Por que sentir orgulho do caipira?

Típica do Brasil, viola caipira é tocada por todo interior do país / Dilvulgação/YouTube

Dialeto caipira nasce da junção do tupi com o português e tenta resistir em meio ao preconceito

Quando o assunto é o caipira brasileiro, os dicionários trazem definições como “aquele que vive no mato” ou que tem “modos rudes”. Será que essa é a melhor definição para o caipira? Quem conhece esse verdadeiro representante da cultura regional brasileira diz que não.

Para o geógrafo e jornalista Mouzar Benedito, o caipira “não é uma cultura menor, é uma cultura diferente das outras, mas muito rica. O caipira é um cara que conhece sinais da natureza, sabe quando vem chuva.” 

Há 18 anos, ao lado de outros amigos e pesquisadores, ele fundou a Sociedade de Observadores do Saci no município paulista de São Luiz do Paraitinga, na região do Vale do Paraíba. O local é conhecido pela enraizada tradição caipira.

Segundo conta Mouzar, o dialeto caipira, o famoso jeito de falar daqueles que vivem no interior, tem longa e desconhecida história. “É o resultado do que é o brasileiro de Minas Gerais para o Sul, pegando um pouco do Mato Grosso também. Acho que essa cultura caipira é a síntese dessa junção do tupi, dos índios todos, mais o português e um pouco da influência africana”, relata.

De onde veio?

No território hoje reconhecido pelo estado de São Paulo, ainda na época da invasão dos portugueses, a principal língua falada pelas tribos indígenas que habitavam grande parte do litoral brasileiro era o tupi. Os jesuítas, ao chegarem aqui, a modificaram e criaram sua versão escrita.

Porém, a conhecida Guerra Guaranítica, que envolveu de um lado os indígenas e de outro as tropas portuguesas e espanholas e é reconhecida como o principal levante indígena contra o domínio dos europeus, mudou essa história. O conflito terminou com a derrota dos indígenas e as ações violentas do ministro português Marquês de Pombal.

“Uma das primeiras medidas do Marquês de Pombal foi impedir a língua geral paulista e impor o português na marra, mas não dá para ser tudo de um dia para o outro”, explica o geógrafo. “Começou pelas escolas: só podia ter escola em português, todos os documentos, como escrituras, tinham que ser em português. Então, o morador dessa região foi começando a falar o português, mas com sotaque tupi, por isso que que eles não têm ‘s’ no final do plural, falam ‘dois pão’, ‘três rapadura’, ‘cinco irmão’.”

Em parceria com o contador de histórias Ditão Virgílio, Mouzar acaba de lançar o livro Palavra de Caipira, pela editora Limiar. Buscando valorizar a cultura regional, a publicação traz explicações sobre o dialeto e um vasto glossário das expressões caipiras. Quem também se somou na empreitada foi o ilustrador Ohi.

“É um livro trabalhado com o lance do bom humor, não é um livro sério para você estudar e ficar na estante. É para curtir. Tem um pouco do que a gente chama de caricatura do caipira mas eu também falei mais a sério”, conta.

Cultura de resistência

A obra dos amigos de longa data nasce, também, como forma de resistir ao preconceito e aos estereótipos.

“A gente sabe que a cultura caipira é uma coisa que está desaparecendo. Falamos que é uma cultura de resistência, então o nosso trabalho também é de resistência”, argumenta Ohi.

Para Mouzar Benedito, parece que justamente as novas tecnologias, valorizadas por muitos que acham que o caipira é “antigo” ou “ultrapassado”, têm sido usadas como inimigas da cultura regional brasileira.

“É difícil preservar as coisas no Brasil porque tem o que o Nelson Rodrigues chamava de ‘complexo de vira-lata’, de achar que tudo que é de fora é melhor. Isso existe aqui e a gente estava vindo em um processo de valorização, mas entrou em uma virada recente com as mídias sociais, que deveriam ser uma coisa de valorizar mais, facilitar, e viraram uma coisa de preconceito, reforçando todos os preconceitos, contra nordestino, contra caipira, contra tudo”, opina Mouzar.

Para aqueles que querem adquirir o livro Palavra de Caipira, basta entrar em contato com Mouzar Benedito através do e-mail mouzarbenedito@yahoo.com.br, com Ohi através de ohitine@gmail.com ou com a editora Limiar por noriansegatto@gmail.com.

Fonte: Brasil de Fato

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