Rússia quer ser observador associado da CPLP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin. premier.gov.ru

A Rússia é um dos Estados que tem mostrado interesse em ser observador associado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), estatuto que registou um crescimento “exponencial”, disse à Lusa o secretário-executivo da organização.

 “Temos tido contactos com a Federação Russa, exploratórios, sobre essa possibilidade. Mas até agora não houve nenhuma formalização”, afirmou o diplomata Francisco Ribeiro Telles, quando questionado sobre a possibilidade de o país vir a ser observador associado da CPLP.

Numa entrevista à Lusa, a propósito do seu primeiro ano de mandato como secretário-executivo, falou de “um interesse internacional crescente” pela organização e disse que vários Estados têm manifestado vontade e feito contactos no sentido de saberem o que faz a CPLP para estudarem uma eventual candidatura a observador associado.

O interesse destes e o crescimento, que considerou “exponencial”, do número de países que hoje já são observadores associados, demonstram como a CPLP desperta atenções a nível internacional. Em 2014, lembrou, a CPLP tinha três países observadores associados, hoje tem 18 e mais uma organização internacional (a Organização dos Estados Ibero Americanos – OEI).

Na próxima cimeira de chefes de Estado e de Governo, previsivelmente em julho, em Luanda, “possivelmente” serão aprovadas as candidaturas, já formalizadas, de pelo menos mais seis países observadores: Roménia, Grécia, Qatar, Peru, Costa do Marfim e Estados Unidos, acrescentou. Outra candidatura que pode avançar também é a de Espanha, que entregou, em dezembro, a carta formal de manifestação de interesse para ser observador associado, explicou.

Face a “este crescimento exponencial dos observadores associados”, Ribeiro Telles reafirmou que a organização vai ter de refletir “até que ponto a CPLP lhes pode ser útil e eles podem ser úteis à CPLP”.

Segundo o secretário-executivo, que tomou posse a 15 de dezembro de 2018, mas assumiu funções a 1 de janeiro de 2019, esta reflexão conduzirá a uma proposta que deverá ser levada já à próxima cimeira de Luanda.

Em março ou abril, haverá uma reunião com os países observadores, para debater o novo papel que estes poderão ter na organização, apontou. Até essa reunião, “está a ser feito um trabalho interno, no sentido de se saber exatamente o que propor aos países associados”, explicou, considerando que há várias hipóteses em discussão.

Segundo o secretário-executivo da CPLP, há Estados-membros que falam num pagamento de quotas pelos países observadores. Mas, sublinhou: “Não sei se será esse o caminho”.

Para Ribeiro Telles, “outro caminho”, mais provável, “poderá ser os países observadores interessarem-se por projetos da própria CPLP, e financiarem-nos, isto é, numa cooperação trilateral, que passa pela CPLP, pelo Estado recetor e pelo país observador”. “Não estou a falar em termos de quotas, obviamente que não. Estou a falar em eles poderem participar em projetos que sejam do interesse de Estados-membros da CPLP, o que são coisas completamente diferentes”.

Para o diplomata, os interesses dos países que pretendem ser observadores associados da CPLP são diversos. Para alguns, a organização é vista “como uma plataforma linguística”, como é o caso dos que têm uma comunidade de falantes de português e “querem estabelecer um contacto mais estreito com a CPLP, no sentido de desenvolverem a língua portuguesa nesses países”.

O embaixador lembrou que há uma explosão demográfica em África, que “vai criar uma nova centralidade para a língua portuguesa no continente africano“, e os Estados “estão atentos a isso”, afirmou.

Para outros, a organização é olhada no “plano político”, porque a “CPLP tem tido sucesso também na área da diplomacia internacional“, sublinhou Ribeiro Telles, apontando como exemplos os contributos que a organização deu para a eleição de António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas e do italo-brasileiro José Graziano para a FAO (Organização das Nações para a Alimentação e Agricultura).

Os países já se aperceberam que a “CPLP funciona como um bloco em determinadas organizações internacionais” e acham que “vale a pena estar junto” dela, porque pode funcionar também para a eleição dos seus dirigentes, explicou.

Já no plano diplomático, Ribeiro Telles disse: “Tenho sentido que há países que se aproximam da CPLP porque não têm uma rede de embaixadas bastante completa em África, sobretudo na África Austral, e sentem que a CPLP é uma plataforma para chegar a esses países. Estou a falar sobretudo de países do Leste europeu”, referiu o diplomata.

Depois, ainda “há, obviamente”, os Estados que olham para a CPLP como “uma plataforma para estabelecer negócios e parcerias económicas com outros países, nomeadamente africanos”, concluiu o secretário executivo.

Fonte: ZAP

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