Brasil perde dicionarista para o Covid-19

O Brasil, que não sabe como vai escrever sua nova história após a pandemia do novo coronavírus, acaba de perder uma grande referência da Língua Portuguesa. Faleceu nesta quarta-feira (29) o dicionarista Roberto Côrtes de Lacerda, aos 78 anos, co-autor do Dicionário Houaiss, e que atuou como coordenador do Dicionário Aurélio Buarque de Holanda da Língua Portuguesa. ‘A Odisseia’, uma edição para jovens, e o ‘Dicionário de Provérbios’ também estão entre suas obras mais importantes. Ele estava internado no Hospital Quinta D’Or desde 23 de março, com o Covid-19, vinha reagindo, mas não resistiu a uma parada cardíaca. Deixa Helena, com quem viveu por quase 60 anos, três filhos e seis netos.

Embora tenha se formado em Direito, para agradar ao pai, formou-se também em Línguas, com especialização em Latim e Grego, bases que direcionaram toda sua vida para as Letras. Roberto Côrtes de Lacerda trabalhou nas editoras Hachette e Nova Fronteira e na Enciclopédia Britânica. Destacou-se como filólogo e dicionarista. Foi co-autor do ‘Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa’ iniciado em 1985, e cuja primeira edição foi lançada em 2001. Contribuiu também ativamente com a equipe de Aurélio Buarque de Holanda na construção e atualização do conhecido ‘Dicionário da Língua Portuguesa’.

Incentivado pelo amigo Paulo Rónai, a quem muito admirava, tornou-se também tradutor de francês, língua que dominava com profundidade. Em 1994 publicou ‘A Odisseia’, uma concisa adaptação para crianças e adolescentes do texto grego, adotada em muitas escolas.

Uma obra de maior fôlego, que contou com a valiosa colaboração da sua esposa Helena, foi o ‘Dicionário de Provérbios’ em português, francês e inglês, cuja segunda edição foi publicada em 2004. Outro dicionário de provérbios em português e inglês também foi posteriormente publicado.

Macaque in the trees
O dicionarista Roberto Côrtes de Lacerda (Foto: Reprodução)
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Dicionário de Provérbios (Foto: Reprodução)

Nos últimos anos, trabalhava no aperfeiçoamento do que ele considerava sua obra de maior fôlego: o ‘Dicionário de Locuções e Expressões da Língua Portuguesa’. Segundo Roberto: “um dicionário, para não morrer, tem sempre de ser atualizado”. Frase que também se aplicava à sua vida pessoal.

Além das Letras, era uma pessoa agregadora, que vivia rodeada da família e amigos, profundo conhecedor de vinhos e tinha como um dos maiores prazeres da vida viajar e conhecer o mundo. O Flamengo era também uma de suas paixões. Em uma das suas viagens inesquecíveis comemorou seus 50 anos de casado em Portugal na Quinta da Pacheca, com pessoas queridas celebrou a vida da forma que mais gostava. E por ironia do destino foi na sua última viagem para um evento “Essência do Vinho”, na cidade do Porto e para a comemoração dos 55 anos de casado que contraiu a doença que o levou à morte. Seu corpo será cremado nesta sexta-feira, 1º de maio.

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