En el marco del 8M “Día Internacional de la Mujer y la Niña”, el Hospital Regional Mérida “Elvia Carrillo Puerto” invita a todas las trabajadoras de este Hospital a los diferentes eventos programados para el 8 de Marzo del 2022 (ver imagen del Programa). Al público en general les invitamos a enlazarse a la sesión clínica de la conferencia “8M: Las mujeres hablan” con la Dra. en Sociología Guadelupe T. Bertussi Vachi escaneando el QR de la invitación.
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História foi adaptada de mito bororo analisado pelo antropólogo Claude Lévi-Strauss
A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) lançou neste mês de fevereiro um jogo digital baseado na narrativa mítica do povo indígena bororo “As araras e seu ninho”. O jogo, gratuito e destinado a crianças de 5 a 9 anos, pode ser acessado e conta, ainda, com um tutorial especialmente elaborado para possível utilização em salas de aula de Educação Infantil e do Ensino Fundamental I.
O jogo, intitulado “Jeriguigui e o Jaguar na terra dos bororos”, foi criado pelo Grupo de Pesquisa Leetra – Linguagens em Tradução da UFSCar, que desenvolve projetos relacionados à questão indígena. O grupo é vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e coordenado por Maria Sílvia Cintra Martins, professora sênior do Departamento de Letras (DL) da Universidade.
O roteiro do jogo foi desenvolvido pela professora com base principalmente no mito M1 bororo: “O xibae e iari” (“As araras e seu ninho”), que se encontra nas páginas 57 a 59 do volume “Mitológicas 1: O cru e o cozido”, de autoria do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, que desenvolveu pesquisa no Brasil na década de 1930. “Essa narrativa mítica trata da vingança empreendida pelo pai de um jovem indígena, que teria cerca de onze anos estando prestes a participar de um ritual de iniciação. O pai faz com que o jovem passe por vários desafios, até largá-lo no alto de uma encosta onde poderia ter se submetido à morte, seja por inanição, seja atacado por animais selvagens, mas o jovem supera todos os desafios e consegue voltar para a aldeia”, conta Maria Sílvia Martins.
Ao avançar nas fases, o jogador se depara com elementos da narrativa bororo e vivencia os desafios enfrentados pelo protagonista Jeriguigi. “A história de Jeriguigui envolve o comportamento punitivo de seu pai, que o obriga a passar por três desafios que poderiam ter sido mortais, se não fosse a interferência de sua avó materna. Não satisfeito, o pai exige que Jeriguigui vá capturar ararinhas na encosta de uma montanha, e puxa a escada deixando o menino indefeso e sujeito a dois grandes problemas: o encontro com os gaviões-de-cabeça-vermelha, que lhe dão muitas bicadas, e o encontro com o jaguar, a onça-pintada, com quem faz um tipo de barganha”, detalha a docente da UFSCar.
Nome do jogo
O título do jogo “Jeriguigui e o Jaguar na terra dos bororos” enfoca dois termos específicos da linguagem indígena. A professora da UFSCar explica que o nome Jeriguigui aparece no mito com a referência ao grupo ou clã ao qual o menino indígena pertencia, o clã do jabuti. “No mito M7 ‘Kayapó-Gorotire: origem do fogo’, que utilizei de forma complementar, a onça ou jaguar possui o papel de ser quem fornece o fogo para os indígenas. As narrativas míticas dos povos indígenas brasileiros funcionam muitas vezes de forma complementar, de modo que podemos encontrar num mito elementos que completam o outro e que também fazem parte dessa outra cultura”, explica.
“Escolhido o mito, transformei-o em roteiro rico em diálogos em que inseri vários animais – alguns em extinção – que vão fornecendo diversas informações sobre os indígenas brasileiros, suas línguas e suas culturas. Juntamente com seis pesquisadores do Grupo de Pesquisa Leetra, gravamos as falas dos personagens que depois foram legendadas. O próximo passo foi o trabalho do desenhista Hugo Cestari e de uma empresa especializada em jogos, que transformaram meu roteiro em belas imagens, em que os diálogos são acompanhados de jogos e desafios envolventes para crianças de cinco a nove anos, para quem o jogo foi idealizado”, complementa a docente. Toda a montagem do jogo contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp – Projeto 2019-07879-4).
