A Westfália bilíngue em seis mil verbetes

Em maio de 2013, um grupo de amigos de Westfália, formado por professores, representantes do Executivo e do Legislativo, setor agropecuário e funcionários públicos, se reunia com um objetivo: iniciar trabalho para resgatar o vocabulário westfaliano, dialeto utilizado no município e arredores, em uma região onde predomina a presença de descendentes de imigrantes alemães. Assim nasceu um dicionário reunindo cerca de seis mil verbetes, hoje transformado em língua westfaliana brasileira, com tradução para as línguas alemã e portuguesa.

Os conteúdos foram coletados por meio trabalho voluntário do autor Lucildo Ahlert, que é consultor em pesquisas e gestão empresarial, com um grupo de praticantes do dialeto, conhecido como Plattdüütsk. O resultado está publicado em 496 páginas do livro, que, além da história, traz os termos usados na comunicação entre os descendentes westfalianos. A obra apresenta o resgate de um tesouro linguístico, que abre novas possibilidades, em que inclui a escrita, o estudo e o ensino da língua, preservando, desta maneira, esta característica tão singular do povo.

Conforme Ahlert, com o desenvolvimento do projeto foi descoberto que nos primórdios do século XIX, autores na Alemanha tiveram a preocupação em deixar vários legados, que foram importantes para sua execução. “Diversas palavras encontradas nos fizeram reavivar a memória com expressões que tínhamos ouvido na nossa infância. Também tivemos a oportunidade de criar novas palavras para as novas tecnologias que surgiram recentemente, como para o televisor e o telefone celular, como tele-visor transforma-se em wiiet-kiieker e celular, do inglês, smart-phone em schlau-fon. Também procuramos em outras línguas que se aproximam, como alemão, inglês e holandês, além, é claro, o português, regras que, pela análise da prática linguística usada, se ajustam”, comenta. Para evitar conflitos com o ensino da língua alemã nas escolas, usa-se o padrão de escrita da língua alemã, com algumas adaptações para sons encontrados na língua inglesa.

A comunidade valorizou esse resgate. O poder público de Westfália estabeleceu a Lei 1.302, promulgada em 16 de março de 2016, da co-oficialização da língua Plattdüütsk, mais conhecido como Sapato-de-Pau, como a segunda língua oficial de Westfália. O grupo também é reconhecido de forma oficial pelo município, como prestador de serviços voluntários, por meio da Lei 1.375.
De acordo com Ahlert, muitas pessoas já buscaram o exemplar, que é distribuído na prefeitura. Para o Vale do Taquari, a obra tem enorme importância. “Com as imigrações, muitas culturas chegaram em nossa região em função da vinda de imigrantes europeus e africanos, inicialmente de lusos e africanos e ampliada, principalmente, com a chegada de imigrantes alemães e italianos. Entre os próprios alemães há diversidades culturais, em que se destacam na região, os de origem do Hunsrück e da Westfalia”, relata o autor. Para ele, a região apresenta uma diversidade cultural, cada qual com sua forma de expressão, em que a língua é expressão máxima. Este conjunto representa um bem imaterial incalculável que não pode ser perdido. A cultura westfaliana deu um grande passo, com o lançamento do dicionário, para disponibilizar este conhecimento às futuras gerações e perenizar a sua existência.”

E para quem pensa que o grupo iria se contentar somente com o lançamento do dicionário, engana-se. Continuam em atividades, reúnem-se uma vez por mês e já coletam dados e regras que irão integrar a gramática da Lingua Westfaliana Brasileira, obra com previsão de lançamento em 2021

 

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