Diálogo Online entre Mídias da China e Países de Língua Portuguesa é realizado para promover conectividade

O programa será publicado nas diversas plataformas do CMG, assim como na Televisão Pública de Angola, Soico Televisão de Moçambique, Teledifusão de Macau, Brasil 247 e outros veículos de imprensa.
LÍNGUA, DISCURSOS E DIVERSIDADE | Racismo linguístico e linguagem neutra
A edição de agosto de 2022 da Revista E , do SESC SP, trouxe artigos de Gabriel Nascimento e Dri Azevedo que discutem racismo linguístico e linguagem neutra, leia na integra AQUI

Ilustrações: Luyse Costa
“A língua é um leque imenso em que cabem muitas possibilidades”, já disse o professor, escritor e jornalista Pasquale Cipro Neto à Revista E [leia Encontros publicado em novembro de 2021]. Por conta dessa multiplicidade mutável, surge a necessidade de refletirmos sobre os limites da nossa língua e o quanto podemos expandi-la para atender às novas demandas da sociedade. Palavras e expressões são questionadas e caem em desuso por terem sido criadas com o intuito de ferir ou de excluir camadas sociais e diferentes povos, como acontece no racismo linguístico.
“O racismo não vai acabar pela língua. Mas é seguramente na língua que ele se reproduz de maneira mais ligeira e disfarçável. Ao passar dos anos, vemos como as pessoas buscam repugnar o racismo e passam a disfarçar o seu racismo na língua”, observa Gabriel Nascimento, professor de Língua Inglesa/Ensino de Línguas/Campo da Educação da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e doutor em Estudos Linguísticos pela Universidade de São Paulo (USP). Gabriel conduziu, em abril passado, uma das aulas do curso Língua, discursos e diversidade: racismo linguístico e linguagem neutra, pelo projeto Fora da Caixa, do Sesc Pompeia.
Também entra em discussão a urgência do nascimento de novas palavras, artigos e expressões que abarquem todas as identidades e que não invisibilizem qualquer existência. “Apesar de não haver ainda uma inclusão da linguagem neutra em instâncias oficiais, o seu uso é cada vez mais comum entre falantes das mais diversas origens no português e em outras línguas pelo mundo”, aponta Dri Azevedo, que possui doutorado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), e é docente do Departamento de Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Neste Em Pauta, Azevedo e Nascimento nos convidam a refletir sobre o tema a partir de leituras e estudos sobre a língua.

Ilustrações: Luyse Costa
Continue a leitura edição de agosto/22 da Revista E na íntegra, aqui!
Reitor discursa em Libras durante colação de grau na UFRR

Durante a formatura de alunos de seis cursos de graduação da Universidade Federal de Roraima (UFRR), o reitor Geraldo Ticianeli tomou uma atitude que surpreendeu a plateia e os formandos: fez o seu discurso na Língua Brasileira de Sinais (Libras), promovendo assim uma colação de grau inclusiva para a comunidade surda.
A cerimônia aconteceu no dia 25 de agosto, no Centro Amazônico de Fronteiras (CAF/UFRR). Colaram grau estudantes dos cursos de Jornalismo, Direito, Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas e Relações Internacionais.
A ideia de fazer o discurso de uma maneira mais inclusiva surgiu depois de uma conversa do reitor com uma docente do curso de Letras-Libras. Foi nesse encontro, relembra o professor Geraldo, que percebeu a importância de aproveitar a cerimônia de colação de grau para colaborar com a difusão da Língua Brasileira de Sinais e mostrar a importância dos trabalhos de inclusão.
Na tradução do discurso para Libras, o reitor foi ajudado pelo coordenador do curso de Letras-Libras da UFRR, professor Felipe Aleixo. Depois dessa etapa, analisou as principais formas gestuais e treinou durante uma semana.
“Apesar de todos os avanços que já tivemos, essa atitude de nos colocar no lugar do outro fortalece cada vez mais o respeito pelas diferenças e estimula ações de igualdade em nossa sociedade”, afirma o reitor a respeito da importância simbólica de seu discurso em um dos momentos mais importantes da rotina acadêmica.
O discurso em Libras soma-se a uma série de ações desenvolvidas pela UFRR nos últimos anos. Entre as de maior destaque estão a realização de concursos para disponibilizar mais vagas de docentes para o curso de Letras-Libras, a contratação de profissionais tradutores, fomento à participação de pessoas com deficiência nos concursos e, em 2023, disponibilização, pela primeira vez, do edital do vestibular totalmente em Libras.
Para ver o discurso em Libras do reitor Geraldo Ticianeli, clique aqui.
FONTE: Roraima em Foco
Jovens pesquisadores do Amazonas lançam teclado digital com caracteres de mais de 40 línguas indígenas

