A memória da repressão às línguas de imigração na recuperação de um Atlas Geográfico

Editorial IPOL

Um exemplar do Atlas Geográfico (UNIVERSAL ATLAS, escrito por Friedrich Volckmar e publicado em meados de 1909 em língua alemã), foi salvo por um menino de uma fogueira destinada à destruição de publicações didáticas em línguas de imigração, por volta da época da segunda Guerra Mundial (1939-1945). O aluno teria visto o livro “escorregar” entre a pilha de livros em chamas no pátio da Escola Isolada da Estrada Carolina, no interior do município de Gaspar em Santa Catarina.

Segundo a professora aposentada Edith Manke, este aluno, com receio da forte repressão linguística* que ainda imperava, manteve a publicação escondida no sótão de sua casa até decidir entregá-lo novamente à escola. Muitos anos mais tarde e pelo fato de D. Edith lecionar em língua alemã nesta mesma escola, o Atlas Geográfico acabou ficando sob sua responsabilidade.

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Fotos de antes e depois da restauração feita no Atlas

No ano de 2012, a equipe de pesquisadores do IPOL no âmbito do Projeto “Receitas da Imigração: Língua e Memória na Preservação da Arte Culinária” tiveram o privilégio de conhecer um pouco da história de vida de D. Edith e sua ligação com a localidade da Estrada Carolina. Na ocasião, ela nos confiou a posse deste documento histórico. Para ela, mais importante do que estar de posse do Atlas é fazer como que sua história seja conhecida e preservada.

Neste contexto, o IPOL decidiu se engajar na causa promovendo a restauração do material que agora é parte do acervo do Instituto, aberto ao público. Para o Instituto é imprescindível que esta memória seja preservada não só fisicamente, por meio do restauro, mas também como monumento à história dos que foram silenciados pela repressão linguística através dos tempos.

A divulgação do Atlas e sua história, que é também a história dos imigrantes da região do Vale do Itajaí frente à repressão, pretende, assim, falar de superação, um dos objetivos do Projeto Receitas da Imigração. Sendo assim, a história do Atlas Geográfico narrada pela Dona Edith também vai estar presente na publicação plurilíngue que será lançada pelo projeto em agosto.  Juntamente a essa também estarâo outras narrativas igualmente emocionantes que retratam aspectos do estabelecimento de imigrantes e seus descendentes na região do Vale do Itajaí e das adaptações necessárias à sobrevivência dessas famílias ao longo do tempo, inclusive as adaptações culinárias e suas histórias e memórias.

Por Ana Paula Seiffert e Mariela Silveira, pesquisadoras do IPOL.

* Para saber maissobre a repressão linguística durante o Estado Novo, sugerimos “Monolinguismo e Preconceito Linguístico”, disponível em: http://www.ipol.org.br/ler.php?cod=92

 

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