Comunicação

Nheengatu: Cearenses criam plataforma para tradução da única língua viva descendente do tupi antigo

Conhecimento sobre o idioma pode evitar a extinção e permitir o entendimento sobre palavras do português brasileiro
06 DE NOVEMBRO 2020, ENTREVISTA COM POVOS INDIGENA DOS TAPEBAS, DOURADO TAPEBA

O termo que dá nome ao idioma Nheengatu surgiu no século XIX, significando “língua boa”. É resultado de uma evolução gradual do tupi antigo ao longo de 500 anos. Foto: Kid Junior

Uma tecnologia cearense pode evitar a extinção da Língua Geral Amazônica (LGA), conhecida como nheengatu, por meio de ferramentas computacionais para investigação da estrutura gramatical com capacidade de tradução. A plataforma ainda permite o aprendizado da língua e adaptação para o inglês.

A iniciativa faz parte do grupo de pesquisa Computação e Linguagem Natural (Complin) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Em conjunto, eles buscam manter a única língua viva descendente do tupi antigo. As informações são da Agência UFC.

Existem apenas 6 mil falantes do nheengatu no Brasil – concentrados na região amazônica – e 8 mil na Colômbia, de acordo com o catálogo de línguas “Ethnologue”, do Summer Institute of Linguistics (SIL). Assim, o idioma está em risco de extinção.

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II Seminário de Línguas de Sinais: Libras em Ação

Foto: Reprodução/Secom Piauí
Foto: Reprodução/Secom Piauí

 

O Grupo de Pesquisa em Línguas de Sinais do Piauí (GELSPI), da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) promove nos dias 11 e 14 de maio o II Seminário de Línguas de Sinais: Libras em Ação. O evento acontece através do canal oficial da UESPI no Youtube e da plataforma Zoom Metting.

 

Cronograma

Data: 11/05 (Quarta-feira)

Horário: 19h às 20h30

Local: Youtube da UESPI

Mesa-redonda 1: Idealização e Realização da Nova Escola para Surdos

Tema 1: A nova escola para surdos na perspectiva do surdo

Tema 2: A nova escola para surdos e a formação docente

Data: 14/05 (Sábado)

Horário: 9h às 11h (manhã)

Local: Zoom Meeting

Comunicações: Propostas e Resultados de Pesquisas em Libras Resultados de pesquisa PIBIC/GELSPI/UESPI e PIBIC/IFMA

Horário: 15h às 16h10

Local: Youtube da UESPI

Mesa-redonda 2: Línguas de Sinais no Cenário das Pesquisas Linguísticas

Indígenas agora têm espaço em Florianópolis para vendas de produtos

Desde o dia 27 do mês passado foi aberta a Casa de Artesanato Indígena Guarani Mbya localizada na região Central da Capital

Arte e a tradição de 11 comunidades indígenas localizadas na Grande Florianópolis agora podem ser vistas e adquiridas em um espaço no Centro da Capital. Desde o dia 27 do mês passado foi aberta no Largo da Alfândega, a Casa de Artesanato Indígena Guarani Mbya.

Graciele Ortiz é da aldeia Guarani Pirarupá, localizada no Massiambú, ao Sul no Município de Palhoça – Foto: Leo Munhoz/ND

Graciele Ortiz é da aldeia Guarani Pirarupá, localizada no Massiambú, ao Sul no Município de Palhoça – Foto: Leo Munhoz/ND

No espaço, há artesanatos como cocares, brincos, colares,esculturas em madeira, flautas, cestos, entre outros produtos. Com as vendas,os recursos serão destinados aos indígenas em uma forma de sustentabilidade para essas comunidades, de modo a expressar preceitos culturais.

Colares produzidos pelos índios da aldeia Guarani Pirarupá - Leo Munhoz/ND

Colares produzidos pelos indígenas da aldeia Guarani Pirarupá – Leo Munhoz/ND

A Casa de Artesanato será um lugar apropriado e com mais conforto, para os índios mostrarem o seu trabalho e criatividade em suas peças, seu artesanato de referência e assim imprimir ainda mais a sua história e costumes.