Escolas
O jogo está disponível na versão do Windows – para computadores, notebooks e tablets – no site. Há a previsão, para os próximos seis meses, do lançamento das versões iOS e Android. “Na hora de baixar o jogo, sugerimos que professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I baixem também um texto de 40 páginas elaborado por mim, que se encontra no mesmo espaço e traz orientações e sugestões para sua utilização em sala de aula em projetos de letramento interdisciplinares”, orienta Maria Sílvia Martins.
A docente da UFSCar tem realizado um trabalho junto a escolas para divulgar e implantar o jogo: “Venho me propondo a conversar e orientar professores de Educação Infantil e de Ensino Fundamental I que, após lerem o tutorial, se interessem de fato na implementação do jogo com seus alunos”.
Dúvidas podem ser esclarecidas pelo e-mail: grupo.leetra@gmail.com.
Sobre o povo indígena bororo
Segundo Maria Sílvia Martins, que pesquisa a cultura e a língua de povos indígenas no Brasil, os bororos detêm, hoje em dia, seis Terras Indígenas (TIs) demarcadas no estado do Mato Grosso, num território descontínuo que corresponde a uma área 300 vezes menor do que o seu território tradicional, que antes atingia a Bolívia, parte do estado de Goiás e do Mato Grosso do Sul.
Na década de 1970, o alto grau de insatisfação dos bororo fez surgir um movimento pela recuperação de suas terras tradicionais e pela melhoria dos serviços de saúde e educação. Houve, em 1976, a luta pela terra do Meruri, que culminou no famoso massacre levado a cabo pelos fazendeiros do general Carneiro. Atualmente, a Língua Bororo, que pertence ao tronco linguístico Macro-Jê, é falada por quase toda sua população.
Mais detalhes, imagens e informações sobre esse povo podem ser encontrados no site
Sobre o Leetra
O grupo Leetra/UFSCar, responsável pela iniciativa, conta com três linhas que se relacionam com a questão indígena: Línguas Indígenas; Letramento e comunicação intercultural; e Estudos de Tradução e Poética, que aborda a tradução de cantos e narrativas indígenas.
No mês de junho de 2014, enquanto o país se preparava para assistir aos jogos da Copa do Mundo que ocorreriam no Brasil, uma sequência de acontecimentos se passava na longínqua fronteira do Brasil com o Peru, produzindo uma atualização dos mais de quinhentos anos de colonização em território hoje brasileiro. Por iniciativa própria, um pequeno grupo de indígenas isolados “apareceu” em uma aldeia do povo indígena Ashaninka, localizada no alto rio Envira, no estado do Acre. A Funai (Fundação Nacional do Índio) foi comunicada do acontecimento via rádio e providenciou o deslocamento de uma equipe para o local. Em articulação com a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) foi elaborado um Plano de Contingência para prestar assistência em saúde caso os indígenas isolados retornassem – como, de fato, aconteceu. Devido à constatação de que estes falavam uma língua da família linguística Pano, a Funai providenciou a ida de indígenas do povo Jaminawa para atuarem como intérpretes – os Ashaninka, por sua vez, falam uma língua da família Arawak. Os Jaminawa conseguiram se comunicar com os indígenas isolados e auxiliar na interlocução com os profissionais de saúde, que por sua vez conseguiram administrar medicamentos e vacinas.
Nos meses que se seguiram, o grupo que era composto inicialmente por sete pessoas passou a somar trinta e cinco, entre homens, mulheres e crianças. Os diferentes núcleos familiares foram gradativamente saindo da mata e estabelecendo moradia nas imediações da Base de Proteção Etnoambiental Xinane, estrutura mantida pela Funai no alto rio Envira, acima da aldeia Simpatia, onde vivem os Ashaninka. Na ausência de um etnônimo reivindicado pelo grupo, a Funai tem, desde então, se referido a eles como povo indígena de recente contato do Xinane, ou, de forma abreviada, povo do Xinane, em função da localização de suas moradias nas cabeceiras deste igarapé, afluente do rio Envira.
