Povo krahô vence em Cannes

80 anos após massacre liderado por fazendeiros, povo krahô vence em Cannes.

Por Peu Araújo – Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP) em 27/05/2023

 

Cena do filme ‘Flor de Buriti’ Imagem: Divulgação

Dirigido por Renée Nader Messora e João Salaviza, o longa-metragem “A Flor do Buriti” ganhou nesta sexta-feira (26 de maio) o Prix d’Ensemble, prêmio destinado a melhor equipe, no Festival de Cannes de 2023. O filme estreou em Cannes nesta terça-feira (23) com aplausos da plateia que duraram mais de 10 minutos.

“O festival está fazendo uma sinalização de que é importante trazer também para esse espaço um debate sobre como a gente vai continuar vivendo nessa terra. Não é só o nosso filme que é feito com indígenas, tem vários filmes nessa seleção e isso é um sinal de que realmente os olhos estão voltados para a situação do planeta, porque esses povos no fim das contas são quem estão segurando a queda do céu, como diz o (Davi) Kopenawa”

Renée Nader Messora, diretora de “A Flor do Buriti”.

 

Massacre Krahô em 1940

O longa-metragem traz a urgência de dois temas: a luta pela terra e as diferentes formas de resistência implementadas pela comunidade Krahô, localizada no Tocantins. O filme retrata também a história do massacre causado por fazendeiros na comunidade Krahô, em 1940. Segundo registros, dezenas de pessoas foram mortas.

“Tem essa história que traz uma emoção real e uma tristeza real para as próximas gerações. Está vivo, nós vamos levar isso para a comunidade, eles vão assistir com nós. Todo mundo vai chorar, todo mundo com certeza vai se emocionar e chorar, porque é a realidade que nós estamos mostrando”, diz Francisco H?jnõ Krahô, que atua no longa-metragem e trabalha na equipe de segurança da comunidade. H?jnõ fala ainda sobre a importância do filme: “A imagem é uma história. Sem a imagem ninguém vai ver a história, porque os mais jovens vão assistir ao filme e as imagens vão dizer que isso realmente aconteceu. O vídeo vai afirmar. ‘Sim, aconteceu sim’. A gente não tinha nascido, não tinha reconhecimento. O filme traz isso, traz essa informação pra gente.”

Cena de ‘A Flor do Buriti’ Imagem: Divulgação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Criação com os Krahô

Para a realização do longa-metragem, os diretores Renée Nader Messora e João Salaviza exerceram diariamente o diálogo com a comunidade Krahô. Ao todo, foram 15 meses de filmagem. “O filme vai se construindo junto, na nossa relação, das coisas que a gente vai vivendo”, conta a diretora. A relação de Renée com a comunidade Krahô é muito mais antiga do que a gravação de “A Flor do Buriti ” e vai muito além do cinema. Ela explica: “O filme é uma consequência da nossa vida. O nosso projeto é muito mais um projeto de vida do que um projeto artístico. Em 2012 eu saí de São Paulo, aluguei uma casa em Itacajá, no Tocantins, e desde então é o lugar onde eu passo a maior parte do meu tempo”. Antes de retratar a vida dos Krahôs, Renée estabeleceu uma relação de troca com a comunidade com oficinas de técnicas audiovisuais. E dessas oficinas vieram os exercícios práticos.

“Eles entenderam primeiro que eles poderiam registrar festas, histórias, mitos, uma cantiga que só um idoso sabia, aquela memória poderia ser reativada no futuro. A coisa começou assim.”

 

Durante o projeto, a comunidade Krahô, com a ajuda de Renée e de outros membros da equipe, fez o seu próprio jornal. Toda semana uma pauta é definida e as gravações acontecem. E toda sexta-feira à noite eles projetavam o jornal para toda a aldeia. Protestos em Cannes Nesta quarta-feira (24), a equipe do filme “A Flor do Buriti” fez um protesto contra o Marco Temporal no tapete vermelho do Festival de Cannes. Com uma faixa escrito “o futuro das terras indígenas no Brasil está sob ameaça”, seguido da frase “não ao Marco Temporal”, a equipe cerrou os punhos e chamou a atenção para a votação que acontece no Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 7 de junho.

Brasileiros protestam contra o projeto de lei do marco temporal no tapete vermelho do Festival de Cannes Imagem: Divulgação

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“O protesto foi importante para mim e para o meu povo. A minha preocupação não é só com o meu povo, é com parentes do Brasil inteiro. Esse protesto vai ser importante para que os parlamentares reflitam e pensem numa forma de não levar isso para a frente. Tem que dialogar”, afirma Francisco H?jnõ Krahô Esse não é o primeiro protesto que esta equipe faz em Cannes. Em 2018, no início do governo Bolsonaro, foram até Cannes falar em defesa da demarcação de terras. “Não tem outra razão para estarmos ali no tapete vermelho se não for assim”, conclui Renée.

 

Leia na fonte:  https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2023/05/27/80-anos-apos-massacre-liderado-por-fazendeiros-povo-kraho-vence-em-cannes.htm

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