Comunicação

Um passo decisivo para a preservação do Talian

Lançamento de livro multidisciplinar resgata a história da língua e consolida sua gramática

Foto: Marcos Fernando Kirst

“Talian Par Cei e Grandi – Gramàtica e Stòria”. Acaba de ser publicado um livro com este título, que pode ser assim traduzido: “Talian para Crianças e Adultos – Gramática e História”.

Trata-se de uma obra coletiva e multidisciplinar, tendo três nomes como coordenadores e editores: Juvenal Jorge Dal Castel, Loremi Loregian Penkal e João Wianey Tonus. Além deles, mais de uma dezena de colaboradores assina essa produção. Dividida em três partes, a obra cria um alicerce sólido para que crianças e adultos tenham acesso ao Talian, aprendendo a ler, a falar e a escrever nessa língua.

A primeira parte, La Gramàtica del Talian, expõe metodicamente qual o alfabeto utilizado, como é a grafia e como é feita a acentuação gráfica. Segue-se o estudo do artigo, do substantivo, do adjetivo, do pronome, do verbo, do advérbio, da preposição, da conjunção, da interjeição. Ou seja, estabelece um padrão para todos os elementos mórficos, com as regras de uso dentro da língua Talian.

A segunda parte, intitulada Stòria e Leteratura del Talian, apresenta, como diz o título, uma síntese da história da língua e da literatura nela produzida, desde os precursores até os dias de hoje.

Na terceira parte, Talian par Cei, é selecionada uma série de textos para crianças, de nove autores diferentes. Os textos foram elaborados com essa finalidade: a de dar uma base textual para o ensino e aprendizado da língua. Nesse enorme desafio (granda sfida) tomaram parte professores, falantes e difusores do Talian: são cinquenta textos, alguns em verso, para despertar no mundo da infância o gosto pela língua dei noni, i pupà e i zii (dos avós, dos pais e dos tios).

O mínimo que se pode dizer é que este lançamento é um passo decisivo para preservar e difundir o Talian, reconhecido como Referência Cultural Brasileira pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – órgão do Ministério da Cultura.

Obra é um marco histórico na saga do resgate e da difusão da língua Talian

 

Outros passos decisivos foram dados antes deste, sendo que alguns deles tive a honra de acompanhar de perto. Meu último trabalho de pesquisa na Universidade de Caxias do Sul, por sinal, foi o de ter elaborado e coordenado o projeto para registro do Talian como patrimônio linguístico brasileiro.

O projeto nasceu de diversos fatores. O primeiro foi a declaração da Unesco, em 2005, em defesa da diversidade linguística como patrimônio cultural.

Um segundo passo decisivo foi o de o Ministério da Cultura e o IPHAN terem seguido a orientação da Unesco e aberto um programa para inventário e resgate de quatro categorias de línguas no Brasil: as indígenas, as afro-brasileiras, as derivadas de imigração e as línguas de sinais.

Entre as línguas de imigração, o inventário do Talian foi aceito como projeto piloto no Brasil. Como não sou linguista, montei uma equipe técnica de especialistas para realizar o trabalho…

O êxito da empreitada foi total: em novembro de 2014, o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional acolheu o pedido e o Talian foi reconhecido oficialmente como integrante do patrimônio linguístico brasileiro, na categoria das línguas de imigração. A primeira a chegar ao pódio! Uma vitória tanto mais emocionante quanto mais se sabe a restrição que essa língua teve no passado, levando-a à beira da extinção.

Por algum tempo fiquei com receio de que o Talian, mesmo com essa vitória, fosse considerado uma peça arqueológica, a ser guardada atrás de um vidro inquebrável para ninguém tocar, dentro de um museu!

Felizmente, não foi isso que aconteceu. Organizações de difusores do Talian, tendo à frente a Assodita de Serafina Corrêa e outros militantes, trataram de colocar alicerces sólidos para a sua sustentação.

O primeiro, sem dúvida, foi a constituição do Comitê Nacional de Gestão da Língua Talian, que promoveu já diversas ações.

Outro alicerce é este que acaba de ser construído: o de elaborar uma gramática do Talian, endereçada às crianças e a seus pais, tios e avós!

Bon profito!

