Lançamento: Revista NJINGA & SEPÉ, Vol. 3, nº2

v. 3 n. 2 (2023): Cultura & Sociedade – Que Literacia(s) para uma Justiça Económica e Social?

O  Vol. 3, nº2/2023 (Jul./dez.) resulta de parcerias de vários docentes e investigadores  que participaram da 2ª Conferência Internacional sobre Cultura & Sociedade – Que Literacia(s) para uma Justiça Económica e Social?, realizada na Universidade Zambeze, Moçambique, em formato online/remoto, nos dias 27 e 28 de maio de 2021. O dossier é composto por  quinze (15) artigos avaliados aos pares e selecionados por um comitê Científico. Para além dos artigos do dossier (Seção I), foi publicado uma entrevista (Seção II), materiais literários/poesias (Seção III), artigos sobre as línguas de sinais (seção VI) e vários outros artigos científicos de diversas áreas afins (Seção VII). Participaram da organização desta publicação os seguintes docentes e investigadores: Hilarino da Luz (Portugal/Cabo Verde), Esperança Ferraz (Angola), Noemi Alfieri (Alemanha/Portugal), Mbiavanga Fernando (Angola), Elizabeth Olegário(Portugal), Martins JC-Mapera (Moçambique) e Moisés de Lemos Martins (Portugal). Agradecemos as parcerias e desejamos a todos uma boa leitura. Podem (com)partilhar o link da Revista com outros interessados.

Publicado: 12-07-2023

 

https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape/issue/view/46

Em que língua se ensina nas universidades de Timor-Leste?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No início deste mês tomou posse o IX Governo Constitucional de Timor-Leste. Na cerimónia de tomada de posse, Kay Rala Xanana Gusmão afirmou que a língua portuguesa e a formação de professores seriam uma preocupação do governo.

Na RTTL, no passado dia 6 de Julho, num programa semanal, foi entrevistado o Reitor da Universidade Católica de Timor-Leste e, uma das perguntas dirigidas ao entrevistado, foi para indagar em que língua os docentes ministram as aulas.

Ora bem, como este assunto é de importância estratégica para Timor-Leste, começando-se, finalmente, a questionar o rumo do país nesta matéria, decidi tornar público parte dos resultados de um “Estudo de caso” que realizei em Novembro de 2022, com o envolvimento de 50 estudantes de algumas Instituições de Ensino Superior de Díli.

Este estudo foi apresentado na 12ª Conferência do Fórum da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa (FORGES), na Universidade pública de Cabo Verde, portanto, os cidadãos da CPLP que testemunharam a exposição ficaram cientes da realidade sobre a (não) utilização da língua portuguesa nas Instituições de Ensino Superior que integraram a amostra do estudo, uma amostra por conveniência, ou seja, num processo de amostragem não probabilístico, sem pretensões de generalização dos resultados.

Conferencistas da 12ª Conferência FORGES, em Cabo Verde (2022)

Contexto social, geopolítico e ensino superior em Timor-Leste

Timor-Leste, como se sabe, é um território com cerca de 15 mil quilómetros quadrados e 1 milhão e 300 mil habitantes, situa-se no Sudeste Asiático, tendo a Austrália e a Indonésia como países vizinhos, continuando-se (ainda) a discutir as questões inerentes às fronteiras terrestres e marítimas, a disputa do petróleo e gás, entre outros aspectos.

No campo do Ensino Superior o país vive tensões complexas, em relação ao processo de ensino-aprendizagem, em relação à língua de ensino, entre outras dimensões.

As tensões devem-se, por um lado, devido à discussão que emerge no âmbito do plano didáctico-pedagógico e que remete para as metodologias de ensino-aprendizagem, sabendo-se que umas são mais tradicionais, fortemente centradas na figura do professor e do gestor, e outras propostas pedagógicas, contemporâneas, apologistas da  pedagogia da aula invertida, com ênfase na figura do estudante e no desenvolvimento de competências científicas e de âmbito alargado.