Segundo Roseli Pereira, diretora de Marketing da Secretaria de Turismo de Florianópolis, e administradora do Mercado Público e Largo da Alfândega, a Casa de Artesanato será um lugar apropriado e com mais conforto, para os Índios mostrarem o seu trabalho e criatividade em suas peças, seu artesanato de referência e assim imprimir ainda mais a sua história e costumes.

“A Casa do Artesanato Indígena Guarani Mbya reúne as aldeias da Grande Florianópolis e consolida uma política pública que visa afirmar os direitos da população indígena”, disse ela, ao lembrar que ao adquirir um artesanato indígena, automaticamente se contribui para o desenvolvimento social e sustentável desse povo.

A arte indígena é comercializada no Centro de Florianópolis – Foto: Leo Munhoz/NDA arte indígena é comercializada no Centro de Florianópolis – Foto: Leo Munhoz/ND

Gracieli Ortiz é uma das indígenas que está com seu artesanato na Casa. Da Aldeia Guarani Pirarupá localizada no Massiambú, ao Sul no Município de Palhoça, ela aprendeu com as primas a arte de fazer brincos e colares.

“Temos os artesanatos que tanto o Mbya quanto os Nhandedeva fizeram. Têm brincos, colares, cocais e até cestinhas”, disse a jovem. “O dinheiro das vendas vai para a nossa comunidade. Vai ajudar a aldeia em geral”, reforçou.

A Casa do Artesanato Indígena Guarani Mbya está aberta de segunda a sábado das 07h às 17h.

Via ND – Mais

Tribunal de Justiça do Amazonas convoca indígenas para audiência de conciliação em línguas nativas

Cartaz de audiência de custódia indígena: línguas nativas (Foto: TJAM/Divulgação)

Cartaz de audiência de custódia indígena: línguas nativas (Foto: TJAM/Divulgação)

 

O Tribunal de Justiça do Amazonas fará audiência de custódia em aldeias indígenas. A convocação para participar das reuniões é nas línguas Nheengatu, Baniwa e Tukano.

A audiência foi lançada em São Gabriel da Cachoeira, cidade próxima à fronteira com Colômbia e Venezuela, e considerada a mais indígena do Brasil.

Oito cartazes serão fixados em locais estratégicos, como delegacia, defensoria, fórum e câmara dos vereadores. A tradução ocorreu em parceria com a Foirn e com o Instituto Socioambiental (ISA) a partir das versões em português lançadas em 2021.

Museu da Língua Portuguesa celebra o Dia Internacional da Língua Portuguesa

Shows, performances, mesas de debate, lançamentos de livros e leituras de obras literárias estão entre as atrações, entre 5 e 7 de maio

O Museu da Língua Portuguesa celebra o Dia Internacional da Língua Portuguesa (5 de maio) com uma série de atividades presenciais e gratuitas. Shows, performances, mesas de debate, lançamentos de livros e leituras de obras literárias vão ocupar vários espaços da instituição do Governo do Estado de São Paulo, como a Praça da Língua e o Auditório, e também locais como o saguão central da CPTM.

A programação acontece entre 5 e 7 de maio, quando a língua portuguesa, nas suas mais variadas dimensões, vai pulsar ainda mais dentro e fora do Museu.

A edição 2022 do Dia Internacional da Língua Portuguesa tem direção artística do diretor teatral e de cinema Felipe Hirsch, convidado para criar uma programação inspirada em sua peça “Língua Brasileira”, que fez temporada no início deste ano no Teatro Anchieta, do Sesc Consolação.  O convite para Hirsch partiu da curadora especial do Museu da Língua Portuguesa, Isa Grinspum Ferraz.