NOTA DA REDAÇÃO: O livro será apresentado oficialmente a todos os interessados no resguardo, na difusão e no estudo do Talian em um filó (reunião) virtual no dia 17 de maio, às 19h30. Em datas subsequentes, também online, será apresentada a “Cucagna Scola de Talian”, escola totalmente virtual e gratuita, que trabalhará elementos da cultura italiana, em parceria firmada entre a Assodita (Associação dos Difusores do Talian) e a Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste do Pará). Os interessados em se inscrever para participar do “Filó Formativi” do dia 17 devem enviar um e-mail para joaotonus48@gmail.com, informando município onde reside, nome completo, e-mail e WhatsApp, para então receberem o link de acesso ao evento.

Produzido por José Clemente Pozenato, escritor e autor do aclamado “O Quatrilho”, que foi adaptado ao teatro pelo grupo caxiense Miseri Coloni; ao cinema por Fábio Barreto, concorrendo ao Oscar e transformado em ópera.

 

mail pozenato@terra.com.br

Covid-19 em pauta: crianças indígenas e ribeirinhas ganham kit que ensina sobre a lavagem de mãos

Mais de 3 mil crianças no Amazonas e em Roraima receberam a cartilha lúdica. O material foi produzido em parceria com professores indígenas

Aprender brincando é o que promete a nova cartilha educacional desenvolvida pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) entregue no Amazonas e em Roraima. O material intitulado ‘Cecí, Ana e Dário em: Vamos lavar as mãos e reforçar a prevenção contra à Covid-19’ traz histórias e atividades lúdicas para despertar a conscientização e cuidados preventivos sobre doenças, em especial, a COVID-19.

O kit educacional é composto por lápis grafite e de cores, folder sobre lavagem de mãos e a cartilha, que traz atividades como caça-palavras, labirinto e pintura. As brincadeiras guiam o leitor mirim a aprender como lavar as mãos, em quais momentos lavá-las, além de alertar sobre possíveis sintomas da COVID-19 e como evitar a contaminação.

Na cartilha, os personagens Cecí, Ana e Dário também apresentam às crianças palavras do vocabulário de 8 línguas indígenas: Tukano, Kokama, Tikuna, Sataré Mawé, Baniwa, Nheengatú, Macuxi e Wapichana. Dessa maneira, as crianças poderão aprender a pronúncia e escrita de vocábulos como “sabão” e “água”, que incentivam a lavagem de mãos e criam um vínculo com avós e a população que só se comunica na língua nativa. Para crianças não indígenas, é uma oportunidade de conhecer a diversidade da região. Informações sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras) também foram incluídas.

O conteúdo foi desenvolvido com o apoio do Instituto Insikiran, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e lideranças das comunidades indígenas para que fosse adaptado culturalmente.

“Chegamos a comunidade Parque das Tribos, região de Manaus, com uma proposta que foi sendo adaptada com o apoio dos moradores, que davam sugestões sobre todo o processo criativo da história e dos personagens, avaliando o que era mais significativo para eles”, informa a assistente de projeto da OIM responsável pelo desenvolvimento da cartilha, Mariana Camargo.

A professora indígena Claudia Baré, educadora na comunidade Parque das Tribos, que participou do processo, destaca que a inclusão da comunidade é essencial para trazer representatividade indígena. “É sempre importante quando as organizações abrem essa porta para a gente. É a nossa fala, a nossa língua, tem alguns grafismos na cartilha que são símbolos da nossa cultura”, comenta a professora.

A estratégia do material foca ainda em disseminar a informação das crianças para as suas famílias. “Crianças são mobilizadoras para a educação, então quando conseguimos levar essa informação para compreensão e prática do dia a dia delas, elas acabam incentivando suas famílias também”, informa a coordenadora de Atenção Direta da OIM, Clara Seguro.

Em Roraima, o material será entregue nos municípios de Caracaraí, Rorainópolis e comunidade indígenas de Bonfim, beneficiando mais de 1.500 crianças. No Amazonas, as cartilhas serão distribuídas em mais de 26 comunidades indígenas e não indígenas urbanas e ribeirinhas, estimando-se atender cerca de 1.600 crianças.