Por outro lado há a problemática sobre a língua ministrada no ensino superior timorense, apesar de estar mais que legislado sobre quais devem ser as línguas a utilizar no ensino superior.

O território nacional, é certo, geograficamente pertence ao Sudeste Asiático, sendo necessário ao Estado timorense fazer um exercício inovador e complexo face à pressão exercida de forma implícita e explícita pelos países vizinhos e pelos grupos regionais, nomeadamente a ASEAN (Associação dos Países do Sudeste Asiático) e o Fórum das Ilhas do Pacífico (FIP), devido aos interesses económicos e políticos que preocupam todas as partes.

Após a tomada de posse do Presidente da República, José Ramos-Horta, eleito com o esforço conjunto do CNRT e do PST (o CNRT com dois mil apoios formais de militantes e o PST com três mil cartões), surgiu uma nova dinâmica no que diz respeito à política externa, elegendo-se como prioridade principal a adesão formal de Timor-Leste à ASEAN.

As prioridades e decisões nessa matéria pertencem à Presidência da República e ao IX Governo Constitucional, pelo que, não faço nem tenho que fazer críticas, mas, como sou  sou livre de emitir opiniões, neste aspecto, penso que Timor-Leste ainda não está preparado para aderir formalmente à ASEAN.

Ora, por que é que estou a tecer considerações sobre a ASEAN e o FIP no contexto de uma discussão em torno da língua portuguesa ministrada nas universidades timorenses?

A Constituição da República Democrática de Timor-Leste (C-RDTL), no seu Artº 13, refere que em Timor-Leste há duas línguas oficiais: tétum e português.

Outrossim, a C-RDTL, no seu Artº 159º, é referido que o inglês e o indonésio são línguas de trabalho, “enquanto tal se mostrar necessário”.

Panorama geral das IES, docentes e estudantes

IES Nº IES
(Acreditadas)
Nº Docentes Nº Estudantes
IES Públicas 2
(1 universidade e 1 Instituto)
629
(apenas 7% sexo feminino)
16.819
IES Privadas 17
(4 universidades e 13 Institutos)
1628
(apenas 20% sexo feminino)
31.654
Total * 19
(5 universidades e 14 Institutos)
2257 48.473

 

Para além da C-RDTL, a Lei de Bases da Educação (Línguas do sistema educativo) também esclarece que o tétum e o português são as línguas de ensino do sistema educativo:

As línguas de ensino do sistema educativo timorense são o tétum e o português”.

(Artigo 8º da LBE – Lei de Bases da Educação)

E, para reforçar ainda mais a LBE, o Decreto-Lei Nº 3/2022 de 12 de Janeiro que estabelece o regime jurídico do currículo padrão nacional do ensino superior, no seu Artigo 3º (Definições), refere sem equívocos, na sua alínea k):

Línguas oficiais: as definidas constitucionalmente”.

(Artigo 3º do Decreto-Lei Nº 3/2022 de 12 de Janeiro)

O povo timorense aguarda a divulgação dos resultados do Relatório da Comissão, anunciada pelo IX Governo para avaliar o “Estado da Arte” do ensino superior em Timor-Leste, nomeadamente, o diagnóstico sobre as línguas de ensino ministradas nas Instituições de Ensino Superior.

Contudo, a avaliar pelo “Estudo de caso” que realizei no final do ano passado, apresentado em Cabo Verde, agora aqui partilhado no Jornal Tornado, se o anunciado relatório governamental for rigoroso e exaustivo, penso que irá criar muita celeuma quando se constatar que a maior parte dos docentes lecciona em língua indonésia e em tétum, e até em inglês, apesar da legislação ser clara e inequívoca nessa matéria.

96% de estudantes do ensino superior querem aulas em português

O meu intuito em partilhar os resultados do estudo é problematizar em torno da teoria e da prática, ou seja, a lei e as orientações superiores não condizem com a prática.