Confira a programação completa:    

5 de maio (quinta-feira)   

10h  
AULA ABERTA – Língua Brasileira  
A programação do Dia Internacional da Língua Portuguesa será aberta com uma conversa de Caetano Galindo com estudantes do 6º e do 7º anos da EMEF Infante Dom Henrique. Galindo é professor e autor do livro “Sim, eu digo sim: uma visita guiada ao Ulysses de James Joyce”. 
Na Praça da Língua (evento fechado para os alunos da escola)   

16h  
MESA – Camões com Dendê  
A professora e etnolinguista Yeda Pessoa de Castro bate um papo com o professor Caetano Galindo na mesa “Camões com Dendê” sobre a influência dos falares africanos na língua portuguesa do Brasil. Após o encontro, ela lança o livro de mesmo nome. 
No Auditório   

18h  
MESA – Os mitos de criação  
A muralista e educadora Daiara Tukano e a agricultora e agente ambiental Jera Guarani se reúnem para participar da mesa “Os mitos de criação”. Na conversa, as duas pretendem debater sobre as diferentes cosmovisões dos povos originários do Brasil.  
No Auditório   

20h  
SHOW – “Padê”  
Faixas do álbum “Padê”, lançado em 2018, estão no repertório do show que a cantora Juçara Marçal e o músico Kiko Dinucci apresentam na Praça da Língua. 
Na Praça da Língua 

6 de maio (sexta-feira)   

12h  
PERFORMANCE – Zion Gate Sound System e Batalha do Santa Cruz – Ritmo e Poesia na Gare da Luz  
Zion Gate Sound System e a Batalha do Santa Cruz são os responsáveis pela apresentação Ritmo e Poesia na Gare da Luz. A performance acontece na hora do almoço. Para esta apresentação, não é necessário retirar ingresso. 
No Saguão Central da CPTM  
(sem a necessidade de retirada de ingressos)  

14h  
MESA – Experimentos com Linguagem 
A mesa “Experimentos com Linguagem”, que reúne a escritora Veronica Stigger, o filósofo Juliano Pessanha e a crítica literária Noemi Jaffe, debaterá aspectos da literatura experimental.  
No Auditório   

17h30  
MESA – A ideia de nação  
O ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas Ailton Krenak apresenta seus pensamentos sobre a vida das comunidades ribeirinhas e indígenas no Brasil contemporâneo na mesa “A ideia de nação”. 
Na Praça da Língua 

19h30  
SHOW – “Ciranda Sem Fim” 
Presente na experiência Falares, da exposição principal do Museu da Língua Portuguesa, Lia de Itamaracá apresenta o show “Ciranda Sem Fim”. A performance contará com a participação do DJ Dolores.  
Na Praça da Língua 

7 de maio (sábado)   

11h  
Abertura da instalação “O Conto da Ilha Desconhecida”  
No último dia da semana do Dia Internacional da Língua Portuguesa, o Museu inaugura a Ocupação O Conto da Ilha Desconhecida. O Saguão B vai receber uma barca inflável, criada pela companhia Pia Fraus, inspirada na história do livro homônimo de José Saramago. A ação é uma homenagem ao centenário do escritor, único autor em língua portuguesa a ganhar um Nobel de Literatura. 
No Saguão B   

12h  
SHOW – Orquestra Mundana Refugi  
Orquestra Mundana Refugi, que reúne músicos brasileiros, imigrantes e refugiados, toca no Saguão Central da CPTM. 
No Saguão Central da CPTM  
(sem a necessidade de retirada de ingressos)  

13h  
PERFORMANCE – “Ciranda do Gatilho: CAIXA PRETA”
Com Bernardo Oliveira, Saskia (e Negro Leo) 
No Mini Auditório 
(para visitantes regulares do Museu) 

14h  
MESA – Línguas Portuguesas  
A língua portuguesa é falada por milhões de pessoas em diferentes partes do mundo. Nascida num pequeno recanto da Galícia, espalhou-se pelo planeta e ganhou variantes. A jornalista Pilar del Río e o escritor Milton Hatoum falam sobre as línguas portuguesas no plural. Com mediação de Danilo Santos de Miranda.
No Auditório   

15h30  
MESA – Marrom e Amarelo – Conversas e Leituras com Paulo Scott e Semayat Oliveira  
A jornalista Semayat Oliveira lê trechos do premiado livro “Marrom e Amarelo”, de Paulo Scott
No Auditório   

17h30  
MESA – Glotocídio e Incêndios  
Críticos da atual política ambiental, a jornalista Eliane Brum e o líder indígena André Baniwa participam da mesa “Glotocídio e Incêndios”. Na pauta, o desmatamento da Amazônia e os violentos crimes contra os povos originários. A mediação será da jornalista Maria Fernanda Ribeiro.  
No Auditório   