Software ‘Linklado’ dá suporte para a escrita e contribui para a transmissão e sobrevivência das línguas nativas da Amazônia
Diversas línguas indígenas da Amazônia foram excluídas da revolução digital por terem em seu vocabulário caracteres especiais, como ʉ, ɨ, ñ, ç̀, g̃, por exemplo, além da combinação de diacríticos (sinais gráficos `,´, ~, ^, ¨) que não estão presentes na maioria dos teclados físicos e virtuais.
Isso faz com que os indígenas se comuniquem por meio de áudios ou usando substitutos para esses caracteres, o que representa uma ameaça à continuidade das línguas nativas.
Para resolver esse desafio, um grupo de jovens pesquisadores do Amazonas lançou o teclado digital ‘Linklado’, software que reúne caracteres especiais e diacríticos de mais de 40 línguas indígenas da Amazônia.
Os idealizadores são o estudante da Universidade de Stanford (EUA), Samuel Benzecry, e o estudante do ensino médio em Manaus, Juliano Portela. Juntos eles desenharam o layout e desenvolveram o protótipo do teclado digital para o Windows e androides.
Samuel é um dos jovens selecionados pela rede Ashoka, organização mundial de empreendedorismo social, que apoia o fortalecimento de habilidades para transformações que sejam positivas para a sociedade, de maneira geral.
Teclado adaptado
De acordo com Samuel, o teclado ‘Linklado’ é inédito. “Aparelhos Androides podem ser postos na língua Kaingang ou Nheengatu, mas isso não resolve o problema de línguas que utilizam sinais diacríticos como ü̃, muito usado na Tikuna, que é a língua indígena mais falada no Brasil”, exemplifica.
O estudante acrescenta que já existiam teclados adaptados para línguas indígenas mexicanas, contudo eles não contemplam os caracteres usados pelas línguas indígenas da Amazônia.
O ‘Linklado’ cobre mais de 40 línguas indígenas que possuem caracteres ou usos de acento gráfico ‘não-convencionais’, inclusive línguas de países vizinhos.
Os estudantes Juliano e Samuel participaram das ‘Olimpíadas Internacional de Linguística’ e umas das atividades da competição era escrever um artigo numa língua indígena.
“Foi quando eu percebi a dificuldade de transcrever alguns caracteres do papel para o word. Só depois que criamos o Linklado que consegui escrever o artigo direito”, comentou o estudante.
Juliano afirmou que em apenas um dia conseguiu desenvolver o protótipo para o sistema Android.“O Samuel já tinha enviado como ficaria o layout, eu fiz uns pequenos ajustes e já enviei para ele o artigo com os caracteres. Ele ficou super animado e disse que ia apresentar para a professora”, relembrou Juliano.
Conexões para uma educação transformadora
A professora em questão é a bióloga e doutora em Recursos Naturais, Noemia Kazue Ishikawa, que coordena o projeto ‘Redes de mulheres indígenas tradutoras e cientistas: conexões para uma educação transformadora em ciências no Amazonas’.
A pesquisa é executada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).
“Em 2008, quando coordenei um projeto na região do Alto Rio Solimões, organizei uma cartilha bilíngue Português/Tikuna. Foi a primeira vez que me deparei com a dificuldade de transcrever a escrita indígena para o computador. Desde então, eu venho abordando que era necessário um teclado para as línguas indígenas”, conta a pesquisadora.
Com o atual projeto de Noemia, em parceria com a antropóloga e linguista, Ana Carla Bruno, está sendo desenvolvido a criação de uma rede de tradutoras de línguas indígenas. Essa ferramenta era essencial para solucionar a falta de caracteres em teclados de computador e/ou celular, um dos grandes desafios do projeto.
“Atualmente, o Linklado pode ser um instrumento de poder nas mãos dos povos indígenas, tendo em vista que agora eles poderão utilizar os símbolos, os diacríticos, enfim os grafemas que melhor representam os sons e fonemas de suas línguas através da produção de seus próprios textos, histórias e narrativas. Neste sentido, penso que esta ferramenta pode contribuir com as ações das línguas indígenas”, argumenta Ana Carla.
Linklado
O nome do software é uma combinação das sílabas ‘lin’ = línguas indígenas e ‘klado’, que faz um trocadilho com a palavra ‘teclado’. Forma ainda a palavra ‘link’, que significa conexão.
Conectar os falantes das línguas indígenas a um teclado que contempla o seu vocabulário é uma das formas de ajudar na transmissão e sobrevivência das línguas indígenas sul-americanas na era digital, argumentam os idealizadores.
“No Amazonas temos mais de 52 línguas vivas e muitos desconhecem essa riqueza linguística. Muitas dessas línguas contam com poucos falantes, algumas centenas ou milhares, e possuem aspectos interessantíssimos. A lenta morte de várias dessas línguas causada por glotocídio, que é a marginalização de uma língua em favor de outra, o que resulta no desaparecimento gradual dessa língua, genocídios, missões, estigmatização em centros urbanos, não-passagem entre gerações ou expansão rápida de meios de comunicação, em português, acabam levando a perda rápida de muitas dessas línguas. O ‘Linklado’ seria uma forma de manter essas línguas vivas”, alerta Samuel.
Para conhecer mais:
FONTE: Agência Envolverde
Na floresta, no campo, na cidade: hora de retratar a população indígena