Em termos empíricos, a fim de recolher dados que pudessem comprovar as minhas  premissas, para ilustrar melhor o meu pensamento, apliquei 50 questionários a estudantes de 8 Instituições de Ensino Superior (IES), um inquérito só com perguntas fechadas, numa amostra não aleatória, porquanto, não foi minha intenção generalizar os resultados mas, tão-somente, analisar os resultados numa perspectiva de “estudo de caso”.

Estabelecendo como principal objectivo do estudo analisar o ponto de situação em relação à (s) língua (s) de ensino ministradas nas IES timorenses, foi solicitado aos estudantes que respondessem (Sim/Não) às seguintes questões:

  1. Os professores ensinam em português?
  2. Os professores ensinam em tétum?
  3. Os professores ensinam em bahasa indonésia?
  4. Os professores ensinam em inglês?
  5. Os professores ensinam em tétum e bahasa indonésia?
  6. Os professores ensinam em tétum e português?
  7. Gostaria de ter aulas em português?
  8. Vai escrever (ou escreveu) a sua monografia em português?
  9. Vai escrever (ou escreveu) a sua monografia em bahasa indonésia?

O Questionário respeitou todas as regras de ordem ética (anonimato, etc.) e apresentava mais 8 perguntas, sobre outros tópicos, onde se incluía, a solicitação de informações sobre as competências científicas e pedagógicas dos docentes, dos reitores, sobre os recursos materiais, entre outras.

Para ultrapassar os habituais obstáculos de ordem administrativa, muito habituais em Timor-Leste, devido ao excessivo sistema de organização e gestão fortemente centralizado e burocrático, e superar outras barreiras de carácter subjectivo, os inquéritos foram aplicados no exterior dos recintos das universidades / institutos.

IES dos estudantes envolvidos no estudo

Universidades/Institutos Estudantes
1 Universidade de Díli /UNDIL) 15
2 Universidade da Paz (UNPAZ) 4
3 Universidade Nacional de Timor Oriental (UNITAL) 3
4 Instituto Superior Cristal (ISC) 5
5 Institute of Business (IOB) 4
6 Dili Institute of Tecnology (DIT) 4
7 Universidade Nacional  de Timor Lorosae (UNTL) 10
8 Universidade Católica Timorense (UCT) 5
Total de estudantes 50

 

Em relação às respostas dos estudantes sobre a monografia e as suas preferências de língua de ensino, os resultados são os seguintes:

  • 22 estudantes responderam que vão escrever a monografia em português;
  • 28 responderam que não vão escrever a monografia em português;
  • 48 estudantes querem aulas em português (dois querem em tétum porque frequentam um curso de tétum);

Em relação às respostas dos estudantes sobre a língua de ensino, obtiveram-se as seguintes informações:

  • 1 docente ensina exclusivamente em português;
  • 5 docentes ensinam exclusivamente em inglês;
  • 6 docentes ensinam em tétum e em português;
  • 7 docentes ensinam em tétum e bahasa indonésia;
  • 31 ensinam em tétum, bahasa indonésia e português;

A maior parte dos docentes das Instituições de Ensino Superior de Timor-Leste obtiveram os graus académicos de licenciatura, mestrado e doutoramento em universidades indonésias, por ser mais barato, devido às aulas serem ministradas em língua indonésia (a língua internacional que os docentes dominam).

Esta realidade, desconhecimento generalizado da língua portuguesa por parte dos docentes e reitores (mas também de deputados, dirigentes de partidos políticos, jornalistas, etc.), agravada com a ausência de um programa sério de capacitação de professores (e de outros quadros do país), têm como consequência as aulas serem ministradas em língua indonésia e/ou tétum, muito pouco ou quase nada em língua portuguesa.

Como se não bastasse, li há pouco uma notícia, segundo a qual, a nova ministra da educação, Dulce Soares, também quer introduzir a língua coreana e a língua francesa nas escolas, quiçá para preparar jovens para (ainda) mais emigração (!).