Essa atividade conta com o apoio financeiro da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

Fonte: OIM

Indígenas usam tecnologias para manter língua e cultura vivas

O isolamento devido à crise sanitária também abriu a porta para uma pequena iniciativa de difusão da língua nativa
 (crédito: Thiago Gomes/Agência Pará)

(crédito: Thiago Gomes/Agência Pará)

O xokleng é uma língua falada apenas por uma comunidade indígena no Vale do Alto Itajaí, na região central de Santa Catarina, onde vivem mais de 2 mil pessoas. Boa parte das 170 línguas indígenas existentes no Brasil corre o risco de desaparecer. Por isso, desde a década de 1990, o linguista Namblá Gakran tem trabalhado para resgatar e manter vivo o idioma nativo. “Eu não sonhei em ser linguista, mas hoje eu sou”, diz o indígena sobre como se tornou um especialista durante a luta pela preservação da cultura do seu povo.

Gakran leciona em escolas indígenas da região e já formou duas turmas de licenciatura intercultural, para que também possam dar aulas e repassar os conhecimentos. A pandemia de covid-19 impediu a continuidade do curso neste ano. No entanto, o isolamento devido à crise sanitária também abriu a porta para uma pequena iniciativa de difusão da língua nativa.

Whatsapp

Desde o ano passado, a comunidade, que vive em áreas distantes fisicamente, se aproximou por meio de um grupo de Whatsapp onde compartilha seu dia a dia. Até indígenas que estão fora das aldeias, nas cidades, usam o canal para se comunicar com os que ainda vivem no território tradicional. A única diferença dos outros grupos de família e amigos da rede de comunicação é que nesse só é permitido se comunicar em xokleng. “Não se pode falar em português”, afirma Gakran.

Assim, as pessoas com menos conhecimento têm a oportunidade de praticar o idioma, especialmente em texto, com aqueles que têm maior domínio. “As pessoas que falam mais ou menos a língua entram no grupo e ali começam a aprender” explica o professor. Além dos fatos do dia a dia, como uma pescaria ou uma boa caça, o grupo, aos poucos, vai se tornando espaço para compartilhar as histórias tradicionais. “Quando surge uma oportunidade, nós contamos uma história do passado”, diz.

Importância da escrita

Reforçar a escrita do xokleng é um dos trabalhos que Gakran desenvolve ao longo dos últimos anos e considera fundamental para evitar que o idioma se perca. “O que falta é registro dessa língua. Não adianta só falarmos verbalmente, mas é preciso que a comunidade também possa manusear esse material”, defende, ao destacar a importância de publicações no idioma.

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Podcast em língua indígena será levado a escolas da região Norte

Marcelo Camargo / Agência Brasil

Projeto é desenvolvido por doutoranda da UFRJ

Nas histórias contadas de geração em geração, nos livros e conversas diárias ou nos veículos de comunicação, o idioma se mantém vivo. É assim também com as línguas indígenas.

A partir dessa visão, um projeto desenvolvido por Aline Moschen, doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, busca abrir espaços para que o povo Tupiniquim do Espírito Santo mantenha viva a própria língua.

O projeto vai construir um acervo digital composto pelas obras fotográficas de artistas indígenas, além de realizar debates sobre as artes indígenas e a preservação da língua.

Uma das iniciativas do projeto é um podcast, espécie de publicação em áudio na internet, como explica Aline Moschen.

Na região Norte do país, a preservação da língua ticuna, falada por mais de 30 mil pessoas, também se dá nos meios de comunicação. Na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, Otto Farias, indígena do povo Ticuna e radialista na Nacional do Alto Solimões, leva notícias para a população, tanto na língua materna, quanto em português. Ele destaca a relevância do trabalho para as diferentes populações.

Em 2010, o censo do IBGE revelou que pouco mais de 37% dos indígenas de 5 anos ou mais falavam no domicílio uma língua indígena. Ainda de acordo com o censo, são faladas 274 línguas indígenas no Brasil, em 305 povos diferentes.

Por Maíra Heinen – Repórter da Rádio Nacional – Brasília

Convite – Filò Formativi Talian

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Técnicos estrangeiros buscam aulas de português para se adaptar ao Brasil

 A apostila de exercícios de língua portuguesa e as aulas particulares do idioma viraram as novas armas dos técnicos estrangeiros para se adaptar ao futebol brasileiro. Os argentinos Hernán Crespo, do São Paulo, e Ariel Holan, do Santos, e mais o espanhol Miguel Ramírez, do Internacional, estão empenhados em melhorar a comunicação com os jogadores e superar possíveis barreiras linguísticas no País.

