Técnicos estrangeiros buscam aulas de português para se adaptar ao Brasil
A apostila de exercícios de língua portuguesa e as aulas particulares do idioma viraram as novas armas dos técnicos estrangeiros para se adaptar ao futebol brasileiro. Os argentinos Hernán Crespo, do São Paulo, e Ariel Holan, do Santos, e mais o espanhol Miguel Ramírez, do Internacional, estão empenhados em melhorar a comunicação com os jogadores e superar possíveis barreiras linguísticas no País.
A postura desses estrangeiros em aprender português tem chamado atenção. Até pouco tempo atrás, quem vinha de fora não fazia questão alguma de estudar o idioma nem mesmo de aprender palavras-chave para orientações ao elenco. O argentino Jorge Sampaoli, por exemplo, passou duas temporadas no Brasil e só se comunicava em espanhol. O mesmo valeu para outros técnicos, como o argentino Edgardo Bauza e o colombiano Reinaldo Rueda.
O argentino Holan desembarcou em Santos no mês passado e logo na apresentação ao clube da Vila fez uma promessa. “Meu compromisso também é falar português ou ‘portunhol’. Terei meu professor”, avisou. Mesmo com o calendário apertado, o treinador não deixa de estudar. Nos voos do time, ele aproveita o tempo para treinar. O resultado tem sido visto nas entrevistas. Palavras em português se tornam mais comuns.
Ainda comedido para falar em português, o espanhol Ramírez tem estudado bastante enquanto comanda o Inter em Porto Alegre. O aprendizado de idiomas estrangeiros entre treinadores é comum no futebol europeu. O português José Mourinho, do Tottenham, é fluente em cinco línguas. O espanhol Pep Guardiola contratou uma professora de alemão antes de assumir o Bayern de Munique, em 2013. Ao iniciar o trabalho, o técnico já falava o novo idioma.
Apesar de o Brasil ter aberto suas fronteiras para técnicos estrangeiros nos últimos anos, o aprendizado do português não aparecia como prioridade para eles. O são-paulino Crespo pensa diferente. “Acho que é uma questão de respeito com este país, com o lugar onde estou. É uma questão de respeito com as pessoas. Culturalmente, eu gosto também de aprender”, disse.
O argentino só lamenta que ainda confunda bastante o português com outros idiomas. No São Paulo, o técnico se comunica em espanhol com alguns jogadores estrangeiros e com Daniel Alves. Após mais de uma década na Itália, Crespo usa o idioma para falar com o atacante Éder. “Eu faço confusão porque o português é um mix dos outros dois idiomas. Para mim é difícil porque falo todos os dias com as minhas filhas em italiano, com meus colaboradores do clube em espanhol e depois ainda em português. Mas calma… eu chego lá”, comentou o argentino.
O meia argentino Benítez, do São Paulo, acompanha Crespo nesse processo de aprendizagem. Embora não faça aulas ainda, o jogador está no Brasil há um ano e sabe das dificuldades. “Para aprender, você não pode ter vergonha”, disse. “É importante conseguir falar de outros assuntos que não só o futebol, para você poder falar com um médico ou outras pessoas”, diz.
Um dos primeiros técnicos estrangeiros a estudar português foi o colombiano Juan Carlos Osorio, que passou pelo São Paulo em 2015. Três vezes por semana ele recebia um professor para ter aulas particulares. No ano passado, o espanhol Domènec Torrent, do Flamengo, foi outro a se aventurar pelo idioma.
DIFICULDADE – Professor livre-docente em Língua Espanhola da USP, Adrián Pablo Fanjul explica que o aprendizado do português é um desafio aos treinadores não tanto pela parte escrita, mas pela conversação. “A parte sonora é difícil, tanto a escuta quanto a produção. O português, principalmente falado no Brasil, tem alguns sons que não existem no espanhol”, diz. “Aprender como se fala é mais desafiador, porque exige muito estudo” acrescentou.
Segundo Fanjul, é possível preparar para os treinadores aulas com conteúdo específico à linguagem de futebol. “Existe a possibilidade de direcionar o ensino e a aprendizagem para se concentrar em demandas específicas, seja qual for ela. Ainda assim, existem aspectos básicos que exigem o aprendizado da mesma maneira.”
Chamada de trabalhos do Portuguese Language Journal
O Portuguese Language Journal apoia o ensino e aprendizado da língua portuguesa, ao servir de fórum de partilha e troca de informações baseadas em pesquisas, práticas e experiências relevantes neste campo.
Ensinar e aprender o Português, como língua estrangeira, segunda, adicional, de herança – em suma, não materna – levanta, nos nossos dias, múltiplos desafios (a professores, alunos/aprendentes, decisores educativos e políticos, e investigadores, para só citar alguns dos atores que participam neste processo) que urge continuamente conhecer, estudar, repensar e divulgar. Temos muitos exemplos de trabalho de excelência na nossa área, desde programas bem-sucedidos, baseados em referenciais de qualidade, às metodologias, técnicas e recursos utilizados para promover a aquisição de competências comunicativas. A especificidade própria do nosso objeto de estudo, articulada no binómio Língua-Cultura, tem desenvolvido processos e instrumentos singulares para avaliação tanto dos conhecimentos e competências dos que estudam uma língua como da própria formação dos docentes (graduada, pós-graduada, inicial, especializada, formal, informal). Estamos certos que esta intensa atividade tem gerado a emergência de uma ação, de uma investigação, de uma reflexão que muito ganhará se for partilhada. Neste sentido, o Portuguese Language Journal convida à apresentação de propostas de artigos sobre os diferentes tópicos referidos.
Editora convidada do PLJ#11/2017: Professora Rosa Bizarro, Instituto Politécnico de Macau, Escola Superior de Línguas e Tradução. Continue lendo
IFFluminense será sede do congresso Abralin em Cena 2016
Fonte: Site do evento
V Semana de Letras da UFPI – Vozes e Interfaces
Acontece de 19 a 21 de outubro a V Semana de Letras da Universidade Federal do Piauí (UFPI), no Campus Senador Helvídio Nunes de Barros. O evento tem como tema Vozes e Interfaces e visa a quebra do paradigma que costuma constituir o curso de letras, normalmente reduzido a duas áreas específicas, apresentadas de modo dicotômico: linguística e literatura. Os pesquisadores têm até 5 de outubro para enviar propostas de comunicações individuais e pôsteres e realizar a inscrição nos minicursos.