Bem, seja qual for a estratégia, cada vez mais, observa-se que há um investimento em todas as línguas e cada vez menos na língua portuguesa.

 

https://www.jornaltornado.pt/em-que-lingua-se-ensina-nas-universidades-de-timor-leste-2/

Pode a música salvar uma língua em extinção?

Um movimento liderado pela música está revitalizando a língua garífuna na América Central. Em Belize, os viajantes são convidados a participar.

POR STEPHANIE VERMILLION   PUBLICADO 1 DE AGO DE 2022 19:22 

 

 

FOTO DE ROIJOY GETTY IMAGES

 

Biodiversidade e belos locais para snorkel e mergulho atraem os aventureiros para a Barreira de Corais de Belize, uma das histórias bem-sucedidas de conservação da América Central. Mas em terra firme, existe outro impressionante movimento de restauração em curso: a luta para reviver uma língua ameaçada de extinção.

Durante séculos, o povo afro-indígena garífuna da América Central manteve viva a história oral da cultura por meio da língua nativa de seus ancestrais. Mas décadas de modernização, pouco e aleatório treinamento da língua nativa nas escolas garífunas, casamentos entre diferentes culturas e o preconceito linguístico, coletivamente, levaram o garífuna a ser listado no Atlas de Línguas Ameaçadas da Unesco, em 2001. Hoje, os linguistas estimam que só existem cerca de 100 mil falantes.

Hopkins, uma pequena vila de pescadores

Hopkins, uma pequena vila de pescadores na costa do distrito de Stann Creek, é frequentemente considerada o epicentro da cultura garífuna em Belize. FOTO DE HEMIS ALAMY STOCK PHOTO

A ameaça de extinção de uma língua não é nova. Alguns linguistas estimam que uma delas morre a cada duas semanas, já que algumas se tornam ferramentas dominantes para o intercâmbio social e econômico, enquanto outras são marginalizadas.

Mas também existem maneiras de salvar idiomas em risco. A chave é deixar de pensar a língua como preservada, “e sim como parte do seu presente e do seu futuro”, diz Liliana Sánchez, linguista e professora da Universidade de Illinois em Chicago.

É exatamente isso que os garinagu (povo garífuna) estão fazendo. Nas últimas duas décadas, os artistas garífunas usaram um ponto importante da sua cultura – música de dança animada – para inspirar os jovens garinagu a aprender e compartilhar sua língua nativa. Hoje, com um novo projeto da Trilha de Turismo Garífuna em Belize, os viajantes também podem vivenciar e apoiar o renascimento cultural.

Garífuna: uma cultura orgulhosa

De acordo com a história oral, os garinagu descendem de um grupo de africanos ocidentais que sobreviveram ao naufrágio de seu navio negreiro no Mar do Caribe em 1600. Os sobreviventes nadaram até a ilha de São Vicente, que agora faz parte do país caribenho de São Vicente e Granadinas. Eles passaram mais de um século se estabelecendo e se misturando com a população indígena carib-arawak da ilha, criando a cultura garífuna.

Uma dançarina garinagu realiza o jankunu para uma multidão em Dangriga

Uma dançarina garinagu realiza o jankunu para uma multidão em Dangriga, Belize. A apresentação satírica é uma mistura de canto, mímica e dança. FOTO DE EDWIN REMSBERG VWPICS, REDUX

Por quase 100 anos, os garinagu lutaram contra a colonização de São Vicente. Os britânicos tomaram a ilha no final de 1700, depois exilaram os garinagu sobreviventes para Honduras. A partir daqui, eles se dispersaram para a Nicarágua, Guatemala e Belize, onde, como uma cultura centrada na pesca, se estabeleceram em comunidades costeiras.

Alvin Laredo, um guia turístico garífuna da vila de Barranco, no sul de Belize, diz que os garinagu modernos precisam não apenas de histórias, mas de uma língua real para compreender a corajosa posição de seus ancestrais contra a escravidão. Sem isso, diz ele, sua cultura nunca será completa. “Se você está perdendo seu idioma, está perdendo suas raízes”, alerta. “Isso desmantelará todo o esforço dos seus antepassados.”

