A obrigatoriedade do espanhol e a integração latino-americana
A lei de obrigatoriedade do espanhol, veio a ser pensada principalmente por dois fatores. O primeiro é possibilitar aos estudantes do nível médio e fundamental uma nova possibilidade de escolha de língua estrangeira para os estudantes. O segundo, que tem base com a ideia do fato de ser impossível dar aula de línguas sem estar vinculada a sua cultura, que é o maior conhecimento da região, o que pode resultar em uma maior integração regional.
Estes pontos são alguns dos principais, que integram outros inúmeros, que podemos pensar em se tratando desta lei de autoria do deputado federal Felipe Carreiras (PSB-PE) e o senador Humberto Costa (PT-PE), como resultado de uma luta incansável do Movimento Fica Espanhol.
Mesmo que o novo ENEM, tenha repercutido a saída do espanhol da prova mais importante do país, o que pode trazer um conflito ao ensino desta língua, por muitos estudantes acreditarem no ensino escolar apenas e unicamente para o ingresso a universidade.
O espanhol sempre foi uma língua vista em segundo plano, principalmente pela visão pejorativa de que ela é o mesmo que o português. O que vem atrelado ao fato da falta de interesse do país em se ver como parte da América Latina, por se sentir alheio ao resto da região por falar uma língua distinta da maioria dos países que a integram.
Por isso, de alguma forma, seria possível, que o ensino de espanhol, possa ser um ponto inicial, não somente para o brasileiro finalmente se perceber parte do continente, para consolidar “efetivamente a integração latino-americana”.
Brasil sedia Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola
Nos próximos dias 16, 17 e 18 de fevereiro, será realizada a 2ª Conferência Internacional das Línguas Portuguesa e Espanhola – Cilpe 2022. O evento faz parte do Programa de Difusão da Língua Portuguesa da OEI, que tem como objetivo fomentar a difusão e o fortalecimento da língua portuguesa em um modelo bilíngue com o espanhol, nas áreas de educação, ciência e cultura.
A primeira Conferência foi realizada em 2019 em Portugal e é muito significativo que a Cilpe 2022 seja realizada no Brasil, um país de fala portuguesa de dimensões continentais e que possui milhares de quilômetros de fronteiras com países de fala hispana.
Não é exagero dizer que o espanhol e o português são línguas globais: o espanhol é atualmente a segunda língua do mundo em número de falantes, enquanto o português está na quarta posição.
No entanto, de acordo com estudo realizado pela OEI, em parceria com o Real Instituto Elcano, no ano de 2020, 84% dos pesquisadores ibero-americanos escolheram publicar seus trabalhos científicos em inglês, em vez de prestigiar a língua materna. A projeção internacional do espanhol e do português, intensificada pelo bilinguismo, tem potencial para fortalecer ambas as línguas e ajudar a promover, por exemplo, uma ciência mais aberta e mais acessível, com as diversas vantagens que o multiculturalismo tem a oferecer.
Obviamente que as contribuições do bilinguismo em português e espanhol vão muito além da área científica, pois é inegável que a língua é um dos recursos mais importantes para uma influência global, com repercussão para a economia, cultura e geopolítica, em especial numa sociedade digital e com tanta mobilidade como a atual.
E o espanhol e o português são duas línguas que contêm múltiplos recursos para se conectar, pois não apenas possuem uma origem comum, como também são muito próximas, o que facilita a intercompreensão, a aprendizagem e o bilinguismo.
Dentre as linhas de ação do Programa de Difusão da Língua Portuguesa da OEI se destaca o projeto das escolas bilíngues de fronteira, com uma abordagem intercultural, que pretende desenvolver experiências de bilinguismo português e espanhol em regiões limítrofes entre países que falam essas línguas.
O bilinguismo, a par de aproximar e fortalecer os países de fala portuguesa e hispana, transmite uma poderosa mensagem para a humanidade em tempos de polarização como atualmente, trazendo novas possibilidades de um futuro com mais diversidade, inclusão, valorização da multiculturalidade e da interculturalidade, ampliação do intercâmbio estudantil e profissional, além da criação de novos espaços de produção do conhecimento.
A Cilpe 2022 reunirá acadêmicos, cientistas, especialistas de várias áreas do conhecimento e representantes dos governos de diversos países ibero-americanos, bem como profissionais de organismos de cooperação e de instituições públicas e privadas, para tratar sobre as potencialidades e os desafios do bilinguismo em português e espanhol.
Todas as pessoas estão convidadas para esse evento, cuja realização será sediada em Brasília, mas em regime híbrido, com participações remotas transmitidas de diversas regiões da ibero-américa e que poderão ser acompanhadas pelo público presencialmente e, também, em tempo real pela internet.
O evento representa mais um passo da OEI, dos países-membros, seus governos, instituições parceiras e demais colaboradores para dar continuidade aos seus trabalhos de fortalecimento do uso da língua portuguesa em um modelo que pode ampliar e reforçar os espaços de cooperação na educação, na ciência e na cultura.