A postura desses estrangeiros em aprender português tem chamado atenção. Até pouco tempo atrás, quem vinha de fora não fazia questão alguma de estudar o idioma nem mesmo de aprender palavras-chave para orientações ao elenco. O argentino Jorge Sampaoli, por exemplo, passou duas temporadas no Brasil e só se comunicava em espanhol. O mesmo valeu para outros técnicos, como o argentino Edgardo Bauza e o colombiano Reinaldo Rueda.

O argentino Holan desembarcou em Santos no mês passado e logo na apresentação ao clube da Vila fez uma promessa. “Meu compromisso também é falar português ou ‘portunhol’. Terei meu professor”, avisou. Mesmo com o calendário apertado, o treinador não deixa de estudar. Nos voos do time, ele aproveita o tempo para treinar. O resultado tem sido visto nas entrevistas. Palavras em português se tornam mais comuns.

Ainda comedido para falar em português, o espanhol Ramírez tem estudado bastante enquanto comanda o Inter em Porto Alegre. O aprendizado de idiomas estrangeiros entre treinadores é comum no futebol europeu. O português José Mourinho, do Tottenham, é fluente em cinco línguas. O espanhol Pep Guardiola contratou uma professora de alemão antes de assumir o Bayern de Munique, em 2013. Ao iniciar o trabalho, o técnico já falava o novo idioma.

Apesar de o Brasil ter aberto suas fronteiras para técnicos estrangeiros nos últimos anos, o aprendizado do português não aparecia como prioridade para eles. O são-paulino Crespo pensa diferente. “Acho que é uma questão de respeito com este país, com o lugar onde estou. É uma questão de respeito com as pessoas. Culturalmente, eu gosto também de aprender”, disse.

O argentino só lamenta que ainda confunda bastante o português com outros idiomas. No São Paulo, o técnico se comunica em espanhol com alguns jogadores estrangeiros e com Daniel Alves. Após mais de uma década na Itália, Crespo usa o idioma para falar com o atacante Éder. “Eu faço confusão porque o português é um mix dos outros dois idiomas. Para mim é difícil porque falo todos os dias com as minhas filhas em italiano, com meus colaboradores do clube em espanhol e depois ainda em português. Mas calma… eu chego lá”, comentou o argentino.

O meia argentino Benítez, do São Paulo, acompanha Crespo nesse processo de aprendizagem. Embora não faça aulas ainda, o jogador está no Brasil há um ano e sabe das dificuldades. “Para aprender, você não pode ter vergonha”, disse. “É importante conseguir falar de outros assuntos que não só o futebol, para você poder falar com um médico ou outras pessoas”, diz.

Um dos primeiros técnicos estrangeiros a estudar português foi o colombiano Juan Carlos Osorio, que passou pelo São Paulo em 2015. Três vezes por semana ele recebia um professor para ter aulas particulares. No ano passado, o espanhol Domènec Torrent, do Flamengo, foi outro a se aventurar pelo idioma.

DIFICULDADE – Professor livre-docente em Língua Espanhola da USP, Adrián Pablo Fanjul explica que o aprendizado do português é um desafio aos treinadores não tanto pela parte escrita, mas pela conversação. “A parte sonora é difícil, tanto a escuta quanto a produção. O português, principalmente falado no Brasil, tem alguns sons que não existem no espanhol”, diz. “Aprender como se fala é mais desafiador, porque exige muito estudo” acrescentou.

Segundo Fanjul, é possível preparar para os treinadores aulas com conteúdo específico à linguagem de futebol. “Existe a possibilidade de direcionar o ensino e a aprendizagem para se concentrar em demandas específicas, seja qual for ela. Ainda assim, existem aspectos básicos que exigem o aprendizado da mesma maneira.”

IPOL Pesquisa

1 e 2 de setembro de 2025

https://geomultling.ufsc.br/ii-encontro-nacional-de-municipios-plurilingues/

O II ENMP visa aprofundar as discussões sobre os desafios da cooficialização de línguas, com especial atenção às etapas seguintes à aprovação da lei municipal: a regulamentação e a implementação.

Anote na agenda e participe!                                                               __________________________

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