O Garifuna Collective se apresenta no Festival de Jazz e Patrimônio de Nova Orleans

O Garifuna Collective se apresenta no Festival de Jazz e Patrimônio de Nova Orleans no hipódromo Fair Grounds em abril de 2016. Durante as apresentações de jankuku, os homens usam trajes coloniais e máscaras brancas para zombar de seus escravizadores britânicos. FOTO DE JOSH BRASTED WIREIMAGE, GETTY IMAGES

Laredo acrescenta que grande parte da história dos antepassados é transmitida não apenas por palavras, mas por músicas e danças, como o jankunu. Nesta dança satírica, executada ao ritmo dos tambores durante os feriados de Natal e Ano Novo, os garinagu usam máscaras brancas e trajes coloniais para zombar dos escravizadores ingleses.

O poder da canção na cultura garífuna

Em 2001, elementos da cultura garífuna – como a música, a dança e a língua – foramlistados como Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade da Unesco. Na mesma época, músicos e ativistas culturais garífunas traçaram um plano: criar melodias contagiantes, cantadas inteiramente em garífuna, com o objetivo de incentivar os jovens garinagu na valorização da cultura e aprendizagem da língua.

As apresentações de jankunu ocorrem frequentemente durante as celebrações de Natal e Ano Novo.

As apresentações de jankunu ocorrem frequentemente durante as celebrações de Natal e Ano Novo. As mulheres podem cantar com o grupo, mas tocar bateria e dançar é exclusividade dos homens garífunas FOTO DE KACIE CRISP GETTY IMAGES

Ou, como disse o cantor, compositor e Artista da Paz da Unesco Andy Palácio, de Belize, em uma entrevista de 2007: Torne a cultura garífuna “legal”.

O Punta rock fez exatamente isso. A música punta tradicional é tocada com tambores e maracas, com sons que ecoam os dos ancestrais africanos dos garinagu. Paranda, outro estilo clássico de música garífuna, adiciona guitarra às melodias, o que sugere a influência da cultura centro-americana.

Punta rock é “o que realmente explode”, diz Laredo. É semelhante à punta, mas com teclado, guitarra elétrica e buzinas – a mistura perfeita para impressionar no cenário mundial.

Palácio, líder no renascimento cultural, reuniu músicos garífunas em toda a América Central para formar a banda Garifuna Collective, em 2007. Suas letras garífunas enviaram uma poderosa mensagem: é hora de defender nossa cultura.

Depois de várias turnês mundiais e prêmios internacionais de música, a banda “colocou a cultura garífuna no mapa internacional e levou Belize junto com ele”, destaca Laredo. Mesmo após a morte de Palácio, em 2008, suas letras e o trabalho de ativistas musicais garífunas em toda a América Central acenderam uma chama cultural para garinagu em todo o mundo.

“A música me deixou intrigado com a cultura; tornou-se uma identidade”, comenta Kevin Ramirez, músico e produtor garífuna radicado em Nova York, onde seus pais, ambos garífunas, imigraram de Honduras. Ramirez cresceu aprendendo sobre a cultura de sua família, mas, como garífuna-americano, lutou para compreender sua identidade. “Sou negro, mas os negros americanos não me acolheram porque eu falava espanhol. Eu falava espanhol, mas os latinos não me acolheram por ser negro”.

O Garifuna Collective toca no Festival Paleo em Nyon, Suíça

O Garifuna Collective toca no Festival Paleo em Nyon, Suíça, em 2017. A banda foi formada, em 2007, pelo cantor garifuna Andy Palácio para ajudar a revitalizar a música garífuna e trazê-la para o público internacional. FOTO DE LOONA ABACA, SIPA USA, AP

Ele encontrou um sentimento de pertencimento depois de visitar Honduras e assistir a shows ao vivo de música garífuna. Essas viagens o inspiraram a fundar a Hagucha Records, uma das principais gravadoras garífunas da atualidade. Sua história de recuperação cultural, aprimoramento e difusão da cultura e da língua por meio da música espelha a trajetória de muitos artistas garífunas contemporâneos.

