‘Governos passam’, diz Mujica em SP ao criticar ditadura na América do Sul
A América do Sul precisa superar as diferenças internas, mas se integrar para construir uma única nação em torno de desenvolvimento econômico, de infraestrutura e pesquisa, defendeu o senador e ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica em Franca (SP) na noite de segunda-feira (15).
Convidado a palestrar para um público de 2,5 mil pessoas, em sua maioria universitários na 14ª Semana de Relações Internacionais da Unesp, o ex-presidente também criticou as ditaduras quando questionado sobre os impactos de crises político-econômicas em países como a Venezuela e o Brasil ao Mercosul.
Recentemente, Mujica teceu críticas ao presidente venezuelano Nicolas Maduro e o chamou de “louco varrido” ao sugerir que ele tente resolver seus conflitos com a oposição.
“Se há uma ditadura, azar, porque os governos passam e os povos ficam. Há que se trabalhar para o povo, não para o governo. Isso custa, porque é muita estupidez e a estupidez serve para nos dividir”, afirmou, citando ditadores de diferentes países como Juan Domingo Perón (Argentina), Getúlio Vargas (Brasil) e Carlos Ibáñez del Campo (Chile).
Integração latino-americana
Mujica defendeu uma tendência mundial de os países atuarem em blocos e ressaltou que a América Latina não pode “cair no encanto da sereia” de que isso não está de fato acontecendo.
“Há que se ter ideia do que é a China. Há mais de 40 idiomas dentro desse espaço. Há que se ter ideia do que é a Índia, esses são os seres do futuro. Os Estados Unidos têm o Canadá como uma terra prometida. A Europa, apesar de suas línguas, suas diferenças e seus nacionalismos, está criando uma nação de 700 milhões de habitantes. E nós, o que fazemos, latino-americanos?”, questionou.
Ele classificou os países latino-americanos como “um monte de repúblicas divididas” e defendeu a integração econômica e universitária como saída para que o continente não fique para trás.
“Se cometermos o erro de não formar uma massa econômica crítica importante, se não juntarmos a inteligência de nossos jovens de nossas universidades, um sistema comum de pesquisa para sermos donos do conhecimento, nunca vamos conseguir alcançar a distância a que o mundo central nos leva”, afirmou.
Por outro lado, essa integração, segundo ele, deve ser feita sem imposições e com respeito às diferenças ideológicas de cada país.
“Se vamos pensar que todos sejamos socialistas, que todos estejamos de acordo com a quadratura do círculo, isso é puro idealismo, nunca nós vamos nos integrar”, exemplificou.
Para ele, as tradições e a proximidade do português e do espanhol são pontos fortes para essa integração. “Construímos muitos países, nos falta construir uma nação. A nação é toda a América, a América do Sul, que fala a mesma língua, porque o português, se falamos devagar, mais ou menos o entendemos.”