O Esperanto em congresso mundial pela primeira vez em Portugal

Por Miguel Faria Bastos

Ainda à espera do reconhecimento como Património Imaterial da Humanidade, o Esperanto tem proteção especial, económica ou académica em vários países.

Será alto patrono do congresso o ministro da Cultura, Luís Castro Mendes. A Comissão de Honra é constituída por 13 figuras de primeiro plano nacional, entre as quais o ex-Presidente da República, general Ramalho Eanes, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. Fernando Medina, do mundo das cátedras, chefia das Forças Armadas, Provedoria de Justiça, magistratura judicial do Supremo, carreira diplomática, artes plásticas, letras, difusão do português, jornalismo, vida desportiva.

Sob o lema “Culturas, línguas, globalização: Que rumo doravante?”, o Congresso tratará dos assuntos da associação-mor, que o patrocina, e da sua academia, assim como de Interlinguística, Planeamento linguístico e Esperantologia, mas configura-se, também, como uma constelação de congressos de associações territoriais e temáticas (científicas, profissionais, culturais, ideológicas, religiosas, etc.), clubes e grupos que constroem, para os congressistas, um universo de aulas, conferências, palestras e colóquios de plúrimos ramos de saber (tão diversos como a Economia, o Direito, a Medicina, a Informática, a Ecologia e a Astrofísica), assim como de artes cénicas e actividades lúdicas e desportivas. Antes, durante e depois do congresso haverá excursões de cunho cultural de lés-a-lés (Açores e Madeira incluídos).

Estima-se que o número de congressistas, vindos de todos os continentes, atinja 2500 (já quase chegou aos 6000 num congresso na Polónia). Durante o congresso será ministrado um curso de Português para estrangeiros e um curso de Esperanto para iniciados.

A única língua usada no congresso é o Esperanto – não havendo auriculares nem interpretação simultânea.

Criada no fim do séc. XIX, por L.L Zamenhof, judeu de nacionalidade polaca, mediante seleção metodológica de raízes, afixos e desinências, o Português é uma das sete línguas do mundo mais parecidas com o Esperanto, quanto a léxico, fonética, morfossintaxe e semântica.

O Esperanto tem servido como língua veicular em reuniões políticas de cúpula (caso das reuniões entre Franz Jonas, Presidente austríaco, e o Presidente Tito da Jugoslávia), na comunicação entre o Vaticano e o mundo católico (v.g., durante décadas, nas alocuções papais do Natal e da Páscoa), dentro do movimento ecológico e do movimento dos povos indígenas do planeta. Está também reconhecido há décadas como língua litúrgica da Igreja Católica e como língua ecuménica do serviço litúrgico da maioria das religiões cristãs (católica e ditas protestantes). A maior parte dos Papas das últimas décadas usaram o Esperanto como língua de comunicação residual, no fim de mais de 50, na alocução pascal e na natalícia dirigidas aos católicos de todo o mundo.

Há cerca de 30.000 obras publicadas em Esperanto (obras de raiz e traduções dos clássicos da antiguidade greco-romana e dos escritores mais reputados da Renascença e da actualidade, no campo literário, linguístico, científico, etc.). A Wikipédia esperantófona, em 2014, atingira já 200.000 artigos.

O Esperanto fez-se a partir dos ramos românico, germânico e eslavo das línguas da família indoeuropeia. O seu léxico deriva principalmente de sete línguas – Latim, Francês, Inglês, Alemão, Russo, Polaco e Italiano. Porque as palavras se formam nele a partir de raízes e desinências e, muitas vezes, de afixos ou pseudoafixos, qual magia de plasticidade e polimorfia, o Esperanto goza de uma superriqueza imensa em número de lexemas (formados por aglutinação) e em matizes semânticos. Pela sua regularidade (16 regras gramaticais fundamentais, sem excepções) e completude, o Esperanto alavanca a aprendizagem de outras línguas.

Na China, país com o maior número absoluto de falantes de Esperanto no mundo, este, por decreto do Governo de 1982, foi introduzido no currículo das universidades a par das línguas estrangeiras. Nesse país, catedráticos das cadeiras de Inglês e Latim costumam recomendar aos seus discentes a aprendizagem do Esperanto como língua propedêutica na mira daquelas duas.

O japonês Nitobe Inazo (1862-1933), académico cosmopolita (com cinco doutoramentos), enquanto subsecretário da Liga das Nações, após participar em 1921 no 13.º Congresso Universal de Esperanto, em Praga, fez um relatório oficial a propor o Esperanto como língua de trabalho no seio da Liga, mas a proposta frustrou-se com o veto da França.

A UNESCO, através de duas resoluções (uma tomada na Conferência Geral de Montevideu em 1954 e outra tomada na Conferência Geral de Sófia em 1985), recomendou a introdução do Esperanto no ensino das escolas e universidades de todos os seus países-membros.

Ainda à espera do reconhecimento como Património Imaterial da Humanidade, o Esperanto tem proteção especial, económica ou académica em vários países, tais como a República Popular da China, a Federação Russa, Brasil, Hungria, Holanda. Está reconhecido como língua literária pelo Pen Club Internacional e foi escolhido como língua preferida por plúrimas ONG e coletividades ecológicas e indígenas do planeta.

Mas não foi sempre assim: o Esperanto foi proibido e perseguido por regimes ditatoriais de sinais contrários, por exemplo, na URSS de Estaline, na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini, na Roménia de Ceausescu, na Alemanha de Enver Hodja, na Espanha de Franco e, até, no Portugal de Salazar – com o pretexto de servir interesses antinacionais.

Em 2013, a cátedra de “Interlinguística e Esperanto”, da Universidade de Amesterdão, foi oficialmente colocada sob curadoria da AUE. Escolas de crianças geniais usam o Esperanto como disciplina de estimulação e medição da inteligência dos alunos. Foi inserido em mensagens colocadas em sondas norte-americanas de exploração espacial postas em órbita. Umberto Eco, autor do livro Em busca da língua perfeita, designou o Esperanto, em entrevista posterior, como a “língua ótima”.

Os portais da Net “lernu.net” e “duolingo” ensinam o Esperanto a curto prazo.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

Fonte: Público

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