Canadá. Relatório expõe genocídio de mulheres indígenas

Um novo relatório agora conhecido denuncia um genocídio de mulheres indígenas no Canadá. Durante 30 anos, foram assassinadas milhares de mulheres. Muitas outras continuam dadas como desaparecidas em circunstâncias misteriosas. O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, já se pronunciou.

O documento de 1200 páginas intitula-se Reclamando Poder e Espaço e dá voz a mais de 1400 familiares das vítimas, que foram assassinadas ou desapareceram entre 1980 e 2012, assim como a sobreviventes e especialistas sobre o tema.

A investigação arrancou em 2016 por iniciativa do Governo canadiano, depois de múltiplos pedidos de famílias indígenas e organizações, incluindo as Nações Unidas, para investigar a violência contra as mulheres indígenas.

O relatório indica que o número de vítimas apontado pelas autoridades canadianas – 1200 – não corresponde à realidade. O número real ultrapassa as quatro mil, segundo a Associação de Mulheres Indígenas do Canadá. Conclui ainda que estes foram “atos de genocídio”.
Raízes coloniais
A violência contra as vítimas indígenas é resultado, segundo o relatório, de “ações estatais e inações com raízes no colonialismo”.
“Por muito tempo, as mulheres e raparigas indígenas têm sido publicamente desvalorizadas ou ignoradas. As perceções gerais das pessoas têm sido moldadas por estereótipos coloniais nocivos”, lê-se no documento.Marginalizadas a nível social, político e económico, as mulheres indígenas tornaram-se alvos frequentes de ações de ódio e violência.
Nahanni Fontaine, a conselheira especial para assuntos das mulheres indígenas do Governo de Manitoba, diz ao diário britânico The Guardian: “Desde os primeiros momentos de contacto com os exploradores europeus, as mulheres indígenas foram menosprezadas e estereotipadas como promíscuas porque controlavam a sua própria sexualidade e eram tratadas como iguais pelos congéneres masculinos”.
O relatório diz ainda que as autoridades policiais e o sistema judicial têm falhado para com estas mulheres, ignorando as suas preocupações e preservando “estereótipos racistas e sexistas”. A “apatia” da polícia traduz-se frequentemente na “culpabilização das vítimas”. São exemplos os retratos das vítimas como “bêbedas”, “fugitivas que saem à noite para ir a festas” ou “prostitutas que não são dignas de investigação”.
Por sua vez, tal criou desconfiança para com as autoridades e as famílias das vítimas disseram que o procedimento judicial era “inadequado, injusto e retraumatizante“.
Outros fatores, como a pobreza, a falta de habitação, o desemprego e a toxicodependência contribuem para a sua condição como vítimas nas reservas. Mas apenas 40 por cento da população indígena vive em reservas, o que significa que a marginalização não ocorre devido à existência de reservas específicas.
Além disso, tentativas violentas de assimilação, como forçar crianças indígenas a frequentar escolas especiais – onde foram vítimas de abusos durante décadas -, constitui “genocídio cultural”, de acordo com o Centro Nacional de Verdade e Reconciliação do Canadá.
Práticas de marginalização antigas

Após a descolonização do Canadá, o Governo canadiano impulsionou a assimilação dos indígenas – as Primeiras Nações, os Inuit e os Métis. Através de legislação como a Lei da Civilização Gradual e o Indian Act, o Governo teria mais força para fazê-lo. As leis incluíam, por exemplo, a cristianização forçada.

“Para as pessoas indígenas no Canadá, a experiência foi, na sua maioria, de humilhação, negligência e abuso”, reconheceu o primeiro-ministro Justin Trudeau. Em 2002, foi detido Robert Pickton, considerado o pior serial killer do Canadá. Ele torturou e assassinou pelo menos 33 indígenas.
Entre 1876 e 1996, 150 mil crianças foram retiradas às respetivas famílias e obrigadas a frequentar colégios internos para “retirar o índio da criança”, como disse o fundador deste sistema, John MacDonald. Era frequente as crianças serem fiísica e sexualmente molestadas por missionários e eram proibidas de falar a língua nativa.

Ao longo dos anos, algumas crianças, cujas famílias eram instáveis ou tinham dificuldades económicas, foram enviadas para lares ou famílias de acolhimento, nas quais, muitas vezes, eram abusadas sexualmente.

Grupos indígenas dizem que o racismo institucional contribui para uma cultura de impunidade aos autores de crimes contra mulheres indígenas.

Trudeau reage

O relatório foi apresentado no início desta semana em Gatineau e contou com a presença de Justin Trudeau.
Durante a campanha eleitoral, o governante canadiano referiu que a situação das mulheres indígenas estaria na sua agenda. Mas o problema persistiu.
“Este é um dia desconfortável para o Canadá, mas é um dia essencial (…) Nós falhámos. Não vos falharemos mais”, disse o primeiro-ministro a uma plateia com familiares das vítimas e várias figuras da comunidade indígena.
Trudeau prometeu que o Governo agiria para efetuar algumas das [231] recomendações que o relatório oferece, como a mudança do sistema judicial e as práticas da polícia.
Apesar das palavras do primeiro-ministro, alguns indígenas mostram-se céticos. “Sim, um genocídio é exatamente o que está a acontecer, e o Canadá está em negação”, disse ao New York Times Lorelei Williams, defensora dos indígenas em Vancouver.
Fonte: RTP

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