Línguas da América Latina em risco de desaparecerem
A UNESCO declarou 2019 como o Ano Internacional das Línguas Indígenas.
Segundo a agência da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura, atualmente, existem entre 6 mil a 7 mil línguas no mundo. Cerca de 97% da população mundial fala apenas 4% dessas línguas, e somente 3% das pessoas têm como língua materna 96% de todos os idiomas que existem no globo.
A UNESCO alerta que estas línguas continuarão a desaparecer em um ritmo alarmante.
A América Latina é uma das regiões do globo onde esse perigo é mais flagrante.
“Quando fui para a escola, tivemos alguns professores que nos proibiram de falar na língua Ixcatec. Quando os meus pais me mandaram para a escola, eles matricularam-nos e depois os professores ficaram zangados porque falávamos em Ixcatec. Disseram-nos que não era bom e que o espanhol era melhor. Quando eu era pequena, tive um professor que nos bateu, nos agarrou pelos braços e nos disse para não falar em Ixcatec porque ele não entendia. Foi por isso que paramos de falar em Ixcatec”, conta Maria Salazar.
Ela e o irmão, Pedro, são das poucas pessoas que ainda falam a língua Ixcatec na localidade de Santa Maria Ixcatlán, no sul do México.
“Só restam seis ou sete pessoas que falam Ixcatec. Não há muita gente. Alguns compreendem, mas não conseguem falar”, conta Pedro Salazar.
O Ixcatec é uma das muitas línguas indígenas da América Latina que correm o risco de desaparecer. Com ela desaparece toda uma cultura de um povo milenar.
O Peru está a tentar combater o fenómeno. Em 2016, a rádio pública lançou o primeiro programa em Quéchua, chamado Nuqanchik “nós”. Depois seguiram-se os programas em Aymara e Ashaninka.
O presidente do Instituto de Rádio e Televisão do Peru, Hugo Coya:
“Temos um terço da população no Peru que fala línguas nativas e a partir daí começamos este processo de aumentar e criar na nossa programação – tanto na rádio pública como na televisão – programas em línguas nativas.
Centenas de línguas indígenas lutam para sobreviver face à discriminação contra os seus falantes e à força da globalização. O Brasil, por exemplo, é o país com a maior diversidade linguística da região. Na próxima década, corre o risco de perder um terço das suas 180 línguas. No México, quase dois terços das suas 68 línguas estão à beira de desaparecer.
“Estamos a matar-nos porque quando um não vive a cultura ou quando não a mantêm, não somente a língua, mas todas as tradições… Perde-se o conhecimento das plantas medicinais, tudo morre”, refere Clarisa Franco, da comunidade Shipibo e que já não fala a língua local.
Fonte: Euronews
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