19h30  
SHOW – Cenas e músicas da peça “Língua Brasileira”  
A partir da música “Língua Brasileira”, de Tom Zé, nasceu a colaboração entre o compositor, Felipe Hirsch e o coletivo Ultralíricos. Desse trabalho conjunto surgiu o espetáculo “Língua Brasileira”, uma epopeia dos povos que formaram a língua que falamos. Cenas e músicas da peça serão apresentadas no encerramento da programação. 
Na Praça da Língua 

Filmes no Mini Auditório do Museu  

No dia 5, será exibido em looping o filme “Marcha à Ré”, de Eryk Rocha, sobre performance realizada por Nuno Ramos e o Teatro da Vertigem (nesta data, às 17h, Rocha conversa com o público presente). No dia 6, é a vez do filme “KOPENAWA”, uma entrevista com Davi Kopenawa registrada dentro do Museu. No dia 7, é exibido “Eduardo Coutinho, 7 de Outubro”, de Carlos Nader.  Os eventos no Mini Auditório são para os visitantes regulares do Museu da Língua Portuguesa.

Todas as atividades do evento serão filmadas. As gravações resultarão em um documentário dirigido pelo próprio Hirsch e com produção da Café Royal. 

Ingressos  

Toda a programação do Dia Internacional da Língua Portuguesa é gratuita. A distribuição dos ingressos acontece na bilheteria do Saguão B a partir do meio-dia de cada data. Cada pessoa poderá pegar dois ingressos para uma ou mais atividades daquele dia específico. O ingresso também dará ao Museu da Língua Portuguesa, que estará aberto normalmente (até as 18h) para quem quiser conferir a sua exposição principal e a mostra temporária Sonhei em português!.

É obrigatória a apresentação do Passaporte da Vacina antes de entrar no Museu para todas as pessoas com cinco anos ou mais, sendo exigida a comprovação de ao menos duas doses ou dose única do imunizante contra Covid-19 (a exigência é do Decreto Municipal nº 60.989/22 da Prefeitura de São Paulo).

Transmissão

As mesas terão transmissão ao vivo pelo YouTube e Facebook do Museu da Língua Portuguesa, com interpretação em Libras.  
www.facebook.com/museudalinguaportuguesa  
www.youtube.com/museudalinguaportuguesa   

 

VIA Governo de SP

Entrevista – Conheça o dialeto Plattdüütsk de Westfália/RS

O professor aposentado, escritor, pesquisador e Coordenador do Grupo Amigos do Sapato de Pau, Lucildo Ahlert, 71, é o autor do livro que tem o objetivo de manter vivo o dialeto Plattdüütsk, língua comum entre os moradores de Westfália, Imigrante, Teutônia, Colinas e na Nova Westfália, em Fazenda Vilanova.

Segundo Ahlert a ideia de resgatar o legado dos antepassados entre os descendentes westfalianos, para incentivar a continuidade do uso do dialeto Plattdüütsk entre as novas gerações na região, surgiu  em 1997, quando foi realizado o primeiro encontro do Sapato de Pau, em Linha Schmidt, atual município de Westfália, e ocorreu o lançamento do dicionário “Hasbiärger Plattdüütschket Wöerderbouk, Döönkes un Vertällsel” do empresário alemão, Klaus Dreyer, de Gaste, Alemanha.

“A gramática conterá 334 páginas. A obra apresenta variados tópicos de acordo com o formato de gramáticas de outras línguas. Além da introdução, apresenta doze capítulos com as diversas especificidades da língua, com exemplos práticos em westfaliano, traduzidos para o português, e um capítulo especial no final com termos usuais.”

Ahlert tem formação em Economia, é mestre em Engenharia de Produção e especialista em Ensino e Aprendizagem da Língua Alemã.

(Foto: Paloma Driemeyer Valandro/AI Westfália/Divulgação)

Entrevista

Agora no Vale – O senhor é natural de onde?