“Eu acredito que o IBGE vem para mostrar nossa realidade, a expansão de nossa comunidade e o futuro que queremos para ela”. Foi com essa expectativa que o cacique Jasiel Gabriel Marcelino recepcionou a equipe do IBGE na manhã de 10 de agosto de 2022 na Aldeia Lagoinha, a 100 km de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. A data marcou nacionalmente o Dia de Mobilização do Censo Indígena.
O jovem líder da etnia Terena, de 36 anos, já havia sido contactado no dia anterior por funcionários do IBGE, na reunião de abordagem, quando respondeu a um questionário específico sobre as condições de infraestrutura da aldeia. Trata-se de um protocolo repetido em todo o país, no qual a operação censitária e sua metodologia são previamente apresentadas às lideranças indígenas, a fim de que elas mobilizem suas comunidades e facilitem o trabalho dos recenseadores, que farão a coleta de informações em questionários domiciliares, de casa em casa, nos dias seguintes.
“Eles são muito receptivos”, atesta Miriam Miki, recenseadora responsável por aquele setor. Tendo trabalhado em perímetro urbano no Censo 2010 e em área rural no Censo Agropecuário 2017, ela só estranhou uma peculiaridade ao estrear no agrupamento indígena, espalhado por 150 km². “Aqui não tem ruas. Farei a coleta por núcleos familiares, para não me perder”, revela.
Acessível apenas por estrada de terra a partir do município de Sidrolândia, a comunidade abriga 108 famílias, ou aproximadamente 300 pessoas, segundo cálculos do professor Elias Franco, nascido e criado na aldeia, e que atualmente exerce a função de coordenador pedagógico na escola indígena local. O colégio, aliás, é o único lugar em Lagoinha com sinal de internet. Nas quatro salas estudam 159 alunos de 4 a 16 anos. “Nenhuma criança fica sem escola”, garante Elias, que também leciona sua língua materna, o Terena.
As quase 100 casas de alvenaria ali erguidas pelos próprios residentes têm água encanada e energia elétrica. Mas as estatísticas oficiais da Aldeia Lagoinha, bem como as das 632 terras indígenas, dos 5.494 agrupamentos indígenas e das 977 outras localidades indígenas espalhadas pelo Brasil só serão conhecidas ao fim do Censo 2022.
Para registrar essa realidade, os questionários domiciliares contêm perguntas sobre etnia, línguas faladas, questões de registro civil, arranjo familiar, religiosidade, deficiência, educação, trabalho, situação do domicílio e dos cômodos – assim como de água, saneamento, destino do lixo e acesso à internet, entre outros. O Censo em territórios indígenas dura o mesmo tempo que a operação censitária nas demais áreas, cerca de três meses.
Novidades e adaptações no recenseamento de povos tradicionais
HBO Max produzirá documentário sobre as línguas faladas no Brasil
O projeto da série documental Línguas da Nossa Língua (título provisório até o momento), criado, roteirizado e dirigido por Estevão Ciavatta, vai abordar questões fundamentais sobre a construção do nosso idioma, como a variedade de 270 línguas nativas e africanas faladas no Brasil e como isso impacta a identidade cultural da nação. A produção será falada em 12 línguas: português, galego, guarani, baniwa, tukano, patxohã, yorubá, quimbundo, pajubá, língua da Tabatinga, Nhengatu, yanomam.
Segundo a própria HBO Max, a série está em fase de gravações e vai contar com uma música de abertura original composta por Arnaldo Antunes, além da leitura exclusiva de autores clássicos da literatura nacional por Maria Bethânia.
Um dos pontos de destaque de Línguas da Nossa Língua é que a série irá registrar pela primeira vez a documentação da língua Pajubá, uma língua de resistência das travestis. Além disso, estão previstas participações dos membros da Academia Brasileira de Letras e Nélida Piñon; filmagens na Universidade do Minho, em Portugal, onde “nasceu” a língua portuguesa; registros da língua Baniwa em regiões remotas da Amazônia, filmagem no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, com poetas surdos e ouvintes, e muito mais.
FONTE: GKPB