Presidente de Cabo Verde insta a acelerar crioulo como língua oficial na Constituição
Jorge Fonseca enalteceu a cultura, história e características únicas do arquipélago unidas pela língua crioula. A Constituição define apenas a língua portuguesa como língua oficial de Cabo Verde.
O Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, instou esta sexta-feira a que se acelerem os mecanismos para concretizar o que está previsto na Constituição da República, numa alusão à oficialização do crioulo cabo-verdiano como língua oficial.
A posição surge numa declaração divulgada pelo chefe de Estado a propósito do dia mundial da Língua Materna, que se assinala esta sexta-feira, instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), e na qual enaltece a cultura, história e características únicas do arquipélago unidas pela língua crioula cabo-verdiana.
“Por tudo isso, aqui também tem sentido instar a que se acelerem os mecanismos e se apurem os instrumentos de realização da Constituição da República”, refere Jorge Carlos Fonseca, ao terminar a declaração.”
Em causa está o artigo 9.º da Constituição da República de Cabo Verde, de 1992, que define apenas o português como língua oficial, mas que também prevê que o Estado deve promover “as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa”.
“Não há nada que nos possa fazer sentir tão nós mesmos como a nossa língua materna. Não há nada que nos possa aproximar mais daqueles de que gostamos, nossos pais, filhos, irmãos, família e amigos do que a nossa língua materna. Não há sonho, desejo ou pensamento mais intrínseco e cúmplice do que aquele que é expresso ou sentido na nossa língua”, aponta o Presidente cabo-verdiano, na mensagem divulgada esta sexta-feira.”
Em cada ilha de Cabo Verde, destaca, há “uma língua própria” da “língua-mãe”: “Cada ilha com o seu modo de a mastigar, saborear, crispar, incidir, moldar ao quotidiano e requebro do dia e da noite, cutelo, do vale e da achada, do porto e da aldeia, da cidade e do campo”. E acrescenta: “De todas as outras línguas que falemos, ‘extra-berço’, mesmo naquelas em que, habitualmente, até agora, escrevemos, tratamos, pensamos, estudamos, ensinamos, despachamos, aprendemos, obedecemos, negociamos, essas outras também podem ser nossas, e são-no, verdade. Mas é essa brisa espiritual que marca o nosso regresso à língua de leite, materna. Enche-nos de outro vigor e repõe o equilíbrio, alinhando as nossas coordenadas mais íntimas com os horizontes da nossa memória”.
Para tornar o crioulo como língua oficial é necessária uma maioria de dois terços no parlamento para aprovar uma revisão constitucional, algo que não deverá acontecer na atual legislatura, que termina dentro de um ano. Em entrevista à Lusa em julho passado, o primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, afastou a possibilidade de propor uma revisão constitucional no atual mandato.
Já este mês, no parlamento, o ministro da Cultura de Cabo Verde assumiu “toda a abertura” do Governo e do MpD (Movimento para a Democracia, partido maioritário) para o debate sobre uma revisão constitucional que inclua o crioulo como língua oficial, a par do português.
Em resposta aos deputados da oposição, o ministro Abraão Vicente afirmou que além do apoio do Governo, no caso de um grupo parlamentar que abra um processo de revisão constitucional “o MpD está aberto para rever, para em consenso encontrar as melhores opções técnicas” que permitam promover a elevação do crioulo como língua oficial em Cabo Verde.
“O próximo passo é um passo coletivo”, afirmou o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, a propósito da necessária maioria de dois terços para uma revisão constitucional. “Um dia vamos ter de assumir a responsabilidade de fazer este debate, sem preconceitos”, apontou.”
Na mesma intervenção, Abraão Vicente recordou que o atual Governo, em funções desde 2016, promoveu a classificação da língua crioula a Património Imaterial Nacional.
Dia Internacional da Língua Materna
Luanda – A 21 de Fevereiro, comemora-se o Dia Internacional da Língua Materna, o primeiro veículo de comunicação que o ser humano tem no seio familiar, independentemente do grupo etnolinguístico a que pertence.
Neste contexto, uma criança cujos progenitores tenham línguas maternas diferentes (português ou inglês), mas ser o espanhol o veículo de comunicação em casa, com o qual os pais interagem com ela, torna-se para a mesma a sua língua materna (LM).
Ao comemorar-se o Dia Internacional da Língua Materna, pretende-se proteger todas as línguas faladas no mundo, honrando tradições culturais e respeitando a diversidade linguística.