Lucildo – Eu nasci na Linha Schmidt, na época pertencente à Estrela, hoje município de Westfália. Vivi lá, ajudando nas atividades agropecuárias dos meus pais, até os 22 anos, quando iniciei minhas atividades profissionais. Quando casei em 1975, fixei residência em Lajeado, onde moro até hoje, exercendo atividades na Souza Cruz até 1998 e na Univates até 2012, quando me aposentei. Continuo exercendo atividades profissionais como consultor de pesquisa, e, desde 2013, presto serviços voluntários na Westfália, como coordenador do Grupo Amigos do Sapato de Pau. Sou, também, escritor, integrante da Alivat – Academia Literária do Vale do Taquari.

Agora no Vale – Quantos anos de pesquisa até conseguir editar a publicação?

Lucildo – A pesquisa iniciou oficialmente em 2013, com a criação do grupo Amigos do Sapato de Pau, mas desde 1997, já ocorreram iniciativas em conhecer trabalhos similares desenvolvidos na Alemanha e Estados Unidos. Ocorreram, também, estudos acadêmicos de estudantes de mestrado e doutorado sobre o tema. Com a criação do grupo, abriu-se a possibilidade de efetivamente criar condições para o estabelecimento de um objetivo claro e exequível para deixar às futuras gerações westfalianas no Brasil a possibilidade de ter acesso a fontes escritas que lhes possibilitem o entendimento da língua trazida e falada pelos seus antepassados, que como primeira etapa constou do lançamento do dicionário da Língua Brasileira Westfaliana em 2019.

Agora no Vale – Qual a importância e objetivo da obra?

Lucildo – Principiando a organização das obras, do dicionário e da gramática, foi desenvolvida uma sistemática de escrita para se tornar usual, respeitando regras da língua alemã e aproveitando especificidades da língua inglesa, aproximando, ao máximo, os fonemas das letras, tendo presente que, na região onde predomina o Sapato-de-pau, são praticadas as línguas portuguesa e alemã, para que não se perca, no futuro, a pronúncia correta das palavras utilizadas na língua westfaliana brasileira. É importante considerar que não se pode pensar em uma escrita, apenas, para os falantes do Sapato-de-pau, mas, de forma ampla, para todas as pessoas que queiram ampliar os conhecimentos, em termos de línguas.

Agora no Vale – Este material é um estímulo para as novas gerações manterem vivo o dialeto?

Lucildo – Sim. O grupo objetivou com esta obra deixar para as futuras gerações westfalianas no Brasil a possibilidade de ter acesso a fontes escritas que lhes possibilitem o entendimento da língua trazida e falada pelos seus antepassados para estudar e praticá-la. Além disso, a Gramática da Língua Westfaliana Brasileira (conhecida como sapato-de-pau) serve de referência aos que queiram aprendê-la para o cotidiano familiar e também, para escrever textos de jornais e revistas, mensagens publicitárias, letras de músicas e obras literárias. Espera-se, assim, que as escolas possam iniciar o processo de incorporação do estudo da língua dos imigrantes na sua grade curricular, para facilitar a compreensão do desenvolvimento histórico das línguas germânicas. A obra possibilita usar o seu conteúdo em sala de aula como conhecimento prévio da língua materna usada no dia-a-dia na sua casa, no estudo das línguas alemã e inglesa, com as quais a língua westfaliana brasileira mantém uma estreita relação.

Agora no Vale – E a estrutura do livro?

Lucildo – Os capítulos que envolvem aspectos gramaticais referem-se à fonética, artigos, substantivos, adjetivos, pronomes, verbos com a sua conjugação, advérbios, preposições, conjunções, interjeições e sintaxe. Em cada capítulo são apresentadas listas com as palavras mais utilizadas, em quatro línguas: westfaliano, português, alemão e inglês.  Por fim, em um capítulo especial são apresentadas palavras, cujo conteúdo refere-se ao vocabulário básico utilizado na vida cotidiana dos westfalianos também em quatro línguas. Esse conteúdo serve para as escolas organizarem oficinas de estudo para iniciantes se familiarizarem com a segunda língua oficial de Westfália – a língua westfaliana brasileira. Além disso, a partir dessa sistematização, o ensino das línguas alemã e inglês, pode utilizar o material para fazer comparações entre a língua estudada com aquela falada por muitos no dia a dia nas suas residências.

Agora no Vale – De onde surgiu o dialeto sapato de pau?