O músico James Lovell, por exemplo, adotou a língua aos 16 anos para seguir os passos de seu músico belizenho favorito, e promotor cultural, Pen Cayetano, “o rei do punta rock”. Lovell tornou-se parte de um esforço de base maior para ensinar o idioma em Nova York. Hoje há cada vez mais aulas de língua garífuna disponíveis on-line.

(Você pode se interessar por: Os melhores destinos do mundo em 2022)

A mensagem de Palácio inspirou outros grupos de músicos: os fundadores da Battle of the Drums, uma competição internacional de música em Belize. Esta reconhecida equipe ajuda escolas de ensino fundamental e médio em Belize com o ensino da cultura e a língua garífuna através da música – uma estratégia emprestada por outros professores de línguas que ensinam garífuna por meio da música.

A música salvará a língua garífuna? O tempo vai dizer. O garífuna permanece na lista de línguas ameaçadas da Unesco, atualizada pela última vez em 2010. E, como os havaianos aprenderam ao revitalizar sua própria língua após a colonização, esse tipo de renascimento é um caminho longo que envolve várias gerações.

Apoio do turismo em Belize

O renascimento da língua garífuna tem um novo e bem-vindo impulso: a Trilha de Turismo Garífuna de Belize, lançada formalmente em março de 2022. Semelhante às experiências culturais maias do país, esta trilha é o primeiro esforço coletivo de Belize para promover experiências de turismo garífuna. Em vez de seguir um modelo turístico de “dançarinos em resorts”, os garinagu convidam os viajantes a experimentar e se conectar com eles onde eles moram e em seus termos.

A iniciativa é financiada por doações, liderada pelo Conselho de Turismo de Belize e pela Organização de Turismo do Caribe, e inclui 50 empresas de proprietários garífunas em Dangriga e Hopkins, dois centros culturais na costa sul de Belize. À medida que o caminho avança, os organizadores esperam adicionar mais negócios locais.

As experiências vão desde aulas de música no Centro de Percussão Lebeha, em Hopkins, até admiração da arte tradicional na Galeria de Arte e Artesanato Garinagu, em Dangriga. As metas para a conclusão da trilha em 2024 incluem treinamento de guias turísticos e expansão para outras cidades garífunas.

O turismo por si só não salvará uma língua. Um renascimento sustentável deve criar raízes com os próprios falantes nativos. Mas o turismo pode fornecer uma motivação eficaz para a retenção da língua: renda. Sánchez acredita que mais oportunidades econômicas, juntamente com o orgulho de identidade cultural, podem ajudar a motivar os jovens garinagu a continuar aprendendo o idioma.

Há outro lugar, talvez inesperado, onde Laredo e Ramirez encontram esperança para o futuro da cultura de seus antepassados: o TikTok, onde vídeos de punta-rock com novas versões de músicas e danças tradicionais garífunas acumularam 800 milhões de visualizações – número que continua crescendo.

Veja a matéria na fonte: https://www.nationalgeographicbrasil.com/viagem/2022/07/pode-a-musica-salvar-uma-lingua-em-extincao

Programa Brasil Cigano em Santa Catarina

Caravana Participativa do Programa Brasil Cigano realiza escutas às comunidades em Santa Catarina

Segundo lideranças locais, no estado existem cerca de 3.000 mil ciganos das etnias Rom, Calon e Sinti.
Publicado em 04/07/2023 16h59 Atualizado em 04/07/2023 17h00

Reunião com a Prefeitura de Major Vieira e representantes das secretarias do governo municipal. Foto: Walisson Braga/ MIR.