Essa narrativa simplificada, no entanto, não faz jus a um processo tão complexo, repleto de dilemas e desafios para os diferentes atores envolvidos. Em minha tese de doutorado, descrevi e analisei alguns aspectos e momentos do processo de contato que se deflagrou a partir de quando o povo do Xinane saiu da mata. De forma mais específica, a tese apresenta uma etnografia deste processo de contato centrado na participação dos Jaminawa como intérpretes a serviço da Funai, ao longo de três anos e meio após os primeiros encontros na aldeia Simpatia.
A QUAL PERGUNTA A PESQUISA RESPONDE?
A pesquisa analisa uma rede relacional que foi sendo tecida no decorrer dos primeiros anos após um povo indígena de recente contato, conhecido atualmente como povo do Xinane, estabelecer contato pacífico e permanente com outros povos indígenas e com não indígenas. Trata-se de um processo que vem se desenrolando desde junho de 2014, na Terra Indígena Kampa e Isolados do Rio Envira, no município de Feijó, no Acre, próximo à fronteira com o Peru. De modo mais específico, a análise centrou-se na participação de indígenas do povo Jaminawa, que foram convidados pela Funai para atuarem como intérpretes neste processo de contato. A inteligibilidade mútua entre as línguas faladas pelos Jaminawa e pelo povo do Xinane, associada às semelhanças socioculturais, contribuiu para que os intérpretes indígenas fossem assimilados como “parentes” pelos indígenas de recente contato. Por outro lado, por falarem português e se relacionarem com os brancos, eles puderam exercer também um papel importante na transmissão de conhecimentos e novos hábitos. Diante deste contexto etnográfico, a pesquisa buscou conhecer as pessoas que ocuparam essa posição e refletir sobre diferentes situações vivenciadas por elas ao longo deste processo.
POR QUE ISSO É RELEVANTE?
Existe uma produção historiográfica que remonta à expansão das civilizações europeias para outros continentes e examina a figura dos intérpretes no encontro entre povos nativos e colonizadores. No processo de colonização das Américas, por exemplo, ingleses, espanhóis e portugueses reconheceram a importância da comunicação com povos indígenas por meio de intérpretes nativos como uma estratégia importante para a Conquista (Todorov 1982). Cultural brokers ou go-betweens são alguns dos termos utilizados para caracterizar a atuação destes personagens históricos que ocupam o lugar da dobradiça que conecta dois universos distintos, exercendo papéis como de mediador cultural, tradutor linguístico, guia de viagem, negociador, dentre outros. Igualmente, os intérpretes estão presentes na formação do Brasil ao longo de seus mais de cinco séculos de colonização. No século 16, por exemplo, existiram os chamados “línguas”, pessoas bilíngues em português e “em tupi”, que atuaram como intérpretes para os jesuítas, viabilizando tanto as relações mercantis quanto a conversão religiosa dos nativos no país .
Em uma perspectiva mais recente, embora dispersas em etnografias que falam sobre histórias de contato, existem menções à participação de intérpretes indígenas em expedições de atração e pacificação de povos indígenas isolados. Este, no entanto, permanece sendo um tema pouco explorado na antropologia. Nesse sentido, uma das contribuições da pesquisa é dar visibilidade à atuação destes intermediários, com frequência silenciados ou ocultos nos registros históricos, mas que estiveram (e ainda estão) presentes em uma diversidade de “primeiros encontros” envolvendo os povos indígenas e os brancos ao longo da história, da Conquista da América até os dias de hoje.
RESUMO DA PESQUISA
O período abarcado pela pesquisa concentra-se nos primeiros quatro anos após o povo do Xinane ter saído da mata e estabelecido relações pacíficas e permanentes com outros povos indígenas e com os não indígenas. Desde que saíram da mata, a Funai presta atendimento permanente ao povo do Xinane por meio da execução da política de proteção aos povos indígenas isolados e de recente contato, que em seu nível local é operacionalizada pela FPEE (Frente de Proteção Etnoambiental Envira), cuja sede administrativa fica em Rio Branco, no Acre. Foi nesta cidade que ocorreu a maior parte da pesquisa de campo, embora os acontecimentos narrados falem de outros tempos e lugares. A partir de entrevistas, conversas e encontros com os Jaminawa que trabalhavam como intérpretes e com os servidores da Funai que trabalhavam na FPEE, foi possível reconstituir algumas situações e refletir sobre outras tantas que estavam em curso.
