Tribunal de Justiça lança cartilha em guarani sobre direitos, em Mato Grosso do Sul
Projeto inédito no Brasil, lançado na Escola Superior da Defensoria Pública em MS, vai atender mulheres indígenas
Uma parceria entre o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) e a Defensoria Pública-Geral do Estado promoveu, esta semana, o lançamento da Cartilha Lei Maria da Penha nos idiomas Guarani e Terena, para levar a conhecimento das mulheres indígenas o direito contido na legislação específica que trata da violência contra a mulher. O lançamento foi realizado na Escola Superior da Defensoria Pública e o Mato Grosso do Sul escolhido para a solenidade por se tratar do segundo estado brasileiro com a maior população indígena.
De acordo com a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica Familiar do TJMS, sob a responsabilidade do desembargador Paschoal Carmello Leandro, vice-presidente do tribunal, informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 50 mil indígenas do Estado são da etnia Guarani e 23.500 da etnia Terena, dos quais a maioria, de 51% é de mulheres que não dominam a língua portuguesa.
Em razão desses dados e, além dos esforços dos defensores públicos envolvidos nesse projeto inédito no Brasil, a Defensoria Pública teve o apoio do Tribunal Justiça de Mato Grosso do Sul, responsável pela impressão de 75 mil exemplares da cartilha, que serão distribuídas em todo o Estado.
O desembargador Paschoal destacou a importância da parceria que leva o conhecimento de direitos às mulheres e ressaltou ser impossível, em pleno século 21, conviver com agressões e a violência por questão de gênero. “Queremos a paz e a harmonia da família e essa cartilha é mais uma das ações desenvolvidas para levar esclarecimentos à população. Sobretudo, a intenção desse projeto é esclarecer que a Lei Maria da Penha não veio só para punir, mas também para levar uma mensagem às mulheres que enfrentam essa triste realidade”, afirmou.
A cartilha foi criada pelo Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem), depois que indígenas de todo o Estado participaram de um Fórum de Discussão, na Semana de Combate à Violência Contra a Mulher em 2015.
Durante o lançamento, o defensor público-geral de MS, Luciano Montalli destacou a importância de levar educação em direitos para essa parcela da população. “A Defensoria Pública, como órgão essencial à função jurisdicional do Estado e que tem como missão ser instrumento do regime democrático de direito, não pode deixar que essa população fique à deriva da sociedade. Então há necessidade de promover a transformação por meio do conhecimento”.
A defensora pública Edmeiry Silara Broch Festi, coordenadora do Nudem, lembrou que há um ano surgiu a demanda e o compromisso da Defensoria Pública em traduzir a cartilha para as línguas indígenas, a partir de depoimentos das representantes indígenas que expuseram sua cultura e seus costumes e apresentaram relatos das dificuldades que tinham para acesso às informações de seus direitos, enquanto mulher e do acesso aos serviços na segurança pública, saúde e educação.
Ela esclareceu, ainda, que não é um problema da cultura indígena a questão da violência doméstica e enfatizou a importância de levar o conhecimento dos direitos da mulher a essa população. “A violência vem crescendo desde que os hábitos do mundo externo começaram a ser introduzidos nas aldeias, como o alcoolismo e uso de drogas e assim, no Fórum, as mulheres indígenas falaram da urgência em se fazer a inserção das políticas públicas feitas às mulheres, respeitando suas peculiaridades culturais”, destacou a defensora.
A subsecretária de Estado de Políticas Públicas para a População Indígena, Silvana Dias de Souza Albuquerque, também liderança indígena, destacou que “boa parte de nossa população tem dificuldade de falar a Língua Portuguesa e isso dificulta o acesso às informações e esta cartilha vem de encontro com as necessidades das mulheres indígenas. Nossa cultura é nossa identidade, mas ela não pode ser vinculada à violência”,conclui.
Fonte: Progresso.com.br