Lucildo – O dialeto Plattdüütsk, ou Sapato-de-Pau, como é conhecido no Brasil (dialeto falado pelas pessoas que usavam um sapato de pau totalmente de madeira) foi uma língua falada por muitos séculos na Europa e que teve o seu apogeu no período da Liga Hanseática.  Essa língua era usada, tanto nos negócios como nas comunicações em suas residências, de forma falada e escrita.

Agora no Vale – Quantas pessoas na região ainda preservam este hábito?

Lucildo – Não há mensuração desse dado, sendo isso um dos nossos objetivos e também do Conselho Estadual do Plurilinguismo do Estado do Rio Grande do Sul do qual sou membro, para todas as expressões linguísticas minoritárias existentes. Sabe-se que a presença do dialeto em famílias é maior no município de Westfália, e principalmente nas localidades de Berlim e Paissandú. Mas, existem falantes e que entendam o dialeto em outras localidades do município e, também, em Imigrante, Teutônia, Colinas e Nova Westfália, em Fazenda Vilanova. Esperamos que num futuro próximo possamos levantar o número de falantes no município de Westfália.

Agora no Vale – Qual o papel da escola no contexto de preservar a língua?

Lucildo – Até hoje, esta tarefa era dos pais, mas como os filhos cada vez mais cedo são levados à escola, onde a língua materna das famílias é ignorada, e os meios de comunicação cada vez mais fazem parte do dia-a-dia das famílias, isso se torna quase impossível. Por isso, precisamos que a escola mude a sua estratégia e estimule a criança a valorizar a sua cultura. Para aprender não é preciso substituir e sim somar.

Agora no Vale – O senhor também é autor do dicionário da Língua Westfaliana Brasileira. São quantas palavras, páginas e capítulos?

Lucildo – O dicionário, lançado em 2019, tem 498 páginas e é dividido em seis capítulos: Regras de escrita; Vocabulário da língua westfaliana brasileira na ordem alfabética do westfaliano; Vocabulário da língua westfaliana brasileira na ordem alfabética de português; História da imigração e características da cultura e do município de Westfália; Provérbios característicos, pensamentos; Contos com humor do cotidiano do povo westfaliano. Os capítulos referentes ao vocabulário, de mais de 6 mil palavras, são apresentados de forma trilíngue : westfaliano, alemão e português. Como o lançamento da Gramática está sendo feito com recursos arrecadados de forma solidária através de famílias e empresas westfalianas, a Prefeitura de Westfália está fazendo uma impressão adicional, já que a primeira edição de 500 exemplares está praticamente esgotada.

Agora no Vale – Qual a sensação de resgatar uma parte tão importante da história do município e da colonização alemã no Vale do Taquari?

Lucildo – É uma sensação de uma intensa realização, cujo valor não é mensurável financeiramente. Só quem já fez algo similar consegue saber como é este sentimento. É saber que nós somos passageiros neste mundo, mas as obras ficam e podem servir às futuras gerações para poderem se conectar ao passado distante.

Agora no Vale – Quais são os próximos projetos?

Lucildo – Com a base principal da língua westfaliana resgatada e organizada, a próxima etapa é resgatar e descrever usos e costumes dos antepassados westfalianos. Já temos muitos textos escritos por autores alemães que foram adaptados à nossa realidade e foram lidos nos encontros mensais. Além de continuar na adaptação de textos da Alemanha, estamos, atualmente, produzindo, também, textos próprios, que relatam aspectos envolvidos em eventos típicos westfalianos, na região do Vale do Taquari.

Agora no Vale – O senhor gostaria de acrescentar algo?

Lucildo – Desenvolver um trabalho de resgate dos principais termos usados no Sapato-de-pau representou uma tarefa árdua, que exigiu ousadia, muita dedicação, determinação e superação. Foram necessárias muita empatia e imaginação, para regredir no tempo e sentir-se vivendo com os antepassados. Tudo isso para forçar o cérebro a resgatar, na memória mais profunda, os dias vividos desde a infância, para lembrar-se de palavras e da pronúncia. Contar, para isso, com um grupo de pessoas extremamente leais, interessadas e colaboradoras foi uma experiência ímpar, que ficará na memória para sempre.

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