Pesquisa analisa diferenças entre as línguas indígenas faladas em Mato Grosso do Sul

A presença marcante dos povos indígenas no estado é motivo de orgulho para o sul-mato-grossense. Mato Grosso do Sul possui, hoje, a segunda maior população indígena do país, contando com povos Guarani-Kaiuá, Terena, Kinikinau, Kadiwéu, Guató e Ofayé.

Acompanhando a importância da cultura indígena no contexto regional, a UFMS tem, em sua história, empregado esforços para se aprofundar, aprender e valorizar as práticas e conhecimentos  desses povos. Em Aquidauana, destaca-se a institucionalização do curso de Licenciatura Intercultural Indígena, que desde 2019 oferece ingresso anual, em graduação específica, para os pertencentes às comunidades indígenas.

Além do ensino, a Universidade também atua de forma coordenada para a pesquisa indígena. São diversos os pesquisadores da Instituição que se dedicam ao saber científico na área. E os seus resultados têm contribuído para descobertas importantes, que se agrupam a um esforço mundial para desmistificar e desvendar os saberes dos povos nativos.

Para facilitar esse entendimento, um dos pesquisadores da UFMS nos contou um pouco sobre o estudo que vem realizando há mais de uma década. O professor Rogério Vicente Ferreira atua no Campus de Aquidauana (CPAQ) e conduz, desde 2008, a pesquisa “Um estudo sobre as línguas indígenas do Mato Grosso do Sul“. E os seus resultados são consideráveis.

Com o objetivo de estudar as línguas indígenas de Mato Grosso do Sul, o projeto tem envolvido tanto a graduação como a pós-graduação universitária. Na graduação, os estudantes têm colaborado bastante para o desenvolvimento científico do estudo. “Priorizamos uma pesquisa bibliográfica inicial sobre as línguas indígenas de MS. Após o levantamento, elencamos os pontos a serem desenvolvidos, de acordo com cada língua. Por exemplo, na língua terena, é sabido que questões sobre fonologia tonal são um dos pontos a serem investigados, visto que ainda não houve um aprofundamento no que se refere à questão de pitch (acento tonal). Nesse caso, um acadêmico do CPAQ, por meio do Programa de Iniciação Científica Voluntária (Pivic), fez uma análise do suprassegmento da língua Terena. Também foram desenvolvidas pesquisas de iniciação científica sobre Quantificadores, Tempo, Aspecto, Morfologia Verbal, entre outras”, disse o Prof. Rogério.

Já no nível de pós-graduação, a elaboração de dissertações aprofundou o nível de discussões sobre as línguas indígenas do estado. Títulos como “Aspectos Morfossintáticos da Língua Ofayé”, “Descrição da fala masculina e da fala feminina na língua Kadiwéu” e “Fonologia da Língua Guató” foram alguns dos que identificaram as pesquisas finais de mestrandos envolvidos no projeto. No mesmo caminho, a organização de livros dentro do projeto qualificou o debate científico.  Foram  produzidos dois livros, de autoria do professor Rogério Vicente Ferreira, intitulados “Palavras Ofaié: um resgate da memória lexical” e “Português Indígena: novas reflexões”.

 

Igualmente importantes, as aproximações locais junto às comunidades pesquisadas merecem destaque. Segundo o docente, os trabalhos de extensão foram fundamentais para o enriquecimento do estudo. “Em forma de extensão ligada a este projeto, temos trabalhado com os professores terena num subprojeto intitulado ‘Construção de uma gramática pedagógica Terena’. Ainda há muito a ser desenvolvido dentro desse projeto, pois as línguas sul-mato-grossenses possuem quase nada de pesquisas desenvolvidas; contudo, temos contado atualmente com o protagonismo indígena, devido à inserção destes povos nos cursos da UFMS”, avaliou o professor Rogério.

Uma das balizadoras da pesquisa, a diversidade dos povos indígenas no estado é também um dos desafios do projeto. Os povos indígenas de MS pertencem a famílias linguísticas diferentes. De acordo com o pesquisador, isso proporciona aos linguistas uma enorme variedade de pesquisa na área da linguagem. “Por exemplo, na língua kadiwéu, há uma diferença de fala feminina e masculina. Somado a isso, temos a produção de material didático local, uma vez que os alunos das escolas indígenas possuem a disciplina de língua materna desde o ensino fundamental até o ensino médio, mas praticamente sem nada para apoio ao professor, que muitas vezes nem é falante da língua. Também não há nenhuma documentação para isso realizada até o momento”.

E os desafios não param por aí. Situações específicas surgem durante a pesquisa e sua investigação tem estimulado os pesquisadores. “Outro problema a ser resolvido é quanto à perda linguística. Por exemplo, o povo Ofayé, que atualmente possui apenas quatro falantes, não tem nenhum trabalho sendo realizado para a manutenção e revitalização de sua língua. Os Terena, segundo maior grupo do estado, não têm nenhuma gramática descrita sobre sua língua”, revelou o professor Rogério.

Para finalizar, Rogério nos explica a importância do estudo da língua indígena, principalmente no contexto mundial. “Estudar as línguas indígenas de Mato Grosso do Sul vem ao encontro da busca de um conhecimento mais profundo destas línguas e do registro imaterial de suma importância para as pesquisas linguísticas no Brasil. Esse projeto de pesquisa está inserido no esforço mundial de documentar e descrever as línguas sem tradição de escrita e em perigo de extinção. Como disse o saudoso professor Aryon Rodrigues, ‘acreditamos firmemente que é papel de nossa sociedade engajar-se no compromisso de evitar o desaparecimento de línguas indígenas no Brasil (Abralin/Doações)’.

O professor Rogério tem como parceiros na pesquisa os professores Caroline Pereira de Oliveira (UFMS/CPAQ), Onilda Sanches Nincao (UFMS/CPAQ) e Paulo Baltazar (UFMS/CPAQ, Terena, Professor Voluntário). Também atuam no projeto os acadêmicos Francielly Roberta Aquino Carvalho (Terena/Graduação), Érik Moraes de Barros (Terena/Graduação), Adriana Santana (Doutoranda), Celia Francelino Fialho (Terena/Doutorado), Adiane Quelri Valente França (Terena/Mestrado) e Grayson Wellington Mannocci Toliver (Mestrado).

Se você tem interesse em saber mais sobre a pesquisa, pode entrar em contato diretamente com o professor Rogério Vicente Ferreira, coordenador do estudo, pelo e-mail rogmatis@gmail.com.

Via https://www.opantaneiro.com.br/

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