O Congo Democrático e a sua experiência educativa na utilização de línguas africanas

Tal como a grande maioria dos países africanos, a República Democrática do Congo é um país multicultural e plurilingue, mas com poucas línguas africanas consideradas predominantes. Estima-se, segundo A. Bamgbose, em «Language and the Nation. The Language Question in Sub-Saharan Africa», que sejam falados um total de 206 idiomas por uma população correspondente a cerca de 82 milhões de habitantes.

Apesar da longa tradição no uso de línguas africanas no Ensino, que remonta ao período colonial, estava em curso, nos anos 50, a transição para um sistema cujo paradigma era próximo do sistema francês. Esta política continuou em vigor depois da independência e estava em funcionamento quando, em princípios dos anos 70, após 15 anos de ensino exclusivos em língua francesa, mas, com magros resultados, foi retomada a ideia da educação em línguas africanas. 
Após um congresso de linguistas congoleses, realizado em 1974, deu-se início, em 1975, a uma nova política educacional, onde as línguas maternas passaram a ser meio de instrução, nas classes iniciais, mudando depois para Francês, nas classes mais avançadas. Todavia, as línguas maternas deveriam ser mantidas como disciplinas nessas últimas classes da instrução primária.A aplicação demasiadamente rápida da implementação desta política educativa gerou altas expectativas, mas resultou num fracasso. De acordo com Ndoma, houve também outros factores que concorreram para essa dificuldade, tais como:
– Um avolumar constante de atitudes negativas em relação ao uso das línguas locais nas escolas, especialmente por parte dos pais com alguma formação académica;
– A não aceitação do ensino das línguas locais por considerarem que, as suas próprias línguas, não teriam que ser ensinadas nas escolas;
– O facto de se considerar que deveria haver apenas uma língua para a construção da unidade nacional;
– A dificuldade em aceitar que a comunicação nas línguas africanas fosse usada fora das fronteiras regionais ou nacionais…
Todo este criticismo dirigido contra a educação em línguas africanas provinha, com frequência, de uma elite defensora de uma política de educação de matriz francesa. Tovavia, Ndoma, em «Language Problems and Language Planning,National language policy in education in Zaire», refuta estas críticas do seguinte modo:
– A aprendizagem nas línguas africanas não exclui a aprendizagem de línguas estrangeiras na escola;
– A unidade nacional não é necessariamente dependente da unidade linguística;
– Os conflitos não podem ser resolvidos apenas através do uso de uma só língua oficial;
– O uso de apenas uma língua (exógena) não pode ser solução a longo prazo. O tempo dedicado ao ensino da mesma faz com que não haja tempo para leccionar todas as outras disciplinas do currículo;
– Os efeitos colaterais desta situação conduzem à perda do orgulho nacional e da própria auto-estima;
– O uso de uma língua exógena como meio inicial de instrução é a causa do fracasso escolar para um número considerável de alunos, que não aprenderam a dominar esta língua.
Mas, apesar dos debates e das análises para se conhecerem melhor as razões para os fracassos, o ex-Zaire e actual Congo Democrático resolveu regressar, em finais dos anos 80, ao sistema de ensino de matriz francesa, apenas com uma língua como meio de instrução. Tal redundou num outro fracasso, porque um grande número de crianças não compreende o que se ensina na escola.
O modelo de ensino em línguas africanas não levanta problemas relacionados com o discurso pedagógico, diz-nos Kenneth Hytenstam e Christopher Stroud, em «Questões Linguísticas» e em «O Conceito de Língua Segunda num contexto africano: Implicações para a pesquisa e Teoria sobre a aquisição de Língua Segunda». Contudo, falha se houver falta de materiais adequados, de formação pedagógica apropriada e, principalmente, falta de vontade política e apoio das populações.

Por Filipe Zau * Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais

Fonte: Jornal de Angola

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