Ministério da Igualdade Racial está desde segunda-feira (3/7), em Santa Catarina, para a segunda etapa da caravana Brasil Cigano. O ponto de partida foi no município de Major Vieira, onde é localizada a comunidade cigana da etnia Calon, liderada por Rogério Calon, presidente do Centro de Referência Cigana do Estado de Santa Catarina. A recepção ocorreu na casa do líder da comunidade e da sua família, que acolheu a equipe do MIR, e relatou os principais desafios vivenciados por eles na região.

A comitiva do MIR é composta pela diretora de Políticas para Quilombolas e Ciganos, Paula Balduino, e a coordenadora-geral de Políticas para Ciganos, Edilma Nascimento. També participa a Assessora de Participação Social e Diversidade do Ministério da Previdência Social, Amanda Anderson.

A Caravana também realizou uma visita institucional à prefeitura do município, onde estavam presentes alguns secretários municipais. O propósito desse encontro foi escutar quais políticas públicas estão sendo empregadas em benefício do povo cigano na região.

Durante a reunião, Rogério Calon expressou o descontentamento pelo tratamento recebido pelas comunidades ciganas. “Todo cidadão é igual perante a lei, mas quando se trata do povo cigano, não funciona assim”, disse ele.

A coordenadora de políticas para ciganos, ressaltou a importância de incluir o público-alvo na criação e gestão de políticas públicas. Ela enfatizou que é necessário acompanhar de perto as necessidades dessas comunidades e ouvir suas demandas para um trabalho mais efetivo.

A diretora Paula Balduino aproveitou a oportunidade para apresentar o Programa Brasil Cigano. “É uma ferramenta do governo federal para estabelecer parcerias entre os estados, municípios e a sociedade civil, visando à implementação de ações que promovam a igualdade racial e melhorem as condições de vida das comunidades ciganas”, detalhou.

Na segunda parte da atividade, foi realizada uma reunião com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social para discutir estratégias para o fortalecimento da assistência social e a criação de políticas de inclusão e apoio às comunidades ciganas.

A equipe do governo federal visitou, ainda, dois acampamentos ciganos no município de Canoinhas. Esses dois acampamentos, da etnia Calon, vivem em itinerância e enfrentam dificuldades. Segundo relatos das lideranças, eles não são acolhidos pelas cidades como deveriam, sofrendo preconceito e violências de várias formas. Muitas dessas comunidades não possuem acesso a água, energia e outras políticas públicas.

“Ladrão não somos, enganador não somos, o povo cigano não é esses estereótipos criados pela sociedade. Somos presos por acampar, e isso não é crime, é nosso modo de vida”, enfatizou a liderança cigana Luan Colón do município de Canoinhas. Segundo lideranças ciganas locais, no estado de Santa Catarina existem cerca de 3.000 mil ciganos, das etnias Rom, Calon e Sinti.

Na próxima quarta-feira (5) será realizada uma roda de conversa em Florianópolis com Lideranças Ciganas e órgãos de Santa Catarina, no auditório CFH da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

 

 

 

Edital de fortalecimento de comunidades indígenas e tradicionais é prorrogado até o dia 28 de julho

Brasília, 03/07/2023 – A Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP) anuncia a prorrogação, para o dia 28 de julho, do prazo para o envio de propostas ao edital de enfrentamento a situações de vulnerabilidade social de povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia Legal ameaçados pelo narcotráfico.

A iniciativa visa contemplar organizações da Sociedade Civil (OSC), indígenas e comunitárias, de todo país. Serão financiados até 30 projetos que tenham atuação comprovada em apoio a redes e coletivos locais e regionais no valor de até R$ 250 mil. No total, serão investidos cerca de R$ 3 milhões em projetos.

Segundo a secretária da Senad, Marta Machado, o objetivo do edital é mitigar os efeitos do narcotráfico e demais redes criminais nas áreas mais remotas do país, retomando a proteção e segurança dos povos indígenas e tradicionais.