A data foi proclamada pela Unesco em 1999 e reconhecida formalmente pelas Nações Unidas, em homenagem ao movimento de defesa do reconhecimento do Bengali no Bangladesh, LM da maioria da população daquele país, cujos protestos contra a oficialização do Urdu como língua oficial provocou a morte de estudantes universitários e activistas políticos que ousaram enfrentar as forças policiais.
Segundo dados da Unesco, estima-se hoje que metade das quase seis mil línguas faladas no planeta Terra esteja em risco de desaparecer.
Na mesma vertente, o sociólogo e director da área do património da Igreja Metodista Unida, João da Graça, refere que a LM é assim designada por serem as mães a educar os filhos na primeira infância, transmitindo as noções básicas de como satisfazer as suas necessidades, aprendidas tanto por imitação como por indução comportamental.
O responsável considera importante e vantajosa a transmissão de conteúdos numa LM, porquanto permite melhor comunicação, compreensão, criatividade, aplicação e assimilação de conteúdos.
Um exemplo prático verifica-se na República Democrática Congo, onde o ensino da Matemática é feito em lingala, com bons resultados.
A realidade linguística de Angola apresenta um quadro de coexistência pacífica entre a língua portuguesa, sob tutela do Ministério da Educação, e as línguas nacionais ou regionais, sob tutela do Ministério da Cultura, respeitando a diversidade cultural e linguística.
Neste âmbito, em 1979, criou-se o Instituto Nacional de Línguas, transformado, em 1985, em Instituto de Línguas Nacionais, voltado para o estudo das línguas regionais e das tradições orais.
Através da Resolução n.º 3/87, de 23 de Maio, o Conselho de Ministros aprovou, a título experimental, os alfabetos das línguas Kikongo, Kimbundu, Côkwe, Umbundu, Mbunda e Oxikwanyama e as suas respectivas regras de transcrição fonética.
A língua portuguesa é a LM mais usada e falada em Angola, através da partilha de conhecimentos dos sistemas educativos. Apesar das vicissitudes da opressão da dominação colonial, foi implantada no seio das comunidades, tornando-se num veículo da cultura entre as populações.
O português constitui, em Angola, um forte laço de unidade nacional e de promoção da paz, democracia, do Estado de Direito, dos direitos do homem e da justiça social.
A Unesco considera que existe uma consciência crescente de que as línguas desempenham papel vital no desenvolvimento, na garantia da diversidade cultural e no diálogo intercultural.
São, igualmente, fundamentais no fortalecimento da cooperação e da educação de qualidade para todos, na construção de sociedades do conhecimento inclusivas, na preservação do património cultural e na mobilização política.
As línguas, com as suas implicações complexas para a identidade, comunicação, integração social, educação e desenvolvimento, têm importância estratégica para as pessoas e para o planeta.
Cultura de Cabo Verde é tema de encontro no Centro de Comunicação e Expressão
O evento “Cabo Verde: Línguas e cultura” será realizado no dia 19 de novembro às 18h, no auditorio Henrique Fontes -CCE/UFSC. O encontro terá uma palestra com a professora Cristine Severo e divulgação do livro Pingu di Speransa à comunidade acadêmica da UFSC, além de diversas apresentações artístico-culturais sobre Cabo Verde.
A participação dá direito a certificado e a inscrição pode ser feita no site: http://inscricoes.ufsc.br/activities/4234 Continue lendo
Projecto WI lança oficialmente álbum “Kudissanga”
Kudissanga, é o título do álbum de estreia dos “WI”, apresentado e lançado nesta quinta-feira (17), no Miami Beach, a Ilha de Luanda.
O primeiro álbum da dupla Wilder Amado e Ilia Kushner ou simplesmente “Wi”, conta com sete faixas musicais, cantadas em várias línguas e tem uma tiragem inicial de 200 cópias, contando também com uma edição digital, onde é possível encontrar mais faixas. Continue lendo
Presidente da África do Sul promete promover línguas africanas
Cidade do Cabo, 24 set (Xinhua) — O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse terça-feira que seu governo está trabalhando ativamente para garantir que os idiomas africanos sejam oferecidos em todas as escolas sul-africanas para acabar com o apartheid.
“Até o final do próximo ano, nosso objetivo é garantir que todas as 23.000 escolas públicas da África do Sul ofereçam um idioma africano”, Continue lendo
Brasileira cria projeto para empoderar mulheres em favelas sul-africanas
Inicialmente era só uma viagem para estudar inglês, em 2004. Mas a brasileira Mila Moreano, hoje com 46 anos, acabou ficando permanentemente na África do Sul. E o tempo mostrou que esta decisão fez (e tem feito) a diferença nas vidas dela e de centenas de mulheres pobres da Cidade do Cabo.