Constituída por quatro capítulos, a tese apresenta uma narrativa sobre os primeiros encontros do povo do Xinane com os Ashaninka, com os funcionários da Funai e com os Jaminawa. A análise das cenas descritas mostrou como os primeiros encontros entre desconhecidos geraram sentimentos de desconfiança e medo em todas as partes envolvidas. Alguns Jaminawa contaram terem usado um preparo de ervas perfumadas para amansar seus “parentes brabos”. Porém, segundo eles, logo que começaram a conversar, viram que conseguiam se entender e passaram a se chamar por termos de parentesco. Assim, a presença dos intérpretes contribuiu para o estabelecimento de vínculos de confiança e para apaziguar conflitos, especialmente nos primeiros meses após o povo do Xinane ter saído da mata.
Entretanto, para além de traduzir mensagens, a relação dos Jaminawa com o povo do Xinane envolveu trocas materiais, transmissão de conhecimento e de novos hábitos, contribuindo para que estes viessem a se acostumar com a vida fora da mata e entre os brancos. Neste sentido, a tese mostra que o conhecimento mobilizado entre os intérpretes e seus interlocutores não se restringiu ao domínio de códigos linguísticos, abrangendo também um entendimento do comportamento cultural e da dinâmica das relações sociais. Esta atuação não poderia, portanto, ser dissociada das suas histórias de vida, da sua curiosidade e dos seus interesses, bem como de suas perspectivas no que diz respeito às situações de isolamento e de contato. Neste contexto, alguns Jaminawa tiveram maior envolvimento e protagonismo na relação com os indígenas do povo do Xinane. No segundo semestre de 2017, por exemplo, indígenas do povo do Xinane fizeram suas primeiras viagens às cidades e, nestas, o encontro com os intérpretes Jaminawa apareceu como elemento mobilizador dos deslocamentos. Por sua vez, essas viagens estremeceram a relação já conturbada que a FPEE mantinha com os Jaminawa, levando ao término dessa colaboração, em dezembro de 2018.
Por fim, é possível dizer que, em certa medida, a tese apresenta uma etnografia da execução da política pública para povos indígenas de recente contato – e da participação indígena em sua implementação. Embora não me debruce na estrutura e implementação desta política em contexto nacional, alguns dilemas e reflexões característicos a essas situações emergem na análise do caso etnográfico. Cabe destacar que a existência de uma política pública específica permitiu que durante os primeiros anos após o contato não houvesse nenhuma morte por doença infectocontagiosa entre o povo do Xinane. Essa situação se distingue drasticamente das experiências históricas de contato, nas quais a perda populacional, decorrente de epidemias e falta de assistência sanitária, costumava ser de proporções alarmantes.
Representantes locais dos povos hunsriqueanos, pomeranos, talians, westfalianos e poloneses participaram do ato – Foto: Itamar Aguiar/Palácio Piratini
O governador Eduardo Leite sancionou, na tarde desta segunda-feira (21/2), no Palácio Piratini, o projeto de lei (PL) que reconhece as línguas e culturas locais como de relevante interesse cultural do Estado e institui o Dia Estadual da Língua Materna e das Línguas e Culturas Locais, que passará a ser celebrado anualmente em 21 de fevereiro. O PL 36/2020 é de autoria do deputado estadual Elton Weber.
“É muito importante essa valorização da nossa diversidade étnica, cultural e racial, porque é a partir dessa valorização que construímos uma sociedade com o entendimento de que as nossas diferenças não nos diminuem, mas potencializam o nosso desenvolvimento. Somos diversos, e isso nos enriquece e contribui para a construção de um mundo mais tolerante e com mais respeito. Por isso é uma alegria poder sancionar esse projeto que contribui para a valorização da diversidade e das diferentes culturas que formam nosso Rio Grande”, disse o governador.