Eixos temáticos

O edital abrange três eixos de fomento: enfrentamento a situações de vulnerabilidade social de jovens e adultos indígenas, por meio da geração sustentável de renda e participação social; ações voltadas à prevenção de violências (sexual, física e simbólica) contra mulheres indígenas ou à mitigação dos efeitos destas violências (acesso a direitos, proteção, amparo e acolhida); e prevenção ou mitigação de invasões territoriais por narcotraficantes e outras redes criminais.

 A iniciativa tem o intuito de atender as comunidades indígenas no contexto de drogas de todo o país, assim como povos e comunidades tradicionais – quilombolas, extrativistas, ribeirinhos e assentados de projetos de colonização e reforma agrária da Amazônia Legal nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Acesse o edital aqui

Canal de comunicação

A Senad também criou, para auxiliar no esclarecimento de dúvidas, um canal de comunicação que vai ajudar a orientar os inscritos.

Interessados podem entrar em contato diretamente pelo número de WhatsApp – 61 99652-5611. O atendimento ao público é de segunda-feira à sexta-feira, das 9h às 14h.

O e-mail institucional senad@mj.gov.br também está disponível para informações.

https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/noticias/edital-de-enfrentamento-as-drogas-em-terras-indigenas-e-prorrogado-ate-o-dia-28-de-julho-1

A língua é integração: saiba a importância na Tríplice Fronteira

 

Foto: Lilian Grellmann/100fronteiras

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Um país plurilíngue e pluricultural, uma fronteira onde as culturas se encontram. São muitos os pesquisadores que enunciam que as línguas são integração. E são. E elas nos ajudam a entender melhor a história, a cultura, nosso território. É importante fomentar o aprendizado das línguas e a sensibilização para as línguas e suas culturas na região trinacional.

Você sabia que a palavra chipá é de etimologia quéchua que significa cesto e também do aimará? Claro que chipá é uma palavra de origem Guarani, muito presente na cultura da Argentina, Paraguai e Brasil. Uma palavra e três países muito presentes.

O arroz, uma comida muito presente na mesa dos brasileiros, é de origem árabe, a palavra é uma adaptação do conceito original árabe, ar-ruzz. E o termo sânscrito no qual chamamos grãos de areia, sakkar, se transformou no persa shakkar e resultou na palavra árabe as-sukar. Por isso, o produto doce da cana-de-açúcar foi batizado assim por sua semelhança com grãos de areia.

E outro elemento muito importante na culinária brasileira, como o café, também é de origem árabe: café: do árabe qahwa. Um cafezinho com raspas de limão fica delicioso! E limão é outra das palavras de origem árabe: do árabe laymūn.

E quem não conhece o mingau? Palavra de origem tupi que significa: “emi”. E quem não viu uma capivara no Refúgio Biológico? Capivara é de origem tupi Guarani: “kapii’ guara”. Em espanhol usamos muito a palavra barulho, em espanhol barullo. Fazer ruído. A língua sempre é ruminante, ela faz ruído, barulho, quando se misturam formam um som único.

Quando se misturam, promovem a integração dos ruídos e barulhos. E em nossa fronteira percebemos isso em cada canto das cidades. As línguas sempre estão presentes, é importante prestar atenção às palavras e como elas se constituem pois também formam parte de nossa identidade.

JORGELINA TALLEI

Doutora em Educação (FaE) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Possui Licenciatura em Letras pela Universidad Nacional de Rosario (2003), Mestrado em Letras – Língua Espanhola e Literatura Espanhola e Hispano-Americana pela Universidade de São Paulo (2010) e Mestrado Profissionalizante na Área de Novas Tecnologias, pelo Instituto Universitario de Posgrado (Espanha). Atualmente é Professora de Língua Espanhola como língua adicional na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) no Ciclo Comum de Estudos. Tem interesse nas áreas de ensino de espanhol, fronteira e interculturalidade e línguas em contato.

Publicado em : https://100fronteiras.com/opiniao/noticia/a-lingua-e-integracao-saiba-a-importancia-na-triplice-fronteira-opiniao-jorgelina-tallei/

 

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