Hunsrückisch em Prosa & Verso – o livro

Textos do Concurso Literário de Poemas e Contos em Hunsrückisch 2017

Prefácio em Português
Cléo V. Altenhofen
Quando se fala do I Concurso Literário de Poemas e Contos em Hunsrückisch 2017, parte-se naturalmente do princípio de que estamos diante de um começo, senão não seria o primeiro. Até onde sabemos, não temos registro de um Concurso desse tipo. Para nós, já foi uma alegria enorme poder realizar esse começo. O resultado é este livro que
entregamos nas mãos dos falantes. Alimentamos com isso a esperança de que, agora, mais falantes se animem a escrever literariamente no seu alemão de casa, tal como já fazem na literatura algumas línguas internacionais fortes – como o português, o alemão e o inglês.

 

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Como é de se esperar, não se faz no livro conjeturações sobre a qualidade dos textos. Afial, um Goethe também não nasce todo dia. No nosso caso, o que mais importou foi fazer esse começo, para promover a reflxão na e sobre a língua com os meios da literatura. Que com isso ainda se possa fazê-lo com prazer, é mais um motivo de alegria.
A literatura – é preciso dizer – possui uma força que mal se consegue imaginar: os indivíduos podem com a literatura refltir sobre sua existência e se compreender melhor como ser humano no mundo. Os indivíduos podem com a literatura melhor suportar seu próprio mundo, porque na literatura lhes é permitido inventar e criar à sua maneira tudo que desejam, e assim lidar com mais facilidade com o que os incomoda ou traz dor.

Nada, no entanto, pode ser tão interessante quanto fazer isso na língua materna, porque todos os nossos sentimentos têm na língua materna suas raízes mais profundas e são, por esta razão, uma parte constituinte central de nosso pensamento. Quem oprime ou oculta sua língua materna ainda não iniciou a viver com espírito pleno. Sendo assim,
como achar o passo certo para ser, se em nós algo é excluído ou prorrogado? É, por isso, uma lacuna muito grande a escola não proporcionar a uma criança a oportunidade de poder colocar claramente, e sem medo, diante de si a sua língua materna. É uma lacuna tão grande quanto a falta de acesso ao conhecimento para ler e escrever de forma competente a língua dominante do país. É preciso considerar que a língua materna não pode ser simplesmente apagada do cérebro, como alguns até tentam.

Todo começo, como muitos já sabem, é difícil. Quando iniciamos o Concurso, ninguém de nós imaginava, quem e quantos, o que e como nós iríamos receber. Precisávamos aguardar. Ao fial, inscreveram-se 17 autores, portanto não um caminhão de poetas e escritores, mas ainda assim um número sufiiente, para fazer um começo válido. Uma
difiuldade deve ter sido a escrita do Hunsrückisch. Mas também aqui vale a regra: de algum modo, é preciso começar. A escrita dos textos seguiu, de maneira geral, as regras do ESCRITHU (Escrita do Hunsrückisch), sem contudo um rigor extremo. Onde não havia um consenso absoluto, respeitaram-se escritas diferentes. Foram igualmente mantidas variantes de pronúncia devidas ao tipo de Hunsrückisch falado pelo autor.

O leitor encontra neste livro um conjunto de poemas e estórias que são responsabilidade exclusiva dos autores. Seus textos retratam suas experiências, memórias, preocupações, opiniões, saudades! Mas também o seu humor e criatividade, além dos aspectos da cultura. Cada autor escreveu na sua variedade do Hunsrückisch, portanto no alemão que está acostumado a usar nas conversas diárias. E também as palavras oriundas do português apareceram de forma justa. Elas pertencem à sua identidade e competência linguística, já pelo fato de que quem fala Hunsrückisch também sabe português.

Aos autores queremos, assim, agradecer de coração. Ainda permanecem na sombra, evidentemente, muitos outros poetas e escritores anônimos que não conseguimos atingir ou que ainda não se atreveram a escrever literariamente em sua língua materna. Espera-se que este livro ainda consiga repercutir nesse público. Sua publicação foi possível graças à ajuda importantíssima do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),
Ministério da Cultura do Brasil. O livro é uma parte do trabalho desenvolvido no projeto Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração, conjuntamente por nós na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) através do projeto ALMA-H (Atlas Linguístico-Contatual das Minorias Alemãs na Bacia do Rio da Prata: Hunsrückisch) e o IPOL (Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística). Ao IPHAN vai
portanto um caloroso muito obrigado. Que o IPHAN reconheça explicitamente o valor da diversidade linguística na cultura merece um elogio com todas as letras.

O I Concurso Literário de Poemas e Contos em Hunsrückisch tem, neste sentido, o mérito de registrar esta língua por escrito, possibilitando que outros possam ler em Hunsrückisch, mesmo se um dia não se falar mais essa língua. Que a escrita e leitura de uma língua ajuda a mantê-la viva, o provam as grandes línguas do mundo. Nem mesmo o latim pode, nesta perspectiva, ser visto como uma língua completamente morta. Um começo do zero, por seu lado, também não é o que se confiura aqui. No nosso caso, é preciso colocar na conta toda uma história dos imigrantes alemães no Brasil. E quando se olha para trás, nessa história, tem-se a impressão de um longo começo que não
tem fi. À toda hora, surge nesse caminho algo novo que ainda não se conhecia.

Assim é também a língua dos imigrantes: ela é tão antiga – tem uma história de alguns cem anos a mais do que os 190 desde a chegada dos primeiros imigrantes –, porém pode, ao mesmo tempo, repercutir de uma forma tão nova, quando se pensa nas vezes em que essa língua é oprimida ou não chega a ser pronunciada. E, quando se considera que nada é tão hunsriqueano ou alemão quanto o hábito de narrar uma história, então pode-se esperar que o uso escrito desta língua pode preencher uma função. Porque a voz pode se esvair no vento, mas, uma vez escrita, tem vida longa. Ou seja, „verba volant, sed scribant“.

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