Monolinguismo – o analfabetismo do Século XXI?
Das cerca de sete mil línguas e dialetos que o mundo tem, duas mil e quinhentas estão em risco de extinção. E, para além destas, existem muitas mais ameaçadas e outras em situação muito vulnerável.
Tal acontece em vários continentes, sobretudo em territórios onde a desflorestação, através da destruição da fauna e da flora, está a contribuir para a extinção de línguas, muitas delas ancestrais.
Neste quadro de línguas em extinção, por um lado, e de línguas hegemónicas, por outro lado, os linguistas interrogam-se sobre o que fazer para salvar as primeiras.
Ora, há muita coisa que pode ser feita. Desde logo, criar as melhores condições para a efetiva regulação linguística à escala europeia e mundial. As línguas (nacionais e afins) são património cultural, educacional e social dos seus falantes e dos territórios de pertença.
No ranking das línguas mais faladas do mundo, o português, o inglês e o espanhol, enquanto línguas europeias, estão entre as quatro línguas mais faladas do mundo.
A saída do Reino Unido da União Europeia vai colocar um grande desafio à Europa, no que diz respeito à língua. De língua não oficial da União Europeia, o inglês transformou-se numa ‘língua dominante’ ou até ‘hegemónica’. De ‘língua franca’ (o latim dos nossos dias?), o inglês vai ou não perder poder e influência?
Note-se que o inglês é a língua materna de apenas 14% dos cidadãos da União Europeia. Dos outros 86%, só 8% são fluentes em inglês, e 17% dominam a língua bem ou razoavelmente. Feitas as contas, dois terços dos europeus não falam ou falam mal o inglês. Ora, para ser aprendida, a língua inglesa precisa de 15.000 horas de estudo e de prática…
Com o Brexit, o inglês ficará circunscrito a Malta (meio milhão de pessoas) e à Irlanda (cerca de 5 milhões). Ou seja, o Brexit não poderá deixar de se aplicar ao ‘inglês’, com as consequências que daí advirão, política, económica e socialmente. Poderá ou não continuar a ser a língua dominante e/ou hegemónica?
Os cultores do multilinguismo europeu devem estar atentos e ativos no reforço da democracia linguística europeia. Uma língua é também um instrumento de poder – e da sua manifestação externa resultarão impactos económicos, sociais e culturais positivos. Não é por acaso que, no seio da Academia europeia, existem cada vez mais movimentos a defender o reforço da latinidade e das línguas francófonas e latinas. Voltaremos a esta temática na próxima semana.
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Fonte: Sol
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