O “griko”, uma das heranças gregas da Itália que se recusa a morrer
No sudeste da Itália, o “griko” luta por sua sobrevivência: uma língua remanescente da herança grega na época romana em perigo de extinção, apesar de fazer parte das minorias linguísticas históricas reconhecidas pelo parlamento italiano em 1999.
Para a Unesco é uma língua “severamente em perigo”, só falada “pelas gerações mais velhas”, mas nove povoados de Salento (na Apúlia, sudeste da Itália) o mantêm vivo com distintas iniciativas culturais.
Como, por exemplo, as do Parco Turistico Culturale Palmieri (de Martignano, província de Lecce), que pretende “tornar atrativa a língua” através de atividades como o carnaval griko, que faz referências às raízes gregas do povoado e cujo responsável, Pantaleo Rielli, descreve como “muito popular, livre e gratuito”.
Além disso, a associação de Martignano (de menos de duas mil pessoas) organiza anualmente o festival de cinema das línguas minoritárias “Evò ce Esù”, (do griko, “Eu e tu”).
Mas, talvez, o evento mais representativo seja a festa da Cranàra a Calimera (outro povoado griko), que lembra um dos trabalhos mais tradicionais da região, a carvoaria, que formava seu principal tecido econômico e que foi realizada até os anos 60.
Nesta comemoração se constrói e é colocado em funcionamento um forno de características peculiares destinado a transformar a madeira em carvão e é possível degustar pratos típicos da tradição camponesa e carvoeira.
Tudo para manter viva uma minoria linguística tutelada pela lei 482 de 1999 do parlamento italiano que, no entanto, “não teve um empenho efetivo (…) nem nas escolas, onde o ensino do griko é muito tênue”, segundo Tommasi.
No entanto, “não é uma língua difícil: tem apenas 1,5 mil ou 2 mil palavras com raiz grega e o resto vem do italiano”, explicou o estudioso.
A respeito da aparição da língua na Grecia Salentina, há teorias diferentes, mas o estudioso Salvatore Tommasi declarou à Efe que a mais provável é que surgiu durante as relações entre o Império Romano e as áreas da Ásia Menor de fala grega.
Mas, “quando a presença do culto ortodoxo bizantino diminuiu, o grego permaneceu só para os camponeses”, que o conservaram, “empobrecido, com o nome de griko (…) e desde o começo do século XIX foi vista como uma língua da classe subalterna”, detalhou Tommasi.
Rielli lembrou que, para os seus avôs, o griko era “a língua dos analfabetos”, enquanto Rocco de Santis, músico pertencente a uma família de longa tradição grika, fala da perda progressiva da língua como de uma “castração” após a II Guerra Mundial, quando começaram a abandonar os trabalhos agrícolas.
De Santis interpretava canções grikas com seu pai Cesare e seu irmão Gianni, e após a morte de ambos atua como solista com músicas “muito ligadas à terra, como a exploração de imigrantes nas plantações agrícolas”.
Nas suas canções também trata uma temática religiosa, uma das mais recorrentes no canto griko com “I Passiùna teu Cristù” (A Paixão de Cristo), que também declamam os Cantores de Martignano, com seu emblemático e quase centenário Antimo Pellegrino.
Os instrumentos usados são “os que foram usados uma vez”, explicou Luigi Giannuzzi, coordenador dos Cantores, como o acordeão, realejo ou cupa cupa, uma espécie de zabumba.
“Eu escrevo em griko não só porquê é a minha língua materna, mas também porquê é um som belo que (…) te dá possibilidades expressivas musicais únicas”, já que o idioma é “direto e pobre de algumas nuances (…), e por isso, estreitamente relacionado com a terra”, afirmou quase emocionado De Santis.
“Se o griko tem um futuro factível, este só é possível através da arte e da música”, comentou o músico, um dos tantos “gregos salentinos” que, por meio da cultura, resistem para não deixar morrer esta língua ancestral.
Fonte: Terra
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