A secretária da Cultura, Beatriz Araujo, que também participou do ato, destacou a importância da pluralidade linguística e cultural. É uma alegria ver uma iniciativa dessa natureza vindo da Assembleia Legislativa para valorizar a cultura local. Estamos trabalhando incessantemente pelo fortalecimento do nosso sistema estadual de cultura e pelo reconhecimento da diversidade cultural”, disse.
A diversidade linguística é um dos 12 segmentos com representatividade em colegiados setoriais organizados pela Secretaria da Cultura. Dentre as ações da secretaria estão o direcionamento de recursos do Pró-Cultura para atender às demandas do segmento e projetos contemplados pela Lei Aldir Blanc. A secretária também citou o exemplo do Projeto Cucagna Scola De Talian, que apoiou, no âmbito do Pró-Cultura, a criação de uma escola virtual para ensino a distância desse idioma.
O deputado Elton Weber, proponente da lei, falou sobre a escolha da data para o Dia Estadual da Língua Materna e das Línguas e Culturas Locais. “Hoje, 21 de fevereiro, é o Dia Mundial das Línguas, criado pela Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura], e por isso achamos importante que fosse esse o dia que reconhece e valoriza a diversidade linguística e cultural do nosso Estado”, explicou.
Também participaram do ato de sanção os representantes locais dos povos hunsriqueanos, pomeranos, talians, westfalianos e poloneses.
Projeto de lei de cooficialização das línguas indígenas chegará ao plenário da Câmara dos Deputados com pedido de regime de urgência
m São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro, no Amazonas, fala-se tukano, baniwa, nheengatu… e português. Duas décadas depois do primeiro município brasileiro ter línguas indígenas cooficializadas, o que abriu espaço para outras cidades com forte presença de populações indígenas replicarem a lei no país, apenas oito línguas indígenas já foram cooficializadas em sete municípios do Brasil – de um total calculado em 180 línguas indígenas faladas por etnias do país. A última a entrar na lista foi a língua mebêngôkre, falada em São Felix do Xingu, no Pará: cooficialização ocorreu em 2019.
Com o estatuto de língua cooficial em relação à Língua Portuguesa, os povos indígenas garantem o ensino da língua nos seus município, assim como documentos oficiais e todos os tipos de sinalizações e orientações em repartições públicas. A cooficialidade é um reconhecimento que o Brasil é país um plurilinguístico. Apenas 10 municípios têm línguas indígenas cooficializadas: além de São Gabriel (AM), onde o ianomani também foi oficializado, e São Félix (PA), Bonfim e Cantá, em Roraima, oficializaram macuxi e wachipana; Tocantínia (TO) reconhece xerente; em Tacuru, no Mato Grosso do Sul, o guarani é língua oficial; Barra do Corda, no Maranhão, reconheceu tenehara/guajajara; em Santo Antônio do Içá, no Amazona, o tikuna tornou-se língua cooficial; o terena é reconhecido em Miranda (MS); no município cearense de Monselhor Tabosa, o tupi-nheengatu é língua cooficial ao lado do português.
Na Câmara dos Deputados, depois de aprovado nas comissões de Cultura e de Direitos Humanos e Minorias, o projeto de lei 3074/19, do deputado Federal Dagoberto Nogueira (PDT/ MS), segue para a Comissão de Constituição de Justiça, presidido pela deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL/DF); o projeto estabelece que, em todos os municípios com comunidades indígenas, a língua da etnia deve ser cooficial. “A cooficialização das línguas indígenas nos municípios que possuem comunidades indígenas significa dar visibilidade e, consequentemente, a garantia de direitos aos seus falantes”, defende o parlamentar.
