeto foi importante para que o povo Guarani possa ter suporte para produzir seus próprios filmes, e por meio deles, contar a história do ponto de vista do povo indígena. “A websérie retrata um pouco do nosso cotidiano, que ajuda a desconstruir o estereótipo indígena. Também mostra a nossa cosmologia e nossa filosofia de vida, possibilitando a transmissão dos conhecimentos guarani para os nossos parentes e também para os não-indígenas nos conhecerem realmente”, afirma Maynõ Guarani.
Para o autor do projeto e também documentarista Ricardo Sá, o projeto é o resultado de uma longa caminhada. “A ideia nasceu quando Marcelo Guarani me convidou para realizar um piloto da série Reikwaapa, em 2012. O filme teve uma ótima recepção e demonstrou seu potencial, tanto internamente (na comunidade Guarani) quanto na sociedade não indígena. Depois disso, viabilizamos, em parceria com a produtora Raquel Lucena, uma oficina de realização audiovisual, orientada pelo cineasta indígena Alberto Alvares. E, por último, surgiu a oportunidade, por meio do edital da Lei Aldir Blanc, de consolidarmos nossa proposta, montando um núcleo de produção audiovisual dentro da aldeia. Sinto que, a partir de agora, este grupo de realizadores e realizadoras indígenas poderá seguir seu caminho, descobrir seu estilo, como já demonstram alguns dos episódios da série “Reikwaapa-Saberes Guarani”, e fazer do audiovisual uma expressão da cultura guarani, mas também um meio de vida”, afirma Ricardo Sá.
O projeto é uma realização da Interferências Filmes e conta com recursos da Lei Aldir Blanc, via Edital de Seleção de Projetos e Concessão de Prêmio Cultura Digital 2020, por intermédio da Secretaria da Cultura (Secult), direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, do Governo Federal.
Sobre os episódios:
Além de TANGARÁ (sobre o pássaro), serão exibidos TXÕDARO (sobre a dança dos guerreiros), PETYGWA MIRIM (sobre o cachimbo sagrado) e OREMA ROOTA (sobre a Terra Sem Males).
As exibições acontecerão semanalmente, sempre aos sábados, às 19 horas, no canal Reikwaapa no YouTube. (687) Reikwaapa? – YouTube
Agenda de exibições:
TANGARÁ – 31.07
TXÕDARO – 07.08
PETWGUA MIRIM – 14.08
OREMA ROOTA – 21.08
Acompanhe a divulgação do projeto pelas redes sociais:
(20+) Reikwaapa – Saberes Guarani | Facebook
Reikwaapa Saberes Guarani (@reikwaapa) • Fotos e vídeos do Instagram
Mais informações:
Ricardo Sá – produtor executivo: (27) 9998 0859
Mainõ Guarani – coordenador indígena: (27) 99846-1533
Ciclo de Seminários “Cidade e Cidadania Indígena: territórios, direitos e bem viver”
Alunos do IFMS fazem site para guardar patrimônio cultural das línguas Guarani e Terena
Projeto está sendo desenvolvido por estudantes, de Dourados; pela inovação, tornou-se um dos finalistas da 19ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia
O que os alunos do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul fazem em prol de um patrimônio cultural brasileiro é exemplar. Eles trabalham para evitar a extinção de duas línguas indígenas que são predominantes na região de Dourados. Trata-se do projeto Guaruak, mistura dos nomes Guarani e Aruak.
O projeto consiste em gravar em áudio termos das línguas Guarani e Terena e disponibilizá-los online, por site e aplicação web. Pela inovação, também concorre como um dos finalistas da 19ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (FEBRACE 2021), que começou segunda-feira (15) e vai até o dia 26 pela Plataforma FEBRACE Virtual.
O Guaruak já possui mil termos gravados – 600 deles obtidos no ano passado (nos anos anteriores, os estudantes estavam mais focados em desenvolver a base de dados, o site e a aplicação). “É um trabalho importante porque as gerações indígenas que dominam esses idiomas estão deixando de ensinar a língua materna aos novos; isso, porque não querem que seus filhos enfrentem dificuldades de falar português nas escolas”, conta Andressa Camargo Rocha, uma das estudantes que integram atualmente o projeto.
Geralmente, os áudios são captados por alunos indígenas, em suas aldeias. As turmas de estudantes que tocam o projeto se revezam anualmente. Assim, garantem a continuidade do projeto e a preservação deste patrimônio cultural. Mais informações: http://www.guaruak.com.br/
Na FEBRACE, esse projeto é um dos 345 finalistas, desenvolvidos por 716 estudantes de 295 escolas do ensino fundamental, médio e técnico de todo o País, com a participação de 482 professores. Os projetos serão julgados e premiados pela criatividade e rigor científico. A cerimônia de premiação será no dia 27/3 com transmissão pelo Youtube.
Serviço
Conheça os finalistas no site da FEBRACE
Visite a FEBRACE pela Plataforma Virtual (de 15 a 26/3)
Acompanhe a cerimônia de premiação pelo Youtube da FEBRACE (27/3, a partir das 15h)
História de grupo de rap indígena vira inspiração para o filme “A Pele Morta”, com filmagem em Dourados
Oitenta pessoas, entre atores, diretores e técnicos estão, desde o início de outubro, em Dourados (MS) gravando o filme “A Pele Morta”, uma produção da Araçá Filmes. O roadmovie tem direção de Denise Moraes e Bruno Torres e roteiro de Daniel Tavares.
Integram o elenco principal os atores: César Troncoso, Luan Rodrigues e Ivana Gomez. César Troncoso é um ator uruguaio com uma filmografia extensa com filmes no Brasil, Uruguai, Argentina e Espanha, e possui vários prêmios. Entre os filmes que já participou estão “O Banheiro do Papa” e “Faroeste Caboclo”. Luan Rodrigues foi um dos atores escolhidos nas seleções de elenco realizada na cidade. A equipe está realizando filmagens na área central, bairro e aldeias indígenas do município. Continue lendo
O Paraguai redescobre o guarani
Assunção, Paraguai – Quando era estudante, no Paraguai, os professores a faziam ajoelhar no sal grosso e no milho, às vezes a manhã inteira, como castigo por falar sua língua-mãe, o guarani, em sala de aula.
“E tinha que ser na frente dos meus amigos, para eles verem, no preto e no branco, o que acontecia com quem se atrevesse a falar”, diz a ativista Porfiria Orrego Invernizzi, hoje com 67 anos.
Outros eram forçados a ficar sem comer e beber o dia inteiro, tinham que usar fralda como forma de humilhação ou simplesmente apanhavam por usar a língua indígena. Esse tipo de tratamento existiu nas escolas paraguaias durante praticamente toda a história do país – ou melhor, até a queda do ditador Alfredo Stroessner, cujo governo de 35 anos caiu em 1989.