Crianças imigrantes aprendem a nova língua

Fredye Chrisostome, 6 anos, diz que o português não é uma língua fácil: 'Mas eu já sei a letra G, a letra do cachorro e da tartaruga também'

Fredye Chrisostome, 6 anos, diz que o português não é uma língua fácil: “Mas eu já sei a letra G, a letra do cachorro e da tartaruga também”

Alunos haitianos do 1º ao 5º ano do fundamental são atendidos com aulas de português no contraturno, através do projeto da UEL em parceria com a Secretaria de Educação de Cambé

Na Escola Municipal Professora Lourdes Gobi Rodrigues, em Cambé (região metropolitana de Londrina), cerca de 15 crianças haitianas, do 1º ao 5º ano, estão sendo acompanhadas de perto na aprendizagem da língua portuguesa.
A cada aula, eles vão se familiarizando com a nova língua e, por enquanto, o conteúdo é direcionado com base nas necessidades apontadas por eles. Nesta semana, por exemplo, eles vão aprender as formas de apresentação, os dias da semana e as cores.

A ideia do projeto nasceu após relatos das equipes pedagógicas sobre a dificuldade das crianças em aprender e se comunicar na Língua Portuguesa, pois elas estão matriculadas nas turmas regulares da escola, no período vespertino. E a proposta só foi possível pela parceria entre a Secretaria de Educação de Cambé e a UEL (Universidade Estadual de Londrina), por meio do projeto de extensão Be UEL.

A coordenadora do Be UEL, Viviane Bagio Furtoso, explica que o projeto é do curso de Letras Estrangeiras Modernas e tem o objetivo de implementar ações para internacionalização da universidade. Para ministrar as aulas, que tiveram início há duas semanas, uma aluna do curso foi selecionada como estagiária. “Neste começo, estamos verificando o nível de proficiência dos alunos para adequar as aulas. Eles falam muito bem o português e as dificuldades estão em ler e escrever, o que é natural dessa fase escolar”, comenta Flávia Valéria Bresciani, estudante do curso de Letras-Francês.

Para Bresciani, “essas crianças precisam aprender o idioma para se adequarem à sociedade. Elas chegaram no País em um contexto muito triste. Nós temos o objetivo de fazer com que o idioma não seja mais um obstáculo para elas viverem aqui no Brasil”. Ela ressalta que os alunos são extremamente educados e demonstram muita vontade em aprender.

Como Christie Nastassja Immacula André, de 6 anos, que está há dois anos no Brasil. “Estou gostando muito de morar aqui. Na escola, estou aprendendo coisas novas e aprendendo a ler. Eu estudo muito”, conta, orgulhosa. Em casa, ela diz que pratica o português, mas a mãe ainda fala o crioulo haitiano. “Eu tento ajudar a minha mãe com o português, mas tem horas que eu também esqueço algumas palavras”, comenta, aos risos.

Seu colega Fredye Chrisostome, 6, também está aprendendo novas palavras em português, mas afirma que não é uma língua muito fácil. “Já sei a letra G, a letra do cachorro e da tartaruga também. Estou aprendendo aos poucos”, responde o garoto, que entre uma lição e outra, prefere mesmo ficar com as brincadeiras. “É muito legal brincar na escola. As minhas preferidas são esconde-esconde e pega-pega”, completa.

Fotos: Saulo Ohara - Christie Nastassja Immacula André, de 6 anos, diz que tenta ajudar também a mãe a falar português: 'Mas tem horas que eu esqueço algumas palavras'

Christie Nastassja Immacula André, de 6 anos, diz que tenta ajudar também a mãe a falar português: “Mas tem horas que eu esqueço algumas palavras”. Fotos: Saulo Ohara

A diretora Mayara Alcântra Ricordi destaca que o projeto também vai promover uma inclusão maior dos pais dos alunos no ambiente escolar. “A comunicação com as famílias haitianas também vai melhorar agora que contamos com a possibilidade de enviar bilhetes e comunicados também em francês. Quando contei para os pais sobre o projeto, eles se sentiram valorizados pelo município e muito felizes, pois agora vão poder entender tudo o que acontece na escola”, declara

Iniciativa pioneira
A coordenadora do projeto Be UEL, Viviane Furtoso, explica que desde 2005, a universidade oferta gratuitamente cursos de português para estrangeiros. “A maioria são hispanofalantes, pois temos muitos alunos do Chile, Peru, Venezuela, mas também há japoneses, haitianos até paquistaneses”, afirma. De acordo com ela, os cursos atendem principalmente o público adulto. “Dentro desse projeto, a iniciativa de atender crianças é pioneira”, destaca.

Além da UEL, o município também mantém parcerias com outras instituições, como a Associação Refúgio, que oferece serviços de convivência e fortalecimento de vínculos para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social na região.

“A ideia é ajudá-los no aprendizado e na melhora da oralidade. Em Cambé, temos muitas famílias haitianas e foi daí que surgiu essa necessidade. Além da escola Lourdes Gobi Rodrigues, cerca de cinco alunos da escola municipal Pe. Symphoriano Kopf, no jardim Santo Amaro, também são atendidos nessa turma”, diz a secretária municipal de Educação, Cláudia Santos Codato Segura.

De acordo com ela, o município tem aproximadamente 50 crianças haitianas matriculadas desde a educação infantil até o 5º ano do fundamental. Na escola Lourdes Gobi Rodrigues, as aulas seguirão até o final do ano, com duas turmas sendo atendidas entre de segunda e quarta, e de terça e quinta, sempre das 8h30 e 10h.

A diretora comenta que não teve problemas na adaptação dos alunos haitianos no ambiente escolar, mas que a escola se dedicou ao trabalho de conscientização com todas as turmas sobre a história do Haiti. “Vamos agora, montar um video sobre o Haiti para explicar a razão das crianças estarem aqui”, adianta.

Além das crianças, a escola também oferta alfabetização para adultos, com aulas aos sábados, a partir das 18h. Atualmente, cerca de 25 alunos estão matriculados para aprender o português.

Saulo Ohara

Saulo Ohara - Cambé tem tem aproximadamente 50 crianças haitianas matriculadas desde a educação infantil até o 5º ano do fundamental
Cambé tem tem aproximadamente 50 crianças haitianas matriculadas desde a educação infantil até o 5º ano do fundamental

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