Escola indígena no município de Tacuru, em Mato Grosso do Sul: guarani como língua cooficial (Foto: Prefeitura de Tacuru)
Por ter sido aprovado por unanimidade nas duas comissões, Nogueira acredita que não terá dificuldades de ver seu projeto de lei passar na Comissão de Constituição de Justiça. “Espero que também seja aprovado por unanimidade”, avalia o parlamentar, antecipando que, ao chegar no plenário, ele pretende encaminhar um pedido de urgência ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL). “Esse projeto de lei não é político e nem ideológico. Não acredito que venha sofrer resistência nem mesmo dos mais conservadores”, argumenta, lembrando que o primeiro deputado indígena eleito no país, Mario Juruna, chegou à Câmara dos Deputados pelo PDT.
Pesquisadores do Brasil e do exterior estão produzindo um dicionário para preservar a língua; estima-se que a cada 25 crianças que nascem na localidade, uma nasce com surdez
Várzea Queimada, distrito de Jaicós, no sertão do Piauí, distante cerca de 370 km de Teresina, possui 900 moradores e tem um dos piores índices de desenvolvimento humano do país, ficando na posição 5.430°. Mas a comunidade também chama a atenção por um outro motivo: a quantidade de pessoas surdas que nascem lá. Até agora, são 34. E, para se comunicar, eles desenvolveram uma língua própria: a Cena.
Agora, pesquisadores do Brasil e do exterior estão organizando um dicionário para preservar essa língua. É que tanto os surdos quanto os não surdos se comunicam através de gestos, que indicam ações do dia a dia, como ir à igreja ou avisar que está fazendo calor.
A localidade possui aproximadamente 34 pessoas surdas. (Foto: Reprodução/ TV Globo/Fantástico)
A diferença é que todos esses sinais foram criados por eles.Não por acaso, essa nova língua foi batizada de Cena.
Silvana Lusia Barbosa tem seis filhos. Três deles nasceram surdos. Como não tiveram acesso ao aprendizado de Libras, a Língua Brasileira de Sinais, o jeito foi improvisar.
“Foi difícil, mas consegui (educá-los), porque é uma regra que eles vão aprendendo, aprendendo até adaptar. Ainda hoje tem dificuldade, claro, porque os ouvintes também têm… mas deu para entender, eles já sabem comunicar todas as Cenas”, conta a dona de casa.
Silvana Barbosa ajudou a desenvolver a Cena em Jaicós. (Foto: Reprodução/ TV Globo/Fantástico)
Sem saber, a família ajudou a estruturar o que os pesquisadores chamam de língua emergente. O fenômeno despertou o interesse de um doutor em linguística pelo Massachusetts Institute of Technology.
“Acho até um nome bonito, que dá essa dimensão teatral. É uma língua nova, completamente inédita e completamente diferente de Libras”, explica Andrew Nevins.
Há cinco anos, especialistas da área de linguística da Universidade Federal do Delta do Parnaíba pesquisam as origens e o desenvolvimento da língua de sinais no povoado. De lá pra cá, os estudos avançaram bastante e até agora os pesquisadores já catalogaram quase 300 expressões utilizadas pela comunidade de surdos de Várzea Queimada.
O resultado está ganhando forma com o dicionário Cena/Libras. As palavras estão sendo registradas em fotos.
Dicionário comparativo de Libras e Cena está sendo organizado por pesquisadores. (Foto: Reprodução/ TV Globo/Fantástico)
Mas o que explica tantos surdos nascerem num só lugar? A resposta está na genética. A doutora Karina Mandelbaun estudou profundamente a localidade, onde o casamento entre primos era bem comum.
“A perda de audição é muito heterogênea, mas a forma mais comum é a herança recessiva. É o seguinte: nosso material genético está sempre aos pares. Por quê? Porque vem uma cópia do nosso pai e uma cópia da nossa mãe. E esse material genético contém ‘instruções’ para fazer todo o nosso corpo, desde a cor do nosso cabelo, da nossa altura, e também ele tem esses ‘defeitinhos’ que podem levar a alguma doença”, explica.
O município do Piauí é um dos únicos locais do mundo a participarem do estudo sobre evolução paralela da língua. (Foto: Reprodução/ TV Globo/Fantástico)
Os pesquisadores também querem traçar uma comparação entre o caso brasileiro, e outras duas comunidades que ficam na Turquia e outra em Israel, para analisar se há uma evolução paralela de linguagem.